sábado, 28 de fevereiro de 2009

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Dia cinzento.

Media, Technology and Society



Brian Winston (2005).Media, Technology and Society. Nova Yorque: Routledge

Temos uma fé quase inabalável nos saltos de progresso tecnológico. Cada nova maravilha da ciência aplicada parece abrir novas possibilidades, novos e maravilhosos equipamentos para alterar os nossos padrões de vida.

Brian Winston não segue esta linha de pensamento tecnofetichista. Apoiado num conhecimento enciclopédico da histórias das tecnologias, pinta um quadro muito diferente da adopção de novas tecnologias do normalmente pintado pelos tecno-utopistas. Não se trata de uma visão catastrofista como as de Virilio ou Weizenbaum; antes, é uma visão realista, que encara a tecnologia em duas vertentes - a tecnológica em si, e a do mercado que as utiliza e estimula, ou aniquila.

A tese de Winston é a de que há um ciclo bem definido na adopção de uma nova tecnologia. Em primeiro lugar, assiste-se ao período de deslumbramento que se segue à invenção de uma nova tecnologia. É o momento em que uma solução procura os seus problemas, altura em que as empresas de nova tecnologia se lançam ao mercado com produtos bem definidos mas que não respondem às necessidades presentes, uma vez que as necessidades que a nova tecnologia poderia suprir ainda não são sentidas. Winston ilustra esta fase com o exemplo das calculadoras mecânicas, conhecidas e criadas desde os tempos do iluminismo mas cuja utilização só realmente se desenvolveram com o surgir das corporações empresariais como entidades jurídicas, que criaram a necessidade de mecanização do espaço do escritório.

A adopção da nova tecnologia raramente segue o padrão apregoado pelos defensores dessa tecnologia. O computador, ferramenta indispensável no nosso dia a dia, mal ia sobrevivendo à sua invenção. Apenas o desenvolvimento das armas atómicas, criando a necessidade de potentes cálculos matemáticos deu o sopro que permitiu à indústria desenvolver-se e eventualmente chegar à era dos entusiastas que construiram a computação como hoje a conhecemos.

Segue-se um período particularmente litigioso, que Winston apelida de lei de supressão de uma tecnologia ou potencial tecnológico. Uma nova tecnologia é ao mesmo tempo uma oportunidade e uma ameaça - oportunidade para novos usos e novas estruturas económicas, e uma ameaça às estruturas económicas instituídas. Aqui, os exemplos máximos estão no desenvolvimento do telefone e da rádio, com fortes litígios em tribunal e movimentos de mercado bolsista que fariam empalidecer os tubarões da nova economia de hoje, e da televisão. A aplicação destas tecnologias foi deliberamente protelada e condicionada por poderes económicos que viam na nova tecnologia uma legítima ameaça à sua sobrevivência.

No periodo seguinte assistimos ao que Winston chama de período de supressão do potencial radical. É altura de limar as arestas da tecnologia, não para a tonar mais eficaz ou avançada mas sim mais de acordo com as estruturas económicas convencionais. Aqui, a história dos telefones, com a sua tradição de monopólios estatais e empresariais é o exemplo máximo de supressão de potencial radical. Num dos muito exemplos que Winston cita encontramos um que nos é particularmente interessante: a dificuldade em fazer chamadas telefónicas de grupo não é uma limitação da tecnologia mas sim uma imposição das primeiras empresas de telefonia e telegrafia para maximizar os seus lucros (e é o nicho que as empresas de voz sobre IP tão bem exploram).

Muitas tecnologias promissoras não atingem o seu potencial graças a esta interferência decisiva das forças da economia. Winston dá-nos como exemplo máximo o fax, existente desde os anos 50 mas ainda hoje uma tecnologia sub-utilizada e que está a ser nulificada pela internet.

Quanto à internet em si, Winston não lhe atribui qualquer do potencial revolucionário que normalmente lhe atribuímos. Antes, Wilson prefere demonstrar que o verdadeiro potencial revolucionário se encontra na rede - essa sim, a verdadeira força transformadora. A Internet é apenas a mais recente tecnologia a fazer uso do potencial da rede, tal como em tempos anteriores o telégrafo, o telefone, a rádio e a televisão. No entanto, o texto original de Winston data de 1998, altura em que a Internet estava quase a tornar-se a força tecnológica avassaladora que hoje é. Hoje, Winston talvez reconhecesse que o carácter libertário da web permite ultrapassar as tentativas de supressão do potencial tecnológico (se algo é possível alguém num qualquer recanto obscuro da internet estáa trabalhar activamente para isso) - e utilizasse as guerra jurídicas sobre propriedade intelectual como o exemplo contemporâneo de como uma indústria ameaçada por uma nova tecnologia utiliza o seu ainda considerável peso financeiro para asfixiar a nova tecnologia. As empresas de telegrafia utilizaram a mesmíssima táctica contra as nascentes empresas de telefones no século XIX.

A tese de Winston é contraditória com as correntes teses de deslumbramento tecnológico que postulam o valor do empreendedorismo no trazer para os mercados de produtos tecnologicamente avançados, num ciclo que se renova continuamente. Antes, aponta para o papel catalizador das forças conservadoras de mercado na supressão e domesticação do potencial das tecnologias. E fá-lo de uma forma enciclopédica, expondo a sua tese alicerçando-a numa minuciosa exploração da história das tecnologias e dos media.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

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Plano do dia: 8:30 - 12:00, limpeza semanal dos pcs, actualizar site da escola com áreas dedicadas ao magalhães/eescolas e parcerias pedagógicas internacionais, orientar planos e inventários de rede e sistemas para estar preparado para a visita dos técnicos da PT que vêm preparar a instalação da nova rede para a próxima semana (
é o PTE em andamento, timing perfeito com as eleições). 12:00 - 12:45, apoio ao aluno de tutoria. 12:45 - 13:50, almoçar. 13:50 - 14:50, continuar as tarefas de coordenação que eventualmente tenham ficado por fazer de manhã. 14:50 - 16:20, aulas, orientar os alunos em gravação áudio e pesquisa video.

Realidade do dia: 8:20 - 12:00, tratar de alguns pcs da sala tic (ligar windows XPs à rede é uma arte que ainda não domino na perfeição). Desinfectar um pc da sala de professores que amanheceu com um profundo problema wtf (daqueles que nos enchem o ecrã com centenas de janelas de aviso). Finalmente tratar da limpeza aos pcs dos alunos... as aplicações portáveis são uma praga/ideia brilhante. É um jogo do gato e do rato e o gato... sou eu. Pela primeira vez repor o sistema operativo de um magalhães, com algumas pausas na respiração. Já que o tempo e a paciência se foram para o que queria fazer, aproveitar para repor as passwords de admin daqueles portáteis que deixei de lado para fazer isso... em setembro. Descobrir que os portáteis do CRIE têm um überadministrador acessível com alguns truques. E andei eu meses em busca de técnicas/truques e software para crackar as passwords do XP (as minhas competências de pirata são mesmo muito elementares... é outra das razões para me dedicar cada vez mais ao software livre). 12:00 - 12:45, já que estou com a mão na massa aproveitar a presença do tutorando para lhe ensinar uns truques... e instalar o ubuntu num dos portáteis. Funcionou maravilhosamente bem. A ferramenta de partição do instalador do ubuntu, que não deu sinal de vida quando o tentei instalar nos velhos desktops, funcionou na perfeição nestes portáteis. 12:45 - 13:50, decidir deixar-me de tretas e reformatar pelo menos um dos desktops. Sem partições. Adeus XP. A decisão foi facilitada pelo facto de a máquina em questão estar tão lenta que estava de facto inutilizada. Alguns minutos de ansiedade, a ver se a coisa não falhava... e arranque limpinho. Os alunos deram logo pela diferença. Mas o que me deixou agarrado foi a instalação de impressoras. Sabem aquele pincel que é instalar impressoras de rede em windows? Instalar localmente os drivers, atribuir os ips, criar portas tcp/ip e com sorte a coisa corre bem? O ubuntu reconheceu TODAS as impressoras ligadas à rede (algo que a pesquisa de impressoras de rede no XP e Vista nunca me conseguiu fazer) e instalou o driver compatível para a impressora que seleccionei. Grande equipa de desenvolvimento! Apesar de tudo ainda arranjei tempo para dar umas dentadas. 14:50 - 16:20, aula. Aproveitar para criar autenticação de rede para o novo servidor do pc antigo resgatado às reservas arrecadadas para melhorar o parque informático da sala de TIC. As minhas competências de redes em xp ainda não estão apuradas mas pelo menos a coisa ficou a funcionar. Quanto aos alunos, estão autónomos a gravar voz no audacity. 16:20, pausa para cigarro e tempo para atar umas pontas soltas. As pontas-soltas, na era digital, são perfeitas vampiras de tempo.

