terça-feira, 30 de setembro de 2008

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Gradil. Simpática localidade.

Cairo



G. Willow Wilson, M. K. Perker (2007). Cairo. Nova York: DC Comics

Newsrama | Cairo

Ao longo dos séculos, o Egipto tem sido uma terra de fascínio, ponto de encontro de civilizações, onde impérios e conquistadores páram para contemplar os quarenta séculos das pirâmides. Ao misturar a cultura àrabe com vestígios egípcios e greco-romanos, com visões de sonhos coloniais, o Egipto goza de uma aura de exotismo e mistério, onde as esfinges se cruzam com visões de odaliscas, onde a colisão de mitologias desperta sonhos de misteriosa magia. Apesar disto, o Egipto é um país real, cuja imagem quase onírica choca com uma realidade confusa de pobreza e opressão política.

No meio de todas estas encruzilhadas entre a história, as mitologias, as percepções e os ditames políticos encontramos a apaixonante história de Cairo. A história em si revolve à volta de artefactos mágicos e do poder desvanecido dos ambíguos génios da mitologia, e envolve um mergulho num submundo mitológico do rio nilo enquanto ponte entre a morte e a vida. Cairo, a cidade, é apresentada como uma encruzilhada, ponto de paragem de destinos que aí se mesclam. Quer seja o amor entre uma oficial dos serviços secretos israelitas e um ladrão de rua egípcio, quer o amor entre um jornalista aguerrido no seu combate contra os desmandos do regime egípcio e uma dançarina do ventre, mulher perdida de acordo com os ditames do islão mais fundamentalista, quer na paixão por algo que não conhece de uma jovem estudante americana que aterra ao acaso no Egipto, cheia de boa vontade para ajudar embora sem saber em quê, quer na ligação de um jovem americano de origem libanesa que quase se torna um mártir, parando no Cairo na sua viagem que teria com destino final uma explosão suicida algures em Israel.

O Cairo, o Cairo moderno e o Cairo mitológico interfere com os percursos destas personagens, unindo-as num nó que, paradoxalmente, as liberta dos seus destinos. Embora não seja uma das mais conhecidas graphic novels editadas pela DC/Vertigo, Cairo é uma boa surpresa, com uma história que após a leitura ainda deixa um gostinho na imaginação.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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Não, hoje não. Hoje, por casa a tentar parar os primeiros passos daquela que promete ser a primeira constipação do final deste ano. As braçadas e a sesta fresquinha do sábado passado estão-se a pagar...

Leituras

Los Angeles Times | China performs its first spacewalk A China supreende pela rapidez com que leva a cabo o seu programa espacial. A visão de um taikonauta, a sair da escotilha da cápsula enquadrada pelo planeta, é uma visão de esperança para aqueles que ainda acreditam na exploração do espaço. Podemos criticar, podemos apontar o dedo ao regime chinês, podemos sublinhar que os chineses não estão a inventar nada, mas o facto, que é de louvar, é que eles acreditam no sonho espacial. Mesmo que essa crença se deva à procura de prestígio.

International Herald Tribune | Warships of 2 big powers pursue Somali pirates A pirataria de alto mar está de regresso, cortesia dos cidadãos de estados falhados e colapsados, capazes de tudo para sobrevir nas zonas caóticas do planeta. O maior foco de pirataria encontra-se agora na costa da somália, local estratégico para as linhas de comunicação marítimas. Os raptos de navios e tripulações sucedem-se, com as empresas de navegação a preferir pagar resgates para recuperar carga, navios e tripulação. Por vezes há tentativas, geralmente bem sucedidas, de trazer os responsáveis à justiça, mas estas tentativas sobem tendencialmente o nível de violência dos futuros ataques de piratas. Mas desta vez um grupo de piratas somali poderá ter ido longe demais: ao assaltar um cargueiro ucraniano, deparou-se com uma carga militar destinada ao Quénia que inclui armas, munições e tanques de combate T-72.

