domingo, 31 de agosto de 2008

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Ericeira, a quanto obrigas... amanhã é dia de regresso ao trabalho e o tempo finalmente é de puro verão. Céus limpos, mar convidativo e uma avassaladora sensação de que amanhã o dia estará assim... e eu nas intermináveis reuniões que caracterizam hoje em dia o essencial do trabalho como professor.

Leituras

Der Spiegel | A navigable Arctic Os benefícios económicos do aquecimento global. O notório degelo das regiões polares àrticas abriu vias de navegação capazes de encurtar as viagens entre os grandes portos do mundo industrializado. As habituais pressões geoestratégicas da parte dos governos das regiões árticas já se fazem sentir.

International Herald Tribune | A fierce Korean pride in a lonely group of islets Pouco mais do que rochedos no estreito do Japão, as ilhas Dokdo, para os coeranos, ou Takeshima, para os japoneses, são um resquício dos tempos imperiais nipónicos do século XX. A soberania sobre estas ilhotas nunca foi definida. Para os japoneses, é um território que alguns gostariam de ver regressado à nação. Para os coeranos, a importância é tão grande que instalaram nas remotas ilhotas um posto de polícia, única habitação daquelas paragens.

O Gizmodo publicou uma série de três artigos que traçam a curta história do OLPC, o influente projecto de Nicholas Negroponte. O objectivo do projecto está longe de ser atingido - distribuir computadores às crianças dos países sub-desenvolvidos, mas os reflexos na indústria dos computadores são enormes: veja-se o sucesso do Eee e congéneres. A ler, Secret origin of the OLPC: Genius, hubris and the birth of the netbook, OLPC origins: US and Taiwan's hardware lovechild, e OLPC Origin: Bittersweet success and future of the XO laptop.

sábado, 30 de agosto de 2008

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Dia 1, dia de regresso aos labores, tão próximo e agora é que o bom tempo se instalou na Ericeira! Sol, calor e um mar de apetecer... onde é que o bom tempo andou durante todo o mês de agosto?

Grr!

O que irrita nesta vaga de insegurança, para além do aproveitamento mediático que empola a real importância dos acontecimentos na ânsia da luta pelas audiências, é a aparente impotência das forças de segurança. Irrita porque noutros contextos essa impotência não existe, como se comprova pela eficiência com que se caçam multas neste país. Para isto, há homens e meios, veículos, radares, bloqueadores, acesso rápido aos autos e pagamentos, vigilância cerrada e quase sempre invisível. E o resto? Será que um décimo do investimento e eficácia no combate às infracções de trânsito (eufemísticamente ditas como "pedagógicas") aplicado noutas àreas de segurança contribuiria para diminuir as taxas de criminalidade? Bem, mas as multas sempre auxiliam as contas do estado...

(Não quero com isto subestimar as infracções de trânsito, as velocidades excessivas e as manobras perigosas, tantas vezes com consequências trágicas. Nem desmerecer o profissionalismo dos agentes no terreno, que cumprem as ordens que lhe são dadas. O erro, parece-me, está na filosofia que rege as instituições. É fácil dar ordens aos cidadãos que as cumprem.)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

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Sunset, no boulevard.

Scaramouche



Rafael Sabatini (1991). Scaramouche. Lisboa: Vega

Internet Archive | Scaramouche
Scaramouche
Wikipedia | Rafael Sabatini

Rei no século XIX e até meados do século XX, o romance de capa e espada está hoje caído no esquecimento. Entre os super-heróis de poderes cósmicos, as aventuras de uma ficção científica que tenta compreender o impacto da ciência na sociedade, e os homens de acção que empunham armas de grande calibre, já não há muito espaço para contos de honra e valor resolvidos em duelos de florete. De vez em quando são revisitados pelo cinema, em filmes pontuais que são depressa esquecidos. Mas entre os clássicos da literatura figuram os romances de Alexandre Dumas, autor por excelência do romance de capa e espada, entre os quais se conta o clássico O Máscara de Ferro (do qual guardo recordações de boas leituras de edições antigas que entretanto perdi).

Rafael Sabatini foi um escritor da primeira metade do século XX que se especializou nos romances de aventura. É autor das séries Captain Blood, pirata de bom coração imortalizado no cinema por Errol Flynn, The Sea Hawk, Bellarion e Scaramouche, passado nos anos de ferro e fogo da revolução francesa.

Scaramouche é um romance linear, pouco complexo, em que seguimos as aventuras do jovem André Moreau. Este, jovem homem de leis da Bretanha, simpatiza com a causa revolucionária mas não se sente forçado a envolver-se nas lutas até que o senhor de LaTour, um nobre local, assassina o seu melhor amigo num duelo injusto. Moreau tem raízes na nobreza, sendo protegido do pacífico e bonacheirão senhor de Kerkadiou, um nobre justo que trata bem o povo. Jurando justiça para o assassínio e outros desmandos de LaTour, que é também pretendente à mão de Aline, sobrinha afastada de Kerkadiou e que Moreau ama, dirige-se a Nantes, apenas para esbarrar na injustiça dos tribunais que oprimem os direitos do povo e autorizam os desmandos da nobreza. Revoltado, pronuncia discursos inflamados contra o estado das coisas, passando a ser procurado pela justiça. Obrigado a fugir, Moreau refugia-se junto de uma companhia de teatro ambulante, onde assume o papel da personagem Scaramouche, da Commedia del Arte, e graças ao seu engenho e capacidades literárias, leva uma companhia que andava de feira em feira até aos melhores teatros da região. Este episódio termina no momento de triunfo da companhia teatral, em Nantes, onde ao ver LaTour por entre o público Moreau provoca um tumulto, ao acusar o nobre dos seus crimes. Novamente fugitivo, Moreau encontra refúgio na turbulenta Paris dos dias que antecedem a revolução francesa. Encontra trabalho como instrutor de esgrima na academia do mestre de armas Des Amis, que lhe ensina os truques e a arte da espada. Os acontecimentos da revolução francesa acabam por levá-lo ao parlamento, onde se distingue pelos duelos que trava com os deputados da nobreza. Consegue, finalmente, travar um duelo com o infame Latour, mas no momento final, vitorioso, Moreau não consegue desferir o golpe final. Moreau é elevado a cargos no governo revolucionário após a queda da Bastilha, o que lhe permite salvar das mãso das turbas revolucionárias a vida da sua amada Aline, da condessa que a protegia, do seu protector Kerkadiou e até de LaTour, revelado nas páginas finais do livro como irmão de Moreau. André é filho legítimo da mãe de LaTour, de um casamento secreto desta com um capitão de cavalaria, tendo esta casado com o pai de LaTour após a morte do seu primeiro marido.

História de época e de aventuras, de emoções fortes, engenho e floreados de florete, Scaramouche é um clássico a revisitar.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

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A luz do fim de tarde conjugou-se com a névoa que se levantava para criar estes estranhos truques de luminosidade.

The House on the Bordeland



Richard Corben, Simon Revelstroke (2000). The House on the Bordeland. Nova York: DC Comics

DC Comics | The House on the Borderland
Gutenberg | The House on the Borderland

A literatura inglesa dos finais do século XIX e inícios do século XX foi particularmente fértil no género do terror, fantasia e suspense. Foi a época áurea de Lord Dunsany, Arthur Conan Doyle, William Hope Hodgson, Bram Stoker e Arthur Machen, entre outros praticantes da arte do conto de arrepiar a espinha. São autores que sobrevivem, semi-esquecidos mas nunca muito longe de influenciar os novos autores. Mestres da ambiência, estes escritores centravam o horror no não visto, arrepiando com o sugerido, com o horror por detrás das sombras.

The House on the Bordeland revisita um conto clássico de William Hope Hodgson, passado nos recantos arruinados de uma misteriosa casa construída sobre penhascos que ocultam segredos primevos. Velhos monstros porcinos de tempos anteriores ao homem sobrevivem e levam à locura os ocupantes da casa. A história é contada nos tempos recentes por um estudante inglês que viaja pela Irlanda com um amigo em busca de aventuras, que terminam no horror e na loucura numa noite nas ruínas da casa sobre o penhasco.