Anoitece. O fim de semana aguarda-me com a guerra e paz de Tolstoi a pesar na consciência e mesa de cabeceira.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

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Nerd cred: instalar o ubuntu num velho pc a 256 de ram. Falhar. Insistir. Falhar novamente. Perceber o porquê da falha... e corrigir em Windows. Ubuntu instala normalmente, arranca para o ecrã de login. Inserir login e password. Dá erro. Voltar a inserir. Novamente erro. Esqueci-me do nome de utilizador... regressar ao windows, desinstalar o ubuntu (através do wubi) e voltar a reinstalar. Tudo porque me esqueci de apontar o nome de utilizador root do ubuntu que defini na instalação.

Força, riam-se. Também me diverti com a minha estupidez...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

P. J. Farmer

Uma má notícia para terminar o dia: faleceu o escritor Phillip Jose Farmer, uma das mais influentes figuras da FC dos anos 70 (e cuja obra imperdoavelmente desconheço). Curiosamente estava hoje a tentar perceber o que é o Universo de Wold Newton elaborado por Farmer. Mais um gigante da FC que se apaga. Ars longa, vita brevis.

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Street serendipity.

Der Luftpirat



Jess Nevins | Luftpirat
The Ruler Of The Ocean Of The Air

Escorraçado da terra devido a uma conspiração tenebrosa que lhe colocou a cabeça a prémio, o Capitão Mors utiliza o seu vasto intelecto para, com a ajuda dos seus fieis tripulantes hindus, construir o impossível: uma poderosa máquina voadora, mais capaz do que os frágeis balões e dirigíveis, mais potente do que os incipientes aviões, mais poderosa do que os portentosos navios de guerra.

Injustiçado e incompreendido, o capitão Mors luta contra as injustiças. Na sua primeira aventura, depois dos seus primeiros vislumbres em que avisa os aeronautas europeus de que é o senhor dos céus, dirigie-se a Odessa, onde enfrenta um motim, captura os conspiradores e aplica justiça sumária na ponta da corta.

Der Luftpirat é um obscuro personagem de contos de ficção científica publicados em revistas alemãs do início do século XX. É um pastiche que mistura elementos de Júlio Verne e de outros autores percursores do que se viria a tornar a moderna ficção científica. A principal diferença entre Mors e Nemo reside no facto do primeiro ser um aeronauta, e o clássico personagem de Verne um homem dos submarinos. O Meteoro, a aronave de Mors, assemelha-se muito a um Nautilus dos céus.

Não consegui encontrar autoria dos primeiros contos do Capitão Mors, o Pirata dos Ares. Como personagem, sofreu várias encarnações às mãos dos escritores pulp alemães, com uma larga tradição de literatura fantástica pouco conhecida por entre os meios mais anglo-saxónicos da FC. Jess Nevins tem uma página dedicada a este personagem, onde publica em formato electrónico três dos seus contos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

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Abstracões urbanas.

Black Dossier



Alan Moore, Kevin O'Neill (2007). The League Of Extraordinary Gentleman: Black Dossier. La Jolla: Wildstorm

Wikipedia | Black Dossier
Planet | Extraordinary Gentleman
Jeff Nevins | Annotations to the Black Dossier

É sempre um prazer ler os vários volumes da Liga dos Cavalheiros Extraordinários, criada por Alan Moore e ilustrada por Kevin O'Neill. Não só pelo esperado brilhantismo de Moore, um deus no universo dos comics, mas principalmente pelo jogo estimulante que é tentar descobrir todas as referências mais ou menos obscuras que Moore entreteceu na teia dos seus argumentos. A Liga dos Cavalheiros Extraordinários revive antigos personagens da ficção do século XVIII e XIX. Identificar as criações, compreender as referências obscuras e os pormenores gráficos é um jogo altamente aprazível, particularmente para os conhecedores das literaturas fantásticas dos séculos passados.

No primeiro volume, a liga composta por Mina Harker (Dracula, de Bram Stoker), Capitão Nemo (20.000 Léguas Submarinas e A Ilha Misteriosa de Júlio Verne), Allan Quatermain (As Minas de Salomão, por H. Ridder Haggard), Homem Invisível (The Invisible Man de H.G. Wells) e Dr. Jekyll/Mr Hyde (The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson) enfrentam o perigo amarelo de Fu Manchu (de Sax Rohmer) com uma ajudinha de Auguste Dupin (The Murders in the Rue Morgue, de Edgar Allan Poe) e do Dr. Cavor (First Men on the Moon de H. G. Wells). O segundo volume assiste à destruição da liga durante a invasão marciana, derrotada graças às misteriosas criaturas bacteriológicas criadas pelo Dr. Moreau (War of the Worlds e The Island of Dr. Moreau de H. G. Wells).

The League Of Extraordinary Gentleman: Black Dossier é um passo à frente relativamente aos primeiros volumes, quer no desenvolvimento dos personagens e na cronologia ficcionada, quer na manipulação do comic enquanto medium de comunicação. Passada nos anos 50 do século XX, Black Dossier narra aquela que será a última aventura dos rejuvenescidos Mina Harker e Allan Quatermain, procurando um dossier secreto que contém a história das ligas de cavalheiros extraordinários. Na Grã-bretanha dos anos 50, a recuperar do final de um período totalitário de cariz socialista tutelada pela figura do Grande Irmão (1984, de George Orwell) instalado nos escombros da vitória aliada sobre a II Guerra provocada por Hynkel (leram bem, é uma referência ao filme The Great Dictator de Charlie Chaplin) onde Dan Dare encabeça um esforço de regresso ao espaço, os dois heróis clássicos procuram subtrair o dosssier das mãos dos escalões ocultos e corruptos dos serviços secretos. No seu caminho têm de enfrentar um jovem James Bond (de Ian Fleming), o veterano Bulldog Drummond (personagen dos romances policiais dos anos 30 escritos por Sapper, pseudónimo de Cyril McNeile) e Emma Night (futura Mrs. Peel da série televisiva dos anos 60)

Pela quantidade de referências já se perceber que Moore vai mais longe na remixagem de personages clássicos da literatura. Enquanto a história decorre temos acesso ao conteúdo do famoso dossier negro, e aí Moore solta-se por completo, ultrapassando todos os limites da erudição cultural. Os anteriores personagens das ligas passadas são revisitados numa profunda lição de literatura clássica que vai de Shakespeare a H.P Lovecraft, sem esquecer Jonathan Swift ou Cervantes. A imortal personagem andrógina de Virginia Woolf, Orlando, ganha dimensões históricas. Alan Moore repesca Fanny Hill, mesclando-a com Venus e Tannhauser, mistura P.G. Wodehouse e H. P. Lovecraft num cruzamento entre Bertie Wooster, Jeeves e uma liga composta por Mina Harker, Quatermain, Orlando e Thomas Carnacki (Carnacki the Ghost Finder de William Hope Hogdson) combatendo criaturas lovecraftianas do além-espaço. Tira o chapeu a Jack Kerouac recriando aventuras dos personagens na america da Golden Age dos comics recontadas pelo escritor beat Sal Paradyse (On The Road de Kerouac). Recorda personagens das literaturas não anglo-saxónicas ao dar um cheirinho de contrapartes da Liga franceses (Les Hommes Misterieux, recuperando Robur o Conquistador, Le Nyctalope, Fantomas, Arséne Lupin e Monsieur Zenith) e alemães (os Zwielicht-helden envolvendo uma andróide e o seu inventos Rotwang, e encabeçados por Dr. Mabuse e Dr. Caligari). O newspeak orwelliano não é esquecido.

