segunda-feira, 31 de julho de 2006

Algoritmos Secretos

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Cryptonomicon
Wikipedia | Cryptonomicon
Cryptonomicon FAQ
Wired 11.09 | Neal Stephenson Rewrites History

A criptografia é um desporto radical para mentes altamente inteligentes. Os jogos lógico-matemáticos de cifras e códigos são acessíveis apenas aos iniciados nas intricacias mais profundas do cálculo matemático. O carácter obscuro da criptografia é exacerbado pelo secretismo que lhe é inerente. O objectivo final da criptografia, é bom não esquecer, é o de cifrar mensagens, transformando mensagens legíveis numa algaraviada totalmente incompreensível excepto para quem detém os códigos que permitem descodificar a algaraviada. A utilidade da criptografia é a de esconder, ocultar, e permitir que as comunicações sejam feitas de forma anónima e não detectada. O uso de códigos já tem uma longa história, tão longa como a história dos homens que desejam agir em segredo, mas há um padrão que se mantém: criar, e desvendar códigos não é tarefa fácil, especialmente se as formas mais elegantes e avançadas de matemática tiverem alguma coisa a ver com a mensagem cifrada.

Durante séculos a criptografia foi exclusiva a grupos isolados e a governos com as suas necessidades económicas e militares. Tratava-se de quem tinha necessidade de cifras - o general que quer informar os seus comandantes dos movimentos das suas tropas sem que os seus inimigos deles suspeitem, os governos que necessitam de enviar mensagens aos seus embaixadores, protegendo segredos de estado ou investigando segredos alheios, grupos obscuros com objectivos velados que se movem nas trevas da sociedade. Nos tempos recentes, a criptografia democratizou-se, graças a uma sociedade cada vez mais informatizada que depende de códigos e algoritmos para assegurar todas as operações que colocam este mundo em movimento. Banalizada em códigos de multibanco e protocolos informáticos, nem por isso a criptografia deixa de ter uma aura de mistério, de palavras ocultas que escondem fortunas ou segredos das mais altas esferas.

Mas a criptografia não é acessível a todos. Parte da sua mística reside precisamente nos seus códigos arcanos, legíveis apenas por aqueles que estão por dentro do segredos... e legíveis por uma élite rara, capaz de decifrar códigos que não conhece.

Neal Stephenson já tem uma apreciável carreira como autor de ficção científica. Autor de Snow Crash, romance satírico que se tornou uma das mais importantes obras de fc cyberpunk (pensem em Hiro Protagonist como nome do personagem principal e percebem porque é que o livro é satírico), foi capaz de abordar a rede de construção de cabos submarinos e os empreendimentos tecnológicos num mundo cada vez mais pequeno, em que as maravilhas naturais das praias asiáticas estão a um clique ou a um bilhete de avião de distância dos velhos centros europeus, no Mother Earth, Mother Board, artigo da Wired que aborda o desenvolvimento tecnológico como uma grande aventura de viagens em destinos exóticos. Capaz de ver o lado excitante dos recantos mais obscuros da tecnologia, só Stephenson conseguiria transformar algo tão àrido como a criptografia numa obra intrigante e excitante. Livros às voltas com códigos secretos é do que mais se encontra nos escaparates das livrarias, e até em alguns cinemas. Mas na maioria dessas obras o mundo da criptografia é apenas um adereço em histórias de conspirações secretas. No Cryptonomicon de Neal Stephenson, a criptografia é o elemento essencial sem a qual tudo o resto pouco faria sentido.

Cryptonomicon é um romance global, tão à vontade nas ilhas do pacífico sul como nas costas da suécia, na nova inglaterra, em shangai ou no meio do atlântico. É também um romance que atravessa épocas, dividindo-se entre o mundo de guerra global da segunda grande guerra e o mundo da economia global dos tempos de hoje. Cryptonomicon acompanha as aventuras e desventuras de um heterogéneo grupo de personagens que se cruza entre si e os seus descendentes num teatro global onde as subtilezas criptográficas assumem uma importância vital para a estrutura da sociedade.

Lawrence Waterhouse é um matemático introspectivo com uma capacidade inata de compreender a mecânica dos algoritmos. Altamente inteligente, Waterhouse é o tipo de génio que resolve os problemas do mundo dentro da sua cabeça e depois não está para se dar ao trabalho de aplicar na realidade os modelos mentais que circulam na sua mente acelarada. É a diferença entre descrever ao pormenor o funcionamento de um mecanismo e o construir o mecanismo. Perfeitamente capaz do primeiro, Waterhouse cedo se desinteressa das aplicações prácticas, deixando a sua mente perder-se enquanto decifra o próximo problema que lhe desperta o interesse. Colega e amigo de Alan Turing em Princenton, Waterhouse fascina-se com as pesquisas de Turing no campo das máquinas analíticas, descrevendo entre si os primórdios dos primeiros computadores. Turing apresenta-o ao seu amante, Rudy Hackleberger, matemático leibniziano que irá desempenhar um papel fundamental no esforço de guerra criptográfica nazi. O ataque japonês a Pearl Harbour apanha Waterhouse desprevenido como membro da banda de um navio de guerra estacionado no Hawaii. Ao alistar-se na marinha, Waterhouse passou o exame de admissão a resolver uma arcana e intricada questão relacionada com as equações de Navier-Stokes (que descrevem o movimento de fluídos) que lhe surgiu na mente ao ler a primeira pergunta do questionário, sobre quanto tempo demoraria um barco a ir do ponto A ao ponto B. A marinha considerou-o incapaz de qualquer outro serviço que não o de músico nas bandas navais, mas após Pearl Harbour destaca-o para os serviços de inteligência, onde Waterhouse revela a sua inata capacidade para descodificar sistemas criptográficos. Torna-se assim um dos mais brilhantes e respeitados criptógrafos dos serviços secretos, contribuindo imensos novos conhecimentos para o cryptonomicon, um compêndio disperso dos saberes critpográficos e das técnicas de cifração e decifração. Waterhouse é destacado para Inglaterra, onde presta serviço no famoso Bletchley Park, o centro militar onde eram descodificadas todas as mensagens inimigas. Em Bletchley Park Waterhouse reúne-se com Turing, que ajudara no esforço de decifrar o inquebrável código Enigma, e inicia um trabalho não de decifração mas de desinformação. A importância dos códigos Enigma era vital: todas as mensagens do alto comando nazi eram cifradas nesse código, supostamente inviolável - e a história da captura das máquinas Enigma e da decifração dos seus códigos um dos momentos mais brilhantes da Segunda Guerra Mundial. Mas para que a decifração das mensagens tivesse validade era importante que os alemães não se apercebessem de que os seus códigos haviam sido quebrados. Na realidade histórica, este esforço de desinformação resultou no bombardeamento de Coventry, de que Churchill havia tido conhecimento mas que não dera a ordem de evacuação da cidade, para que os alemães não percebessem que os seus códigos haviam sido descobertos. Na ficção informada de Cryptonomicon, Waterhouse participa na criação de elaborados esquemas de desinformação, levados a cabo por um destacamento especial de Marines americanos e de SAS britânicos, que plantam provas fictícias por detrás das linhas inimigas para que os alemães não desconfiem da estranha precisão aliada em encontrar submarinos no Atlântico Norte ou em afundar comboios navais no mediterrâneo. Os sucessos aliados deviam-se ao quebrar dos códigos das mensagens, que lhes permitiam saber exactamente onde atacar, e o trabalho de Waterhouse e do destacamento 2702 era o de criar provas do contrário, através de operações especiais ou do estabelecimento de estações de triangulamento radiofónico fictícias. O destacamento 2702 era anteriormente o destacamento 2701, mas sendo este número um número primo muito específico Waterhouse pediu a alteração do nome, pois o simples 2701 poderia fornecer uma pista criptográfica que sinalizaria aos alemães a decifração dos seus códigos. Com a guerra na Europa a chegar ao fim, que para os criptógrafos e conhecedores dos segredos de estado aconteceu dois anos antes do final das hostilidades físicas, Waterhouse é destacado para a Ásia, onde colabora no esforço militar contra o Japão. Para decifrar os códigos japoneses Waterhouse desenha e constroi um computador primitivo, apoiado em cartões perfurados e válvulas. Na Ásia, Waterhouse depara-se com um estranho código indecifrável, chamado de Arethusa, criado pelo rival/amigo de Turing e Waterhouse, Rudy Hackleberger (rival devido aos tempos de guerra, mas amigo pelo respeito mútuo criado pelos laços matemáticos). Ao decifrar o Arethusa, Waterhouse depara-se com uma estranha conspiração, que terá repercussões no futuro.

Bob Shaftoe é mais do que o comum soldado dos fuzileiros norte-americanos. Inteligente e perspicaz, Shaftoe é dotado de uma extrordinária coragem, que o torna capaz de realizar as missões mais arriscadas. Quando destacado em Shangai antes da Segunda Guerra, Shaftoe trava uma inesperada amizade com Goto Dengo, um japonês que o ensina a apreciar os prazeres do sushi e da poesia haiku. A sua coragem nos campos de batalha leva-o a ser integrado no destacamento 2702, passando a guerra em missões secretas de desinformação um pouco por todo o mundo. Uma dessa missões corre mal - a traineira onde o destacamento 2702 seguia disfarçado de negros das caraíbas é afundado por um submarino alemão comandado pelo idiosincrático Comandante Bischoff. Tendo capturado personagens conhecedoras de tantos segredos vitais, Bischoff é alvo de uma campanha de desinformação que leva o alto-comando alemão a acreditar que o seu submarino foi capturado por tropas especiais aliadas. Perseguido pelas marinhas aliadas e nazi, Bischoff encontra refúgio na Suécia, onde convence Shaftoe e o inefável Enoch Root a participar numa estranha conspiração, ajudados por contrabandistas finlandeses e por um Rudy Hackleberger desiludido com a estupidez do regime nazi. Shaftoe encontra a sua morte nas Filipinas, onde consegue chegar por caminhos ínvios, tentando resgatar o seu filho das garras da soldadesca nipónica que ocupava brutalmente as ilhas.

Se Waterhouse é o prototípico génio, uma mente brilhante incapaz de aplicar os seus conhecimentos nas realidade prosaica e banal, Enoch Root é o seu perfeito oposto. Culto e erudito, Root é um homem de acção, um clérigo pertencente a uma ordem secreta que colabora activamente no esforço de guerra do destacamento 2702. Root é um homem de bastidores, manipulando as restantes personagens de forma subtil. Root forma uma ponte entre o passado e presente, influenciado os personagens do romance ao longo dos tempos.

Goto Dengo é um engenheio de minas que perde os seus ideais ao viver a brutalidade da guerra na Ásia. Desiludido com a brutalidade e as atrocidades cometidas pelos seus compatriotas em nome do imperador, Dengo é destacado para a construção de um bunker secreto nas Filipinas. Apercebendo-se que a conclusão da construção o levará à morte - o bunker, na tradição de alguns túmulos imperiais, é tão secreto que todos aqueles que participam na sua construção são sumáriamente executados, Dengo faz um trabalho de génio, construindo um bunker à prova de invasões, mas que também funciona como uma gigantesca máquina de evasão para si e para alguns dos mais resistentes dos seus trabalhadores. Após a capitulação do Japão, Dengo trabalha activamente na reconstrução do país, criando aquela que no futuro será uma das melhores empresas mundiais de grandes projectos de engenharia.

