quinta-feira, 10 de março de 2005

Terra Oca


Agartha

Holow Earth Theory
Lendas da Terra Oca
Site Céptico muito correcto

Ao ler As Aventuras de Arthur Gordon Pym de Nantucket, um romance bastante ilegível de Edgar Allan Poe, fui surpreendido pelo seu final - ao aproximar-se do pólo sul, o náufrago Pym foi engolido por um gigantesco buraco brumoso que se precipitava nas entranhas da terra. Como Poe, apesar da sua fama de escritor do fantástico, era ifluenciado por ideias científicas da época, tentei descobrir o porquê deste estranho final - e assim deparei com a estranha teoria da Terra Oca.

Antes de a explicar, deixem-me mostrar que só no século XX, com Peary no Pólo Norte e com Amudsen no Pólo Sul, é que as extensões de gelo do nosso planeta foram devidamente exploradas. Até às explorações polares, ninguém sabia o que se poderia encontrar nos pólos.

As origens da Terra Oca estão nos finais do século XVII, quando o astrônomo inglês Edmund Halley (esse mesmo, do cometa Halley) propôs um modelo no qual a Terra seria composta por quatros esferas concêntricas e cuja a atmosfera luminosa, ao escapar para a atmosfera superior, seria responsável pela aurora boreal. Halley propôs esta teoria para explicar anomalias no campo magnético da Terra que causavam interferências nas bússolas. Halley teorizou que a Terra era constituída por uma casca com um núcleo, cada um com diferentes pólos norte e sul magnéticos e velocidades de rotação, o que explicaria as variações no campo magnético em diferentes partes da Terra, assim como a variação do norte magnético. Para ajustar sua teoria a novos dados, Halley teve que incluir mais três núcleos internos um dentro do outro. Segundo ele, estes núcleos eram do tamanho dos planetas Marte, Vênus e Mercúrio. Sendo profundamente religioso, Halley imaginou que deus tinha povoado os núcleos internos da terra, tal como havia feito com a sua superfície. Como estes seres vivos necessitariam de luz para viver, a atmosfera interior deveria ser luminosa.

A teoria de Halley teve aceitação científica (lembrem-se que não tinha havido ainda expedições polares), tendo sido modificada por outros cientistas. O insuspeito matemático Leonard Euler rejeitou a noção de vários núcleos interiores e propôs a existência dum sol interior que fornecia calor e luz para os habitantes tecnologicamente avançados do mundo interior. O escocês Sir John Leslie acreditava que existiam dois sóis que ele chamou de Plutão e Proserpina. Foi Euler que propôs a teoria de dois grandes buracos, nos Pólos do Planeta, que faziam o interior da Terra comunicar com o exterior.

O americano John Symmes foi um defensor entusiasmado da teoria das camadas concêntricas, misturando as teorias de Halley e de Euler). Symmes chegou a propor o envio de uma expedição ao Pólo Norte para verificar a existência da entrada para o interior da Terra, conhecida como Buraco de Symmes.

No alvorecer da ficção científica, a Teoria da Terra Oca foi explorada para fins literários. Temos, para além do livro As Aventura de Arthur Gordon Pym de Nantucket de Edgar Allan Poe, o livro Viagem ao Interior da Terra de Júlio Verne e vários livros de Edgar Rice Burroughs (At The Earth's Core, entre outros) passados no interior de uma terra oca, povoada por estranhos seres e civilizações. H. P. Lovecraft também escreveu, mais tardiamente, um conto passado no interior da terra, The Mound.

A ideia de uma vasta terra sob a nossa, cheia de empolgantes aventuras, mistérios insondáveis, estranhas criaturas e civilizações avançadas, é uma daquelas ideias com a capacidade de fazer sonhar, de despertar voos da imaginação. Com as expedições polares, perdeu a sua validade científica, e tornou-se em mais uma curiosidade romântica, uma explicação interessante mas errada para responder ao desconhecido. Como o Adamastor, ou a personificação das constelações, ou os mitos religiosos.

A ciência, através de estudos persistentes, acaba por lançar luz sobre as questões mais intrigantes, e as hipóteses inválidas são descartadas para o caixote de lixo das ideias. E é aqui que a teoria da Terra Oca se torna interessante (pelo menos para quem se interessa pelas bizarrias da mente humana).

Ainda hoje há quem jure a pés juntos que a terra oca é real. Inspirados pelas mitologias da atlântida e agartha (regiões misteriosas e civilizações perfeitas), os crentes na terra oca contestam a realidade científica, argumentando que se trata de uma grande conspiração destinada a ocultar a verdade dos factos. Entre o lamaçal de ideias, temos a noção de uma civilização subterrânea avançadíssima, origem dos ovnis, bases intergalácticas, e até mesmo bases nazis no pólo sul, onde hitler ainda viveria, com ou sem ajuda de tecnologia alienígena (depende da teoria).

Tão bizarro, que se torna muito divertido. Mas muito piores são os crentes na teoria da terra plana… uma teoria "bíblica" rejeitada pela própria igreja católica (à luz das evidências).

Como toque final, uma anedota nazi: sabendo que havia uma grande sede de ocultismo entre os responsáveis nacionais-socialistas, não é de estranhar a sua associação à tentativa de apropriação de conceitos esotéricos - todos os filmes da série Indiana Jones exploram essas ideias. E é sabida a forte ligação entre o nacional -socialismo e correntes esotéricas da época - o símbolo nazi, a cruz gamada orientada diagonalmente, não existe por acaso. É fácil cair em tortuosas conclusões sobre grandes conspirações ocultas, mas é preciso não esquecer que os nazis olhavam para uma idealizada era de ouro germánica pré-cristã. Quanto à terra oca, existem boatos de que Hitler acreditou numa das teorias da terra oca (a teoria da terra convexa - em que o nosso mundo estaria no interior de uma imensa esfera) e teria enviado, em abril de 1942, o Dr. Heinz Fischer numa expedição à ilha báltica de Rugen, para fotografar a frota inglesa com câmaras de infravermelho através da Terra oca.