A lista de referências é quase interminável. A que deixo aqui é longa, mas é um pálido reflexo do mar de referências utilizadas e citadas por Alan Moore. The League Of Extraordinary Gentleman: Black Dossier é banda desenhada no seu melhor, um prazer estético e intelectual que abre novos limites à graphic novel enquanto medium.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

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Abstracção urbana.

Pedagogias

Um filho quer jogar um jogo de computador particularmente violento. Que pode um pai fazer? Fechar os olhos e fingir que não sabe que o miúdo joga jogos violentos, permitir com permissividade total ou proibir e arriscar-se a que a criança jogue na mesma, mas às escondidas? Neste caso, o pai de um adolescente de 13 anos que queria jogar Call of Duty optou por uma solução engenhosa: deixa jogar, sim senhor, mas com uma regra: o adolescente (e os amigos) têm de respeitar a Convenção de Genebra. Mais pormenores via Boing Boing.

O Call of Duty, sendo um simulador realista da II Guerra mundial, presta-se bem a este tipo de estratégia pedagógica. Outros jogos serão mais difíceis de abordar desta forma (e outros, como o famoso GTA, impossíveis). De qualquer forma fica aqui o registo de uma atitude que nem demoniza o jogo de computador nem opta pela permissividade cega.

Eu sou daqueles que defende que a ligação entre jogar jogos violentos e apresentar comportamentos violentos é ténue. Sim, há crianças que cometem actos de violência e jogam jogos violentos, mas há uma enorme maioria de crianças que jogam jogos violentos e não cometem actos de violência, o que me leva a pensar que problema talvez não seja extrínseco (do jogo) mas intrínseco (contexto familiar e social, problemas mentais). Mas não ignoro o facto de muitos destes jogos apelarem a valores que não desejamos que as crianças aprendam. Por isso, a atitude face aos jogos tem de ser pró-activa. Proibir não resolve, permitir cegamente é demitir-se do controle sobre os valores que as crianças aprendem.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Leituras

5min | How to make portable applications for free Decididamente algo a experimentar quando tiver um tempinho.

The Boston Globe | At Work Uma impressionante colecção de fotografias que caracterizam o mundo global do trabalho.

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Pedregulhos. Encontram-se dentro de muitas caixas cranianas.

Brincadeiras

É muito difícil não nos questionarmos sobre o estado da nossa democracia. À partida, parece-nos normal e saudável. Não temos regimentos de camisas negras a marchar pelas avenidas das cidades nem caudilhos a defender regressos aos tempos da velha senhora. Por outro lado, sentimos em inúmeros pequenos detalhes do dia a dia um autoritarismo rastejante, silencioso e impositivo que começa a mediar as relações entre o estado e os cidadãos.

Um caso óbvio está nas trapalhadas de censura a um objecto alegórico no carnaval de torres vedras, desvalorizado por um embaraçado procurador geral da república com um "aquilo não foi bem assim". Outro foi o caso do desfile de carnaval na escola de paredes de coura, desmarcado pelo conselho pedagógico do agrupamento de escolas mas forçado pela direcção regional de educação, que chegou ao extremo de enviar equipes para se assegurar que os professores cumpriam as ordens da direcção regional, eufemisticamente apelidadas de equipas de apoio e auxílio. Bem, da minha experiência, as decisões de conselhos pedagógicos não são tomadas de ânimo leve (pelo contrário, são processos lentos e dolorosos). E no que respeita ao envio de equipes das DREs para auxiliar o trabalho dos docentes, confesso que na semana passada me teria feito muito jeito ter alguns burocratas da DREL para me ajudar a carregar o carro com resíduos electrónicos para o escola electrão. Como parece que estas equipes de trabalhadores diligentes só se deslocam em casos de cancelamentos, agora já sei. Para a próxima proponho a actividade e depois cancelo-a. Talvez garanta assim uns pares extra de braços para carregar materiais.

As tropelias de tiranetes de gabinete, que se sentem no dever de zelar zelosamente como zelotas admiradores do autoritarismo de cara simpática reinante não se ficam por aqui. Note-se as declarações de guardas da GNR face à greve de zelo que alguns estão a efectuar: no meio das reivindicações, surge uma declaração sobre as pressões que a tutela faz sobre os agentes para que estes cumpram as metas de coimas. O que leva a concluir que as tutelas entendem o exercício da autoridade não como uma forma de auxiliar os cidadãos e assegurar a segurança, mas sim como mais uma linha de financiamento para o orçamento de estado.

No fim de contas, o que se espera de um país que deixa passar sem titubear uma lei que representa uma ameaça enorme à liberdade e privacidade dos cidadãos? Qual delas? A da obrigatoriedade de ter um chip no automóvel, vendido aos cidadãos como uma forma de agilizar a tarefa das autooridades e de facilitar a vida dos automobilistas com pagamentos automáticos nas auto-estradas. Só que este tipo de tecnologias é muito facilmente utilizado para outros fins, como qualquer um que tenha lido um pouco sobre aplicações de tecnologias RFID sabe. Para mais, pergunto-me que raio de estado de direito é este em que não são as autoridades a terem que provar as prevaricações dos cidadãos, mas sim os cidadãos que continuamente têm de provar a sua inocência e cumprimento das leis, tarefa agora facilitada pelos chips que constantemente emitem informações sobre os condutores. A teoria do quem não deve não teme é uma boa forma de encobrir autoritarismos totalitários.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

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Um cheirinho a primavera.

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Baixa resolução. Desafio aos alunos: pegar em duas máquinas digitais miniatura, com resolução abaixo dos 500k (leram bem), que descobri empoeiradas nos fundos de uma arrecadação. Ir para a rua e... disparar. Os resultados são estes. Não posso mostrar as fantásticas imagens que os meus alunos tiraram a si próprios (por óbvias razões de segurança e autorização parental), mas ficam aqui algumas abstracções.

Pois, também não planifiquei esta actividade. Ai se a ministra descobre...

Leituras

New York Times | Low Tech Fixes for High Tech Problems Se a bateria do telemóvel estiver a descarregar muito depressa, tente... deixar de guardar o telemóvel no bolso. As temperaturas mais elevadas aceleram a descarga das baterias e manter o telemóvel no bolso é mantê-lo quentinho. Estas e outras dicas interessantes no New York Times.

Intomobile | Google Docs now editable on mobile Um passo lógico na futura nuvem computacional: já é possível editar documentos no Google Docs a partir do telemóvel (ligado, claro, à internet). São sinais que apontam para uma reconceptualização do conceito de computador.

Read Write Weeb | A Computer Repair Utility Kit You Can Run From a Thumb Drive Nerd alert. Alerta a coordenadores TIC: a Technible, um site australiano, colocou online uma suite portável de aplicações de diagnóstico/reparação de computadores que corre a partir de uma pen USB. Ainda não consegui descarregar... eles têm os servidores sobrecarregados.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Créditos

Actualização aos meus créditos de nerd: para além de me divertir a instalar CMSs em servidores (com níveis de sucesso variáveis um pouco acima do sofrível, mas lá chegarei, lá chegarei) passar uma manhã a instalar o Ubuntu em modo de dual boot, e a falhar redondamente. Mas lá chegarei, lá chegarei...

Magalhães (NSFW)



Se eu quisesse ser mesmo mauzinho tinha usado a Origem do Mundo de Courbet. Dedicado aos mentecaptos e cães de fila que pululam no Ministério Público e outros organismos estatais. E agora fico à espara da ordem do tribunal para retirar esta imagem do meu blog.

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Venha a luz.