A adaptação dos autores é eficaz, sublinahdo pelo grafismo crú de Richard Corben, com um interessante trabalho de sombras e um uso de cores que sublinha o tom tenebroso desta revisitiação de um conto clássico.

Leituras

International Herald Tribune | Apple changes others minds about touchscreens O sucesso do iPhone ditou também perspectivas de sucesso para a tecnologia dos ecrãs sensíveis ao toque, vista como de nicho.

BBC | One laptop for every Niuean child O governo da ilha de Niue, no Pacífico Sul, optou pelo OLPC para dotar os seus alunos do ensino básico de computadores. São apenas 500, contrastando com os 500.000 do projecto português, que optou pela concorrência e pela continuação do reinado WinTel.

Der Spiegel | The Bin Laden bridge Não esse Bin Laden. O outro, seu irmão, xeque das arábias da casa de Saud e investidor imobiliário. Pretende construir uma ponte que una a África e a Arábia, cruzando o mar vermelho entre o Iémen e o Djibuti, erigindo duas novas cidades ultra-modernas nas extremidades da ponte. Se no Dubai conseguem, porque não no outro extremo da Arábia?

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

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Resquícios, indícios, vícios.

The Phantom Stranger



DC Comics | Showcase Presents: The Phantom Stranger
Wikipedia | The Phantom Stranger
Toonopedia | The Phantom Stranger

(2006). Showcase Presents: The Phantom Stranger. Vol. 1. Nova York: DC Comics

Quem é o Phantom Stranger? Um dos mais interessantes e misteriosos dos personagens da linha da DC ligada aos temas do terror e oculto, The Phantom Stranger não tem uma origem definida nem poderes clarificados. É um solitário personagem que aparece onde é necessário, manifestando-se de entre as sombras, ocultando-se por detrás da sua capa, com os seus olhos a brilhar por entre as sombras do chapéu. Nos anos 80, Alan Moore descreveu-o como um anjo indeciso, banido dos céus e dos infernos por não ter tomado partido na rebelião de Lúcifer. Entre outras origens que lhe são atribuídas, poderia ser um homem cuja morte lhe foi negada, um judeu errante punido pelas suas acções na crucificação, ou um vestígio de um universo anterior ao nosso. Esta ambiguidade contribui para a aura de mistério que envolve a personagem, que apenas sabemos agir do lado do bem. Os seus poderes místicos nunca são explicitados, não dependem de joias misteriosas ou artefactos secretos, de maldições ou entidades arcanas. A indefinição deste personagem confere-lhe uma atraente aura de mistério.

Criado nos anos 50 por John Broome e Carmine Infantino, numa série que durou seis números, tendo sido revivido nos anos 70 numa série de quarenta números e revisitado nos anos 80 por Alan Moore nas páginas de Swamp Thing e por Neil Gaiman em The Sandman e Books of Magic.

Showcase Presents: The Phantom Stranger colige no primeiro volume os primeiros vinte e um números do comic dos anos 70, bem como uma aparição prévia no DC Showcase #80. Para além de ser um mergulho no formato de comics dedicados ao horror e oculto, repleto de monstros inomináveis, criaturas cadavéricas e assombrosos fantasmas, cheio dos elementos clássicos do comic de horror. este volume mostra uma interessante evolução estilística de argumentos e ilustrações.

As primeiras histórias, republicações dos clássicos dos anos 50, são simplistas, simples histórias de assombrações contadas a grupos de crianças. A partir do quarto número, tudo muda. Os argumentos, apesar de resolvidos em poucas páginas (nada de grandes arcos que se resolvem em vários números) tornam-se mais complexos, com uma visão de luta entre o bem e o mal em que o mal vem tanto das forças ocultas como da cupidez e capacidade de ódio humana. Definem-se alguns inimgos do personagem, a ambígua Tala e Tannarak, um homem sequioso de poder, e uma amiga que o auxilia, Cassandra. Chegamos a encontrar histórias com temas ecológicos, uma novidade nos anos 70. Da autoria dos argumentistas Mike Friedrich, Robert Kanigher, Mike Sekowsky, Denny O’Neil, Gerry Conway, Len Wein e Steve Skeates e outros, com destaque para os argumentos de Kanigher e Wein, dois dos mais influentes argumentistas de comcis de horror, Showcase Presents: The Phantom Stranger conta com ilustrações de Neal Adams, Mike Sekowsky, Vine Colletta, Jim Aparo e Tony DeZuniga. A qualidade destas merece um comentário, pela sua excelência e dinamismo, uso inquietante de planos e muito eficaz uso do claro-escuro. Os comics de horror sempre se distinguiram pela qualidade das suas ilustrações, e este The Phantom Stranger não foge à regra. Esta reedição é feita a preto e branco, sem os tons primários da quadricromia que poderiam retirar o visual tenebroso do preto e branco.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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Mais um dia de verão que amanhece invernoso.

Revelation Space



Alastair Reynolds (2000). Revelation Space. Londres: Gollancz

Wikipedia | Reveleation Space

No futuro distante, a humanidade espalha-se pela galáxia, explorando novos sistemas solares e colonizando os seus planetas. Tornando-se uma civilização espalhada pela galáxia, a humanidade divide-se em váriso grupos, alguns com raízes planetárias e outros especializados nas longas viagens a velocidades sub-lumínicas entre os planetas colonizados.

A solidão da humanidade no espaço é um enigma. Expandindo-se pela galáxia, a humanidade encontra poucas formas de vida extraterrestre, e apenas duas avançadas. Num planeta distante, um arqueólogo com segredos no seu passado investiga o mistério do desaparecimento de uma civilização que antes de ser aniquilada por um estranho acontecimento parecia estar pronta a expandir-se para o espaço.

No espaço, a tripulação de uma nave sub-lumínica que se desloca entre os planetas habitados procura uma cura para a doença biotecnológica do seu capitão. A cura reside junto do arqueólogo, e da simulação digital do seu pai.

Mas outras forças manipulam os acontecimentos. No planeta distante, as lutas políticas locais ameaçam o arqueólogo. Na nave, um vírus informático leva alguns tripulantes à loucura. No espaço, uma isolada civilização avançada que se refugiou dentro de distorções do espaço-tempo procura influenciar as acções dos personagens. No centro deste mistério encontra-se um artefacto alienígena a orbitar o planeta distante e os resquícios de uma guerra interminável, cataclisma à escala cósmica, travada biliões de anos antes da aurora da humanidade. É neste artefacto que está a resposta ao mistério da falta de vida na galáxia, por fazer parte de uma rede galáctica de artefactos que têm como missão exclusiva aniquilar focos de vida inteligente, uma arma final para prevenir novos conflitos interestelares.

São estes os ingredientes de Revelation Space, uma space opera pintada a traços largos sobre a tela da galáxia. A obra é ambiciosa, criando um universo complexo e multifacetado, propondo interessantes variações de humanidades e misteriosos alienígenas. Alastair Reynolds cria mundos detalhados, quer entre os recantos apertados das naves espaciais quer entre os confins dos seus planetas imaginários. São aspectos interessantes, mas não particularmente inovadores - o desenvolver de mundos fantásticos faz parte do género da space opera. Interessantes são alguns conceitos utilizados pelo autor - a manipulação da física para alterar a topologia do espaço, e uma visão biológica da tecnologia, em que o software e o hardware se comportam como entidades biológicas.

Por vezes, a abrangência pretendida por Reynolds para Revelation Space torna a leitura confusa. Os vastos mundos exigidos pelas space operas são por vezes difíceis de gerir. Mas no global, Revelation Space é uma interessante space opera, um livro que custa um pouco a arrancar mas que quando encontra o seu ritmo se torna uma leitura imparável.

domingo, 24 de agosto de 2008

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Recantos da minha juventude: jardins da Gulbenkian. Belas tardes passadas a ler, desenhar ou marrar para exames...

