terça-feira, 11 de julho de 2006

Leituras

Correio da Manhã | Alarme contra sol ultravioleta Future Shock! Próximos avisos urgentes: concentração perigosa de nanopartículas no ar; níveis perigosos de radiação publicitária cerebral; Cuidado: zona ambiental morta, entre por sua conta e risco; concentrações elevadas de vírus informáticos; nanomáquinas potencialmente letais. O futuro, vive-se hoje.

Guardian | The debts of despair A liberalização do mercado do crédito ao consumo transformou o comum cidadão-consumidor de classe média num portfólio de dívidas ambulante. Ele é o crédito para a casa, para o carro, para a viagem, para os móveis, ele é o crédito para pagar o crédito. Acorrentados a dívidas a que nunca mais vemos fim, será a nossa situação assim tão diferente da dos seringueiros da amazónia, tal como Ferreira de Castro a contou n'A Selva?

(Que, para quem não leu o livro, era a seguinte: os seringueiros eram contratados para trabalhar nas plantações de borracha nas profundezas da selva. Em locais tão remotos, apenas podiam adquirir os seus bens do dia a dia nas lojas da empresa que os contratava. Estas lojas adiantavam aos seringueiros a roupa, a comida e utensílios, descontando no salário semanal destes. Ao final da semana, os preços elevados praticados nestas lojas garantiam que não só o seringueiro nada recebia, como ainda se encontrava endividado e obrigado a prolongar o contrato indefinidamente. Era uma forma de esclavagismo virtual)

Wired | The intergalactic mashup king Werner Herzog, autor de filmes onde a obsessão desmedida do homem o leva à perdição (como Aguirre, de fabulosas paisagens) embarcou numa nova aventura cinematográfica: um filme de ficção científica sobre uma expedição humana a outro planeta, um planeta aquático. Em vez de investir em efeitos especiais caríssimos, cenários desenhados pelos gurus da FC visual e cgi capaz de fritar processadores, Herzog vasculhou os arquivos da NASA e, juntando imagens de expedições antárticas filmadas por um dos seus cameramens cujo trabalho de férias era acompanhar expedições científicas ao extremo sul, montou um filme convincente utilizando a clássica técnica do corta e cola. É por isto que eu defendo que a arte mais recente, contemporânea e excitante não se encontra nas teorizações rarefeitas das instituições mas sim por aí à solta na rede.