quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A Psicologia das Emoções



UFP | A Psicologia das Emoções

António Freitas-Magalhães (2007). A Psicologia das Emoções. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa

A investigação científica do domínio das emoções humanas tem ganho destaque recentemente, fruto das investigações de António Damásio sobre as estruturas emocionais do cérebro e a sua relação com a identidade, da teoria aglutinadora de visões sobre as emoções descrita por Daniel Goleman no conceito de inteligência emocional, da transversalidade da expressão de sentimentos através das culturas humanas identificada por Paul Ekman, entre outros estudos que conciliam psicologia, neurofisiologia e antropologia.

António Freitas-Magalhães é um cientista português que se debruça sobre a questão das emoções, investigando em particular a ligação entre o reconhecimento das emoções e a expressão facial. Para lá da sua actividade investigativa, coordena o laboratório de expressão facial da Universidade Fernando Pessoa.

A Psicologia das Emoções apresenta as principais linhas de investigação seguidas por Magalhães - as diferenças étnicas, sociais e etárias da expressão do sorriso e a aprendizagem e reconhecimento de emoções estimulada por aplicações digitais dedicadas, partindo do Poser (uma aplicação bem conhecida dos amantes do 3D) e dos softwares desenvolvidos pela equipe de Paul Ekman para o desenvolvimento de aplicações nativas de análise e reconhecimento de expressões. Freitas-Magalhães aborda estas questões com uma paixão que transborda para o leitor.

A aplicação deste campo de investigação é vasta, estendendo-se pela jusrisprudência, investigação policial, economia e educação. Envolve também uma muito importante consciência humanista da inteligência humana, ausente das versões mecanicistas da inteligência pura que nos legaram o conceito de Quociente de Inteligência, parco preditor do desenvolvimento pessoal do ser humano. É talvez o lado mais atraente da investigação sobre as emoções, recuperando uma visão total do homem enquanto ser pensante, não resumido à razão pura, que se constroi interagindo com factores sociais e culturais.

Para terminar, uma nota final sobre a edição (ou falta de) desta obra. As ideias e conclusões fascinantes de Freitas-Magalhães perdem-se um pouco num texto por vezes confuso, que parece ser uma colagem de artigos e apontamentos, notas de entrevista e reflexões do cientista. A organização gráfica do livro deixa muito a desejar, com a paginação a alterar-se de coluna única para duas colunas sem fio condutor gráfico aparente. São falhas que obrigam a um esforço suplementar de leitura que por vezes obscurece o sentido do livro. Apesar disto, A Psicologia das Emoções é um importante livro para quem quer conhecer o estado da arte da investigação sobre emoções em portugal e no mundo.