Nos dias de hoje, Randy Waterhouse, neto de Lawrence mas desconhecedor dos segredos do avô, abandona uma vida entediante nas fronteiras do mundo académico para fundar uma nova empresa nas Filipinas. A Epyphite, o sugestivo nome da empresa, tem dois objectivos - provar a sua viabilidade através de um rentável negócio de comunicações nas Filipinas, e expandir-se. A sua expansão passa pelo Sultanato de Kinakuta, país fictício inspirado no sultanato do Brunei. Rico em petróleo, Kinakuta é governado por um sultão branco de origem britânica (tal como o Brunei é governado pelos rajás brancos, súbditos da coroa britânica). Em Kinakuta, Randy envolve-se num projecto de criação de um data haven, um local seguro onde dados informáticos estarão guardados ao abrigo das vontades governamentais. Os elementos da Epyphite, um bando heterogéno de criptógrafos libertários encabeçados por um israelita cujo projecto de vida é impedir genocídios, acabam por se descobrir num pântano. A criação do banco de dados atrai criminosos obscuros, membros corruptos de governos totalitários e a rapacidade de investidores capazes de usar as mais arcanas armas legais para obterem o controlo das acções da empresa. Randy vive um verdadeiro calvário, desde os dias em que numas escaldantes Filipinas põe de pé o negócio original. Apaixona-se por Amy Shaftoe, neta de Bob Shaftoe, que trabalha com o seu pai na colocação de cabos submarinos e no resgate de tesouros submersos. As operações de colocação de cabos revelam o paradeiro de um submarino da Segunda Guerra, cheio de barras de ouro e de uma referência ao avô de Waterhouse, que leva Randy a descobrir os segredos do seu avô, nos quais se incluem os códigos Arethusa decifrados. Randy atrai as atenções de Enoch Root, que o manipula na descoberta do segredo dos códigos Arethusa - a localização de um tesouro escondido nas selvas filipinas, dentro do bunker construído por Goto Dengo. Esse tesouro está ligado com o submarino afundado - este faz parte de uma rede submersa da Segunda Guerra mundial, que tranportava ouro e materiais altamente valiosos num comércio submerso entre a Alemanha nazi e o Japão imperial, com ouro trocado por segredos industriais e tecnológicos. O submarino encontrado pelo pai de Amy era o submarino de Bischoff, roubado por este ao alto comando naval alemão, onde a conspiração oculta de antigos inimigos transportava ouro que planeava ocultar nas Filipinas, para o recuperar após o final da guerra. O plano falhou, pois o submarino foi afundado em pleno mar da China, mas o segredo não se perdeu, guardado por Root ao longo dos anos. A descoberta do tesouro despoleta uma série de aventuras rocambolescas em que um relutante Randy Waterhouse se vê envolvido.

Mas e então, a critpografia? Ela é o fio condutor do livro; tudo, no livro, se passa à volta dos códigos; grande parte da acção deve-se aos códigos. Boa parte das páginas do livro são dedicados à explanação de códigos e a resenhas onde a história se mistura com pormenores ficcionados; de facto, o livro até contém um script em Perl que gera um algoritmo encriptador. Toda a acção passada durante a Segunda Guerra depende dos segredos criptográficos - as excitantes acções de desinformação do destacamento 2702, os insights de Waterhouse na decifração de códigos militares. O fio condutor da acção do livro passada na época contemporânea envolve-se com as consequências da internet e da criptografia, e do que essa mistura significa para uma socidedade onde os dados binários assumem uma importância cada vez mais vital.

Se pensam que este texto já vai longo, esperem pelo livro... o Cryptonomicon é uma obra volumosa (a minha edição ultrapassa largamente o milhar de páginas). Volumoso, mas não entediante - Neal Stephenson criou em Cryptonomicon uma história muito pessoal da informátia, disfarçada de thriller tecnológico. Se as personagens e as situações são fictícias, o enquadramento não o é. Conhecedores da história da Segunda Guerra conhecem bem a importância do decifrar dos códigos Enigma para a derrota nazi. A rede de comércio submarino é um facto obscuro, mas bem real, da Segunda Guerra. Havia submarinos destacados para esse serviço, que transportava debaixo das águas a tecnologia alemã para o Japão em troca do ouro saqueado pelos nipónicos em toda a Àsia. Bletchley Park e Alan Turing são referências obrigatórias na história da informática - o esforço de quebra das cifras alemãs levou a construção dos primeiros computadores. As aventuras da criação de uma empresa da nova economia reflectem bem os ambientes dos mercados económicos, patrulhados por investidores milionários que se apoiam em advogados para extraírem lucro sem nada construírem. O problema dos bancos de dados privados já é uma realidade, permitindo capacidades inimaginadas que ultrapassam as proezas bancárias offshore. E a tentativa dos governos em controlar a disseminação das tecnologias criptográficas é bem real.

Em Cryptonomicon, Neal Stephenson ultrapassa as barreiras do movimento cyberpunk, com um brilhante romance histórico que mergulha nas raízes do mundo informático tão adorado pelos cyberpunks. Cryptonomicon é mais do que pura ficção científica - é história da ficção científica, contada de forma excitante e empolgante.

domingo, 30 de julho de 2006

Leituras

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The Biology of B-Movie Monsters Para aqueles que estão curiosos acerca dos princípios científicos por detrás de formigas gigantes, monstros alienígenas, aranhas assassinas, macacões sobredimensionados e lagartos com bafo radioactivo.

BBC | Space studies face hibernation A NASA está a considerar suspender as actividades de investigação científica a bordo da ISS, devido à falta de fundos provocada pelos custos mais elevados dos voos do vai-vém espacial e pelos custos da reparação de danos provocados pelo furacão Katrina. Os responsáveis pensam que durante um ano os programas de investigação que recorram à estação espacial serão simplesmente suspensos, o que pede a pergunta: então, para é que serve a ISS? Destino de voos turísticos ocasionais?

Correio da Manhã | Segunda auto-estrada Lisboa-Porto em 2008 A interconexão de uma rede de auto-estradas entre Lisboa e Porto que passa pelo litoral oeste criará em 2008 uma segunda grande auto-estrada que ligará as duas grandes cidades portuguesas. Ligando a A8 à A17 e a A29, esta nova auto-estrada é um percurso alternativo à clássica A1, e espera-se que os preços não sofram competitividade: a Brisa, detentora da concessão da A1, controla directa ou indirectamente os operadores de concessões da nova auto-estrada. A existência de mais uma ligação rodoviária entre Lisboa e Porto não parece ser um bom prenuncio para o TGV. Com o famoso comodismo lusitanso, a existência de mais uma estrada onde se pode acelarar com o potente carrinho torna-se mais um factor disuasor à utilização de meios de transporte público.

Guardian | Space odyssey Até muito recentemente, o espaço era o domínio de agências governamentais que o exploravam com fins militares e científicos numa real situação de monopólio. Mas a conjugação de desastres como os dos Space Shuttles com imperativos financeiros abriu uma brecha para a exploração espacial, que foi aproveitada por empreendedores privados. Os novos exploradores são uma amálgama curiosa. Há de tudo, desde empresas que trabalham directamente com agências governamentais (caso da Space Adventures, que organiza semanas milionárias a bordo da ISS) aos tecno-empreendedores como os concorrentes ao X-Prize, que estão a desenvolver as suas próprias tecnologias de voo sub-orbital e orbital. O objectivo destes empreendedores é o de baixar o custo do acesso ao espaço, democratizando o acesso a todos os que tenham dinheiro para os bilhetes. Se cada quilo transportado a bordo do Space Shuttle custa cerca de 10.000 dólares por lançamento, a Virgin Galactic espera oferecer viagens sub-orbitais pelo mais acessível preço de 200.000 dólares por cada bilhete. A acessibilidade é um conceito relativo, mas o dinheiro do vai-vém paga o acesso ao espaço por parte de militares, enquanto o dinheiro do turismo espacial paga o acesso ao espaço para quem lá quiser ir e tenha, como é óbvio, o dinheiro para para isso. Mais do que simples maluquinhos da máquinas voadoras espaciais, estes empreendedores são parte de uma geração que se apaixonou com os passeios lunares, e que trabalha para que num futuro próximo grande parte da humanidade tenha a oportunidade de visitar o espaço. Que as intenções são sérias pode-se perceber pelos finaciamentos. Por detrás dos engenheiros, está o capital de milionários como Richard Branson ou Jeff Bezos, o dono da Amazon.

Guardian | Gone with the wind Nova Orleães era a cidade americana com um dos carácteres mais vincados, graças a uma mitologia muito própria arreigada nas suas raízes francesas, espanholas, africanas e americanas que nos pântanos geraram estranhos frutos. Um ano após ter sido arrasada pelo furacão Katrina, a cidade encontra-se em risco de perder o seu carácter. Os habitantes negros e pobres não conseguem regressar a uma cidade arruinada e sem condições de vida; os promotores imobiliários esfregam as mãos, transformando a cidade num subúrbio estilista que mantém a imagem da Nova Orleães do jazz, da comida cajun e das tradições obscuras sem os habitantes que davam vitalidade à cultura da cidade.

The Times | Go east: pioneer farmers find Russia a land of opportunity Os agricultores britânicos encontraram uma nova fronteira agrícola - a Rússia, onde nos seus vastos territórios abundam gigantescos terrenos cultiváveis, mão de obra especializada e barata, e incentivos à produção. Por uma vez, o clássico go west, young man altera-se.

sábado, 29 de julho de 2006

Vaio

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Já cá canta.

Os leitores habituais que dão um regular pulinho aqui a este recanto da galáxia já devem estar a estranhar o silêncio inabitual por parte de um blog bastante prolífico. Podem imaginar, observando atentamente a ilustração acima, qual a razão do hiato nos posts.

Precisamente. Brinquedo novo.

Mas não podia ser um Acer, ou um HP, ou algo semelhante. Tinha logo que ser um vaio. Depois perguntem-me onde é que fui de férias... se bem que para um habitante de uma terra de férias a ideia de ir para fora é um pouco desnorteante.

Justificando a aquisição com o choque tecnológico e a disseminação do uso da informática em contextos escolares, o meu agregado familiar tornou-se possuidor de um portátil. Isso significa que quer eu quer a minha rapariga já preparamos as armas, limpamos facas e treinamos o corpo para as violentas batalhas que se seguirão relativas à posse do computador. Começo a interessar-me por artes marciais. Afio afincadamente o fio das facas de cozinha, antecipando já manobras de defesa e ataque nas lutas sem tréguas que se seguirão. A minha rapariga apostou numa táctica mais subtil, mas não duvido que quando achar que é o momento certo abaterá sobre mim fúrias que deixarão as harpias intimidadas. Tudo pela posse do portátil.

Continuo no entanto com o meu fiável desktop. E vou aproveitar para dar o tão adiado salto para a banda larga, mas ando indeciso: aposto no adsl, obrigando a andar de modem de computador, ou aposto no sem fios, no serviço Zapp? Continuo a ter de andar de modem de um lado para o outro, mas pelo menos não tenho que andar a enfiar cabos nas paredes.

Quanto ao blog, não se preocupem. Quando terminar o deslumbramento do brinquedo novo, tudo voltará à normalidade. Até lá, aproveitem as férias, saiam de frente dos monitores, dêem uns mergulhos ou passeiem-se pelos campos.

quinta-feira, 27 de julho de 2006

Zona Intertidal

Situa-se entre o nível máximo da preia-mar e o nível máximo da baixa-mar apresentando condições ambientais variáveis opostas devido a emersões e submersões alternadas como resultado do ciclo ma maré. Apresenta outras particularidades, como o facto de, por um lado, ser batida pelas ondas com grande violência, o que implica que os organismos que lá vivam tenham adaptações especiais, e por outro formar entre as rochas pequenas poças de água, que constituem verdadeiros aquários naturais, onde ficam retidos alguns organismos marinhos.