Escola Electrão



Terminou ontem pelas 16:00 a participação do Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro no projecto Escola Electrão. O Ponto Electrão foi retirado e enviado para reciclagem uma grande quantidade de electrodomésticos e material informático avariado ou em fim de vida. Ainda não tivemos acesso ao enviado, que divulgaremos quando nos for facultado.

Os responsáveis por este projecto gostariam de agradecer ao Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro, pela disponibilidade para acolher este projecto, à Escola E.B. 1 da Venda do Pinheiro, e a todos os membros da comunidade que se disponiblizaram para entregar materiais no Ponto Electrão colocado no recinto escolar. Um agradecimento muito especial para os alunos do Clube Digital, turma 6º F e turma 6º D pelo auxílio precioso na testagem, catalogação e logística de tratamento dos equipamentos informáticos.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Magalhães - Reposição do sistema

Repliquei aqui um aviso sobre a disponibilidade da reposição do sistema operativo do magalhães, mas este só é válido para os pais e encarregados de educação abrangidos pelo Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro. Quanto aos outros, não se cansem a enviar mails. Tenho recebido alguns pedidos de ajuda mas Faro ou Maia são um pouco distantes daqui. Quanto a disponibilizar online a reposição, de momento fora de questão. Os direitos de autor estão um pouco difusos e de qualquer forma a reposição pesa à volta de 5 Gb.

Moscas a voar.

A versão contemporânea de olhar as moscas a voar. Decidi experimentar instalar CMS num servidor, só porque, enfim, não deixa de ser de todo divertido. E faz jeito para uns projectos possíveis ter uns espaços web à mão. Para já, estou a testar o Frog CMS, o Joomla! (está na moda), o Drupal (estranhamente não passa da instalação do MySql apesar da coisa funcionar na perfeição para os outros), o Moodle (com o qual tenho uma relação amor/ódio), o MIA (Sucesso! Sucesso! E agora será que funciona?) e o TextPattern (tem um aspecto elegante). Clicar nos links não leva a nada. São sites de teste. O que irrita é passar longos minutos a ver o upload para mesmo no final da pasta mais pesada dar erro. Adorável.

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Decididamente.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

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Estão de regresso, os azuis cerúleos.

Silent Running



Wikipedia | Silent Running
GoogleVideo |Silent Running

Depois do reconhecimento como grande mestre dos efeitos especiais conseguido com o clássico 2001, Douglas Trumbull tentou ir mais longe com a realização de Silent Running.

O filme passa uma mensagem fortemente ecológica. Num futuro próximo, a vida vegetal está extinta na terra. Apenas resistem, na órbita de Saturno, alguns espécimes preservados em cúpulas geodésicas atracadas a uma frota de naves espaciais. O objectivo parece ser o de reflorestar a Terra, mas a frota acaba por receber uma ordem para destruir todas as cúpulas com armas atómicas e regressar à órbita terrestre para voltar aos serviços comerciais. A generalidade dos tripulantes regozija-se com a ordem, mas o botânico de uma das naves revolta-se, assassina os restantes tripulantes e simula um acidente que lhe permite salvar uma das cúpulas, o último vestígio da natureza.

Com Douglas Trumbull à frente do filme, os efeitos especiais são assombrosos. Trumbull é um mestre dos efeitos pré-CGI e Silent Running é um catálogo da sua mestria. O filme vive dos detalhes intricados das naves, a plausibilidade dos espaços interiores e uns curiosos robots autónomos que são um prodígio da animatrónica. Quanto ao argumento, embora convicente, sofre de previsibilidade. A realização é sólida, levando-nos ao final do filme sem sobressaltos nem bocejos, mas sem ser particularmente inspiradora.

Valendo sobretudo pela mestria dos efeitos especiais e pela sua mensagem, ainda actual, Silent Running é uma referência nos filmes de FC dos anos 70. Pode ser visto no GoogleVideo.

re-cycle



É a melhor maneira de começar o dia e a semana de trabalho. Oito e meia da manhã e inventar uma aula por instinto, apenas porque me deu para experimentar a técnica da collage com os alunos. Seguiu-se o caos produtivo, com folhas de jornal estraçalhadas por tesouras e umas experiências de assemblage com tintas e restos de teclados avariados. O objectivo? Produzir colagens a puxar ao anárquico, insistindo num estilo dada/surreal com toques urbanos. A ideia não está totalmente desenquadrada do trabalho da turma, e foi uma forma de lhes ensinar mais uma ferramenta de expressão para o grande trabalho do segundo período - a expressão plástica das emoções (que envolve teoria da cor, geometria e técnicas artísticas, tudo coisas que normalmente se abordam de forma individual).

Há só um pequenino probleminha, pelo qual vou pagar caro: a actividade não está enquadrada em planificação. Não foi devidamente pensada, dividida nas suas componentes elementares e grelhada com objectivos e competências. Não que estes não existam, simplesmente o pormenor burocrático está em falta.

Mas que se dane. O que me motiva, enquanto professor, é transmitir o que sei e estimular a criatividade dos alunos, algo que o formalismo imposto pelo modelo de avaliação de docentes vai aniquilar. E hoje, ao ver os alunos a escapar aos paradigmas simplistas da colagem, a arriscar a abstração e a não ter medo de desconstruir objectos, sinto que foi um dia em que realmente consegui fazer o que mais gosto de fazer. Porque, no fim de contas, a minha área de docência é uma área artística, e as artes não se coadunam muito com formalismos excessivos.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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Parece que a primavera chegou em força. Mas não se deixem enganar. Se as manhãs convidam ao mergulho, este pode ter consequências indesejadas.... aaaaaaaaaTHIM! Esqueci-me do c. Enfim, passem o aspegic...

Voices of the Codebreakers



Michael Paterson (2008). Voices of the Codebreakers. Cincinatti: Davis & Charles.

Amazon | Voices of the Codebreakers

As guerras não são necessariamente ganhas nos campos de batalha. Sun Tzu, o lendário general chinês, sempre afirmou a guerra como um jogo de enganos, em que o objectivo final é vencer o inimigo com um mínimo de perdas. Mais importante que o poderio militar, o número de homens ou a alta tecnologia, a informação é a arma decisiva da guerra. Conhecer os movimentos e intenções do inimigo é saber onde melhor atacar e defender.

A procura de segredos e informações cai sob a alçada romântica dos serviços secretos. A cultura popular vive de exemplos de agentes míticos, capazes de proezas ocultas que fornecem a informação exacta nos momentos de maior perigo. Mas há um lado mais intrigante, interessante e decisivo no mundo dos segredos militares e estatais: a captura e decifrar de sinais, a intepretação e criação de códigos e o brilhantismo da criptografia. Trabalho de génios minuciosos, não é tão romântico como as aventuras rocambolescas dos agentes secretos, mas é fundamental para saber tudo sobre os inimigos, de tal forma que normalmente os departamentos que se ocupam de criptografia são mais vastos do que as secretas tradicionais (a americana NSA é o caso paradigmático).

Foi durante a II Guerra que a criptografia se assumiu como arma de guerra decisiva. Para a história ficaram os lendários feitos dos homens e mulheres que serviram nos serviços secretos britânicos em Bletchley Park, cujo contínuo esforço no jogo de gato e do rato do cifrar/decifrar poupou vidas, ajudou a encurtar a guerra e deu um contributo decisivo à computação com os trabalhos de Alan Turing e o primeiro computador digital do mundo, o Colossus.

Voices of the Codebreakers conta essa história a partir dos depoimentos dos muitos homens e mulheres que serviram, sob juramento de segredo, nos serviços de criptografia britânicos. São relatos fascinantes da experiência daqueles que embora longe dos campos de batalha, contribuiam com a sua mente e os seus conhecimentos para o esforço de guerra, travando batalhas de pura inteligência para decifrar os códigos inimigos.

Estes depoimentos não são a voz dos responsáveis, dos comandantes ou dos génios de topo. São a voz dos que estavam nas secretárias, e algumas vezes no terreno, a dar o contributo decisivo para a vitória aliada na fornalha que forjou a europa contemporânea.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Pausa na viagem.

