sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Scaramouche



Rafael Sabatini (1991). Scaramouche. Lisboa: Vega

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Scaramouche
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Rei no século XIX e até meados do século XX, o romance de capa e espada está hoje caído no esquecimento. Entre os super-heróis de poderes cósmicos, as aventuras de uma ficção científica que tenta compreender o impacto da ciência na sociedade, e os homens de acção que empunham armas de grande calibre, já não há muito espaço para contos de honra e valor resolvidos em duelos de florete. De vez em quando são revisitados pelo cinema, em filmes pontuais que são depressa esquecidos. Mas entre os clássicos da literatura figuram os romances de Alexandre Dumas, autor por excelência do romance de capa e espada, entre os quais se conta o clássico O Máscara de Ferro (do qual guardo recordações de boas leituras de edições antigas que entretanto perdi).

Rafael Sabatini foi um escritor da primeira metade do século XX que se especializou nos romances de aventura. É autor das séries Captain Blood, pirata de bom coração imortalizado no cinema por Errol Flynn, The Sea Hawk, Bellarion e Scaramouche, passado nos anos de ferro e fogo da revolução francesa.

Scaramouche é um romance linear, pouco complexo, em que seguimos as aventuras do jovem André Moreau. Este, jovem homem de leis da Bretanha, simpatiza com a causa revolucionária mas não se sente forçado a envolver-se nas lutas até que o senhor de LaTour, um nobre local, assassina o seu melhor amigo num duelo injusto. Moreau tem raízes na nobreza, sendo protegido do pacífico e bonacheirão senhor de Kerkadiou, um nobre justo que trata bem o povo. Jurando justiça para o assassínio e outros desmandos de LaTour, que é também pretendente à mão de Aline, sobrinha afastada de Kerkadiou e que Moreau ama, dirige-se a Nantes, apenas para esbarrar na injustiça dos tribunais que oprimem os direitos do povo e autorizam os desmandos da nobreza. Revoltado, pronuncia discursos inflamados contra o estado das coisas, passando a ser procurado pela justiça. Obrigado a fugir, Moreau refugia-se junto de uma companhia de teatro ambulante, onde assume o papel da personagem Scaramouche, da Commedia del Arte, e graças ao seu engenho e capacidades literárias, leva uma companhia que andava de feira em feira até aos melhores teatros da região. Este episódio termina no momento de triunfo da companhia teatral, em Nantes, onde ao ver LaTour por entre o público Moreau provoca um tumulto, ao acusar o nobre dos seus crimes. Novamente fugitivo, Moreau encontra refúgio na turbulenta Paris dos dias que antecedem a revolução francesa. Encontra trabalho como instrutor de esgrima na academia do mestre de armas Des Amis, que lhe ensina os truques e a arte da espada. Os acontecimentos da revolução francesa acabam por levá-lo ao parlamento, onde se distingue pelos duelos que trava com os deputados da nobreza. Consegue, finalmente, travar um duelo com o infame Latour, mas no momento final, vitorioso, Moreau não consegue desferir o golpe final. Moreau é elevado a cargos no governo revolucionário após a queda da Bastilha, o que lhe permite salvar das mãso das turbas revolucionárias a vida da sua amada Aline, da condessa que a protegia, do seu protector Kerkadiou e até de LaTour, revelado nas páginas finais do livro como irmão de Moreau. André é filho legítimo da mãe de LaTour, de um casamento secreto desta com um capitão de cavalaria, tendo esta casado com o pai de LaTour após a morte do seu primeiro marido.

História de época e de aventuras, de emoções fortes, engenho e floreados de florete, Scaramouche é um clássico a revisitar.