domingo, 28 de setembro de 2008

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A minha Lisboa. Brinquei nestas ruas. Frequentei a escola primária nº 115, muito próxima destas escadinhas. 115, como no antigo número de emergência médica. Na altura, enquanto infernizava as minhas professoras, nem imaginava que mais tarde me iria também tornar professor. O recreio desta já extinta escola era um jardim que ficava no terceiro andar do prédio, graças ao desnível da rua das Pedras Negras. É a recordação mais intensa, junta com fiapos e vislumbres de salas de paredes brancas e chão de madeira não envernizada. Quando a escola terminava, ia brincar para as ameias do castelo de S. Jorge. Nesses tempos o Castelo estava aberto a todos, tinha um pequeno jardim com corças enclausuradas e deliciosos recantos para explorar. É esta a minha Lisboa, não a cidade dos turistas nem o pesadelo suburbano. Uma Lisboa que se desvanece, debaixo da pressão dos interesses imobiliários.

sábado, 27 de setembro de 2008

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O deprimente é que em agosto o tempo não esteve tão bom. O agradável é ver o outono a aproximar-se enquanto se mergulha no oceano. Há poucos encantos como o da Ericeira em setembro, após o bulício da época alta do turismo.

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Lisboa é uma bela cidade, mas por vezes consegue ser um dos sete círculos do inferno. O que até combina com a cidade das sete colinas. Digo isto na ressaca de um regresso de Lisboa via eixo norte-sul que me deixou duas horas parado num engarrafamento no acesso à A8. E ainda dizem mal do IC 19... Duas horas que teriam sido melhor passados aqui...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

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Não, não estou aqui, estou a trabalhar...

Leituras

Der Spiegel | The Life Factory Entre as muitas opções de fertilidade para casais inferteis, esta leva em conta o poder da globalização: contratar barrigas de aluger na India. Uma opção com os seus perigos, como nesta saga de uma bébé literalmente adquirida para fazer a felicidade de um casal que depois se divorciou, deixando-a num destino incerto.

International Herald Tribune | With google phone, HTC gains fame A HTC passou de obscura empresa de manufactura de equipamentos electrónicos a uma das marcas líder no mercado dos smartphones. Primeiro com os Touch, alternativa Windows Mobile, e agora como primeira empresa a lançar no mercado um smartphone a correr o Android como sistema operativo.

BBC | Lift-off for China space mission A China continua a afirmar as suas ambições espaciais, com mais uma missão que poderá mostrar ao mundo o primeiro passeio no espaço por parte de um taikonauta.

Finantial Times | Bush warns of long and painful recession Não se ouviam estes discursos quando nos anos 90 se falava da desregulamentação dos mercados. Agora que o lucro fácil e a ganância nos mergulharam nesta crise financeira, os fanáticos da desregulamentação vêem pedir socorro aos governos. E finalmente começa a falar-se de regular mercados e colocar um travão aos desmandos dos gestores privados.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Bang! 5



Bang #5

Boas notícias para os amantes de FC e Fantasia: a Revista Bang publicou o seu quinto número em formato PDF. A ler, mesmo que o tempo seja curto.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Army of Darkness Vs Re-Animator



James Kuhoric, Sanford Greene, Scott Kester (2005). Army of Darkness Vs Re-Animator. Runnemede: Dynamite Entertainment.

Ash é o bem conhecido anti-herói de Evil Dead, trilogia de filmes slasher/gore de Sam Raimi. Herbert West é o re-animador, anti-heroi de um dos piores contos de Lovecraft, típico cientista louco que procura vencer a morte com o seu soro que reanima partes de cadáveres. E Wilbur Whately é algo de inominável, mistura de sangue humano com algo tenebroso do além-espaço. O que é que acontece quando se misturam estes personagens, com as suas mitologias, no caldeirão dos comics?