Tainted



Jamie Delano, Al Davison (1995). Tainted. : DC Comics

Wikipedia | Tainted

Nos anos noventa, a editora de banda desenhada DC Comics lançou a linha Vertigo. Esta linha tinha como intenção amadurecer os comics publicados nos Estados Unidos, reformulando os personagens da editora criando enredos complexos, ilustrações de elevada qualidade e conferindo dimensões psicológicas e literárias aos quadradinhos à americana. A Vertigo foi, e ainda é, uma pedrada no charco do mainstream do mundo dos comics. Apostando na qualidade literária e gráfica, permitiu aos autores e artistas explorarem os limites do género. Esta mudança de paradigma reflecte-se no seu público-alvo. As edições da Vertigo dirigem-se para um público adulto, contribuindo para uma visão abrangente dos comics como algo mais do que entretenimento escapista simplista para um público jovem.

Tainted, com argumento de Jamie Delano e ilustração de Al Davison, é uma carta-branca dada aos autores para explorarem limites. No caso, os limites literários. Graficamente, Tainted utiliza o estilo quadricrómico clássico. A ilustração é sólida e eficaz, acompanhando o texto, não sendo particularmente inovadora. Tainted destaca-se no argumento do veterano Jamie Delano.

Tainted é uma história kafkiana de perversão e obsessão. Não assume uma visão glamourizante, centrando-nos numa visão patética das personagens. O comic centra-se em três personagens: Steve, um toxicodependente capaz de tudo para alimentar o seu vício, Lisa, uma enfermeira obcecada por dinheiro e traumatizada por uma violação, que fornece drogas ao toxicodependente, e o seu senhorio, George, um homem patético e solitário que esconde um segredo.

Na sua adolescência, George foi um voyeur, espiando regularmente a sua irmã, que acaba por assassinar por medo e vergonha de ser descoberto. Pouco depois, perde os seus pais num acidente de viação, passando a viver sozinho na casa de família. A visão de uma vespa, símbolo da sua sexualidade, mergulha-o nas memórias deprimidas. Lisa, incitada por Steve, inicia com George uma relação masoquista que acaba por ultrapassar um plano inicial de chantagem. Nada espera estes três personagens imperfeitos, traumatizados e solitários, excepto a morte, consequência final das suas acções.

A história é amarga, oscilando entre o patético, a compaixão e a revulsão. As personagens são emocionalmente danificadas, quer pela vida familiar, pela sociedade ou pelas armadilhas da psique. Tainted aborda temas inquietantes, não sendo um comic de fácil leitura.

sábado, 23 de agosto de 2008

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@ Jardins da Gulbenkian.

Leituras

International Herald Tribune | Intel pursues technology for recharging whithout wires O fim dos fios? Os métodos de indução e transmissão de electricidade sem fios estão a ser desenvolvidos comercialmente. Os protótipos já conseguem uma eficiência de 50%, um excelente resultado laboratorial mas ainda longe da eficácia desejada: estes 50% seriam altamente prejudiciais em termos ambientais, ao implicarem um forte desperdício de energia. De qualquer forma, aproxima-se um futuro em que para carregar as baterias dos nossos cada vez mais móveis dispositivos, basta aproximar da zona onde está o transformador.

Washington Post | Commodities prices retreat Um alívio a médio prazo. Apesar dos elevados preços do petróleo, os preços das restantes matérias primas e alimentares, que estavam também a disparar, dão agora sinais de abrandamento. O alívio é sintomático de um mal maior: o abrandamento generalizado da economia mundial, sufocada pela recessão, pelos altos preços da energia e das matérias primas.

International Herald Tribune | Les Insoumises, France's rebellious female courtesans A belle époque foi a era das cortesãs de luxo, que trasntornavam os homens da alta sociedade francesa, mulheres que não se sujeitavam aos ditames sociais e viviam vidas de luxo e finanças implacáveis. Daí a sua insubmissão..

Der Spiegel | End of Prague Spring western spies were out in the cold Ao comemorar-se o aniversário do fim sangrento da primavera de Praga, com os tanques soviéticos a pôr fim ao socialismo democratizante checo-eslovaco, surge esta história de falhanço dos míticos serviços secretos em prever as movimentações de tropas e as intenções de Moscovo e dos seus aliados do pacto de Varsóvia.

Der Spiegel | Zappa vs Bach the legal battle for rock legacy Um festival musical que homenageia Frank Zappa, onde tocam músicos que admiram Zappa, que trabalharam com Zappa ou da família de Zappa, cuja mais recente inovação inclui um cruzamento entre a música clássica e a música indefinível de Zappa, está sob constante assalto legal da parte da viúva de Zappa, dententora dos seus direitos de autor. Levanta-se a questão se a protecção cega e desmesurada dos direitos de autor acaba por ser danosa para a divulgação cultural.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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Recantos da minha juventude. Saudades das leituras no auditório ou dos rabiscos na relva.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Estrela da Morte




Brilhante! A Estrela da Morte paira sobre a cidade de S. Francisco, cujas ruas são invadidas por andarilhos imperiais AT-AT e AT-ST e os céus cruzados por cruzadores imperiais, caças TIE e uma brilhante aterragem de um transporte de classe Lambda. Um fantástico CGI amador, com um toque de cinema verité.

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Pequena ondulação.

As Muralhas de Samaris



Benoit Peeters, François Schuiten (2003). As Muralhas de Samaris. Coimbra: Witloof

Les Cités Obscures
Urbicande

A série As Cidades Obscuras, criada por François Schuiten e Bênoit Peeters, ficou para a história da BD como um dos pontos mais altos da BD franco-belga. Construindo um universo onírico de arquitecura utópica e feérica, a série construiu ao longo dos albuns um mundo paralelo, fragmentado mas coerente, onde personagens intrigantes vivem aventuras surreais. A série é particularmente brilhante nos seus aspectos gráficos. Situada num estranho mundo vitoriano, com a tecnologia da época levada ao seu extremo, a série assenta na exploração de cidades com uma forte influência estética da Arte Nova e da arquitectura ornamental de ferro que caracterizou as primeiras décadas da era industrial. O urbanismo utópico e surreal é, talvez, o aspecto mais atraente destas obras. Estes elementos de tecnologia vitoriana, de grande beleza, são a alma destes livros escritos e ilustrados anos antes do steampunk se tornar moda. Esta série tornou-se conhecida do grande público através da fábula modernista que é Brusel.

As Muralhas de Samaris é uma das primeiras obras da série. Como todas as obras, é a história de um percurso - de um heróico viajante que partde da sua cidade natal - a urbe estilo arte-nova de Xhistos, numa missão para explorar os segredos da misteriosa cidade de Samaris. Após uma longa e perigosa viagem, o viajante intriga-se com a mescla de arquitecturas da cidade, sempre diferente nos seus edifícios mas reminiscente de vielas e ruas já conhecidas. Aprofundando-se na descoberta dos segredos da cidade, o viajante acaba por descobrir que esta não passa de um elaborado cenário mecânico, e os seus habitantes meros manequins, manipulados por alguma entidade invisível. Regressa à sua cidade natal, para descobrir que já ninguém o recorda, que os seus locais já não existem, que os que o enviaram na demanda já não o reconhecem.

A história intrigante, escrita por Peeters com toques literários dos universos fantásticos da prosa de Jorge Luís Borges (que, com As Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino, é uma das referências literárias da série), complementa-se com os intricados labirintos arquitectónicos de inspiração arte nova e renascentista saídos do traço de Schuiten. As obras da série As Cidades Obscuras são pérolas da banda desenhada, a descobrir e redescobrir, sempre.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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Regresso ao Bryce.

Traços de Cor

O século XX assistiu a uma enorme explosão artística. Ao longo do século, sucederam-se movimentos, provocadores e conflituosos, que desafiaram padrões e abriram novas fronteiras estéticas.

É reducionista falar só de quatro movimentos relativos ao uso da cor. Foram escolhidos pela sua importância no desenvolvimento de novas fronteiras estéticas: o abstraccionismo pelo seu foco nos elementos formais da composição estética, o construtivismo pela sua visão utópica, o expressionismo abstracto pela sua total liberdade pictórica, e a pop art pela sua recuperação do cromatismo puro.