Zombi 2



IMDB | Zombi 2

Este filme sofre de uma associação errônea. Surgido na mesma altura que o lendário Dawn of the Dead de Romero, o filme de Fulci é considerado uma cópia que se aproveita da popularidade do filme de Romero. A ajudar a esta associação está o final do filme, escrito à pressa para mostrar uma invasão zombie em Nova York, e o 2 a seguir ao título do filme. Não existe tal coisa como má publiciade. Na verdade, o argumento de Zombi 2 foi escrito antes da estreia de Dawn of the Dead e o universo do filme diverge muito do dos filmes de Romero.

Em Zombi 2 um jornalista e a filha de um cientista desaparecido viajam até uma ilha perdida das Caraíbas, tentando desvendar o mistério do desaparecimento do cientista. Acompanhados por um casal que é dono do único barco que os aceita trasportar à ilha misteriosa e maldita, encontram um médico que procura desvendar o terrível segredo da ilha: os mortos regressam ciclicamente à vida, tentando devorar os vivos. Os acontecimentos precipitam-se e os hérois protagonistas vêem-se no meio de um violento ressurgir de zombies sedentos de carne humana.

Claramente, um clássico de profunda complexidade filosófica existencialista, com os esperados efeitos especiais gore e um estranho bónus: uma violenta luta submarina entre um zombie e um tubarão (pista: vence quem tem os dentes mais afiados).

Zombi 2 foi o filme que lançou a reputação de Lucio Fulci no cinema de terror e, para os amantes do género, uma das obras incontornáveis da filmografia de horror.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Adeus, Palm OS



Guardo boas memórias deste simples e eficiente sistema operativo. Habituei-me a ele desde o meu precursor Palm Professional de 1Mb de memória (um luxo, em 1999) ao divertido Zire 31, sem esquecer o fabuloso m105 que se aguentava duas semanas num par de pilhas AAA com uso intensivo (eBooks, jogos, desenhar no TealPaint). Pioneira no campo dos PDAs, e criadora de alguns dos melhores pdas da curta história destes gadgets, a Palm sofreu de ter um departamento de gestão vastamente inferior ao departamento técnico. Podendo ser a Apple do mundo da computação na palma da mão, e tendo chegado a dominar o mercado, a empresa ficou conhecida pelos excelentes modelos (o Lifedrive foi um verdadeiro percursor do iPhone e a série Tungsten um verdadeiro fetiche digital) e pelas manobras idióticas no mercado. Chegaram a dividir-se, criando uma empresa para construir pdas e outra para explorar o sistema operativo (aventura que terminou na aquisição de uma pela outra).

Nos últimos tempos, a Palm tem-se esforçado por regressar à ribalta do seu nicho de mercado. Lançou recentemente o Pre, sério concorrente no mercado dos telemóveis touchscreen que surpreendeu positivamente quando foi revelado e que se baseia num novo SO, apelidado de webOS. Quanto ao velho palm, apesar de robusto já não responde às necessidades de equipamentos que só fazem sentido com conectividade e foi abandonado.

Quanto a mim, já é tarde. A penetração dos palms no mercado português sempre foi muito baixa. O investimento nos mais caros pdas baseados no Windows Mobile sempre me causou confusão... para quê pagar barato quando se pode pagar caro? Quando o meu fiel Zire fritou (literalmente) fiquei impossibilitado de o substituir por outro pda palm e voltei-me para os smartphones da nokia. Mesmo assim, as aplicações que me são mais úteis no telemóvel nasceram do Palm OS - o imbatível iSilo em particular. E enquanto espero pelos Androids, olho com saudade para o Palm OS.

Duo

Eleições internas no PS. Não resisto a perguntar... será que os boletins de voto têm duas hipóteses, sim na lista de sócrates ou sim na lista de sócrates?

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Poses. E agora adeus internet. Hora de colocar leituras em dia.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

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Hoje quase não ia deixando aqui nada. Tinha planeado uma elegia ao Palm OS, um resmungo sobre padrões de uso de videovigilância vs fotos amadoras e mais algumas coisas que se varreram do radar mental. Em vez disso vão estas frases. E chega. Vou dormir. Continuar a dormir. Amanhã logo se vê. Por enquanto fica vazio de conteúdo.

Duas sugestões de leitura: o Hairy Green Hairball colocou online o primeiro número da Crypt of Shadows e para os fãs de Daniel Clowes o Grantbridge Street publicou uma curta do Ghostworld.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

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Swerve of shore and bend of bay.

Escola Electrão



A escola E.B. 2,3 da Venda do Pinheiro já dispõe de um Ponto Electrão para recolher e reciclar materiais electrónicos. Vai ficar disponível durante uma semana em que se espera que este se encha equipamentos avariados ou em fim de vida.



Mal foi instalado, logo foi estreado. No ponto electrão podem ser depositados pequenos electrodomésticos, material informático e electrico avariado ou em fim de vida. Equipamentos de maiores dimensões também poderão ser entregues para recolha. No àtrio da escola também dispomos de um espaço de recolha de lâmpadas usadas.

Se se quiser livrar do "mono" que enferreuja na garagem ou acumula pó no fundo da gaveta... aproveite, venha à escola da Venda do Pinheiro. O ambiente agradece.

The Beyond



Wikipedia | The Beyond
House Of Horrors | The Beyond

Este filme é claramente uma obra prima do cinema giallo/gore. Realizado por Lucio Fulci em 1981, The Beyond é um filme sem qualquer pretensão de lógica sequencial. É um filme gore, vagamente a puxar ao sobrenatural, cujo argumento só fará sentido se as cenas estiverem dispostas em ordem alfabética. A suspensão da credulidade é um dos ingredientes essenciais de filmes destes género, mas a maioria destes opta por alguma linearidade de acontecimentos. The Beyond é um filme que pouco se preocupa com tais pormenores.

O filme funciona numa lógica surreal de colagem de vinhetas estereotipadas. O fio condutor é dado pelas personagens, enquanto a narrativa vive mutações de cena para cena. O enredo do filme envolve vagamente lendas sobre as sete portas do inferno, um delapidado hotel na Louisiana palco de rituais sacrificiais, e, claro, monstros amaldiçoados que se comprazem em aniquilar humanos desprevenidos com toques de violência requintada.

Quase que diria que uma das cenas seminais de Un Chien Andalou de Buñuel é a inspiração de toda a obra gore de Fulci. A visão da navalha a atravessar o globo ocular encontra inúmeras variantes nos filmes deste cineasta italiano, e The Beyond é um verdadeiro festim de olhos defenestrados (à falta de melhor expressão). Encontramos olhos cozidos em cal viva, olhos saltitantes na ponta de pregos que atravessam a caixa cranial, olhos devorados por tarântulas (este sim, um crescendo de fobias), olhos esmagados à dedada. As poucas personagens que não são assassinadas com requintes oculares ou são cegas, passando todo o filme com olhos enevoados, ou são os incoerentes zombies do final do filme, cena totalmente imprevista que foi filmada apenas para agradar ao público, já que o cinema zombie estava na moda na altura.

Compreende-se o porquê deste filme de Fulci ser considerado um filme de culto, um clássico do terror. A linearidade narrativa é trocada pela ambiência ominosa. O gore, altamente explícito, é de grande nível, equilibrando a revulsa com a elegância, num excesso grand-guignol que não se torna excessivo. As típicas inconsistências e bloopers de uma produção de orçamento reduzido a caminhar para o inexistente dão um encando low fi ao filme. Um grande filme de horror, para estômagos fortes.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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Branco.

Das Trincheiras com Saudade



Isabel Pestana Marques (2008). Das Trincheiras com Saudade. Lisboa: A Esfera Dos Livros

A participação portuguesa na Iª Guerra Mundial resume-se a alguns parágrafos nos livros de história portugueses e, nos publicados no estrangeiro, a umas poucas linhas. No contexto da enorme hecatombe da guerra de trincheiras, a participação de soldados portugueses é recordada pela mitificada batalha de La Lys, que arrasou o CEP, e que na historiografia militar mundial mal é recordada como um dos momentos da batalha de Armentières, um dos últimos esforços do exército alemão para forçar ingleses e franceses a uma capitulação antes da chegada das tropas americanas.