A fauna é muito variada, apresenta grande diversidade de formas, de cor, de tamanho, de hábitos, mas têm todos em comum a capacidade de se manterem agarrados às rochas, e resistirem à exposição à luz, sol e ar, mas também à vida debaixo de água. Podemos encontrar ouriços-do-mar, anémonas, estrelas-do-mar, vermes poliquetas livres em ou em casulos, lapas, mexilhões, pequenos búzios, colónias de briozoários, caranguejos, esponjas, e escondidas nas fendas, ou por entre os animais maiores e as algas, pequenos camarões, caranguejos e outros crustáceos. Nas poças de água formadas na rocha, podemos também encontrar peixes muito pequenos. Os diferentes animais que vivem na zona entre-marés estão distribuídos num gradiente, consoante a sua capacidade de resistirem à falta de água ou à submersão.


É o meu terreno de caça fotográfica.

Vícios

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O problema do vício das leituras, alimentado por tinta de impressão sobre vários tipos de papel, é que por vezes exageramos. Não me bastando equilibrar o Cryptonomicon de Neal Stephenson com A Voz do Fogo de Alan Moore, ainda fui acumular uma pilha apreciável de livros adquirida a custo reduzido numa daquelas feiras do livro em que as editoras se livram dos livros que não conseguiram vender. À partida, estas feiras têm uma grande quantidade de ruído para o sinal que emitem, mas por entre pilhas de livros esquecidos, anódinos, de estudos eruditos tão específicos que só o autor domina o campo de pesquisa, de velhos livros infantis e até de livros cuja publicação foi um perfeito desperdício de àrvores, podem-se encontrar preciosidades como uma tradução portuguesa da mitologia de Bulfinch. Só que a pilha de obras para ler ameaça transformar-se numa verdadeira torre de babel, com um cume que se aproxima progressivamente do céu. Cada novo livro torna-se mais um degrau de uma subida cada vez mais altaneira.

A verdade é que nestes dias o que não falta são prazenteiras tardes solarengas para ler, de preferência com o marulhar do mar mesmo à mão de semear.

quarta-feira, 26 de julho de 2006

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Quaisquer questões sobre uma possível repetitividade das imagens que povoam este blog devem levar em conta que:

1) quem vive na Ericeira vive para o mar;
2) há poucas coisas mais fascinantes do que os ecossistemas da zona intertidal;
3) o sol, a luz e a temperatura não convidam a longas estadas nas praias - simplesmente, obrigam;
4) e porque não?

Leituras

BBC| Memory chip threat to hard discs Um novo dispositivo de armazenamento de dados ameaça revolucionar a nossa forma de ver a computação: alia a rapidez dos discos rígidos à versatilidade da memória flash. São os chips de RAM magnetoresistiva, mRAMs na sua designação. A tecnologia ainda está a dar os primeiros passos, mas promete.

Correio da Manhã | Investigação já dá frutos O Abrupto, o blog de Pacheco Pereira e um dos mais lidos na blogoesfera portuguesa, foi pirateado. Dias houve que quem acedeu ao blog para ler as últimas reflexões do guru Pereira deparou com anuncios ao viagra. Pacheco Pereira, incapaz de perceber que se o seu blog foi atacado foi certamente por atrair muitos leitores - ninguém coloca anúncios num site que ninguém lê, como este meu humilde, achou que era caso de polícia, quiçá imaginando manigâncias digitais partidas da mente de algum dos seus adversários políticos. Mas o interessante do artigo não está nas peripécias de Pacheco Pereira, banais pelos padrões da net (sim, é uma selva, cheia de criaturas perigosas que mordem). Está sim numa informação complementar. Segundo a Weblog, que mede visitas aos blogs de língua portuguesa, o blog de Pacheco Pereira é o quinto mais lido da blogoesfera portuguesa. Os quatro predecessores são pornográficos. O que permite tirar algumas conclusões sobre o perfil da blogoesfera em português...

Pakistan launches huge nuclear arms drive Uma daquelas notícias que nos deixa tranquilos. O Paquistão, país detentor de armas nucleares conhecido pelas suas disputas com a Índia, outro país detentor de armas nucleares, decidiu que estava a ficar para atrás na corrida às bombas atómicas e decidiu intensificar a produção indígena de plutónio, até atingir a capacidade de produzir material fissível suficiente para equipar cinquenta ogivas nucleares por ano. O Paquistão é um país instável, fortemente dividido entre islamistas fanatizantes e progressistas, gerido por uma brutal ditadura militar e capaz de lançar mísseis cujo alcance já ultrapassa o território do seu inimigo tradicional, a Índia. Se este artigo não vos causar arrepios na espinha, então não sei... se calhar só tremem perante vampiros ou afins. Mas o que me faz tremer é o mal estar do mundo, as más notícias que vêm das sete partidas deste nosso tão precioso planeta.

terça-feira, 25 de julho de 2006

Leituras

BBC | Space tourists offered walkabout Pela módica quantia de 15 milhões de dólares sobre o baratinho bilhete de 20 milhões de dólares, a Space Adventures, a empresa que organiza voos de turismo espacial, oferece um passeio de hora e meia fora da estação espacial. Se o turismo espacial anda a dar mostras de querer arrancar do pioneirismo, com as aventuras milionárias de alguns ricos eleitos com capacidade física e financeira para uma estadia na ISS, este é outro interessante passo - um passeio no frio espaço, sob supervisão de um astronauta. Agora, do meu ponto de vista habituado a contar cêntimos do fundo da carteira, surge a questão: 15 milhões por 90 minutos dá
exactamente quantos milhares por minuto?

BBC | Star soon to become supernova Pode acontecer já amanhã, pode acontecer daqui a mil ou a dez mil anos. A estrela RS Ophiuchi apresenta todos os sintomas que levam os astrónomos a pensar que está prestes a tornar-se supernova, podendo iluminar os céus a qualquer momento com uma explosão verdadeiramente titânica. Quando acontecer, será a primeira vez que astrónomos poderão observar explosões de supernovas de tipo 1A.

Correio da Manhã | Pára-choques transformados em bancos de jardim Um protocolo entre a Valorcar, a entidade que gere a reciclagem de veículos em fim de vida e a empresa Recipor vai permitir o aproveitamento dos plásticos dos pára-choques para transformação em bancos de plástico. É de ideias destas que precisamos para conseguir melhorar o ambiente - ideias criativas que repensem conceitos rotineiros. Até agora, os plásticos dos pára-choques enchiam aterros.

International Herald Tribune | Outlandish theories: Kings of the (hollow) world Umberto Eco, semiologista de referência e autor bem conhecido, aproveita a crítica a um livro sobre ideias que já tiveram validade científica para não deixar cair em esquecimento as bizarras teorias sobre a terra oca. Por estranho que pareça, a teoria de que a terra era oca, com aberturas nos pólos por onde se poderia penetrar nas camadas inferiores já teve grande validade científica. O que é realmente incrível é que uma pesquisa no google sobre a terra oca revela que ainda há quem acredite piamente nesta ideia.

Infinity Plus | Speed Demons Um conto de Andrew Wilson onde demónios e velocidade se cruzam em motos de grande cilindrada. Ler, para crer...

segunda-feira, 24 de julho de 2006

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O blog já anda a cheirar a férias. Na verdade, com este sol convidativo, tem sido pouca a reflexão e muita a diversão. Muitas leituras, o Criptonomicon de Neal Stephenson, tomo volumoso e viciante, para quem estiver interessado em saber. Alguns banhos de sol sempre debaixo do chapéu porque é à sombra que se está bem. Alguns mergulhos no mar, que isto a Ericeira não é famosa pelo calor das suas águas atlânticas, até muito pelo contrário. E sempre que posso, mais umas fotos aos recantos submersos que o recuar ritualístico da maré desvenda por breves instantes.

domingo, 23 de julho de 2006

Bailinhos

Possívelmente a maior praga a assolar o verão português é a dos bailinhos da paróquia. Acreditem-me, é uma experiência excruciante, um cruzamento entre uma ida ao dentista sem anestesia e o arrancar lento da pele por um torturador experimentado. E não há terra neste país que se escape a esta insidiosa praga.

Já é suficientemente mau ter de ouvir música pimba aos altos berros nos adros das igrejas e nas praças públicas; muito pior é ter de ouvir covers de música pimba os altos berros nos adros das igrejas e nas praças públicas. Isso é todo um novo nível de profundidade; é raspar o lodo do fundo do esgoto.

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Leituras

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The Eagles: their history, uses and construction Aqueles mais nostálgicos de entre os meus leitores lembram-se certamente da série televisiva Espaço: 1999, onde os habitantes de uma base lunar viviam aventuras à deriva pelo espaço após a lua ter sido ejectada da órbita terrestre, uma das consequências de uma guerra nuclear que devastou a terra. Aqueles com melhor memória lembram-se certamente dos módulos Eagle, aquelas curiosas naves espaciais que tinham muito pouco a ver com o estereótipo de nave espacial, geralmente apresentada com uma espécie de caça de combate ultra-aerodinâmico. Pelo contrário, os Eagles assemelhavam-se muito ao que realmente seria uma nave espacial multifunções. Para os fanáticos e para os curiosos, esta página dedica-se exclusivamente as estas curiosas naves.

BBC | Secrets of ocean birth laid bare O nascimento de um oceano: um rift no corno de àfrica está a permitir aos cientistas estudarem o processo de formação de um mar. Pensa-se que dentro de um milhão de anos o processo estará completo.

Guardian | Lebanon, North Korea, Russia... here is the world's new multipolar disorder A questão das ordens mundiais tem muito que se lhe diga, da pax romana ao rule britannia, sem esquecer a guerra fria e a famosa new world order proclamada pelo pai do agora presidente norte-americano. Mas dos escombros do Líbano, das pretensões norte-coreanas e iranianas, do caos iraquiano, misturados com as aspirações de novas potências económicas e militares como a China, a Índia e o Brasil, o que está a surgir é aparentemente uma ordem de caos e sangue. Uma desordem mundial...

Guardian | Italian police find "slave camp" Não acontece só aos portugueses escravizados em Espanha; em Itália foi recentemente desmantelada uma rede de esclavagismo de imigrantes ilegais polacos, que chegava ao pormenor de os encerrar em condições muito similares às de campos de concentração, onde os mafiosos que montavam guarda aos trabalhadores ilegais se apelidavam de Kapos - o infame nome dos guardas de campos de concentração nazi.

The New Yorker | Folie à Deux Passado e presente na vida de dois irmãos desavindos cruzam-se neste conto de William Trevor.

Principices

A recuperação dos festejos do príncipe está a fazer-se com exercício físico, deixando o meu atelier novamente próprio para habitação humana. Quanto à festa de ontem, só posso dizer que já tenho saudades da poncha, das espetadas em pau de loureiro, do milho frito e daquelas belíssimas salsichas picantes. O vinho jaquê/jacquet/jace (ou lá como é que isso se escreve) dispenso - já provei melhores vinagres.

Sabe sempre bem comer e beber entre amigos.

quinta-feira, 20 de julho de 2006

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Ainda nada de novo. Estes primeiros dias de férias são inclementes; muito mais trabalhosos e cansativos do que um dia normal de trabalho. O tempo livre significa que somos obrigados a ter tempo para aquilo que não nos apeteceu fazer ao longo do ano... ostensivamente por falta de tempo. Sendo assim, ando há três dias atarefado a pôr ordem no meu atelier, o que significa desarrumar tudo, limpar as zonas que não vêm limpeza há já uns tempos, e voltar a arrumar tudo. Parece tarefa simples, mas quando se tem que limpar centenas de livros um a um... é uma tarefa hérculea.

Festa solene

Hoje soam as trompetas; hoje é dia especial, pois a realeza faz anos. Hoje o principado engalana-se para receber os convivas no festim que mais à tardinha assinalará o solene aniversário do Príncipe das Turmentas. Salvé, Príncipe!