De fora ficou o Expressionismo, movimento que explorou as dimensões emocionais da cor, e o trabalho de um dos maiores artistas do século XX, Henri Matisse, que explorou como ninguém a expressvidade, o cromatismo e a vibração da cor.

Dos movimentos modernista ainda destacaria o Cubismo, pela radicalidade da sua visão do espaço, ainda hoje pouco compreendida, que quebrou as fronteiras perspécticas na representação visual do espaço.

O uso da cor assume também uma importância especial no Surrealismo, mas o foco deste movimento encontrava-se nas dimensões psicológicas e, em termos pictóricos, recuperou o formalismo da cor das épocas anteriores ao impressionismo. Este formalismo é particularmente evidente no perfeccionismo pictórico da obra de Salvador Dali.

Obras:

Kandinsky, W. (1989). Ponto, Linha e Plano. Lisboa: Edições 70.

Lynton, N. (1994). L'Art Moderne. Paris: Flammarion.

Moszynska, A. (1990). Abstract Art. Londres: Thames & Hudson.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

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Um pouco de frescura.

Orbiter




Warren Ellis, Colleen Doran, Dave Stewart (2003). Orbiter. Nova Yorque: DC Comics

Fantastic Fiction | Orbiter

É difícil manter vivo o sonho. A exploração espacial, que prometia descobrir novas fronteiras de exploração do universo pela humanidade, está reduzida a uma rotina pouco interessante. A aventura da conquista do espaço, o desafio da exploração lunar desvaneceram-se. Resta-nos a precisão científica das missões robóticas, que nos espantam com as suas descobertas, e a rotina da estação espacial internacional. A União Europeia resume-se as suas iniciativas espaciais a um projecto cerebral, pouco estimulante. O símbolo mais recente da conquista espacial, o vai-vém espacial, enfrenta a obsolescência. Prometem-se novos veículos, novas e ambiciosas missões à lua e a marte, mas o entusiasmo não está lá. Apenas as inescrutáveis intenções espaciais chinesas agitam um pouco as àguas paradas da exploração espacial, que apesar de tecnicamente excitante e cheia de promessa, já não cativa o grande público.

É contra este sentimento que Warren Ellis escreveu este Orbiter. É um voo de fantasia, num futuro próximo em que os voos espaciais tripulados foram banidos após o desaparecimento de um vai-vém, o último a levar astronautas para órbita, em que o centro espacial Kennedy está abandonado, servindo como bairro de lata. Tudo muda quando inesperadamente, após dez anos de mistério, o vai-vém desaparecido regressa com um único tripulante e muitos segredos intrigantes. O resultado é uma ode ao sonho da exploração do espaço e ao lugar do homem nas estrelas, uma nota de esperança no futuro da tecnologia.

Orbiter mistura os medos muito contemporâneos do desvanecer da exploração espacial com tecnologias alienígenas exóticas. É um voo de imaginação, mas um voo com uma nota de esperança de que a vontade de ir mais além nunca se desvaneça.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

:-)



Parabéns, Vanessa!

:-(

E hoje, pelo que vejo da minha janela, prevê-se mais um fabuloso dia de verão, cheio de chuva para refrescar os espíritos...

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Juvenilia, de 1993.

Drôle de Guerre

A aventura russa na Geórgia é fortemente simbólica. Ao invadir outro estado soberano, ostensivamente em apoio às intenções independentistas das regiões da Abkhazia e Ossétia do Sul, Moscovo está a lançar uma série de sinais à comunidade internacional:
- Flexiona os seus músculos militares, mostrando a sua força após o declínio pós-soviético e a guerra na Chechénia;
- Avisa as antigas repúblicas soviéticas, agora independentes, que ainda estão na esfera de influência russa;
- Mostra aos Estados Unidos que tem capacidade para se opôr à crescente influência destes nas antigas repúblicas;
- Mostra também que para desmoronar um país não são necessários grandes discursos preparatórios nem armas de alta tecnologia, basta um punhado de batalhões de soldados e blindados, e férrea vontade política. A Rússia não precisa de projectar forças para o outro lado do planeta, uma vez que o seu territorio ocupa boa parte do planeta.
- A forma como invadiram, o desdém pela opinião internacional e a política no terreno de intimidação de jornalistas mostra que a Rússia segue as suas regras, e não as da chamada comunidade internacional, que para a Rússia é dominada pelos Estados Unidos.

Após o declínio pós-soviético, a Rússia enriquecida pelo petróleo e gás natural mostra que volta aos palcos internacionais como grande potência, capaz de perseguir os seus interesses. De certa forma, estas aventuras euroasiáticas do gigante russo são um regresso ao Grande Jogo geostratégico do século XIX, com os E.U.A. no lugar da Grã-Bretanha vitoriana na competição pela influência das regiões entre o médio oriente e a China.

domingo, 17 de agosto de 2008

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Capturada às 20:07.

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Arquitectura delicodoce dos sonhos consumistas.

Leituras

Washington Post | Clinging to dreams of a better life O sonho americano continua vivo, nestes tempos de crise. Até mesmo para aqueles emigrantes para quem o sonho se traduziu em trabalhos mal pagos e sem perspectivas e evolução.

BBC | Guns for Texas school teachers Uma recente lei no estado americano do Texas autoriza que os professores estejam armados para autodefesa no caso de alguém entrar a disparar pela escola dentro. É uma ideia interessante... por um lado, com uma arma na mão, as palavras porta-te bem, senão... ficam com alguma força. Por outro lado, com armas à mão de semear, o que impede agora um professor de se passar e começar aos tiros a tudo o que se mexe?

Next Big Future | US and Global oil market forecast 2008 to 2009 A crise, os preços elevados e a vontade ecológica conseguiram uma diminuição das necessidades globais de petróleo por parte das economias mais industrializadas. Mas isso não passa de uma gota no oceano, quando comparadas projecções de necessidades globais de crude. Continuam a crescer, obrigando ao aumento da exploração dos recursos existentes.

sábado, 16 de agosto de 2008

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riverrun, past Eve and Adam's, from swerve of shore to bend of bay, brings us a commodius vicus of recirclation back to Howth Castle and Environs. De James Joyce, primeiras linhas do Finnegan's Wake, o livro que sou incapaz de ler.

Reflexos do Futuro



Bruce Sterling, ed. (1988).Reflexos do Futuro (Mirrorshades). Lisboa: Livros do Brasil

Mirrorshades Postmodern Archive

Apesar de ser considerada como forma de prever futuros, a ficção científica sempre se ancorou na realidade sua contemporânea. Nos seus primórdios, com Verne e Wells, a FC abordava as recentes aplicações técnicas das conquistas da ciência. Na sua era de ouro, conjugava visões de futuros utópicos projectando a rápida evolução das sociedades industriais. Os anos 50 e 60 trouxeram consigo as paranóias das catástrofes nucleares, aniquilação planetária e actos governamentais sombrios. A década de 70 trouxe consigo uma explosão de exotismo criativo, sendo o auge da Space Opera. E, nos anos oitenta, as vozes mais bleeding edge da FC começaram a tentar dar corpo a uma nova ficção, mistificando a nascente revolução digital. Nasceu o movimento cyberpunk, adepto de tecnologia de ponta, visões cibernéticas e decadência urbana. A tecno-utopia passava também pelo digital.

