O final do dia de ontem foi entristecedor. Perder a meia-final do campeonato do mundo foi uma sensação triste, mesmo para quem não pensa que o futebol é a coisa mais bela ao cimo da terra. Que é o meu caso. Confesso que não vi nenhum dos jogos de futebol deste campeonado do princípio ao fim. Apenas via o fim, quando todo o burburinho à volta dos jogos aguçava a curiosidade ao máximo. E via com agrado as vitórias da selecção. No fundo, creio que até o mais indefectivel anti-bolista não conseguiu escapar ao bombardeamento macisso dos meios de comunicação, e não deixou de sentir uma pontinha de alegria pelo percurso da selecção.
A projecção nacionalista do futebol enquanto símbolo do patriotismo exacerbado é farsola até dizer chega. As cenas absolutamente ridículas de fãs do futebol perdidos de bêbedos a gritar pelo país e a agitar a bandeira são para mim sinais do nacionalismo mais básico, mais arcaico, digo mesmo pré-histórico. Para mim, gostar do meu país é levantar-me todos os dias e fazer ao longo do meu dia o melhor que posso para melhorar este país onde vivo; fazer a minha parte, e não agitar bandeirolas. Mas confesso uma pontinha de arrepio na espinha quando ouço o hino no início do jogo, ou até um bocadinho daquele orgulho básico quando se chega ao fim e... ganhámos.
Ganhar é fácil; a medida da nossa grandeza está antes na elegância do saber perder.
Quanto à selecção em si, pensemos no seguinte: em vez de fazermos o habitual, que é rebaixar quem desilude as nossas expectativas, devemos antes aplaudir o seu percurso - no mundo hipercompetitivo do futebol de topo, estar entre as quatro melhores selecções do mundo não é um tristeza, é uma honra. A verdade é que foram mais longe do que nunca. E o mérito deve-se aos esforços de Scolari, cuja lição de trabalho àrduo, optimismo e humildade não deve ser esquecida por todos aqueles que viram como um agrupamento de grandes estrelas se transformou numa equipe coerente. Em quatro anos. Num trabalho que noutros demorou décadas. Não vou ficar fã do futebol, não papaguearei as façanhas dos jogadores, mas não deixo de me sentir contente pelo trabalho mostrado ao mundo.
E para aqueles que estão mesmo muito tristes com o afastamento de Portugal da final, uma perguntinha: quem é que ganhou o último mundial? E o penúltimo? E os anteriores? Bem me parecia. A memória humana é fugaz, e depressa esqueçe as glórias efémeras.