O monarca prometeu um festim madeirense, e este escriba alienígena lá estará para saborear os sabores e degustar os néctares, saudando bem alto à saúde do monarca do principado.

quarta-feira, 19 de julho de 2006

Influências

Depois de ler aquele artigo sobre a forma como o cinema vê os cientistas, não deixei de reparar na eterna referência à ficção científica: grande parte dos cientistas tornaram-se cientistas porque a sua infância foi passada a ler ou a ver ficção científica. Quem cresceu com Isaac Asimov, Arthur c. Clarke ou as pulp magazines inspirou-se nos conceitos para lá deste mundo para se tornar cientista, e em alguns casos, autor de ficção científica.

O que isto reflecte é uma disponibilização de conceitos na cultura popular, mediática e acessível a todos pelo preço da revista ou do ligar do televisor. A FC não era o único conteúdo disponível, e certamente que muitos soldados se alistaram inspirados em clássicos camp como a A-Team (confessem lá, ó os da minham geração, que ainda se lembram do B.A.). Não quero com isto dizer que há uma ligação tão directa entre a cultura que consumimos e a pessoa que nos tornamos - isso seria admitir que não passaríamos de andróides programáveis por qualquer programa televisivo que estivesse mais à mão. Mas é inegável que há uma relação entre as imagens, os modelos de comportamento divulgados pela cultura popular da nossa infância e algumas das nossas escolhas de futuro. Sendo eu professor e não astronauta, pasando eu a vida a deturpar pequenas mentes ali para os vales saloios em vez de aventureiro do hiper-espaço sempre pronto a aniquilar selvagens alienígenas em planetas exóticos, creio que sirvo como exemplo dessa ligação ténue. Mas a minha apetência infantil por ficção científica, alimentada por séries como Espaço 1999 ou Battlestar Galactica traduziu-se num respeito (e gosto) profundo pela FC como campo literário e por uma cultura científica que se não me levou a uma carreira na àrea me leva a respeitar profundamente os conceitos científicos no dia a dia da minha carreira - fazendo coisas aparentemente tão díspares como falar aos meus alunos da teoria atómica quando os ensino a pintar, mas que enriquecem a cultura científica dos alunos (pelo menos a daqueles que não adormecem nessas aulas).

Mas estou a divergir. A pergunta que ando a fazer é esta: as crianças de hoje, adultos de amanhã, estão rodeados de uma paisagem mediática povoada por telenovelas, sem qualquer alternativa. Crescendo a ver, com a televisão a servir de lareias ao seu crescimento, quem dorme com quem quem se apaixona por quem quem compra o quê em vez de quem faz o quê e porquê, pergunto-me em que tipo de adultos se irão transformar?

(Faço só a pergunta, sem juízos de valor sobre o declínio das gerações futuras.)

Leituras

BBC | Clone would feel individuality Estudo levados a cabo em gémeos concluíram o óbvio - que um clone humano sentir-se-ia um ser individual, com uma personalidade própria e sentimentos próprios, apesar das igualdades genéticas.

Guardian | Lebanon: the world looks on Enquanto Israel arrasa o Líbano na sua tentativa de esmagar as milícias do Hezbollah, aterrorizando a população civil que é quem mais está sofrer no meio disto, os Estados Unidos apoiam, complacentes, e a União Europeia é incapaz de assumir sequer uma posição. Entretanto, os bombardeamentos continuam, pessoas morrem, toda a infraestrutura de um país é arrasada.

Depois surpreendemo-nos com a génese dos ataques terroristas, e perguntamo-mos como é que as pessoas militam em movimentos como a Al-Qaeda e similares. Ver o país onde se vive arrasado em nome de objectivos políticos enquando a sempre tolerante comunidade internacional aprova tácitamente, nada fazendo para impedir os massacres e a destruição, é capaz de semear germes de revolta nos mais pacatos homens e mulheres.

Telegraph | Is Tintin the key to modern literature? Uma nova interpretação da obra de Hergé, à luz dos paradigmas da teoria literária, revela uma surpreendente profundidade escondida sobre os traços de ligne claire de uma das personagens icónicas da história da Banda Desenhada.

terça-feira, 18 de julho de 2006

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Nada de novo, ainda, apenas um pequeno detalhe.

Leituras

BBC | Plastic planes set to rule sky A era das aeronaves de metal brilhante é coisa do passado. A evolução dos materiais compósitos indica que não estará longe o dia em que voará o primeiro avião comercial de série completamente feito em plástico - não o plástico dos sacos, claro, mas sim materiais compósitos de alta resistência e peso leve.

BBC | Discovery makes Florida landing Terminou a missão do vai-vém espacial Discovery, em tom de perfeita rotina - o que significa que a missão foi um sucesso, podendo em breve regressar ao espaço outra missão dos vai-véns espaciais. O principal objectivo desta missão, provar que o sistema ainda é capaz de garantir missões orbitais seguras, foi totalmente conseguido.

Guardian | Loss of mangroves threatens Pacific islands Os mangais são um dos mais frágeis e fascinantes ecossistemas terrestres, mas os esforços combinados da subida do nível das àguas do mar com a destruição provocada pela exploração humana estão a aniquilar estes ecossistemas, e consequentemente a desproteger as ilhas e atóis do pacífico sul.

Physics World | Hollywood physics Uma das personagens mais ubíquas do cinema é a do cientista - desde o perfeito lunático dos filmes de série B até ao génio que salva o mundo com as suas intuições. No entanto, embora a imagem do cientista no cinema tenha vindo a melhorar ao longo dos tempos, a verosimilidade científica é coisa que rareia.

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Leituras

Art under control in North Korea Envergonhadamente escondidos nos fundos dos museus de Bona a Vladivostok estão os resultados pictóricos da aplicação do comunismo fanático à arte: o realismo socialista, pleno de obras exaltantes, representando os hérois proletários que trabalham no campo e nas fábricas, representando os triunfos dos líderes, representando as paisagens gloriosas da mãe-pátria, tão carinhosamente bem tratada pelo estado, pelo partido e pelos seus esclarecidos líderes. Era a resposta dos regimes às "loucuras" desviantes e degeneradas das opressoras sociedades ocidentais, plenas de correntes elitistas como o abstraccionismo ou o surrealismo, que não transmitiam a mensagem do povo mas sim os valores reaccionários das criminosas classes dominantes. Com a derrocada generalizada dos regimes vermelhos, os espartilhos artísticos têm-se desfeito, e até mesmo na China, que é de não esquecer que continua a ser a China Vermelha em algo mais do que nome, as restrições à práctica artística estão a dissolver-se. Resta como bastião do realismo socialista a Coreia do Norte, esse idiossincrático país de fome e armas nucleares, de pobreza e mísseis de longo alcance, encabeçado por Kim Jong Il, o genial e admirável querido líder, filho de Kim Il Jong, o já falecido presidente para toda a eternidade. Aí, o realismo socialista leva o nome de realismo "juche", de acordo com a filosofia política de Kim Il Jong, uma estranha mistura de comunismo com valores coreanos. Os artistas trabalham para o estado, recebendo um salário mensal e produzindo obras que estão de acordo com os preceitos artísticos do regime, ou seja, de acordo com a visão de Kim Jong Il: "A picture must be painted in such a way that the viewer can understand its meaning. If the people who see a picture cannot grasp its meaning, no matter what a talented artist may have painted it, they cannot say it is a good picture." Quem pensar de forma diferente tem encontro marcado com o pelotão de fuzilamento (o que tendo em conta a qualidade de vida norte-coreana talvez não seja assim tão mau).

domingo, 16 de julho de 2006

Falta de Água

De acordo com o Ericeira.Com, amanhã vai haver cortes de água aqui para os nossos lados. Vão lá ver onde. Deve ter a ver com as obras que estão a ser feitas aqui na zona da Camacha. De qualquer maneira, o tempo anda convidativo a banhos de mar, e dessa água não falta.

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Mais recantos submersos. Não resisto.

Leituras

BBC | Homeopathic practices risk lives Não compreendo o desdém que os habitantes das mais avançadas sociedades que alguma vez colonizaram este planeta têm sobre a medicina científica, que tem trazido à humanidade benefícios imensos, quase milagrosos. Antes, preferem as patranhas dos vendilhões de banha da cobra, crendo sinceramente que as tisanas, as gotinhas homeopáticas, os reikis e todas essas outras "terapias alternativas" são mais eficientes do que uma boa dose de medicina high tech ocidental.

Guardian | Israel's monstrous legacy brings tumult a step closer Em que é que eles andam a pensar? O já clássico caos do médio oriente anda exacerbado pelas operações militares israelitas em Gaza e no Líbano. O caso de Gaza é criminoso, aproximando-se da tentativa de genocídio - enclausuram-se os palestinianos numa estreita faixa e vai-se pressionando, cortando linhas financeiras e linhas de abastecimento. No caso do Líbano, é agressão pura a um estado de direito. Fosse Israel um dos países-pária pertencente aos "eixos do mal" deste mundo, seria caso para uma intervenção militar mediática para submeter aqueles que desafiam a ordem e a democracia mundial. Mas, sendo Israel um estado-cliente, pode-se advogar o direito de fazer recuar todo um país no tempo à força de bombas, um país que na segunda metade deste século tem sofrido, e muito, graças a vizinho mais a sul, em nome de objectivos muito pouco claros. Enfurece, ver que é perfeitamente defensível ver responsáveis israelitas a anunciar que vão atrasar o Líbano vinte anos, bombardeando pontes, aeroportos, centrais eléctricas e outras instalações económicamente vitais, sem que a dita comunidade internacional se revolte, como o faz (e justamente) quando os ditadores de pacotilha que infelizmente ainda abundam por aí anunciam os seus planos malévolos. Andará uma violenta guerra regional a aproximar-se?

Guardian | Inflatable spacecraft launched O conceito é interessante - lançar para órbita módulos insufláveis, que em órbita são insuflados e podem ser agregados numa estação espacial. O magnata do turismo Robert Bigelow, cujo sonho anunciado é abrir um hotel orbital em 2012, apostou neste conceito, e o primeiro protótipo já está a orbitar a terra. Está em fase de testes, mas o futuro da ideia é prometedor. Só falta agora um veículo capaz de colocar turistas em órbita de forma económica - os foguetões tradicionais são caros e perigosos, e os veículos como a Space Ship One de Burt Rutan são sub-orbitais, logo incapazes de levar passageiros à órbita terrestre.

Apesar do presente ser entristecedor, o futuro ainda promete.

Momentos felizes

O dia de ontem foi passado num dos tradicionais rituais do verão português: o casamento. Foi um longo dia, que correu como correm todas as cerimónias de casamento, com muitos votos de felicidade, muitos olás como está a perfeitos desconhecidos mas que serão familiares de alguém, muitos risos e vozes estridentes. E, claro, o longo ritual gastronómico de acepipes, almoços de três pratos, muitos doces e as cornucópias que libertam cascatas de fatias de carne e camarões. Enfim, um festim. Desejam-se as maiores felicidades aos noivos, enquanto de saboreia um whisky a acentuar o paladar de um charuto (suspendi temporáriamente a minha resolução de deixar de fumar durante cerca de meio charuto) e se observam os vários preparos e despreparos dos restantes convidados.

Claro que não vou divulgar de quem foi o casamento; fico-me por dizer que foi coisa de família. Aos noivos, que conheço mal, desejo as maiores felicidades e agradeço um dia bem passado.