A colectânea de contos Mirrorshades foi o primeiro grande momento de afirmação do novo movimento. Editada por Bruce Sterling, coligiu obras de muitos dos autores cyberpunk, muitos dos quais se tornaram nomes de vulto nos domínios da FC. Mirrorshades abre com o conto O Contínuum de Gernsback de William Gibson, autor de Neuromancer e voz incontornável do movimento. Neste conto, Gibson revê os velhos mitos da era dourada da FC, as cidades utópicas, os veículos de sonho e as humanidades perfeitas concebidas pelos visonários dos anos 40. É uma espécie de ponte, entre a Fc mais tradicional e as novas visões distópicas do futuro. Tom Maddox assina uma pequena pérola do conto com todos os ingredientes futuristas cyberpunk em Olhos de Serpente. Pat Cadigan, um dos primeiros autores do movimento, assina o quase incompreensível A Pecadora (talvez seja uma questão de tradução). Rudy Rucker deixa um rasto da sua hipersurrealidade nos Contos de Houdini. Marc Laidlaw aposta na estética dos combates urbanos em 400 Rapazes. James Patrick Kelly mistura a história e os mitos de Stonehenge com drogas recreativas sintética em Solstício. Greg Bear assina um voo de imaginação pelo fantástico em Petra, imaginando um mundo onde a morte de deus insufla vida nas criaturas de pedra e metal das catedrais. Lewis Shiner analisa consequências semisubmersas da manipulação genética em Até que Vozes Humanas nos Acordem. John Shirley mistura rock n' roll, distopias de queda dos regimes democráticos e urbanismos selvagens em plataformas oceânicas no conto Zona Livre, situada na costa marroquina numa alusão à interzona de William S. Burroughs. Paul diFilippo, no conto Vidas de Pedra, invoca distopias urbanas e guerras entre grupos económicos rivais num futuro próximo onde as tradicionais estruturas políticas se pulverizaram. Bruce Sterling e William Gibson revisitam as utopias cosmonaúticas soviéticas na decadência de uma colónia orbital imaginária em Estrela Vermelha/Órbita de Inverno. Concluíndo o livro, Bruce Sterling e Lewis Shiner revisitam um dos mais clássicos enredos da FC, a viagem no tempo, remixando-o com os obrigatórios elementos cyberpunk no conto que mistura o século XVIII com o século XXI, no divertido Mozart de Óculos Espelhados.

Mirrorshades foi a introdução da nova estética cyberpunk. Alguns dos escritores, como Marc Laidlaw ou James Patrick Kelly, ficaram-se pela segunda linha da literatura de Ficção Científica. Outros, como Pat Cadigan e John Shirley, continuam irredutíveis vozes independentes. E quanto a Greg Bear, Bruce Sterling, Rudy Rucker e William Gibson, estão neste momento entre as vozes maiores da ficção científica actual.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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Desenganem-se. Está um frio desgraçado. Praia sim, mas com cobertores. E pior: os dias estão muito luminosos, superexpostos. Neste verão nem a luz dá uma ajuda...

Freakonomics



Stephen D. Levitt, Stephen J. Dubner (2006). Freakonomics. Lisboa: Editorial Presença

The New York Times Freakonomics Blog

As relações entre factos e fenómenos influenciam a nossa forma de pensar. Baseamos as nossas decisões em análises, algumas mais intuitivas do que outras, do que pensamos serem as relações entre causas e efeitos. O que os autores de Freakonomics fazem é mergulhar a fundo na estatística e procurar possíveis causas para efeitos que temos como adquiridos.

As conclusões dos autores são surpreendentes e por vezes chocantes. Freakonomics é conhecido pela análise que faz à diminuição das taxas de criminalidade norte-americanas, correlacionando-as com as leis que descriminalizaram o aborto. Segundo este ponto de vista, a redução no crime não se deveu às políticas de segurança mas a toda uma geração de potenciais criminosos que não nasceu, fruto dos abortos praticados pelas mulheres de classes mais desfavorecidas, cujos filhos tinham mais elevada probabilidade de, por exclusão social, enveredar pela delinquência. Um argumento muito polémico, que se aproxima do contra-senso, mas não por isso pouco intrigante. Ao longo de Freakonomics, a análise das estatísticas serve com suporte para ideias que vão desde a facilidade em desvirtuar e vigarizar os sistemas mais estanques de exames padronizados nos sistemas escolares, as lutas de sumo ganhas não por capacidade atlética mas por acordo tácito, a supreendente complexidade dos gangs de rua de vendedores de drogas que funcionam como empresas, a constatação de que os agentes imobiliários, ao estabelecerem os preços dos bens, não estão necessariamente a trabalhar de acordo com os melhores interesses dos seus clientes, ou a correlação entre os nomes dados às crianças e as expectativas que temos delas.

Freakonomics analisa o poder das estatísticas, de forma acessível. Muitas das suas observações são polémicas, plausíveis e reveladoras, mas não nos são apresentadas como tautologias. No fim de contas, correlações não implicam necessariamente relações, e pode haver algum factor externo não contabilizado que influencie as observações. Onde Freakonomics consegue ser subversivo é ao mostrar-nos que pode haver algo mais nas interrelações que tomamos como adquiridas.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Work in progress.

As Espantosas Aventuras de Kavalier & Clay



Michael Chabon (2000). As Espantosas Aventuras de Kavalier & Clay. Lisboa: Gradiva

Apenas os fãs mais renhidos de banda desenhada se deliciam com as histórias por detrás da chamada era dourada dos comics. Esta época, vagamente centrada entre os anos 40 e 50, viu nascer os principais personagens da banda desenhada de super-heróis, bem como vastas galerias de personagens hoje quase completamente esquecidas, excepto pelos amantes das velhas revistas poeirentas, e terminou debaixo do desinteresse do público pelo género, conjugado com as pressões de uma opinião pública que considerava os comics como perniciosas influências no espírito das crianças, que culminou na adopção de um código de auto-censura, que ainda hoje rege a indústria dos comics.

O super-herói como género foi revivido nos anos 60, repescando muitas das personagens clássicas dos anos 40. As aventuras e desventuras dos heróis clássicos ficaram para a história, particularmente a criatividade louca dos argumentistas e desenhadores, e a rapacidade dos editores. É nesta época dourada que Michael Chabon mergulha para ir buscar os cenários e principal enredo destas espantosas aventuras.

Kavalier e Clay são uma dupla quase inseparável, dois primos que se conhecem pelo tenebroso acaso da guerra e do holocausto. Josef Kavalier é um refugiado, conhecedor das artes dos ilusionismo e da prestidigitação, aprendidas numa Praga que a ocupação Nazi o obriga a abandonar, numa aventura em que ajuda a retirar o mítico Golem do seu esconderijo para o colocar a salvo das garras germânicas. Chegado à américa, o principal desejo de Kavalier é o de ajudar a sua família a fugir do jugo nazi, desejo esse que apesar de todos os seus esforços nunca chega a concretizar.

Samuel Clay, Klayman de origem, era um enfezado jovem que encontrava nos mundos imaginários uma fuga para a sua fraqueza física. Homosexual não assumido, Clay torna-se um brilhante argumentista dos nascentes comics. Juntos, Kavalier e Clay dão origem a um dos mais geniais personagens dos comics: o Escapista, mestre do ilusionismo, combatente dos ignóbeis sequazes do sanguinário III Reich.

A vida prega as mais variadas partidas a estes dois amigos, cuja maior aventura é a busca do sucesso no competitivo mundo da banda desenhada. Sempre longe da respeitabilidade, estes dois artistas levam o comic a níveis de complexidade que ultrapassam a visão do comic como entretenimento barato. Sob argumentos de Clay, Kavalier leva a cabo uma luta solitária contra o nazismo nas páginas a três cores das bandas desenhadas. O seu arrojo e criatividade assegura o sucesso da sua editora, uma empresa originalmente dedicada ao ramo das quinquilharias. É um sucesso que vem com um pesado preço: os direitos de autor das suas personagens pertencem aos seus editores. Os dotes de ilusionismo de Kavalier granjeiam-lhe um lugar na sociedade, como entertainer de números de escapismo. Nas febris noites da era dourada, Kavalier e Clay convivem com a élite artística nova iorquina, na época veneradora do surrealismo.

