sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Freakonomics



Stephen D. Levitt, Stephen J. Dubner (2006). Freakonomics. Lisboa: Editorial Presença

The New York Times Freakonomics Blog

As relações entre factos e fenómenos influenciam a nossa forma de pensar. Baseamos as nossas decisões em análises, algumas mais intuitivas do que outras, do que pensamos serem as relações entre causas e efeitos. O que os autores de Freakonomics fazem é mergulhar a fundo na estatística e procurar possíveis causas para efeitos que temos como adquiridos.

As conclusões dos autores são surpreendentes e por vezes chocantes. Freakonomics é conhecido pela análise que faz à diminuição das taxas de criminalidade norte-americanas, correlacionando-as com as leis que descriminalizaram o aborto. Segundo este ponto de vista, a redução no crime não se deveu às políticas de segurança mas a toda uma geração de potenciais criminosos que não nasceu, fruto dos abortos praticados pelas mulheres de classes mais desfavorecidas, cujos filhos tinham mais elevada probabilidade de, por exclusão social, enveredar pela delinquência. Um argumento muito polémico, que se aproxima do contra-senso, mas não por isso pouco intrigante. Ao longo de Freakonomics, a análise das estatísticas serve com suporte para ideias que vão desde a facilidade em desvirtuar e vigarizar os sistemas mais estanques de exames padronizados nos sistemas escolares, as lutas de sumo ganhas não por capacidade atlética mas por acordo tácito, a supreendente complexidade dos gangs de rua de vendedores de drogas que funcionam como empresas, a constatação de que os agentes imobiliários, ao estabelecerem os preços dos bens, não estão necessariamente a trabalhar de acordo com os melhores interesses dos seus clientes, ou a correlação entre os nomes dados às crianças e as expectativas que temos delas.

Freakonomics analisa o poder das estatísticas, de forma acessível. Muitas das suas observações são polémicas, plausíveis e reveladoras, mas não nos são apresentadas como tautologias. No fim de contas, correlações não implicam necessariamente relações, e pode haver algum factor externo não contabilizado que influencie as observações. Onde Freakonomics consegue ser subversivo é ao mostrar-nos que pode haver algo mais nas interrelações que tomamos como adquiridas.