Das Trincheiras com Saudade é um estudo profundo que analisa minuciosamente aquilo que outros resumem com um parágrafo ou menos. Cruzando dados oficiais, registos históricos, comunicações militares e as memórias dos sobreviventes do Corpo Expedicionário Português, esta obra traça um retrato hisórico, militar e particularmente social do que foi a vida dos soldados portugueses nas trincheiras.

Concebida como uma afirmação internacional da jovem república portuguesa, a participação militar na frente ocidental sofreu dos problemas de ambição desmedida face à realidade do país de que ainda hoje sofremos. A oposição inglesa ao envio de soldados portugueses só terminou, com reservas, após a decisão portuguesa de apresar navios germânicos abrigados em portos nacionais - uma preciosa ajuda à marinha britânica, acossada pelos submarinos alemães. A mobilização portuguesa socorreu-se de homens do interior profundo, arrancados às terras e pastos. O treino militar, em Tancos, preparou estes homens para as necessidades básicas de um exército, mas esqueceu as coisas mais elementares, como os cuidados de higiene. As falhas da indústria nacional levaram a problemas de suprimento de armamento, munições e até uniformes e vestuário interior. Exemplo disso é o uso das pelicas - casacos e calças de pele de ovelha, adaptados à pressa para fazer face aos invernos da flandres, e que valeram aos soldados o epíteto de mé-més, tanto por ingleses como por alemães. Não foi uma peça de uniforme popular entre os soldados.

Após o trasporte, em navios britânicos, para as costas francesas, processo complexo que levantou enormes problemas logísticos e de saúde pública, as tropas portuguesas foram sujeitas a novo treino, uma vez que o treino original era considerado pelos ingleses como demasiado deficitário para enfrentar os desafios da guerra moderna. Ao fim de um longo processo, foram colocados num sector de onze quilómetros de frente.

É ao retratar a vida quotidiana dos soldados que este livro brilha. O panorama traçado - dos medos, das dificuldades, dos anseios, das saudades, da sexualidade, do terror da frente de batalha e do tremendo choque cultural de homens do interior profundo a tomar contacto com a modernidade da guerra e a cultura francesa, permite perceber o que viveram os soldados do CEP.

A batalha de La Lys é analisada com profundidade e isenção, desconstruindo os mitos da valentia lusa face à esmagadora superioridade alemã e desfazendo a marca de uma derrota face à impossibilidade de vitória. O retrato é um de coragem e confusão, de homens desmoralizados por longas permanências sem rendição nas trincheiras, mal armados, que cederam inevitavelmente face a forças muito superiores, mas que apesar de tudo atrasaram significativamente o avanço das tropas germânicas. Outros mitos são desmontados - a falta de apoio dos sectores ingleses das trincheiras aconteceu, de facto, mas não por desdém uma vez que estes também estavam sobre enorme pressão das forças germânicas.

A visão que temos do CEP envolve a coragem dos homens e a inépcia das autoridades portuguesas. Sem desmentir esta visão, Das Trincheiras com Saudade traça um panorama completo da participação portuguesa na frente ocidental, mostrando como o mais curto dos parágrados da história, se analisado com minúcia, revela histórias de vida e factos intrigantes.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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City of No Panic.

City Of Panic



Paul Virilio (2007). City Of Panic. Oxford: Berg.

Berg Publishers | City of Panic

Protegidos pelas muralhas do urbanismo, vivemos numa realidade cada vez mais mediada pela tecnologia, concebendo a nossa complexa sociedade com inigualada na história humana. As tragédias da modernidade, repetições com novos adereços das antigas tragédias, são interpretadas como novidade avassaladora. Protegemo-nos mergulhando numa virtualidade temerária, cedendo a nossa individualidade ao panopticon da vigilância electrónica, temendo terrorismos esotéricos com base em realidades diminutas. Como civilização, vivemos num estado de alergia generalizada. O medo é o estado alterado de percepção que reside no limiar da consciência.

Pensando que vivemos numa era sem limites, estamos a encontrar os limites sociais, geográficos e ambientais a que a realidade física nos constrange. A estratégia de expansão que caracterizou a história humana encontra na contemporaniedade o seu limite físico. Num planeta de recursos finitos, já não resta sítio para expandir, e as tentativas orbitais pouco mais são do que breves incursões de frágeis canoas num vasto oceano que a mente humana mal consegue abarcar. A vida, a nossa percepção da vida, altera-se numa utopia digital que transforma radicalmente a forma como nos vemos e pensamos.

São estas as linhas gerais de City Of Panic, livro que reúne seis ensaios do intelectual francês Paul Virilio. Fiel à tradição pós-modernista, Virilio não nos dá respostas, antes questiona-se e questiona-nos sobre os impactos a velocidade alucinante das tecnologias na essência do que é ser humano. De certa forma, Virilio é o completo oposto de McLuhan, embora as suas visões não possam ser definidas como a antítese do tecno-optimismo. Antes, são cartografias interrogativas da mudança que a sociedade humana, e as raizes mais elementares do nosso ser, estão a sofrer perante a modernidade acelarada pela tecnologia.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

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Nesta direcção para os azuis.

Suspiria



IMDB | Suspiria

Uma jovem bailarina norte-americana viaja até Frankfurt, para frequentar uma academia de dança de élite. Aí, por entre a arquitectura arte-nova do edifício, descobre um tenebroso mistério ligado à bruxaria, que custou a vida a algumas das suas jovens colegas.



Suspiria é considerado por muitos como a obra prima do cineasta italiano Dario Argento. O argumento é o de um slasher muito elementar e linear - jovem inocente depara-se com mistérios tenebrosos, algumas personagens sofrem mortes sangrentas no fio da navalha, após paroxismos de horror a jovem inocente triunfa sobre as bruxas maléficas. Mas o que separa Suspiria de tantos outros filmes do género slasher é a apaixonante luxúria visual dada pelo realizador.

Filmando num luxurioso palácio arte-nova, com uma riquíssima decoração dos primórdios do século XX, Argento usa lentes de grande angular que massificam o cenário e diminuem as personagens, eternamente perdidas na grandiosidade palacial. A cor assume uma importância primordial no filme, com o realizador a reforçar o cromatismo natural dos cenários, valorizando os fortes contrastes das cores primárias. Por vezes Argento quebra a luxúria visual da arte-nova com visitas aos espaços racionais da arquitectura alto-modernista, criando um contraste entre os mitos das trevas e o racionalismo contemporâneo. O forte tratamento visual transforma Suspiria numa obra fortemente expressionista, uma delícia visual que ultrapassa os cânones do cinema de terror.



Valendo mais pelo seu visual luxuriante do que pelo argumento, Suspiria é um dos grandes clássicos do cinema de horror e dos subgéneros slasher (filmes de horror girando à volta de assassínios perpretados com facas aguçadas e giallo (cinema de terror italiano).

domingo, 8 de fevereiro de 2009

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Pausa na tempestade.

Porque...

... a internet não é um sítio seguro.

Duas curiosas tentativas de espalhar vírus/malware e phishing. Primeiro, uma mensagem de uma colega de trabalho a enviar-me fotos do final do ano. Estas podiam ser vistas clicando num endereço doiop.com... com link directo para download de um executável. Ia caindo. Deixei o radar em baixo, nem me lembrei que jpg anexados abrem no gmail. Esta é uma clássica, e não duvido que seja fácil de cair na armadilha. Depois, ao ver as mensagens no DeviantArt, uma curiosa tentativa de phishing - uma mensagem de um dos meus contactos com um link para uma página que supostamente tinha alguma coisa sobre mim. Vanitas, vanitatum. Cliquei e deparei-me com uma nova página aparentemente do DeviantArt a pedir o meu login e password. Desta não caí. Uma vez feito login no DeviantArt este só necessita de ser reposto caso se faça logout ou se mude de browser. Roubar passwords de acesso a um site de partilha artística não faz muito sentido, até nos recordarmos que a esmagadora maioria dos internautas utiliza uma password única por comodidade para acesso aos mais variados serviços, do email ao netbanco.