O pormenor desagradável no clássico casamento português é a ênfase do casamento em pleno verão. Na época mais quente do ano, em dias tórridos em que o corpo só pede para estar alapado à sombra tentanto absorver alguma frescura, o convidado de um casamento tem de se enfarpelar com um fato completo, preto (que absorve mais intensamente a radiação solar, aquecendo que nem um forno), composto com uma gravata (não sou normalmente apologista do genocídio mas creio que a nação croata devia ser totalmente exterminada como punição pelo seu legado ao mundo, a gravata). E assim continua, ao longo do dia, passando pelo local de culto escolhido para a cerimónia - no caso de ontem, um relvado sem qualquer sombra sob o sol escaldante do meio do dia, até que a insopurtabilitade do calor supera o decoro e o sentido da elegância das vestes. Passado este patamar, é ver gravatas dependuradas das cadeiras e camisas bem abertas para arejar o corpo. Por outro lado, as convidadas não sofrem tanto, uma vez que os vestidos femininos são muito mais leves e arejados do que o fato de três peças masculino - por outro lado, o sofrimento das convidadas em conseguir encontrar as peças de roupa certas, os vestidos perfeitos e as écharpes a condizer é muito maior do que o dos convidados a suar em bica debaixo de um fato e de uma gravata. Acreditem, falo por experiência própria...

O comentário habitual é de que os noivos tiveram sorte com o tempo, está um lindo dia com um belíssimo tempo. Isto sob um sol tórrido que queima a pele mesmo através do tecido quente do fato preto, enquanto o corpo se esvai em suor. Pois claro, então, um dia perfeito! Não havia assim um diazinho de primavera, solarengo mas arejado, ou um daqueles dias de inverno bem fresquinhos?

Resmungos à parte, sentimo-nos sempre mais humanos após uma destas cerimónias, independentemente de acreditar-mos nelas ou não. Faz parte das tradições, é um ritual simpático que compõe o rico desfile da diversidade da vida.

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Rainha dos Anjos

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Rainha dos Anjos, Greg Bear, Devir, 2001, tradução de Luís Filipe Silva

Greg Bear
Wikipedia | Queen of Angels
Infinity Plus | Greg Bear interviewed

Foram escritas no século XIX algumas das maiores obras literárias de sempre; obras marcantes, que ainda hoje influenciam e se mantém actuais, monumentos que são à genialidade humana. Entre esse conjunto de grandes obras encontra-se Crime e Castigo, a ode de Dostoievsky à redenção do homem. Das profundezas do século XIX na Rússia, Dostoievsky toca-nos, criaturas da viragem do século XX para o XXI, com a sua história de Raskolnikov, homem de finas sensibilidades que desejando saber o que sente um criminoso assassina uma mulher. Após o acto horrendo, as sensações de triunfo depressa se desvanecem para o mais profundo arrependimento, acabando por se entregar e buscar a redenção no castigo gelado da Sibéria.

O germe de Crime e Castigo encontra-se perfeitamente encastrado no livro Rainha dos Anjos de Greg Bear. Neste livro acompanhamos quatro fios condutores que giram à volta de uma personagem central, Emanuel Goldsmith, cujo nome faz lembrar uma outra possível referência deste livro, o 1984 de George Orwell - não esqueçamos que o grande inimigo da sociedade, a encarnação de todo o mal contra o qual o Grande Irmão protege os cidadãos, tem o nome de Emanuel Goldstein, tão demasiado próximo de Goldsmith para ser coincidência. Goldsmith é o maior poeta afro-americano da sua época, cujas palavras inspiram admiração em todos os quadrantes. Mas sem que se saiba porquê, Goldsmith comete o impensável - assassina bárbaramente seis pessoas, que atraíra a sua casa sob pretexto de um serão literário (se me for permitido o reparo, em Crime e Castigo bastou uma).

O porquê do crime de Goldsmith é o ponto fulcral desta história que se passa no cada vez menos longínquo ano de 2047. O mundo de 2047 não é assim tão diferente do nosso mundo contemporâneo, é apenas mais... evoluído. A sociedade americana divide-se em três grandes facções, a dos terapeutizados, homens e mulheres que se submeteram voluntáriamente a terapia psicológica para eliminarem as imperfeições da alma humana, a dos não-terapeutizados, defensores acérrimos da sua pureza bio e psicológica, e a dos transformados, pós-humanos que se submeteram a intervenções biotecnológicas que os fazem ultrapassar a mera condição humana. Este trio social representa-se em três dos quatro fios condutores do livro. As personagens principais, cujas acções em busca da verdade sobre as acções de Goldsmith acompanhamos, são representantes de cada um destes géneros sociais.

A inspectora Mary Choi, uma oficial dos Defensores Públicos (uma sociedade avançada e terapeutizada não necessita de algo tão brutal como um corpo de polícia) é uma transformada a quem lhe é dada a tarefa de deter Emanuel Goldsmith após a descoberta macabra de seis corpos cortados aos bocados. Mary corre contra o tempo, tentando chegar a Goldsmith antes dos Selectores, uma sociedade secreta ilegal que se deleita em punir crimes através da aplicação de coroas do inferno, mecanismos que danificam permanentemente a mente daqueles a quem são aplicadas. As pistas de que Mary dispõe levam-na a Hispaniola, a ilha do Haiti e República Dominicana, unificada sob a ditadura dura e benévola de Sir John Yardley. Chegada a Hispaniola, Mary mergulha num país à beira da guerra civil e é aprisionada por um regime que cortou relações com os estados unidos. Mesmo assim, prossegue a sua missão, e descobre não Goldsmith mas o seu irmão gémeo, detido na ilha e submetido ao castigo da justiça a levam a correr todos os riscos para que a justiça, a verdadeira justiça, seja feita.

Paralelamente, Richard Fettle, um homem não-terapeutizado que pretende ser escritor e pertencente ao círculo de artistas amigos e aduladores de Goldsmith vive uma intensa luta mental ao tentar compreender o crime de Goldsmith. Após períodos de intensa confusão, Fettle consegue o socialmente impensável - por si só, sem ajuda de terapeutas, resolve os seus problemas psicológicas: em suma, auto-terapeutiza-se. Fettle é o homem comum, que tem de resolver interiormente as pressões de uma sociedade altamente complexa contra as pulsões da alma humana, que se recusa a perder a sua identidade.

Goldsmith encontra-se na mansão de Albigoni, um magnata cultural pai de uma das vítimas do poeta. Tentando compreender o porquê do crime, Albigoni contrata Martin Burke, um cientista caído em desgraça que é a maior sumidade no campo das psicoterapias. O método de trabalho de Martin Burke é penetrar no país da mente dos seus pacientes, um espaço virtual e metafórico, uma espécie de realidade virtual interior, residente na mente profunda de cada um. Mas ao penetrar na mente de Goldsmith, Burke depara-se com o fascinante e o inesperado. A mente de Goldsmith não se assemelha a mais nenhuma que tenha sido estudada; o país da mente de Goldsmith encontra-se dominado por figuras da mitologia vodu, as metáforas mentais para os traumas profundos que marcam Goldsmith. O elemento mais perigoso no país da mente está nas metáforas terem aniquilado a personalidade: no mais profundo do seu ser, Goldsmith não existe. Martin Burke emerge da experiência profundamente marcado e contaminado pelo vírus mental que aniquilou Goldsmith. Martin Burke é um Fausto típico, capaz de vender a sua alma para obter a satisfação dos seus desejos (esta é uma comparação que Greg Bear deixa muito explícita no livro) mas que acaba derrotado, enganado e destruído, acabando por procurar a sua redenção.

A razão fundamental para o crime de Goldsmith acaba por ser banal - não há grandes verdades fundamentais ou gigantescos insights sobre a moralidade humana. Filho de um pai violento, Goldsmith assistiu ao assassínio da sua mãe e acaba mais tarde por assassinar o próprio pai. Separado do irmão, reprime a sua personalidade original e exterioriza-se através da poesia, até que o contacto com a mitologia vodu prevalente em Hispaniola o leva à locura que, no fundo, nunca o abandonou.

O quarto fio condutor do livro não gira à volta do crime de Goldsmith, muito pelo contrário. Este fio condutor funciona como um pano de fundo histórico. Se bem que Rainha dos Anjos apresente convicentes cenários futuristas, o quarto aspecto do livro leva a contextualização e a previsão de um mundo futuro a outro nível. De certa forma, este quarto fio é como um noticiário que nos interrompe o dia a dia para nos trazer notícias distantes. Através deste artifício somos introduzidos ao AXEI, uma nave espacial robótica que fora enviada a Alfa Centauro para explorar os planetas que orbitam a estrela. As distâncias relativísticas são imperdoáveis, com a comunicação entre a nave e a Terra a demorar anos. Por isso a nave é dotada de uma avançada inteligência artificial, modelada nas personalidades dos seus criadores e numa incógnita: havendo a possibilidade do AXEI entrar em contacto com inteligências alienígenas, a inteligência artificial é programada para ser capaz de as avaliar e reconhecer, sendo capaz de tomar as medidas necessárias autónomamente. A exploração do AXEI é um sucesso: as imagens da exploração de um dos planetas de Alfa Centauro revelam a existência de vida, com ecossistemas complexos, e até indicações da existência de vida inteligente, com a descoberta de possíveis artefactos. Mas esses artefactos acabam por se revelar naturais, um produto dos ciclos do ecossistema do planeta. Perante a possibilidade de contactar com outra inteligência, o AXEI, isolado a anos-luz do planeta terra, sofre uma transformação que o faz ultrapassar o patamar da inteligência artificial para o limiar da personalidade, da consciência de si. O AXEI torna-se assim na primeira inteligência não humana, espelhada na terra por JILL, a contraparte do AXEI que simula os seus processos para que os controladores da missão consigam antecipar o que se passa á distânica de anos-luz.

Rainha dos Anjos termina com o emergir de uma nova consciência enquando a velha consciência humana continua a debater-se com os dilemas intemporais. Uma obra de mestre, de um dos mestres da f.c. contemporânea.

Promenade

Dear Land of Hope, thy hope is crowned.
God make thee mightier yet!
On Sov'reign brows, beloved, renowned,
Once more thy crown is set.
Thine equal laws, by Freedom gained,
Have ruled thee well and long;
By Freedom gained, by Truth maintained,
Thine Empire shall be strong.
Land of Hope and Glory,
Mother of the Free,
How shall we extol thee,
Who are born of thee?
Wider still and wider
Shall thy bounds be set;
God, who made thee mighty,
Make thee mightier yet
God, who made thee mighty,
Make thee mightier yet.
Thy fame is ancient as the days,
As Ocean large and wide
A pride that dares, and heeds not praise,
A stern and silent pride
Not that false joy that dreams content
With what our sires have won;
The blood a hero sire hath spent
Still nerves a hero son.


Assim terminam em apoteose os Concertos Promenade, a maior celebração anual da música clássica, com a tradição instituída de tocar a marcha Pompa e Circunstância de Elgar com o público extático a cantar estas palavras. Para quem não sabe o que são os Proms, a metáfora possível para os definir seria comparar com os campeonatos mundiais de futebol, tal o entusiasmo que geram. Começam hoje, tal como todos os anos, e serão sessenta e oito concertos, um por dia, a terminar na já clássica apoteose. Se, como eu, não estiverem pelas redondezas de Londres, podem sempre ouvi-los em transmissão directa pela Antena 2 ou no site da BBC dedicado aos Concertos Promenade.

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Mundo Submerso

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Para mim, a beleza residente nestas imagens que capturo está na sua fugacidade. O local é sempre o mesmo - as rochas entre a praia do forte e a praia de mil regos, aqui na ericeira, nos momentos de maré baixa. Repetir inúmeras fotografias sempre no mesmo local pode parecer entediante e até ridículo, mas há um pormenor que escapa aos olhos: nunca ficam duas fotos iguais. As mudanças minuciosas dos ventos e das marés, da erosão, da dinâmica dos seres vivos e o constante cinzelar da rocha pelas ondas introduz variações. Os buracos nas rochas, fervilhantes de vida minúscula, nunca são exactamente iguais de um dia para o outro. É este o admirável desfile da vida, fugaz e efémero, que em tento desajeitadamente em vão capturar com os meus patéticos dotes artísticos.