A principal obsessão de Kavalier é trazer a sua família para os estados unidos. Consegue que o seu irmão saia de Praga e venha num transporte de crianças refugiadas, sonho que termina quando o navio que os transporta é torpedeado por um submarino alemão. Aí começa a saga das desventuras da dupla. Clay, com medo das repercussões, rejeita a sua paixão homosexual pelo actor que dá vida ao seu personagem nas radionovelas. Kavalier, transtornado pela morte do irmão e pelo fim do seu desejo de resgatar a família, alista-se nas forças armadas americanas, disposto a combater o nazismo, abandonado o seu fiel Clay e Rosa Saks, a namorada, e, sem o saber, abandonado o seu filho. Kavalier é colocado na antártida, onde acaba por matar o único alemão sobrevivente num esquelético posto na mítica neue schwabenland (um dos muitos acenos que Chabon faz à cultura popular e à cultura dos comics). No final da guerra, Kavalier oculta-se no Empire State Building, e apenas a aproximação fortuita com o seu filho numa loja de ilusionismo o faz regressar, de forma catastrófica, à antiga vida.

As Espantosas Aventuras de Kavalier & Clay é um romance complexo, apaixonado pela história da era dourada dos comics. Se a parceria que dá nome ao livro é fictícia, bem como as suas personagens, revistas e editoras, reflectem as histórias por vezes mirabolantes das verdadeiras editoras, das personagens e dos seus criadores. O Escapista obriga-nos a ver os comics como aquilo que realmente são: uma forma de escapismo, que espelha os medos, desejos e obsessões dos seus criadores e leitores. A luta atormentada de Kavalier reflecte os traumas da época, ao mesmo tempo de criação sem limites e de destruição avassaladora. O dilema de Clay, numa era em que a homosexualidade era estigmatizada, resolve-se nas páginas dos seus comics, em particular nas personagens heróicas acompanhadas de leais companheiros mais frágeis, que espelham a relação do seu criador com os homens, alguém que se vê como fraco acompanhado o homem perfeito. As Espantosas Aventuras de Kavalier & Clay são um mergulho apaixonado na história da era dourada da banda desenhada.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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Pena é a ventania que se faz sentir.

Ecrã Azul Olímpico



As mais recentes notícias das olimpíadas sublinham as manipulações e pequenas farsas das cerimónias de abertura, como o voo sobre a cidade durante os fogos de artifício (um brilhante 3D, absolutamente invejável) ou o playback da voz angelical da menina chinesa (e então? é um espectáculo, esperam-se artifícios.

Pessoalmente prefiro o blooper que os telejornais não relatam: o aparecimento de ecrãs azuis da morte nas belíssimas projecções das cerimónias. É um momento muito inconveniente para um ecrã azul, tão inconveniente como o momento em que o próprio Bill Gates sofre um ecrã azul durante uma demonstração dos seus sistemas operativos.

Para quem não sabe, o ecrã azul da morte é aquele ecrã azul que aparece quando algo de tremendamente errado aconteceu a um computador a corrrer o sistema operativo Windows.

A Armadilha Diabólica



Edgar P. Jacobs (2002). A Armadilha Diabólica. Lisboa: Meribérica/Liber

Wikipedia | Edgar P. Jacobs

Após receber uma estranha herança do falecido Miloch, o seu pior inimigo, o professor Mortimer descobre nas caves do castelo habitado por Miloch um dispositivo capaz de o transportar através do tempo. Mas a máquina do tempo de Miloch é ao mesmo tempo uma dádiva e uma armadilha, vingança última do arqui-inimigo. Incapaz de a controlar com precisão, o professor Mortimer é lançado ao passado mais remoto, onde escapa por um triz de ser devorado por monstros pré-históricos, vai parar à idade média, onde dá origem a uma lenda local sobre um misterioso cavaleiro branco que salva uma nobre donzela das garras de uma turba assassina, e acaba no futuro, onde ajuda a humanidade a libertar-se do jugo de uma temível ditadura super-científica. Descobrindo o segredo da máquina do tempo, Mortimer regressa aos tempos contemporâneos, recuperando das suas aventuras secretas graças aos auspícios do fiel amigo Blake.

É uma aventura clássica, temperada com os ingredientes tradicionais, mais um capítulo na saga de Blake e Mortimer. Não tem a complexidade que hoje esperamos da banda desenhada. Blake e Mortimer pertencem a um tempo mais inocente e menos complexo do mundo da banda desenhada.

Edgar P. Jacobs é um nome incontornável da BD franco-belga. Praticante da estética da linha clara, à semelhança de Hergè, Jacobs criava albuns de enredos complexos, fugindo ao simplismo habitualmente praticado no género.

Revisitar os clássicos da B.D. é uma boa forma de passar as tardes chuvosas deste verão invernoso.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

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A Sociedade em Rede



Manuel Castells (2007). A Sociedade em Rede. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian

CIES | Sociedade em Rede

Primeiro volume da trilogia de estudos de Castells onde este traça um mapa da nova sociedade em construção, potenciada pela tecnologia digital, A Sociedade em Rede analisa as alterações estuturais profundas que a sociedade global está a sofrer. O mundo em que vivemos está em transformação, em acelaração. Um conjunto de forças complexas está a modelar uma nova sociedade, e falta àqueles que vivem a transformação a necessária distância para compreenderem o âmbito das transformações. É por isto que o trabalho de Castells é precioso, ao traçar as linhas de mutação da sociedade contemporânea.

Globalização, predomínio da teoria económica sobre a teoria política, alterações dos centros de poder global dos centros tradicionais para novos centros emergentes, cultura do virtual, alterações aos modelos laborais, e, principalmente, predomínio da tecnologia com principal motor económico e social. São estas as forças que Castells nos apresenta, mostrando de que forma contribuem para as mutações sociais. No entanto, esta obra não adopta O habitual tom de optimismo inabalável a que outros proponentes da nova sociedade nos habituaram. A análise académica de Castells aborda as transformações, anotando também os seus perigos. A cultura fragmentada, as transformações no mundo laboral, o vício da virtualidade e a fragmentação do acesso à prosperidade apresentam perigos de enormes desigualdades económicas e sociais, implicando também novos perigos e desafios geostratégicos. As constantes instabilidades mundiais, a flutuação de preços e as crises geostratégicas que vivemos são sinais das transformações operadas pelas forças que modelam a nova sociedade.

A Sociedade em Rede é ao mesmo tempo um mapa das transformações e um aviso. Ao mostrar as forças em campo e as suas consequências, mostra-nos também o que podemos melhor aproveitar e quais os perigos das influências negativas. Em última análise, as forças que nos modelam são por nós criadas. Conhecê-las é saber como as controlar ou como tirar partido delas para que a sociedade futura, que agora se forma, não nos reserve profundas injustiças e assimetrias.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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Invernoso verão.

Journey to the Centre of the Earth



Júlio Verne (1994). Journey to the Centre of the Earth. Londres: Penguin

Wikipedia | Journey to the Center of the Earth

Considerado um dos pais da ficção científica, Júlio Verne foi um prolífico escritor cujos romances de aventuras onde a ciência desempenha um papel primordial entusiasmaram gerações de leitores. Ao contrário de outros escritores clássicos, a sua obra ainda hoje é vastamente lida. As aventuras dos seus personagens são um elemento influente na cultura popular.

Journey to the Centre of the Earth, ou, em português, Viagem ao Centro da Terra é uma aventura que nos leva às entranhas imaginárias da terra. Escrito originalmente em 1864, Journey to the Centre of the Earth narra as aventuras do professor Lidenbrock e do seu temeroso sobrinho, que acompanhados de um guia islandês viajam nos passos de um antigo sábio da remota ilha, mergulhando nas profundezas rochosas em busca do caminho para o centro da terra. A descoberta do centro do planeta é-lhes vedada, mas na viagem os intrépidos exploradores descobrem uma maravilha: um vasto oceano subterrâneo, em cujas margens sobrevivem exemplares da megafauna das eras primordiais do planeta, e até vislumbram um gigantesco homem pré-histórico, modelo das lendas arcaicas de gigantes que calcorrearam a terra, a apascentar uma manada de mastodontes.