Algo de muito mau. Mesmo mau. Tão mau, que é divertido. É a estética dos filmes B aplicada à quadricromia. Editado pela Dynamite Entertainment, com argumento de James Kuhoric, ilustrações de Sanford Greene e cores de Scott Kester, Army of Darkness Vs Re-Animator é um cocktail apocalíptico de cultura pop. Não vale a pena tentar esquematizar o enredo ou a lógica do comic. Não faz muito sentido, nem é suposto. Digamos apenas que algures pelo meio da história Ash encontra-se numa versão surreal do País das Maravilhas de Lewis Carroll. É um dos momentos menos bizarros do comic.

Esperem muitos membros cortados com serra electrica, perigosas criaturas tentaculares, zombies desmembrados, encantamentos ocultos, soro verde-radioactivo e diálogos de nível abaixo do baixo. Tão mau, tão mau que se torna bom. Army of Darkness Vs Re-Animator é aquilo que pretende ser: quatro comics de pura diversão.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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Está mais agradável do que em pleno verão. Vão umas braçadas?

Magalhães (II)


Classmate/Magalhães in the wild.

Correndo o risco de soar a velho do restelo, coisa que não sou, tenho a péssima sensação de que o Magalhães é uma aposta perdida. Não digo isto pelas razões habituais. O argumento de que os professores são resistentes à mudança, em particular os do 1º ciclo, é válido mas não primordial, desde que se espere que a mudança ocorra ao longo do tempo e não no imediato. O argumento de que entregar computadores a crianças é inútil é um argumento totalmente inválido, que revela cegueira sobre as mutações sociais e económicas que moldam a sociedade contemporânea. O computador é a ferramenta essencial da sociedade de informação, em que, melhor ou pior, já vivemos, e retardar a sua massificação é assegurar que largas camadas da sociedade ficam em desvantagem para agir na sociedade do conhecimento. Aliás, esta iniciativa já tem pouco de novo: há anos, paricamente uma década, que Nicholas Negroponte do MIT, com o projecto One Laptop Per Child, tenta convencer o mundo de que a introdução do computador nos escalões mais jovens é essencial para provocar verdadeiras revoluções económicas a logo prazo. O meu argumento prende-se mais com visões comerciais de curto e longo prazo, que privilegiam algumas empresas, criadoras e distribuidoras de ferramentas digitais, sobrepondo-se às visões pedagógicas que à partida seriam as que estão a orientar um projecto tido como pedagógico.


O OLPC XO, para comparar...

A máquina em si é respeitável. Não é um OLPC XO, mas tem vantagens em termos de especificações. 1 ghz de RAM e disco rígido de 20 Gb são boas especificações para uma máquina que está entre o computador portártil e o netbook. As adaptações de design feitas a pensar nas crianças, sem terem a beleza do XO, são funcionais: a pega permite uma verdadeira ultraportabilidade, sendo muito fácil transportar o Magalhães quer aberto, quer fechado. Debaixo do chassis esconde-se uma enorme resistência: nas recentes jornadas de formação a que assisti em Lisboa, um dos técnicos da JP Sá Couto fez o impensável: atirou um Magalhães ao chão, enquanto a máquina arrancava... e nada se passou, a máquina continuou o processo de arranque. Isto é possível graças a uma enorme protecção do disco rígido e outros elementos essenciais da máquina.

O ecrã tem uma resolução decente, apropriada para o sistema, embora não tenha uma grande visibilidade em condições de luz natural. Falta aqui um dos pormenores do XO, o seu ecrã policromático que em condições de luz natural se torna monocromático, permitindo visibilidade em todas as condições. A bateria dura cerca de duas horas, sem truques de maior, mas falta aqui mais um pormenor do XO: uma forma de gerar energia. O XO, concebido para países do terceiro mundo, inclui uma alavanca para girar, gerando energia para a máquina funcionar em locais onde não há acesso a electricidade. Isso pode não parecer um problema em Portugal, mas imaginem uma sala de aula com vinte computadores e poucas tomadas eléctricas e percebem onde é que eu quero chegar. A conectividade inclui adaptor de rede ethernet (não testei), wifi (essencial para aplicações de e-learning/classroom management). Falta uma porta VGA para ligar a projectores, mas é possível fazê-lo através de um sistema que francamente não consegui perceber (mas funciona).