De nada!. Eu é que agradeço pelo brilhantismo do livro. Fazia tempo que não lia material tão interessante.

É oficial. Estou de férias. Quem me quiser que me procure no areal, entre as rochas. Sou aquele que está obsessivamente curvado em busca de conchas minúsculas com uma cadela irritante a latir.

Leituras

BBC | Happiness doesn't cost the earth As nossas sociedades desenvolvidas contemporâneas não são exactamente conhecidas pela sua frugalidade; será possível manter os nossos níveis de vida sem aniquilar o planeta que nos sustenta?

Guardian | Meat production today is not just inhumane, it's inefficient Por detrás do bife suculento ou do delicioso frango assado está um percurso de barbárie chocante. A produção industrial de carne é notóriamente violenta e desumana para os animais que nos alimentam. As condições de vida e de abate dos animais são tão violentas que a única comparação que me ocorre é com o holocausto nazi. É certo que são animais e não seres humanos, mas a barbárie tão essencial à alma humana está lá.

Guardian | The cutting-edge of space technology: duct tape A mais eficiente ferramenta no arsenal ultra-tecnológico da NASA é a humilde fita adesiva. Quando tudo o resto falha, está lá a fita adesiva para desenrascar. Desde o acidente da Apolo XIII às reparações efecutadas em órbita na penúltima missão do vai-vém espacial, tem sido os rolos de fita adesiva que resolvem os problemas quando os materiais de alta tecnologia falham.

InfinityPlus | I Hold My Father's Paws Neste conto de David Levine, o fosso entre pai e filho é fechado através de uma bizarra mesclagem de biotecnologia com o desejo tão humano de estar livre de todas as preocupações.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Os Ossos do Arco-Íris

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SdE | Os Ossos do Arco-Íris
O Sonho de Newton

Devo dizer que fiquei fascinado pelo livro Os Ossos do Arco-Íris, de David Soares, que também edita o blog O Sonho de Newton . É um livro tenebroso e assustador, que reúne três contos sobre os males obscuros que se escondem nos mundos fantásticos que emergem da mente do escritor, mundos de trevas e horror com curiosos pontos de contacto com a nossa realidade consensual.

Os Ossos do Arco-Íris reúne três contos de David Soares, Cara-em-Obras, Hinos a um ser superior e Os Ossos do Arco-Íris. A linha comum que os atravessa é a descrição de horrores viscerais, que nos atingem como um soco no estômago. As histórias surpreendem - são por vezes desconexas, por vezes feéricas, por vezes escatológicas e de uma violência extrema. A prosa filigranada de David Soares ajuda de uma forma gongórica ao exacerbar das trevas que são o grande mote do livro. Mas embora filigranada, a prosa é viciante - este é um daqueles livros que não conseguimos parar de ler, ansiosos por saber o que se passará a seguir, que terrível segredo será revelado, que horror avassalador nos aguarda ao virar da página. O que a prosa não é é simplista. Faz lembrar a prosa muito própria de H. P. Lovecraft, um escritor que certamente exerce grande influência na imaginação de David Soares, sem que no entanto o livro seja um cópia do estilo e temas lovecraftianos; antes, é uma obra que constroi mundos só seus, ultrapassando as referências do género e que certamente que se tornará uma referência no género literário em Portugal.

Os Ossos do Arco-Íris é uma obra de visões de horror, em que as obsessões e a maldade arquetípica se conjugam em ambientes onde o obscurantismo impera, forças malévolas ancestrais jogam com a ambiciosa humanidade, e os miasmas tenebrosos tudo contaminam com uma pátina diabólica de sangue e trevas onde a escatologia sexual e o profundo macabro se fundem.

Excusado será dizer que recomendo vivamente esta proposta de ficção de horror em português publicada pela Saída de Emergência. Mas deixo aqui o aviso - Os Ossos do Arco-Íris é uma leitura para estômagos fortes. E que sabe a pouco. Chegado ao inexorável final do livro, voltei a sentir aquele arrepio na alma que anda tão arredado da maioria dos livros que me chegam às mãos - aquele arrepio de "é só isto? não há mais? queria ler mais e mais..."

Leituras

Guardian | WMDs in slow motion O que é que é mais destruídor - um míssil equipado com ogivas nucleares ou uma simples pistola? Na realidade, é a humilde pistola. Por si só, pouco faz, mas os milhões de armas de mão que andam à solta por esse violento mundo fora fazem mais vítimas por ano do que as vítimas dos ataques atómicos a Hiroshima e Nagasaki.

Guardian | Greece demands return of stolen heritage Os grandes museus da Europa contém o resultado do saque colonial. As grandes obras da antiguidade encontram-se não nos seus territórios de origem mas guardadas em Londres, Berlim ou Paris. De vez em quando, há iniciativas que pretendem restaurar estes tesouros artísticos ao seu devido lugar.

Los Angeles Times | Forging ahead in Moscow O que é que há em comum entre a economia de consumo russa e as nossas feiras saloias? É que grande parte dos bens lá vendidos são falsificações. A mania do falso chegou a todos os níveis, até às férias - já deixei aqui um apontamento sobre a agência de viagens russa que por um preço módico cria a ilusão de se ter tido umas esplendorosas férias num qualquer paraíso inacessível ao comum dos russos.

Wired | The rise and fall of the hit Os produtores da cultura de consumo estão mal habituados. Longe vão os tempos em que nomes sonantes e ideias feitas garantiam grandes lucros. Agora, o lucro está nos nichos. O futuro dos estúdios de cinema e das editoras de música e literatura não está na aposta nos grandes sucessos, em lucrar muito vendendo poucos produtos a muitos consumidores, mas sim em diversificar, vendendo muitos produtos de pouco sucesso mas que agregando os consumidores dispersos geram bons lucros. Tudo isto, claro, propiciado pela internet, que permite que a música seja vendida liberta dos albuns e que livros fora de publicação ainda rendam graças às livrarias virtuais. É o conceito que Chris Anderson, o editor da Wired que investiga este fenómeno, denomina de long tail.

terça-feira, 11 de julho de 2006

Mais uma

A minha rapariga decidiu juntar-se ao mundo dos blogs. Está no Letrinhas Pensantes. Mas não pensem que descobrirão todos os podres sobre mim. Ai dela...

Arte

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Para quem gosta de discutir e teorizar sobre os significados mais profundos da arte, sobre o que é a arte, com ínfimas variações sobre o relativismo das opiniões sobre sensações e imponderáveis ocultos, dedico esta fotografia "impressionista" propiciada por um acaso de conjunções - a maré baixou, o vento fazia-se sentir e a luz incida no ângulo certo. E eu, por acaso por lá passeava, estava lá e registei. A arte será isto, Manuel, a tentativa de capturar o fugaz e o efémero, tentando imortalizar um momento no tempo?

Leituras

Correio da Manhã | Alarme contra sol ultravioleta Future Shock! Próximos avisos urgentes: concentração perigosa de nanopartículas no ar; níveis perigosos de radiação publicitária cerebral; Cuidado: zona ambiental morta, entre por sua conta e risco; concentrações elevadas de vírus informáticos; nanomáquinas potencialmente letais. O futuro, vive-se hoje.

Guardian | The debts of despair A liberalização do mercado do crédito ao consumo transformou o comum cidadão-consumidor de classe média num portfólio de dívidas ambulante. Ele é o crédito para a casa, para o carro, para a viagem, para os móveis, ele é o crédito para pagar o crédito. Acorrentados a dívidas a que nunca mais vemos fim, será a nossa situação assim tão diferente da dos seringueiros da amazónia, tal como Ferreira de Castro a contou n'A Selva?

(Que, para quem não leu o livro, era a seguinte: os seringueiros eram contratados para trabalhar nas plantações de borracha nas profundezas da selva. Em locais tão remotos, apenas podiam adquirir os seus bens do dia a dia nas lojas da empresa que os contratava. Estas lojas adiantavam aos seringueiros a roupa, a comida e utensílios, descontando no salário semanal destes. Ao final da semana, os preços elevados praticados nestas lojas garantiam que não só o seringueiro nada recebia, como ainda se encontrava endividado e obrigado a prolongar o contrato indefinidamente. Era uma forma de esclavagismo virtual)

Wired | The intergalactic mashup king Werner Herzog, autor de filmes onde a obsessão desmedida do homem o leva à perdição (como Aguirre, de fabulosas paisagens) embarcou numa nova aventura cinematográfica: um filme de ficção científica sobre uma expedição humana a outro planeta, um planeta aquático. Em vez de investir em efeitos especiais caríssimos, cenários desenhados pelos gurus da FC visual e cgi capaz de fritar processadores, Herzog vasculhou os arquivos da NASA e, juntando imagens de expedições antárticas filmadas por um dos seus cameramens cujo trabalho de férias era acompanhar expedições científicas ao extremo sul, montou um filme convincente utilizando a clássica técnica do corta e cola. É por isto que eu defendo que a arte mais recente, contemporânea e excitante não se encontra nas teorizações rarefeitas das instituições mas sim por aí à solta na rede.

Ossos

É viciante. Simplesmente não consigo deixar de ler Os Ossos do Arco Íris, o livro de contos de David Soares editado pela Saída de Emergência. Lê-lo é sentir na espinha o mesmo arrepio que senti quando li Lovecraft pela primeira vez. O livro atinge-nos no estômago como só a melhor da mais maldita literatura consegue. Estou viciado.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Segredos Matemáticos

A Espiral Dourada, Nuno Crato, Luís Tirapicos, Carlos Santos, Gradiva, 2006

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Gradiva | A Espiral Dourada
Wikipédia | Proporção Áurea
Wikipédia | Número de Fibonacci

Goste-se ou não, o que é inegável é que o Código da Vinci é um enorme sucesso. Gerou polémicas, gerou opiniões, gerou celeumas. Enfim, there is no such thing as bad publicity, dizem os entendidos. Mas o Código da Vinci também gerou toneladas de livros que andam às voltas com os mais ou menos polémicos conceitos esotéricos e gnósticos do livro. Uns apoiam as teorias, outros desacreditam-nas, outros tentam ir mais além. Enfim, o que é certo é que a quantidade de livros que este fenómeno gerou dava bem para encher umas bibliotecas de tamanho médio.

Se os conhecimentos ocultos são o que faz sucesso nas publicações à volta do Código, pouco se fala nos conhecimentos matemáticos, científicos e de história de arte presentes no livro. E é nesta lacuna que se insere este A Espiral Dourada, escrito a três mãos por Luís Tirapicos, Carlos Santos e Nuno Crato, famoso nos nossos meios pelas suas críticas às prosápias educativas. Dois cientistas e um jornalista de divulgação científica juntaram-se para desvendar os segredos matemáticos do Código da Vinci. Não falam de nada de novo - apenas contextualizam os clássicos números de Fibonacci, analisam os trânsitos de Vénus debaixo da afirmação de que estes representam um pentagrama nos céus, introduzem-nos à criptografia e desmontam o mito da proporção dourada, uma constante matemática que muitos querem ver a influenciar directamente as mais belas obras de arte.

Aqui a minha experiência artística leva-me a concordar com os autores. A chamada razão de ouro, a proporção divina, tem vindo a ser apontada como factor estruturante em obras tão díspares como as pirâmides egípcias, os templos gregos e a pintura renascentista. Mas quem olha, geralmente vê aquilo que quer... é certo e sabido que o posicionamento de formas numa superfície plana (traduzindo, a pintura) respeita regras de percepção visual que não são muitas vezes aparentes. Nestes jogos, a perspectiva é o elemento mais fácilmente identificável; mas qualquer artista, quer realista quer abstracto posiciona formas de uma maneira mais ou menos intuitiva no espaço da tela ou da folha respeitado regras relacionadas com o peso visual dos objectos, com a exploração do espaço negativo, com a relação forma-fundo e com o direccionar do olhar na leitura do quadro. Ou então, consciente destas regras, desrespeita-as intencionalmente.