Fica aqui o aviso.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

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Things To Come



Wikipedia | Things to Come
Classic Cinema Online



H.G. Wells, tal como Júlio Verne, é um dos pais do género literário que se inspira nas visões da ciência para produzir literatura. Enquanto Verne se inspirava nas conquistas da ciência para produzir romances de aventura, Wells tentou ir mais longe. A visão subjacente à sua obra envolve a política, o humanismo e perspectivas críticas da sociedade. Aplicando a crença positivista no progresso científico e tecnológico como resposta ao primitivismo humano, Wells critica fortemente na sua obra as condições sociais vigentes, propondo uma alternativa de cariz socialista e racionalista, elevando o espírito humano para lá das inconsistências e injustiças, numa proposta de civilização global utópica, racional e progressista. Não é preciso ir muito longe para perceber este espírito da obra de Wells. Basta ler The Time Machine, a mais conhecida das suas obras, para compreender a visão subjacente à dicotomia entre os infantis e delicados Eloi e os rudes, semi-humanos e violentos Morlocks, que serviam e se alimntavam dos Eloi.

Produzido nos anos 30 por Alexander Korda, Things to Come adapta ao cinema um dos livros menos conhecidos de Wells. Things to Come é uma visão do futuro, uma projecção, escrita nos primeiros anos do século XX, de como seria o futuro de uma humanidade que procurava o progresso técnico esquecendo o progresso civilizacional.

Things to Come coloca-nos em Everytown, uma muito londrina cidade inglesa. Nos anos 40, a sociedade tipicamente britânica da nação vê a sua tranquilidade e prosperidade ameaçada pelo envolvimento numa guerra contra um inimigo inominado. Mediada pela tecnologia, é uma guerra violenta em que novas armas causam morte e destruição sem precentes. O tanque (belos tanques com desenho de inspiração art deco) é o senhor dos campos de batalha, enquanto enormes frotas se digladiam nos oceanos. Mas é a guerra no ar que se mostra a mais mortifera, trazendo o horror e a destruição às cidades que estão longe da frente de batalha (note-se que o livro foi escrito depois da I Guerra Mundial). Os biplanos de Everytown (que os connoisseurs depressa reconhecem como aeronaves Hawker Fury) enfrentam as aeronaves mais avançadas do inimigo (curiosamente similares aos Dewoitine D.520). As aeronaves trazem consigo uma nova e terrível arma, capaz de espalhar a morte e a destruição: as bombas de gás. A guerra, uma guerra global em que os combatentes já não se recordam porque razão combatem, só termina nos anos 60, com o colapso dos estados-nação e a desagregação social subjancente.

Aqui, Wells foi muito presciente. De facto, nos anos 40, a Inglaterra e o mundo estão envolvidos numa guerra mundial, onde as armas da nova tecnologia assumem o papel primordial. E, de facto, durante esta guerra surge uma nova arma: a bomba atómica, de características destrutivas impensáveis, cuja radioactividade tem efeitos similares aos da pestilência causada pelos gases que Wells propõe. O que leva, mais uma vez, a Jung e ao seu conceito de inconsciente colectivo. Por vezes, há ideias que andam no ar, a exigir serem descobertas.

Segue-se um período de anarquia, pautado por uma assassina epidemia mortífera. O novo poder está nas mãos de quem é capaz de resolver a doença - não o médico, incapaz de aliviar o sofrimento sem qualquer medicamento, mas o senhor da guerra, que abate a tiro qualquer um que esteja infectado pela doença. Everytown, reduzida a escombros e ao primitivismo, depressa resvala para uma ditadura fascizante, violenta e militarista, cujo líder é decalcado do italiano Mussolini (até ao pormenor do capacete com penas).

Mas dos céus, a esperança. Surgido de uma aeronave futurista, um novo homem chega ao reino semi-selvagem do ditador de Everytown. Este é um emissário de uma comunidade de cientistas que, no auge do conflito, decidem criar um novo modelo de sociedade. A partir da sua base em Bassorá (o berço mesopotâmico da civilização europeia volta aqui a ser o berço de uma nova civilização utópica), reconstroem e desenvolvem a técnica e a ciência, e espalham-se pelo mundo, anexando as míriades de pequenos potentados militaristas que surgiram após o colapso dos estados-nação numa missão civilizadora. O regresso da civilização não se faz de forma pacífica. O tiranete de Everytown não acata com agrado o fim do seu poder.



Arrasada, destruída e esquecida, a velha sociedade desvanece-se. Sob influência da comunidade científica, surge uma nova sociedade baseada no racionalismo, no progresso e na justiça. Ao invés de reconstruir as velhas cidades, os novos homens recomeçam de novo. Mergulhando nas entranhas da terra, constroem modernas cidades em vastas cavernas. Sob liderança benévola dos cientistas (uma espécie de ditadura iluminada), o mundo mergulha numa nova era de prosperidade e desenvolvimento. Aqui, o filme de Korda torna-se uma pérola da ficção científica, com cenários esplendorosos a substanciar a visão futurista de Wells. Pensem em Syd Mead misturado com Le Corbusier e percebem a visão das cidades e tecnologias deste futuro utópico. Utopia, embora de raiz totalitária. Wells não resistiu à tentação de colocar uma minoria esclarecida a tomar conta dos destinos dos magotes humanos, incapazes de compreender os princípios fundamentais de uma sociedade bem organizada.

Em 2036, a sociedade encontra-se numa nova encruzilhada. Os cidadãos de Everytown, tranquilos, prósperos e complacentes, veêm com preocupação os esforços de exploração espacial desenvolvidos pelos cientistas. Instigados pelas duras palavras de um escultor, que o benévolo presidente do conselho científico decide não reprimir num sinal de superioridade moral, os cidadãos de Everytown invadem o centro de pesquisas. Nesse preciso momento, prepara-se o lançamento de uma cápsula que irá orbitar a lua. Enquanto a populaça invade o cento de pesquisa, um enorme canhão electrico propulsiona um casal de astronautas rumo à lua. Claramente, Wells nunca prestou muita atenção a Tsiokolvsky.

Como filme, Things to Come deixa muito a desejar. Sendo mais um veículo de ideias do que uma história, agarra-nos pela suas visões de futuro, cenários utópicos e conceitos sociais. Os personagens são unidmensionais, não abrindo espaço a uma empatia com o espectador que é a marca dos filmes que mais gostamos. Apesar destas falhas, e de algumas inconsistências - Wells esteve profundamente envolvido no filme mas a versão final foi editada por Korda, Things to Come é um dos clássicos esquecidos da ficção científica.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

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Sexta-feira. Semana pesada, dia longo. Vou dormir e já volto... daqui a umas horas.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

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Cheio de trabalho até ao pescoço. Três pilhas de livros na mesa de cabeceira para ler (i kid you not), ano e meio de Science et Vies cahiers e hors-serie para pôr em dia, e vários gigabytes de ebooks a languescer no disco rígido (com backup no externo). Mas sinto-me de férias. Infelizmente a chuva desencoraja passeios na praia...

A Psicologia das Emoções



UFP | A Psicologia das Emoções

António Freitas-Magalhães (2007). A Psicologia das Emoções. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa

A investigação científica do domínio das emoções humanas tem ganho destaque recentemente, fruto das investigações de António Damásio sobre as estruturas emocionais do cérebro e a sua relação com a identidade, da teoria aglutinadora de visões sobre as emoções descrita por Daniel Goleman no conceito de inteligência emocional, da transversalidade da expressão de sentimentos através das culturas humanas identificada por Paul Ekman, entre outros estudos que conciliam psicologia, neurofisiologia e antropologia.

António Freitas-Magalhães é um cientista português que se debruça sobre a questão das emoções, investigando em particular a ligação entre o reconhecimento das emoções e a expressão facial. Para lá da sua actividade investigativa, coordena o laboratório de expressão facial da Universidade Fernando Pessoa.