Em resumo, o Magalhães/Classmate copia com fidelidade o conceito do OLPC, incorporando as tecnologias desenvolvidas pelo MIT e parceiros (um dos quais foi, durante algum tempo, a Intel, promotora dos Classmate). Copia, e sem restrições, porque o projecto OLPC optou por não colocar restrições de propriedade intelecutal às tecnologias desenvolvidas no âmbito do projecto. A ASUS, que criou um nicho de mercado com os ultraportáteis de baixo custo Eee (tecnologia derivada dos OLPC), agradece, e a Intel também, concorrendo directamente com o MIT através do projecto Classmate. O computador em si é um netbook competente, muito capaz nas mãos das crianças (assim se espera) mas não só. No mercado, pode ser um concorrente de peso aos Eee, Acer Ones e restantes netbooks, em particular pelo pormenor do disco de 20 Gb. A contrapartida industrial, de montagem e comercialização por uma empresa portuguesa, também é interessante.

O Magalhães falha ao nível do software. Ao contrário do OLPC, cujo sistema operativo, denominado Sugar, está desenvolvido de raíz para utilização pedagógica e trabalho colaborativo, centrado no utilizador, o Magalhães traz dois sistemas operativos: o Windows XP e o Linux Caixa Mágica.


Classmate/Magalhães em Windows XP Magic Desktop.

O Windows XP aparece em dois sabores. Arranca num modo amigável para as crianças, cheio de ícones coloridos e imagens direccionadas ao público infantil, o chamado Magic Desktop. Aqui tem um pormenor interessante: algumas das aplicações, desenvolvidas para crianças, dependem de um aplicativo que funciona como um caderno de apontamentos, que permite guardar jogos, videos, sons e textos, produzidos pelas crianças. O browser de internet é uma variante colorida do Internet Explorer, cheia de cor e com fortes bloqueios de funcionalidades. Com um simples clique acima do menu iniciar muda-se para o Windows XP tradicional, sem quaisquer adaptações. Em termos de segurança, podemos contar com o sistema de contas (isto caso os pais ou professores se disponham, ou saibam, criar contas de administrador para si e contas de convidado para as crianças, evitando instalações indesejáveis ou desconfigurações críticas do sistema). O Magalhães traz consigo um sofrível software de controlo parental, complexo de usar, que permite bloquear sites indesejados e programas do computador. Nesta segunda hipótese, abre no primeiro arranque na pasta Sistema do Windows, o que me levou a pensar, quando o testei, no que aconteceria se bloqueasse a execução de programas críticos do Windows. Não fui maquiavélico, mas alguém há de o experimentar. Este bloqueio de programas destina-se ao controlo, por parte dos pais, das aplicações que os filhos utilizam, como jogos, aplicações de chat ou web. Através dos logs, temos acesso a todos os usos dados à máquina. O programa também permite o controlo do tempo passado ao computador. O problema é a complexidade de execução destas tarefas.


Linux Caixa Mágica

Arrancando com o Caixa Mágica, desilusão. Apesar de a versão Caixa Mágica Mag ter sido desenvolvida a pensar nas crianças, está anos luz aquém do Sugar. Ao arrancar o Caixa Mágica, o ecrã divide-se em acesso rápido às aplicações mais úteis. A partir deste pormenor, tudo se normaliza. A desilusão é em termos pedagógicos, entenda-se. Quanto ao Caixa Mágica em si, fiquei muito interessado nos potenciais deste flavour Linux português. Ando a pensar pachorrentemente em testar o Ubuntu, mas se calhar vou tentar primeiro o CM. Gostei do que vi relativamente a este SO, mas penso que foi uma adaptação para o hardware e não criado a pensar na criança como utilizador. E daí, posso estar enganado. Talvez esta questão dos SO seja secundária. Todos já vimos crianças a usar sem problemas as versões dos sistemas operativos mais comuns.