O fundamental é perceber que isto é intuitivo - o acto de criação não se faz espartilhado por estas regras, embora mais tarde possa haver uma adaptação. É por isso um erro olhar para uma obra de arte e ver nela uma aplicação deliberada da regra de ouro - porque aquelas obras que foram deliberadamente criadas como aplicação destas regras são, geralmente, entediantes e irrelevantes. O acto de criação é intuitivo, e enriquecido pelo conhecimento destas regras, não espartilhado por elas.

A Espiral Dourada é um livrinho que se lê bem, recordando ou ensinando fragmentos culturais curiosos sobre matemática, geometria, ciências e arte. E aproveita o fenómeno em código para nos mostrar alguns dos verdadeiros códigos da natureza.

Tábuas Inteligentes

Acabei de assistir na minha escola a uma demonstração da utilização do nosso mais recente brinquedo pedagógico e... fiquei absolutamente fascinado, mesmerizado, apaixonado, mesmo. O utensílio em questão é um dos famosos smartboards, aqueles quadros virtuais que permitem fazer no quadro, perante os alunos, tudo aquilo que se faz num computador. O sistema é interessante - é necessário um computador, o quadro própriamente dito, que não passa de um ecrã de projecção sensível ao toque, e um projector. A demonstração cobriu os aspectos essenciais do uso do quadro, que são bastante básicos mas divertidos - o escrever no ecrã, utilizar animações e imagens, escrevendo ou desenhado sobre elas, aumentar ou diminuir imagens, sublinhar, enfim, fazer tudo o que fazíamos com os quadros de ardósia e com os projectores de acetatos, mas num passo muito mais à frente. Só estes aspectos primários já dão pano para mangas.

Mas há a possibilidade de passos ainda mais à frente. Se a utilização do software do quadro inteligente permite a um professor explanar conteúdos de forma mais eficiente, a capacidade do quadro de funcionar como tela/monitor é muito mais fascinante. Ao ver o formador a escrever e desenhar sobre o quadro virtual, imaginei uma tela, com ferramentas de desenho, numa forma de pintura virtual em que os gestos de desenhar e pintar frente à tela tivessem a correspondência digital. Imaginem-se a trabalhar no Photoshop, no Painter ou no Corel desta maneira - em vez de estarem sentados frente ao monitor, de pé, tocando no ecrã para criar imagens.

Não é uma aplicação muito educativa, podem pensar, mas imaginem um pouco mais: imaginem uma sala equipada com um quadro destes por aluno, e logo imaginam um atelier de artes digitais que nos retira da frente do computador, sem que este deixe de estar presente, e que nos deixa criar intuitivamente.

Claro está que vou planificar actividades da minha disciplina que impliquem o uso do SmartBoard pelos alunos. Como a minha clássica actividade do estudo da letra via Photoshop - em vez de ter os alunos isolados frente ao computador, todos juntos a desenhar no grande ecrã. Porque se o Smartboard fascina por permitir explicar melhor, basta olhar com atenção porque permite muito mais - permite ser uma tela virtual, onde podemos com as nossas próprias mãos projectar o nosso trabalho.

(E tenho que ter um cá para casa!!!)

Os vencedores

Parabéns à Itália pela vitória sobre a França e consequente vitória no Campeonato Mundial.

E agora acabou. Prometo que vou voltar a desinteressar-me completamente pelo futebol. Acabam-se assim por aqui os posts às voltas da bola, pelo menos até à Selecção Portuguesa começar a caminhar com sucesso nos próximos campeonatos. Assim o esperamos todos.

domingo, 9 de julho de 2006

Obrigado

Terminou ontem num tom triste a aventura da selecção portuguesa no mundial de futebol. E que aventura foi, jogo atrás de jogo a somar vitórias, por vezes após minutos de extrema tensão, até ao momento fatídico que nos entristeceu a todos. Foi uma selecção cansada e desmoralizada que se apresentou a jogo, ontem. Numa altura em que já todos acreditavam na final, ficar para trás foi demasiado para os espíritos. Mesmo assim, estão de parabéns pelo percurso até ao quarto lugar mundial.

De parabéns está também o treinador da selecção, a quem todos pedem que fique. Scolari veio de fora e soube olhar para nós, para os nossos defeitos e virtudes. E soube conquistar com o seu espírito de entreajuda, em que o mais importante não era competir para ganhar, mas ganhar ou perder sem perder a consciência, a amizade e o espírito de equipa. Entre os seus muitos méritos está o de me ter ensinado a respeitar o futebol. Crescendo como cresci num país de futebolistas, os bairrismos primitivos, os dinheiros milionários que circulam à volta do mundo da bola, e as fanfarronices parolas que se ouvem sempre que se vira uma esquina nunca me deram respeito pelo futebol como desporto. Mas ao ver algumas exibições fabulosas da nossa selecção, percebi que o futebol é mais do que jeitinho ou vinte e dois atletas a disputar uma bola - tem que ser jogado com estratégia, com a cabeça no lugar, antecipando jogadas e sabendo distrair o adversário. No fundo, não é assim tão diferente do xadrez...

Hoje os jogadores e Scolari foram recebidos como heróis por um país agradecido. Já disse e repito: não abano cahecois nem agito bandeiras, não grito portugal olé nem desafino o hino nacional. Mas confesso-me orgulhoso dos feitos desta nossa selecção. Esperemos que as lições aprendidas não sejam esquecidas; esperemos que saibamos, com eles e como eles, ir mais além.

Leituras

Correio da Manhã | Beriev fica em terra Não quero parecer um velho do restelo, mas a verdade é que a aquisição de aviões Beriev 200 para combater os fogos florestais parece ser um erro. O Be 200 é um avião a jacto, o que lhe dá mais capacidade para transportar àgua, mas também implica que necessite de uma maior distância de descolagem. Existem em Portugal barragens de tamanho suficiente para o avião operar, mas o acidente de ontem significa que também são necessários pilotos muito experientes, e que mesmo assim o risco de acidente é grande.

Guardian | It's all about me Eu. Meritocracia. Liberdade individual. Direitos individuais. Cada vez mais caminhamos para uma sociedade profundamente egocentrista, em que todos concordam em trabalhar para o bem comum mas na realidade fazem tudo o que podem para se favorecer a si próprios em detrimento dos outros.

sábado, 8 de julho de 2006

Leituras

The New Yorker | The Phone Call Para que nos recordemos dos saudosos tempos da guerra fria (só dois grandes inimigos, o bem e mal, nada de complicações islamistas), a New Yorker publica um texto de Aleksandr Solzhenitsyn.

BBC | Battle to break land speed record Nesta era em que tudo já foi feito, descoberto, explorado e inventado, é sempre bom saber que há quem ainda tente levar mais além os limites do possível. Embora o recorde absoluto de velocidade em terra, obtido por um piloto da RAF que conduziu um motor a jacto com rodas, seja difícil de ultrapassar, os recordes britânicos serão desafiados por dois aventureiros que correrão um contra um na tentativa de estabelecerem um novo recorde. Não tentem fazer isto com o vosso carro - por muito bom que seja o vosso chasso, vão sempre comer o pó de carros que são essencialmente rodas soldadas a um depósito de combustível que alimenta um motor a jacto.

Guardian | Valley of the Dolls A icónica boneca Sindy foi redesenhada - agora, os seios da boneca aproximar-se-ão mais da proporção normal dos seios femininos. Um pormenor curioso sobre as bonecas de sucesso como esta e as ubíquas Barbies é que se se tratassem de verdadeiras mulheres, o peso dos seus seios desproporcionados impedia-as de andar. A lei da gravidade é implacável... a reflexão está no que realmente ensinamos às crianças. Nas escolas e em acções pontuais, esforçamo-nos para transmitir valores de respeito mútuo, solidariedade, não violência, enfim, todos aqueles valores que são essenciais ao ser humano. Logo a seguir, oferecemos às criancinhas Barbies versão estereótipo de beleza ou Action Mans apetrechados de gigantescos arsenais bélicos. Imaginem o que terá mais impacto na mente infantil...

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Tidepool

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A luz e a maré estão numa conjugação perfeita para capturar imagens espantosas. O vento sobre as àguas límpidas gera ondinhas que reflectem a luz de uma forma intrigante. Por entre as rochas na maré baixa, os habituais que andam ao polvo são incomodados por mim, que ando à caça do recanto. Um dia, se estiverem interessadps, explico de que rudimentar forma me socorro para obter estas imagens que alguém já me disse parecerem ter sido "fotografias tiradas debaixo de àgua".

Juntei mais imagens "sumbmersas" à minha galeria no Flickr. Vão lá ver e depois deixem a opinião.

Enganos

O telefone toca no pior momento possível. Em plena via-rápida, no meio das curvas. Mesmo assim, decido atender - não sei se me esqueci de assinar algum documento educativo, ou se é algum condómino a avisar-me que o prédio está a ruir ou que, mais plausívelmente, que uma turba ululante de condóminos em fúria se uniu para me linchar o coiro.

- Estou? Estou?
- Tou? Ê a Graciete?
- O quê? - balbucio, tentando ouvir a voz por detrás do ruído do motor.
- Taí a Graciete? Ê queria falar cum ela!

Sotaque alentejano por detrás da linha.

- Ó amigo, olhe que não, enganou-se...
- Pois foi! Queria falar cuma mulher e saiu-me um home!

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Submerso

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A fantástica luz desta tarde conjurou-se com as águas límpidas e transparentes para revelar os recantos submersos.

Elegância

O final do dia de ontem foi entristecedor. Perder a meia-final do campeonato do mundo foi uma sensação triste, mesmo para quem não pensa que o futebol é a coisa mais bela ao cimo da terra. Que é o meu caso. Confesso que não vi nenhum dos jogos de futebol deste campeonado do princípio ao fim. Apenas via o fim, quando todo o burburinho à volta dos jogos aguçava a curiosidade ao máximo. E via com agrado as vitórias da selecção. No fundo, creio que até o mais indefectivel anti-bolista não conseguiu escapar ao bombardeamento macisso dos meios de comunicação, e não deixou de sentir uma pontinha de alegria pelo percurso da selecção.

A projecção nacionalista do futebol enquanto símbolo do patriotismo exacerbado é farsola até dizer chega. As cenas absolutamente ridículas de fãs do futebol perdidos de bêbedos a gritar pelo país e a agitar a bandeira são para mim sinais do nacionalismo mais básico, mais arcaico, digo mesmo pré-histórico. Para mim, gostar do meu país é levantar-me todos os dias e fazer ao longo do meu dia o melhor que posso para melhorar este país onde vivo; fazer a minha parte, e não agitar bandeirolas. Mas confesso uma pontinha de arrepio na espinha quando ouço o hino no início do jogo, ou até um bocadinho daquele orgulho básico quando se chega ao fim e... ganhámos.

Ganhar é fácil; a medida da nossa grandeza está antes na elegância do saber perder.

Quanto à selecção em si, pensemos no seguinte: em vez de fazermos o habitual, que é rebaixar quem desilude as nossas expectativas, devemos antes aplaudir o seu percurso - no mundo hipercompetitivo do futebol de topo, estar entre as quatro melhores selecções do mundo não é um tristeza, é uma honra. A verdade é que foram mais longe do que nunca. E o mérito deve-se aos esforços de Scolari, cuja lição de trabalho àrduo, optimismo e humildade não deve ser esquecida por todos aqueles que viram como um agrupamento de grandes estrelas se transformou numa equipe coerente. Em quatro anos. Num trabalho que noutros demorou décadas. Não vou ficar fã do futebol, não papaguearei as façanhas dos jogadores, mas não deixo de me sentir contente pelo trabalho mostrado ao mundo.

