quarta-feira, 12 de julho de 2006
Os Ossos do Arco-Íris
SdE | Os Ossos do Arco-Íris
O Sonho de Newton
Devo dizer que fiquei fascinado pelo livro Os Ossos do Arco-Íris, de David Soares, que também edita o blog O Sonho de Newton . É um livro tenebroso e assustador, que reúne três contos sobre os males obscuros que se escondem nos mundos fantásticos que emergem da mente do escritor, mundos de trevas e horror com curiosos pontos de contacto com a nossa realidade consensual.
Os Ossos do Arco-Íris reúne três contos de David Soares, Cara-em-Obras, Hinos a um ser superior e Os Ossos do Arco-Íris. A linha comum que os atravessa é a descrição de horrores viscerais, que nos atingem como um soco no estômago. As histórias surpreendem - são por vezes desconexas, por vezes feéricas, por vezes escatológicas e de uma violência extrema. A prosa filigranada de David Soares ajuda de uma forma gongórica ao exacerbar das trevas que são o grande mote do livro. Mas embora filigranada, a prosa é viciante - este é um daqueles livros que não conseguimos parar de ler, ansiosos por saber o que se passará a seguir, que terrível segredo será revelado, que horror avassalador nos aguarda ao virar da página. O que a prosa não é é simplista. Faz lembrar a prosa muito própria de H. P. Lovecraft, um escritor que certamente exerce grande influência na imaginação de David Soares, sem que no entanto o livro seja um cópia do estilo e temas lovecraftianos; antes, é uma obra que constroi mundos só seus, ultrapassando as referências do género e que certamente que se tornará uma referência no género literário em Portugal.
Os Ossos do Arco-Íris é uma obra de visões de horror, em que as obsessões e a maldade arquetípica se conjugam em ambientes onde o obscurantismo impera, forças malévolas ancestrais jogam com a ambiciosa humanidade, e os miasmas tenebrosos tudo contaminam com uma pátina diabólica de sangue e trevas onde a escatologia sexual e o profundo macabro se fundem.
Excusado será dizer que recomendo vivamente esta proposta de ficção de horror em português publicada pela Saída de Emergência. Mas deixo aqui o aviso - Os Ossos do Arco-Íris é uma leitura para estômagos fortes. E que sabe a pouco. Chegado ao inexorável final do livro, voltei a sentir aquele arrepio na alma que anda tão arredado da maioria dos livros que me chegam às mãos - aquele arrepio de "é só isto? não há mais? queria ler mais e mais..."