A ciência ensina-nos que nada disto é possível, que não é possível atravessar a pé as entranhas da terra, e que nas vastas cavernas que podemos explorar a única fauna existente resume-se a espécies adaptadas à escuridão ou a microorganismos extremófilos nos recantos rochosos mais inóspitos. Nada de resquícios vivos da fauna pré-histórica ou de lendas de carne e osso. Journey to the Centre of the Earth é uma simpática variação sobre as teorias do que se encontraria no interior da terra, em particular das teorias da terra oca, que postulavam a existência de aberturas nos pólos através das quais se acedia a vastas galerias subterrâneas, habitadas por criaturas e iluminadas por sóis interiores. São teorias que as explorações polares vieram a pôr fim, mas que autores como Edgar Allan Poe e Edgar Rice Burroughs revisitaram. E mesmo que hoje saibamos que não se ocultam vastas civilizações por debaixo dos nossos pés, isso não nos impede de sonhar.

Tom Strong, Book Five



Mark Schultz, Pascal Ferry, Steve Aylett, Shawn McManus, Brian K. Vaughan, Peter Snejberg, Ed Brubaker, Duncan Fegredo (2005). Tom Strong, Book Five. La Jolla: America's Best Comics

Wikipedia | Tom Strong
DC/Wildstorm

Alan Moore é um nome incontornável da B.D. contemporânea, criador de alguns dos mais influentes trabalhos da actualidade. Para a America's Best Comics, uma marca da DC/Wildstorm, Moore criou uma curiosa galeria de heróis, que revivem o espírito e os formatos dos primeiros heróis de banda desenhada. Em histórias curtas mas complexas, misturando o simplismo dos primórdios dos comics com um certo humor contemporâneo, tongue in cheek.

Tom Strong é um desses personagens prototípicos, que vive aventuras surreais que repescam os elementos das aventuras clássicas do romance de aventuras e do comic. Tom Strong é uma espécie de super-homem científico, sem super-poderes mas com força e resistência superiores ao normal. Strong foi criado em 1899 como uma experiência pelos seus pais, numa ilha remota, dentro de uma câmara que simulava condições gravitacionais superiores ao normal. Após a morte acidental dos pais, Strong é criado pelo seu robot, Pneuman, um robot pneumático steampunk que funciona a lenha, e pela tribo dos Ozu. Nos anos 20, Strong regressa ao mundo civilizado, instalando-se em Millenium City, onde combate com a sua força e inteligência as mais perigosas ameaças à humanidade com a ajuda da sua mulher Ozu, Dhalua, da sua filha Tesla, do macado inteligente Rei Salomão e de Pneuman, o robot pneumático. Strong habita um super-laboratório, onde explora as mais avançadas descobertas científicas.

Tom Strong, Book Five não é escrito por Alan Moore, mas os argumentistas fazem justiça ao criador do personagem, com histórias de aventura que oscilam entre o surreal, como Jenny Pang and the Bible of Dreams, onde Strong combate uma criadora de sonhos, ou I, Pneuman (apanharam a referência a Asimov?), onde o robot se debate com um dilema moral enquanto o seu mestre combate os personagens da história da arte, animados por uma artista super-criminosa.

Parece familiar? Tom Strong recupera e mistura uma série de conceitos elementares dos comics: a infância conturbada, o falecimento dos pais, a super-ciência, as capacidades acima do normal, a coragem sem limites, a ética do herói, as origens e influências de civilizações exóticas, e, para compor o ramalhete, um macaco inteligente e falante, com propensão para a piada inteligente e um robot steampunk. Mais do que uma personagem original, Tom Strong é uma homenagem aos tempos da golden age dos comics, aos seus heróis estereotipados e unidimensionais, e às suas aventuras pouco complexas e repetitivas. Este personagem, e a restante galeria criada para a America's Best, funciona para o mundo dos comics como a série Star Wars funciona para o cinema: uma homenagem moderna à sua época de ouro.

domingo, 10 de agosto de 2008

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Esta é uma das principais razões pelas quais não passo as férias a calcorrear cidades de outras paragens, como gostaria. A outra razão pode ser expressa como quiserem, em euros, dólares, yenes ou rupias, ou antes, na falta de. A mim não me atraem viagens aos paraísos hoteleiros de praias paradisíacas onde se perguiça ao sabor de cocktails exóticos. Agora, deambulações por cidades, calcorreando ruas e sentido o vibrar do urbanismo? Essa é a minha visão de paraíso. Aos que deambulam de bicicleta pela cidade das luzes, um abraço!

sábado, 9 de agosto de 2008

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Recantos da minha infância.

Ordem

Ver o início das cerimónias de abertura dos jogos olímpicos de pequim deixou no ar pensamentos sobre a eficácia dos regimes totalitários para organizar espectáculos deste calibre. Coloca multidões a actuar em perfeito sincronismo, em que os gestos individuais são indistinguíveis, reduzindo o homem a um elemento da imensa massa que unida glorifica o poder do estado. Vozes uníssonas, movimentos síncronos. Ritmos universais. Ordem e união, na glorificação dos regimes.

Algo a que os organizadores agit-prop chineses já devem estar habituados. Mas parece que um pouco mais ao lado, sob os auspícios do ditador-esteta Kim Jong Il, os norte-coreanos fazem melhor.

Mesmo apesar de ter adormecido aos primeiros minutos (cansaço oblige), parece que foi um belo espectáculo. Estas fotos no Gizmodo abrem o apetite.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Leituras

Globe and Mail | Nissan shows test models of electric car, hybrid A Nissan mostrou os seus novos protótipos de veículos electricos e híbridos, baseados em tecnologia própria. Possivelmente serão os disponibilizados ao abrigo do acordo entre o estado português, a Nissan e a Renault para dotar portugal de uma infraestrutura e mercado para veículos movidos a energias alternativas.

Business Week | How cloud computing is changing the world Os dados disponíveis em qualquer local, libertos de suporte físico local; aplicações online, remotas, mais baratas e capazes de executar o essencial das tarefas, com a promessa de se tornarem tão poderosas como as tradicionais aplicações. Substituição de servidores locais por espaço alugado em servidores remotos, com entidades especializadas a tratar da infraestrutura. É o novo mundo do cloud computing, cada vez mais na moda entre os utilizadores dos sistemas informáticos.

BBC | Arctic map shows dispute hotspots O calor àrtico: um recente mapa, elaborado por cientistas britânicos, assinala os possíveis pontos quentes decorrentes de disputas territoriais sobre os vastos recursos naturais submersos pelo cada vez mais esparso gelo do pólo norte. O degelo provocado pelo aquecimento global abre a porta à exploração dos recursos energéticos, petrolíferos e geoestratégicos do àrtico, e as nações que o rodeiam estão mais agressivas nas suas reclamações terriroriais.

BBC | Quakes caught by laptop sensor Um acelerómetro é um dispositivo que, em caso de mexida abrupta num portátil, retira as cabeças dos discos rígidos para os proteger. Este equipamento sensível está a ser utilizado para a detecção de tremores de terra, através da união dos recursos de vários computadores portáteis.

L.A. Times | White farmer's ordeal in Zimbabwe Uma das medidas mais repelentes do presidente Mugabe foi o ordenar a ocupação à força das quintas de fazendeiros brancos por membros do seu partido. Foi uma medida que teve como principais efeitos a destruição de sectores económicos ligados à agricultura e transformar um país exportador de alimentos num país ameaçado pela fome. Os métodos são sempre os mesmos: após avisos, que levam à fuga de grande parte dos fazendeiros, invadem as quintas dos mais recalcitrantes, espancando os seus donos e destruindo o trabalho de vidas inteiras.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

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Seixos.

A Matemática das Coisas


A Matemática das Coisas

Nuno Crato (2008). A Matemática das Coisas. Lisboa: Gradiva.
Gradiva | A Matemática das Coisas

Os sábios do renascimento entendiam a matemática como a chave para a compreensão e descrição das leis do universo. Mas a imagem da matemática como algo complexo e inacessível, como um quebra-cabeças de utilidade duvidosa persiste. Complexa e exigente, a matemática não é impossível, ao contrário do que parecem provar as eternas discussões pedagógicas à volta desta àrea do conhecimento.

Nuno Crato tem já um longo currículo como divulgador científico. É uma tarefa nobre e importante, traduzir a linguagem cientifica, tornando-a acessível a todos, quer conhecedores quer leigos na linguagem rigorosa da ciência. No caso da matemática, sobre a qual pairam os espectros da sua inacessibilidade, essa tarefa torna-se especialmente importante.