E como funciona o Classmate/Magalhães no ambiente a que está destinado, a sala de aula? Para isso, dispõe de uma aplicação poderosa de e-learning/classroom management, o Mythware. Através deste aplicativo, o professor tem acesso a todos os computadores da sala, com comunicação síncrona e assíncrona, arranque remoto de programas (o professor pode decidir que todos os alunos, ou alguns, utilizem um programa específico e remotamente arrancar esse programa nos computadores dos alunos), controle das máquinas e geração de questionários. O Myhtware depende de uma LAN sem fios para funcionar. Mas este é um dos muitos usos pedagógicos que o computador pode ter.

Quem se dedica a estas coisas da tecnologia digital na sala de aula sabe que a killer app do computador é o trabalho colaborativo. Isto implica mudanças na pedagogia utilizada pelos professores, da mais tradicional pedagogia directiva a pedagogias não directivas, aquilo que os especialistas apelidam de transição de pedagogia sage on the stage para uma pedagogia guide on the side. O computador potencia o trabalho orientado por projecto e situações grupais, em detrimento de técnicas pedagógicas mais instrucionistas. Encontrar ideias e formas de explorar o Magalhães na sala de aula será um enorme desafio, que não se resolve em pouco tempo. O processo logístico de colocação das máquinas nas mãos das crianças está a ser rápido. O processo de exploração do potencial educativo da máquina ainda mal começou. Mas não critiquem se verem o Magalhães a ser utilizado como um processador de texto. As pedadogias são ferramentas, não credos a serem seguidos com zelo religioso, e o computador é uma ferramenta que permite muitas abordagens. O meu conselho (se de alguma coisa valer) aos meus colegas professores é este: experimentem, usem com os alunos das formas que vos forem mais confortáveis. Mesmo que seja todos os alunos, cada qual no seu computador, a consultar o mesmo documento. Sei que isto soa a heresia, mas as revoluções não se fazem por decreto, e a criatividade nunca parte do zero. Com acesso à internet, o Magalhães já permite uso de webquests, aplicativos online (o blog ICT in my Classroom é uma excelente fonte de ideias) ou visualização de conteúdos. A câmara incorporada do Magalhães e as suas capacidades de captação de som são óptimas para trabalhos de projecto. E de certeza que irão surgir aplicações inovadoras. Mas o essencial é pensar o Magalhães (e, por extensão, qualquer computador) como um bloco de notas da era digital, sem o santificar como uma máquina milagrosa que só deve ser utilizada de algumas formas esotéricas. A vantagem do Magalhães é estar concebido para ser usado e abusado. Literalmente.

Em conclusão, uma nota negativa. O Magalhães está intrísecamente ligado ao lado comercial da informática. O hardware é Intel, e o software predominante é Microsoft. Nas jornadas de apresentação do Magalhães, os responsáveis da Microsoft estavam alegres. Pudera. Com este projecto, acabaram de ganhar uma clientela cativa de meio milhão de utilzadores, treinada desde a mais tenra idade para preferirem produtos microsoft. Mas talvez esta seja uma visão prematura. Só o tempo dirá que novos usos as crianças que utilizarem o Magalhães farão das ferramentas digitais. É este imponderável que revela o melhor do projecto: uma visão de futuro a longo prazo, que cria condições para que as crianças de hoje sejam os criadores de amanhã. Mesmo assim, apesar de gostar do computador Magalhães e me resignar ao software, ainda preferia que o governo português tivesse optado pelo OLPC XO. A visão conceptual é muito diferente. Mas o dinheiro tem voz tonitruante.

domingo, 21 de setembro de 2008

Blame!



Tsutomu Nihei (2005). Blame!. Los Angeles: TokyoPop

TokyoPop | Blame!
Tsutomu Nihei

Eis Killy, misterioso herói que viaja através de uma imensa cidade labiríntica em busca de informação genética. Na sua demanda, tem de enfrentar os mistérios de uma cidade que não tem fim, combater robots e cyborgs assassinos e tentar compreender os diferentes grupos que vai encontrando ao longo do percurso.

