sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Magalhães III

Mas qual é o problema com o Magalhães? Não é uma boa iniciativa, que coloca a ferramenta elementar da sociedade da informação nas mãos de milhares de crianças? Sim, mas...

O problema do Magalhães é a visão que esta por detrás da concepção da máquina. O Magalhães, aliás, o Classmate, é a concorrência directa de um gigante tradicional do hardware ao projecto OLPC do MIT. O OLPC é um projecto interessante não só pela proposta - revolucionária e que está a gerar um novo segmento de mercado, de construir máquinas a baixo custo. Por detrás dos OLPC XO está todo um conceito pedagógico. O interface das máquinas está construído a partir das actividades que podem se desenvolvidas pelas crianças, e não, como nos pcs tradicionais, como porta de entrada para aplicações. É um sinal da influência construcionista de Papert. Essencial ao conceito do OLPC é a infraestrutura. O OLPC não está pensado para ser apenas um computador para as crianças, está pensado para permitir acesso à web nas regiões mais remotas do planeta. Isso consegue-se repensando o modelo de acesso. Em vez de acessos individualizados e pessoais, acessos partilhados, com a escola como centro local de acesso e cada OLPC XO a funcionar como repetidor de sinal WiFi. O conceito, não a máquina, é uma clara ameaça aos modelos de negócio de vendedores de hardware, software e fornecedores de acesso.

Não há visões destas por detrás do Classmate/Magalhães. É apenas uma versão mini do computador do papá, com alguma cosmética de design para o tornar resistente. Os videos promocionais até o mostram preso ao ubíquo modem celular. Há que fornecer as ferramentas às novas gerações, e se no processo as treinarmos para serem boas e fieis consumidoras, melhor.

Projectos como o Magalhães são meritórios, na medida em que procuram assegurar acesso equalitário à tecnologia. Mas conhecendo o que se pode fazer neste domínio, o projecto deixa a desejar. E as estranhas imprecisões às volta com o projecto - a história, falsa, do computador português, não ajudam a uma boa imagem.

O Plano Tecnológico é sem dúvida ambicioso e abrangente. Mas em grande parte está construído com uma lógica de construí que eles virão. Propiciar acesso às maquinas é fundamental, mas é o primeiro passo. O passo vital é saber tirar partido delas.