A Matemática das Coisas, recolha das crónicas do autor na imprensa, mostra-nos como a matemática influencia o nosso dia a dia, desde as aplicações tecnológicas mais avançadas aos simples acasos da vida diária. Compreender a matemática é imprescindível ao nosso dia a dia. Embora complexa, não é inalcancável. Conhecer e compreender as formas como a matemática nos afecta, explicadas de forma acessível, ajuda a desmistificar esse terrível bicho da matemática.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

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Verão ericeirense...

Black Mass



John Gray (2007). Black Mass. Londres: Penguin

The Times | Black Mass

Com o fim da Guerra Fria chegou a dizer-se que a história tinha chegado ao fim. Não a história humana, mas a história dos ismos, cujas lutas sem quartel dilaceraram os séculos XIX e XX. Depois das lutas e revoluções, das libertações e dos discursos e ideais empolgantes, tudo pareceu terminar com a derrocada do regime soviético, e, com ele, de um dos maiores símbolos ideológicos estatizados. O ismo triunfante pareceu ser o capitalismo alicerçado na tradição liberal ocidental. E depois aconteceu o 11 de setembro, e o mundo regressou, e as engrenagens da história voltaram a entrar em movimento. No mundo globalizado e incerto, ameaçado pelo aquecimento global e pelas depredações dos capitalismos mais selváticos, uma nova ameaça se levanda: a dos fundamentalismos, dos quais o islâmico é o mais visível. Com ele, o regresso da ideologia quase messiânica do white man's burden, transfigurada na obrigação das democracias ocidentais de levarem o liberalismo contemporâneo aos quatro cantos do mundo, à força de baioneta se preciso for.

Baioneta é talvez um termo inadequado. Forças especiais, aeronaves de alta tecnologia e misseis de cruzeiro são os novos vectores de transmissão da democracia.

Os novos desafios do século XXI parecem sublinhar o triunfo do secularismo, a tradição nascida no iluminismo que separa a religião de todas as outras formas de filosofia social e política. Apesar do respeito e das tradições nacionais, nenhum estado moderno fala da religião como sua parte integrante. As visões místicas e religiosas foram relegadas aos campos espirituais. A vida económica e política passou a reger-se pelos princípios seculares.

Corresponderá esta visão à realidade? A tese de Gray indica-nos que não. Embora ostensivamente, e crivelmente, livre de misticismos, a visão secular não escapa às tradições religiosas dos seus países de origem. Em particular, Gray sublinha as visões apocalípticas de embate entre filosofias sociais e políticas, e os messianismos de propagação das ideologias, com a figura do revolucionário, combatente pela liberdade e pela ideologia como versão moderna dos mártires pela fé.

Gray ainda analisa a crescente influência dos novos fundamentalismos religiosos, particularmente os de origem cristã, nos acontecimentos geopolíticos recentes, reflectindo sobre as influências evangélicas na administração Bush e a sua ineptitude em controlar o Iraque.

Uma leitura indubitavelmente polémica.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

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E já que tenho algum tempo...

Useless Post #

Começo a sentir que estou de férias. Tenho mais tempo. Estou até a conseguir deixar leituras em dia... pena é este vento, que não deixa grande vontade de passar os fins de tarde na praia.

sábado, 2 de agosto de 2008

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Com um abraço ao amigo Y., que está mais perto da torre do que eu.

:-)



Brinquedo novo. Estava a tornar-se imprescindível mais um cá em casa, que isto de dois mestrados em regime de e-learning só com um computador tornou-se demasiado apertado. Fiel à tradição familiar, veio mais um vaio, desta vez um vgn-fz38m a um excelente preço. Ainda olhei para os Eee, mas o ecrã é pequeno demais para aplicações como o Corel ou o Photoshop. Nos próximos dias devo andar como um miudo que acabou de abrir as prendas de natal, em pleno verão. O que vale é que os dias cá pela Ericeira estão particularmente ventosos.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Magalhães III

Mas qual é o problema com o Magalhães? Não é uma boa iniciativa, que coloca a ferramenta elementar da sociedade da informação nas mãos de milhares de crianças? Sim, mas...

O problema do Magalhães é a visão que esta por detrás da concepção da máquina. O Magalhães, aliás, o Classmate, é a concorrência directa de um gigante tradicional do hardware ao projecto OLPC do MIT. O OLPC é um projecto interessante não só pela proposta - revolucionária e que está a gerar um novo segmento de mercado, de construir máquinas a baixo custo. Por detrás dos OLPC XO está todo um conceito pedagógico. O interface das máquinas está construído a partir das actividades que podem se desenvolvidas pelas crianças, e não, como nos pcs tradicionais, como porta de entrada para aplicações. É um sinal da influência construcionista de Papert. Essencial ao conceito do OLPC é a infraestrutura. O OLPC não está pensado para ser apenas um computador para as crianças, está pensado para permitir acesso à web nas regiões mais remotas do planeta. Isso consegue-se repensando o modelo de acesso. Em vez de acessos individualizados e pessoais, acessos partilhados, com a escola como centro local de acesso e cada OLPC XO a funcionar como repetidor de sinal WiFi. O conceito, não a máquina, é uma clara ameaça aos modelos de negócio de vendedores de hardware, software e fornecedores de acesso.

Não há visões destas por detrás do Classmate/Magalhães. É apenas uma versão mini do computador do papá, com alguma cosmética de design para o tornar resistente. Os videos promocionais até o mostram preso ao ubíquo modem celular. Há que fornecer as ferramentas às novas gerações, e se no processo as treinarmos para serem boas e fieis consumidoras, melhor.

Projectos como o Magalhães são meritórios, na medida em que procuram assegurar acesso equalitário à tecnologia. Mas conhecendo o que se pode fazer neste domínio, o projecto deixa a desejar. E as estranhas imprecisões às volta com o projecto - a história, falsa, do computador português, não ajudam a uma boa imagem.

O Plano Tecnológico é sem dúvida ambicioso e abrangente. Mas em grande parte está construído com uma lógica de construí que eles virão. Propiciar acesso às maquinas é fundamental, mas é o primeiro passo. O passo vital é saber tirar partido delas.

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Parte dos Traços de Cor

Mundo Exterior



Isidore Haiblum (2004). Mundo Exterior. Lisboa: Livros do Brasil.

Enquanto género, a ficção científica tem sido um dos mais abusados. A sua capacidade de construção de mundos torna a FC um meio para gerar ambientes futuristas ou exóticos para enredos. A consequência é que anda para aí muito livro considerado de Ficção Científica que, em rigor, não o é.

Este Mundo Exterior é um típico exemplo disso. Embora contenha elementos FC em abundância, no seu âmago é uma história policial, de contornos pulp. Na obra, assistimos às aventuras de um director de segurança às voltas com tramas que o tornaram, injustamente, inimigo público número um, no mundo da Cidade Feliz. Falamos do futuro, de um futuro descrito como fragmentado (um elemento pré-cyberpunk), onde o poder central dos estados se desmoronou graças à inevitável guerra nuclear (falamos de um livro escrito em 1979) e as organizações se resumem a cidades-estado, cada qual com as suas características muito próprias, incapazes de comunicar entre si pelas suas enormes diferenças de filosofia de vida. Cidade Feliz, Cidade do Capital, Cidade do Trabalho, Cidade do Ódio, Burgo dos Puritanos, este eternamente em guerra com a Cidade das Prostitutas, são algumas das organizações que povoam o mundo exterior, devastado por bombas atómicas capazes de causar anomalias temporais.

Não é um mundo muito coerente, nem o pretende ser. Uma cidade isolada e concentrada apenas num aspecto económico ou filosófico depressa entraria em colapso. As anomalias temporais são uma boa desculpa para desenredar o enredo, resolvendo em poucas frases situações complexas.

De qualquer forma, é um livro curioso. A ler, como referência para uma época (finais dos anos 70) e a sua forma de conceber o futuro.