Blame! é um manga de Tsutomu Nihei, ilustrador japonês que trabalhou nas páginas do comic Wolverine. Em Blame!, criou um ambiente claustrofóbico de mega-arquitectura futurista, um pesadelo hipertecnológico que nunca se revela na sua verdadeira natureza. O mundo de Blame! pode ser uma projecção tecno-apocalíptica do nosso mundo, ou um mundo alienígena povoado por criaturas humanóides e máquinas assassinas. A história revela pouco. A viagem do personagem principal leva-o a cruzar-se com a Autoridade, um poder oculto que parece dominar o mundo de Blame!. Mas isto é normal nos manga. É uma boa forma de justificar a continuação das aventuras em infindáveis volumes, dez, no caso deste manga.

Embora não seja particularmente apreciador do estilo manga, pelo seu elevado nível de uso de estereotipos e repetição de temas, estou a render-me a Blame!. O seu grafismo é violento e escuro, criando ambientes tecnológicos misteriosos e solitários. Este manga é particularmente eficaz na ilustração de espaços arquitectónicos, sendo este o grante tema deste manga cyberpunk.

Para quem não gosta, ou não conhece manga, o estilo de banda desenhada japonesa que conquistou o mundo, Blame! parece ser um bom ponto de partida para se descubrir um pouco mais sobre o estilo nipónico de banda desenhada.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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Bolas.

Classmate/Magalhães



Estou a experimentar o Classmate/Magalhães no decurso das jornadas de formação promovidas pela equipe do ministério. Aqui ficam algumas imagens. Veredicto? Fiquei interessado, um pouco convencido, mas não aficionado. Na prática, é mais um netbook a correr windows XP com adaptações de design. O seu ponto forte é a resistência, comprovada depois de ver um destes computadores a sobreviver a uma queda durante o arranque sem arranhões ou sequer soluços do disco rígido. Quanto ao resto... quando tiver um minuto para apreciações, explico os pontos fortes e os pontos fracos do Classmate/Magalhães. Mas, para mostrar um potencial ponto forte, eis...



o desktop Classmate/Magalhães em desktop modo linux caixa mágica.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Luz.

Palpitações



Vários Autores (1999). Hearthrobs. Nova York: DC Comics

Nos anos 50, após o apogeu dos personagens heróicos mascarados, a indústria dos comics virou-se para outros campos. Com o público cansado da fórmula dos heróis de máscara e uniforme, os editores viraram-se para outros nichos de mercado, procurando editar títulos apelativos a amantes dos desportos, das guerras, da ficção científica ou do terror. Esta foi a época de anos de ouro dos títulos de terror da EC Comics ou de títulos especalizados como o apaixonante Aces High, um comic de histórias de combate nos céus das I e II guerras, com ilustrações de tirar o fôlego.

Outro nicho de mercado foi o mercado feminino, tendo surgido na altura inúmeros títulos de comics cor de rosa para agradar às leitoras. Foi um nicho lucrativo, que lançou carreiras editoriais, das quais uma das mais conhecidas é a de Stan Lee da Marvel. Estes comics assentavam em histórias de romance e paixão, contadas na quadricromia delimitada pelas vinhetas que mais tarde irão inspirar o artista pop Roy Lichtenstein.

Hearthrobs é uma homenagem a esse tipo de comics. Mas sendo uma homenagem contemporânea, não esperem histórias românticas com finais felizes. Antes, esperem perfeitas distopias amorosas e cinismo tragicómico, contadas no ritmo acelarado das curtas de banda desenhada.

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Estados de Fluxo.

