segunda-feira, 17 de julho de 2006

Leituras

Art under control in North Korea Envergonhadamente escondidos nos fundos dos museus de Bona a Vladivostok estão os resultados pictóricos da aplicação do comunismo fanático à arte: o realismo socialista, pleno de obras exaltantes, representando os hérois proletários que trabalham no campo e nas fábricas, representando os triunfos dos líderes, representando as paisagens gloriosas da mãe-pátria, tão carinhosamente bem tratada pelo estado, pelo partido e pelos seus esclarecidos líderes. Era a resposta dos regimes às "loucuras" desviantes e degeneradas das opressoras sociedades ocidentais, plenas de correntes elitistas como o abstraccionismo ou o surrealismo, que não transmitiam a mensagem do povo mas sim os valores reaccionários das criminosas classes dominantes. Com a derrocada generalizada dos regimes vermelhos, os espartilhos artísticos têm-se desfeito, e até mesmo na China, que é de não esquecer que continua a ser a China Vermelha em algo mais do que nome, as restrições à práctica artística estão a dissolver-se. Resta como bastião do realismo socialista a Coreia do Norte, esse idiossincrático país de fome e armas nucleares, de pobreza e mísseis de longo alcance, encabeçado por Kim Jong Il, o genial e admirável querido líder, filho de Kim Il Jong, o já falecido presidente para toda a eternidade. Aí, o realismo socialista leva o nome de realismo "juche", de acordo com a filosofia política de Kim Il Jong, uma estranha mistura de comunismo com valores coreanos. Os artistas trabalham para o estado, recebendo um salário mensal e produzindo obras que estão de acordo com os preceitos artísticos do regime, ou seja, de acordo com a visão de Kim Jong Il: "A picture must be painted in such a way that the viewer can understand its meaning. If the people who see a picture cannot grasp its meaning, no matter what a talented artist may have painted it, they cannot say it is a good picture." Quem pensar de forma diferente tem encontro marcado com o pelotão de fuzilamento (o que tendo em conta a qualidade de vida norte-coreana talvez não seja assim tão mau).