E para aqueles que estão mesmo muito tristes com o afastamento de Portugal da final, uma perguntinha: quem é que ganhou o último mundial? E o penúltimo? E os anteriores? Bem me parecia. A memória humana é fugaz, e depressa esqueçe as glórias efémeras.

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Ouriços

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Porque há tanta coisa mais interessante neste mundo do que o entediante futebol...

As Leituras

BBC | Shuttle Discovery races skyward We have lift-off!!!

BBC | Outcry over North Korea missile test We have #%** lift-off!!! Felizmente, o Taepodong-2 avariou após o lançamento. A Coreia do norte é conhecida pelo seu simpático regime comunista fossilizado, encabeçado pelo querido líder, por não ser capaz de alimentar a sua população e por ter um dos maiores exércitos do mundo. Ah, já me esquecia das armas nucleares.

San Francisco Chronicle | Fashion shocker of '46: the naked belly button
But the bikini wasn't a hit until Sixties
Porque é que hoje devia ser feriado: o bikini faz cinquenta anos! Depois do bikini, as praias tornaram-se locais com paisagem muito interessante. Uma verdadeira explosão nuclear visual! Perdoem-me a piada - é que, como sabem, Bikini foi o atol polinésio onde os franceses testaram as suas bombas atómicas, e foi nisso que Louis Reard, o designer das duas peças de roupa mais amadas do planeta, se inspirou em 1946.

BBC | Electronic goods guzzling power Os mais recentes electrodomésticos são quase revolucionários na forma eficiente como utilizam a energia. O problema é a proliferação - há poucos anos, uma casa tinha normalmente um televidor, um frigorífico e uma máquina de lavar. Agora, desde os transformadores dos telemóveis a leitores de dvd, computadores e máquinas de café, as casas modernas estão cheias de aparelhos que individualmente apresentam uma excelente eficiência energética mas que em conjunto fazem disparar o consumo de energia.

The Times | Merkel hits taxpayers while they're not looking E ainda me perguntam porque é que eu não gosto de futebol... na Alemanha, anfitriã do mundial, o governo de Angela Merkel está a tentar implantar reformas draconianas no sistema de segurança social, contra a vontade dos alemães. Qual foi então a estratégia escolhida? Aprovar as leis mais passíveis de contestação durante o mundial de futebol, aproveitando a euforia do povo alemão com a sua selecção. Enquanto os alemães vêem a bola, o governo vai-lhes ao bolso. Este tipo de notícia não me surpreende, como português que sou, habituado a ver as estreitas ligações entre o poder político e o mundo do futebol. Aliás, ter ligações estreitas ao futebol parece-me ser condição essencial para se ser político em Portugal.

terça-feira, 4 de julho de 2006

Metropolis

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IMDB | Metropolis
Wikipedia | Metropolis
Wikipedia | Fritz Lang
Unesco | Metropolis
Restauro do filme

O meu primeiro contacto com este esplendoroso clássico do cinema deu-se nos velhos tempos da minha infância. Ainda me recordo de ligar a televisão, a televisão ainda a preto e branco dos meus tempos de petiz, e ficar fascinado por um videoclip dos Queen que por detrás da música irritantemente má da banda mostrava imagens fabulosas, de um preto e branco que traíam a idade das imagens. A canção desapareceu nas brumas da memória, mas as imagens de uma cidade fabulosa onde as máquinas pareciam reinar, com fabulosos arranha-céus e estradas por onde circulavam veículos quilómetros acima da superfície, as imagens de máquinas enlouquecidas servidas por homens escravizados ficaram-me gravadas a ferro na memória. Anos mais tarde sube que se tratavam de imagens do lendário filme de Fritz Lang, Metropolis.

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A história contada em Metropolis resume-se em poucas linhas. Freder Fredersen, o filho do magnata Joh Fredersen, que rege a cidade industrial de Metropolis, vive a vida doce reservada às classes de élite até conhecer Maria, uma rapariga operária por quem se apaixona. Correndo atrás de Maria, Freder desce ao submundo de Metropolis, à cidade subterrânea onde vivem os operários encarregados de manejar as inclementes máquinas de Metropolis. Freder descobre o lado mais tenebroso da cidade - a submissão das vidas dos trabalhadores às inclementes necessidades das máquinas. Maria é a líder espiritual de um movimento revolucionário de trabalhadores, que cataliza o descontentamento da classe na espera pacífica por um mediador que resolva as diferenças entre os operários e as classes dominantes. Freder, impressionado com o esforço da vida dos operários, toma o lugar de um operário cuja função parece ser a de girar os ponteiros de um relógio - um trabalho redutor e extenuante, que esgota Freder. Joh Fredersen, apercebendo-se dos ventos de revolta que grassam entre os operários, alista a ajuda do inventor Rotwang, que lhe mostra o mundo subterrâneo de Metropolis. Ao ver Maria a discursar aos operários, Joh ordena a Rotwang que a rapte, e que a substitua pela sua maior invenção - o homem-máquina, um andróide mecânico capaz de substituir a humanidade.

Rotwang havia construído o andróide como forma de reviver a sua falecida amada Hel, esposa de Joh e mãe de Freder, e acaba por obedecer a Joh para se vingar. Maria é raptada e o andróide metamorfoseia-se em Maria. O único detalhe que nos permite distinguir as duas Marias está nos olhos - o olhar de Maria, a mulher, é honesto e pacífico, o olhar da robot-Maria é demoníaco. Sob as ordens de Rotwang, a Maria mecânica semeia o descontentamento entre a classe operária e enlouquece os senhores de Metropolis com as suas danças sensuais no clube Yoshiwara. As tensões acumulam-se e Metropolis colapsa no caos. Enquanto os senhores percorrem as ruas, enlouquecidos pelo corpo de Maria, os operários revoltados destroem as máquinas que tornam Metropolis próspera. Mas ao destruir as máquinas inundam a cidade subterrânea, ameaçando, sem o saberem, as vidas dos seus filhos. Estes são salvos por Maria e por Freder. Dando-se conta da morte dos seus filhos, sem saber que estes estão a salvo, a multidão furiosa procura Maria, encontrando-a nas ruas lascivas de Yoshiwara. Furiosos, queimam Maria vida, descobrindo assim que estavam a seguir uma falsa Maria - as chamas revelam o corpo mecânico que estava por debaixo da pele da doppelganger. O filme termina com Freder, após salvar a verdadeira Maria das garras de Rotwang, a unir os operários com os senhores da cidade, tornando-se, na terminologia do filme, o "coração que une o cérebro e as mãos".

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A ideia-base de luta social insere-se perfeitamente no contexto dos anos vinte, precisamente no auge da era industrial mais pura, em que ideias como justiça social ou direitos laborais estavam em combate contra os ideiais das classes dominantes. Esta mensagem de Metropolis tem de ser vista à luz dos ismos que condicionaram o século XX, e que fervilhavam na altura em que o filme foi realizado. Outra das ideias base do filme, a despersonalização do homem face à tecnologia, ainda hoje é válida e utilizada. Pode-se substituir as maquinarias industriais, com as suas correntes e transmissões, pelos supercomputadores todo-poderosos da geração cyberpunk que a imagem do homem escravizado perante a máquina se mantém, inalterada. Finalmente, podemos também ver em Metropolis a inelutável luta entre gerações, com o conflito que opõe os ideias do pai Joh Fredersen ao seu filho e herdeiro.

Se tudo isto chega para fazer filmes interessantes, talvez não chegue para fazer um grande clássico do cinema, intemporal mesmo passados quase cem anos sobre a sua realização. O que realmente torna Metropolis no fabuloso filme que é é a visão única de Fritz Lang. Realizador de vasto talento - pensemos em Dr. Mabuse ou M, Fritz Lang soube imbuír Metropolis com uma visão única e multifacetada. Por um lado, temos a visão da cidade ultra-moderna, uma metrópole inspirada no tecido urbano de Nova Yorque. Essa visão da cidade ainda hoje inspira artistas e cineastas - Blade Runner, o filme de culto de Ridley Scott, é o exemplo mais flagrante. Mas a visão de Lang não se limita à luxúria visual dos cenários. Treinado em pintura, Lang soube transpor para a tela do cinema as novas estéticas do expressionismo. O filme puxa as imagens, exagera; cenas há que mais se assemelham a obras de arte expressionistas e dada (vem-me à memória O Enterro de Oscar Panizza de George Grosz com as suas visões de ruas em fúria e de edifícios demoníacos). A montagem do filme escapa ao padrão de palco filmado da época - as cenas são rápidamente entrecortadas, dando ao filme um ritmo visual alucinante que nos leva a mergulhar na loucura de Metropolis.

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São muitas as cenas visualmente geniais do filme. A cena em que Freder se apercebe da impessoalidade da sua cidade, com uma alucinação em que vê a máquina-mãe de Metropolis como uma encarnação do deus Moloch, que devora os operários nas suas chamas; todas as cenas em que somos levados a vislumbrar magníficos fragmentos da cidade gigantesca; a cena em que Freder opera a máquina, com a imagem quintessencial do homem escravizado à máquina; a cena em que Rotwang dá vida ao robot Maria, protótipo de todas as cenas de todos os filmes em que um cientista louco poem em movimento aparatos tecnológicos insondáveis para dar vida a criaturas monstruosas no meio de uma tempestade de electricidade; as cenas sensuais em Yoshiwara, em que a dança lasciva de Maria se dissolve em olhares, e depois em olhos, com o ecrã a encher-se de olhos mesclados que nos revelam a loucura na alma do homem; o final assombroso do filme, com a cidade a dissolver-se numa orgia de ferro e fogo filmada alucinantemente em míriades de pontos de vista que se sucedem num ritmo implacável.

Realizado em 1927, Metropolis conta com o argumento de Thea Von Harbou, mulher de Lang e famosa pelas suas simpatias nacional-socialistas (o que não significa que Metropolis seja um filme de ideologia Nazi, antes pelo contrário) e quase levou à falência os mega-estúdios UFA, que o produziram. Os cenários fabulosos do filme, os seus efeitos especiais e os milhares de figurantes necessários para dar vida a Metropolis custaram cerca de sete milhões de marcos, tornando este no filme mais caro da época.

Metropolis é uma obra fundamental do cinema, a influência por detrás de filmes como Blade Runner (andróides e uma Los Angeles visualmente metropolitana), Star Wars (o simpático C3PO foi directamente inspirado na andróide Maria), Dr. Estranhoamor (a personagem enluvada de Strangelove, o cientista louco, é perfeitamente decalcada de Rotwang), em suma, fundamental em influenciar grande parte da cinematografia de Ficção Científica. Embora não sendo o primeiro filme de Ficção Científica - essa honra cabe à Viagem à Lua de Meliès, é, sem dúvida, o mais influente filme do género.

Metropolis também fica para a história como um dos mais mutilados filmes de sempre. A cópia original do filme foi rapidamente cortada para criar versões mais curtas do filme. O Metropolis que hoje podemos ver é uma aproximação, uma tentativa de reconstrução da visão original de Lang. Com o original perdido, as adaptações foram muitas, com resultados mistos - não é de esquecer a adaptação dos anos oitenta que contou com uma banda sonora onde pontuavam os Queen ou outras relíquias entretanto (e felizmente) caídas em esquecimento como Meatloaf ou Bonnie Tyler (é difícil de conceber uma visão mais desfazada das sonoridades). Esta adaptação, recentemente editada pela FNAC, reúne a mais recente tentativa de reconstrução do filme, um esforço levado a cabo pela Fundação Friedrich Wilhelm Murnau que, pelo cuidado posto na digitalização do filme e no rigor da reconstituição da visão original do realizador conseguiu ver esta reconstituição recnhecida com o estatuto de tesouro cultural por parte da UNESCO.