A Psicologia das Emoções apresenta as principais linhas de investigação seguidas por Magalhães - as diferenças étnicas, sociais e etárias da expressão do sorriso e a aprendizagem e reconhecimento de emoções estimulada por aplicações digitais dedicadas, partindo do Poser (uma aplicação bem conhecida dos amantes do 3D) e dos softwares desenvolvidos pela equipe de Paul Ekman para o desenvolvimento de aplicações nativas de análise e reconhecimento de expressões. Freitas-Magalhães aborda estas questões com uma paixão que transborda para o leitor.

A aplicação deste campo de investigação é vasta, estendendo-se pela jusrisprudência, investigação policial, economia e educação. Envolve também uma muito importante consciência humanista da inteligência humana, ausente das versões mecanicistas da inteligência pura que nos legaram o conceito de Quociente de Inteligência, parco preditor do desenvolvimento pessoal do ser humano. É talvez o lado mais atraente da investigação sobre as emoções, recuperando uma visão total do homem enquanto ser pensante, não resumido à razão pura, que se constroi interagindo com factores sociais e culturais.

Para terminar, uma nota final sobre a edição (ou falta de) desta obra. As ideias e conclusões fascinantes de Freitas-Magalhães perdem-se um pouco num texto por vezes confuso, que parece ser uma colagem de artigos e apontamentos, notas de entrevista e reflexões do cientista. A organização gráfica do livro deixa muito a desejar, com a paginação a alterar-se de coluna única para duas colunas sem fio condutor gráfico aparente. São falhas que obrigam a um esforço suplementar de leitura que por vezes obscurece o sentido do livro. Apesar disto, A Psicologia das Emoções é um importante livro para quem quer conhecer o estado da arte da investigação sobre emoções em portugal e no mundo.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Magalhães - reposição de sistema

(apanhei uns termos de pesquisa a apontar para isto, por isso cá vai... naturalmente, apenas aplicável a pais e encarregados de educação da área de abrangência do Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro.)

Informamos que dispomos da pen de reposição do sistema operativo e algumas aplicações originais do computador Magalhães. Se necessitar de recorrer à reposição do sistema operativo, contacte-nos através do email clube.digital.vp@gmail.com ou por telefone.

A intervenção é feita apenas no que diz respeito ao sistema operativo. Não intervimos em casos de virus ou instalação de software. A reposição do sistema operativo leva à perda de todos os dados de utilizador (documentos, ficheiros, imagens, aplicações instaladas), só devendo ser efectuada em caso de dano irreparável no software. Não nos responsabilizamos pelas eventuais perdas de dados decorrentes da reposição de sistema operativo.

Não serão realizadas intervenções em hardware.

(re-post daqui: Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro.)

Inferno



Matt Groening - Childhood is Hell.

Ideias Brilhantes

Uma das últimas pérolas legislativas que saiu dos píncaros iluminados do ministério da educação abre a porta ao regresso de professores reformados à escola, no âmbito de projectos de voluntariado que possam assegurar nas escolas serviço de bibliotecas, acompanhamento de alunos, tutorias, visitas de estudo e outras actividades não lectivas.

É uma ideia nobre, que leva em conta os padrões contemporâneos de envelhecimento saudável e aproveita o saber e experiência de profissionais aposentados que durante décadas lidaram com problemas similares aos que os professores hoje enfrentam (refiro-me, claro, aos problemas fundamentais da pedagogia), fazendo-os sentir-se úteis à sociedade (que é, como se sabe, o principal problema psico-social relacionado com a terceira idade).

Infelizmente, esta ideia foi lançada pela corrente equipe ministerial, que ao longo destes anos de vigência tem feito um trabalho brilhante de destruição de toda a classe profissional que tutela. Em nome da necessidade de reformas, fomos achincalhados, sujeitos a leis absurdas e incoerentes e vivemos naquele que é o pior clima profissional de sempre. E poderá vir ainda pior, quando se concretizar a reforma oculta do sistema, a que anda longe das primeiras páginas e que consiste na transferência do poder nas escolas da figura dos conselhos executivos, democraticamente eleitos, para a figura do director, escolhido por nomeação superior e com poderes alargados. Num país nostalgico pelos velhos tempos do estado novo e onde o método de trabalho "quero, posso e mando" é aplaudido, o potencial para autoritarismo é substancial.

Mas voltemos ao voluntariado. Mais uma vez, este ministério pega numa ideia com sentido e adultera-a (tal como fez com a revisão do processo de avaliação dos docentes). Num ano em que o número de aposentações de professores atinge recordes, simplesmente porque estamos todos tão fartos que quem pode sai (e eu, francamente, pergunto-me se não estaria melhor se largasse esta coisa do prestar um serviço à comunidade às urtigas e me lançasse numa negociata qualquer, talvez um café-livraria ou qualquer coisa ligada à economia digital, em vez de estar a aturar tutelas manifestamente incompetentes) surge uma mensagem de esperança: reformem-se, reformem-se. Sabemos que não o fizeram porque estão descontentes com a profissão ou porque sentem que perderam a vocação profissional. Quando tiverem saudades podem sempre regressar, para realizar voluntariamente o trabalho que anteriormente eram pagos para fazer.

É um tipo de lógica muito similar ao aplicado nos hospitais públicos, que se apoia no trabalho de voluntários e na própria família dos pacientes para reduzir nos custos de pessoal de enfermagem e auxiliar - e que provoca situações tão desumanas como um paciente moribundo não ter direito a uma refeição porque não há auxiliares que o ajudem a alimentar-se (acontece em hospitais de lisboa).

Outras objecções podem ser levantadas, nomeadamente no que respeita à capacidade, competência, desempenhos e processos de escolha dos participantes neste género de programas. Mas não quero ir por aí (até porque àrea administrativa não é um dos meus fortes).

Abrir espaço ao trabalho voluntário nas escolas é uma ideia nobre, mas que saída da corrente equipe ministerial está indelevelmente manchada pela hipocrisia que caracteriza os actuais responsáveis da cinco de outubro.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

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sleepy.

Os Cães Nunca Mentem Sobre o Amor



Jeffrey Masson (2008). Os Cães Nunca Mentem Sobre o Amor. Lisboa: Sinais de Fogo

Jeffrey Masson

Sofremos de um estranho paradoxo no que toca aos cães. Por um lado, associamos ao cão tudo o que é imundo, depressivo ou alvitrante. Por outro, acolhemos e acarinhamos estas criaturas, tornando-as totalmente dependentes de nós. Um sintoma desse paradoxo é a expressão vida de cão, normalmente aplicada a designar uma vida triste e difícil... quando a vida da maior parte dos cães está muito longe de ser, realmente, uma vida de cão.

Quem vive com cães, acarinhando e apaparicando-os, sabe que estes são animais de emoções complexas, por vezes de leitura difícil. Sentimos uma forte tentação de antropomorfizar os nossos animais de estimação, o que complica a leituras sobre as suas emoções - até que ponto estas são reais ou reflectem a projecção dos nossos sentimentos sobre o animal?

Fugindo às armadailhas sentimentais do antropomorfismo, é hoje possível investigar o mundo cognitivo e emocional dos animais, reconhecendo neles uma riqueza insuspeita de acções e emoções que tradicionalmente associamos apenas a seres com funções cognitivas superiores. Centrando-se sobre o fiel amigo do homem, Os Cães Nunca Mentem Sobre o Amor faz a ponte entre as abordagens científicas e as vivências diárias dos donos de cães, saltando entre uma análise pouco profunda das investigações e míriades de pequenas histórias enriquecedoras e ternurentas sobre os comportamentos dos animais, em que qualquer dono de cão revê os comportamentos do seu animal de estimação.

Os Cães Nunca Mentem Sobre o Amor é um livro simpático, cientificamente pouco profundo mas humanamente enriquecedor, escrito para deleite dos apaixonados do fiel companheiro dos homens por um autor que é um fiel companheiro dos cães.