Terminou ontem num tom triste a aventura da selecção portuguesa no mundial de futebol. E que aventura foi, jogo atrás de jogo a somar vitórias, por vezes após minutos de extrema tensão, até ao momento fatídico que nos entristeceu a todos. Foi uma selecção cansada e desmoralizada que se apresentou a jogo, ontem. Numa altura em que já todos acreditavam na final, ficar para trás foi demasiado para os espíritos. Mesmo assim, estão de parabéns pelo percurso até ao quarto lugar mundial.
De parabéns está também o treinador da selecção, a quem todos pedem que fique. Scolari veio de fora e soube olhar para nós, para os nossos defeitos e virtudes. E soube conquistar com o seu espírito de entreajuda, em que o mais importante não era competir para ganhar, mas ganhar ou perder sem perder a consciência, a amizade e o espírito de equipa. Entre os seus muitos méritos está o de me ter ensinado a respeitar o futebol. Crescendo como cresci num país de futebolistas, os bairrismos primitivos, os dinheiros milionários que circulam à volta do mundo da bola, e as fanfarronices parolas que se ouvem sempre que se vira uma esquina nunca me deram respeito pelo futebol como desporto. Mas ao ver algumas exibições fabulosas da nossa selecção, percebi que o futebol é mais do que jeitinho ou vinte e dois atletas a disputar uma bola - tem que ser jogado com estratégia, com a cabeça no lugar, antecipando jogadas e sabendo distrair o adversário. No fundo, não é assim tão diferente do xadrez...
Hoje os jogadores e Scolari foram recebidos como heróis por um país agradecido. Já disse e repito: não abano cahecois nem agito bandeiras, não grito portugal olé nem desafino o hino nacional. Mas confesso-me orgulhoso dos feitos desta nossa selecção. Esperemos que as lições aprendidas não sejam esquecidas; esperemos que saibamos, com eles e como eles, ir mais além.