Leituras

Reuters | AIG speculation grips market: Goldman disappoints O capitalismo come-se a si próprio, e quando surge a factura somos todos nós que pagamos. Os recentes acontecimentos nos mercados sublinham a loucura da desregulação total dos mercados. Em nome do lucro, fizeram-se investimentos que colapsaram, ameaçando empresas e empregos. Alguém enriqueceu com toda esta especulação; mas, na derrocada, somos todos nós que acabamos por pagar estas loucuras, em desempregos, taxas de juro e preços de bens. O mercado está a corrigir-se, dizem, o que me arrepia: desde quando é que a teoria económica se sobrepõe à vida das pessoas?

Der Spiegel | Piracy in the Gulf of Aden A pirataria dos tempos modernos faz-se nos recantos mais pobres do planeta, onde o desvio de navios mercantes e a exigência de resgates é um negócio florescente.

Globe and Mail | Porn loses as web's killer activity Pela primeira vez desde sempre, as redes sociais destronaram a pornografia nos destinos mais visitados online. Mas que se passa com estas novas gerações, que preferem a tagarelice e as interacções sociais ao silicone digital?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

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Notes from the underground (mais especificamente, Baixa-Chiado).

Aces High



George Evans: Aviation Ace in the Panels
Wikipedia | Aces High

Aces High foi uma edição de curta duração da EC Comics, uma das mais influentes editoras de comics dos anos 50. Apesar de prometedora, não teve o sucesso esperado e ficou-se apenas por cinco números. Aces High especializava-se em histórias de pilotos de combate da I e II Guerras Mundiais, glorificando as façanhas e contando as tragédias dos ases dos ares. Apesar de contar histórias de guerra, Aces High não se limitava a heroísmos bacocos. Muitas das histórias revelam as tragédias da guerra por entre o glamour das aeronaves, e o tom geral do comic é pesado. São histórias de guerra que não glorificam a guerra, trágicas e violentas.


Ilustração de George Evans

O que faz Aces High sobressair no mundo dos comics é a qualidade das suas ilustrações, a cargo de George Evans, Jack Davis e Wally Wood. Numa era em que a BD era vista como simplista e o traço próximo do cartoon reinava, as ilustrações dos argumentos de Aces High tinham uma enorme precisão técnica, com grande fidelidade às linhas e características das aeronaves. Nos traços de Evans, um SE.5, um Camel ou um Albatros D.IV são semelhantes às aeronaves reais. Este trabalho cuidado explode, literalmente, em pequenos dioramas de combate aéreo que capturam a emoção, o terror e a violência dos combates aéreos.


Ilustração de Wally Wood

Apesar da sua curta vida, Aces High é um dos comics de culto editados nos anos 50 pela lendária EC Comics, editora que nos legou nomes dos comics como Tales From The Crypt e a revista MAD, e cuja visceralidade e procura de novos limites foi uma das grandes responsáveis pela censura aos comics, ainda hoje em vigor e simbolizada pela Comics Code Authority, uma organização de editoras que estabelece as linhas e fronteiras temáticas dos comics. Quanto a Aces High, podem ler aqui os cinco números do comic: FreeComicBooks: Aces High. Este link, de legalidade duvidosa, fica aqui porque não se encontram nas livrarias portuguesas as colectâneas da EC Comics com estes títulos, e Aces High é um comic clássico que vale a pena conhecer.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

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Zen na maré baixa.

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Land's end.

Comilões



Peter Milligan, Dean Ormston (1995). The Eaters. Nova York: DC Comics

As familias são estranhas. As familias normais são estranhas de formas normais, as familias estranhas são estranhas de uma forma estranha. E esta familia é particularmente estranha. Porque esta família tem um palato muito especial, uma apreciação elevada pelas artes culinárias e um gosto por um ingrediente muito especial.

Peter Milligan e Dean Ormston partilham a autoria deste prato indigesto que é The Eaters, um misto de romance de viagem e drama familiar envolvendo uma família de tranquilos canibais. Num registo tragicómico, a família Quill viaja através da américa, degustando as especialidades locais, enquanto a filha procura um amor para a sua vida, um vendedor de molhos procura vingar o seu companheiro, morto e degustado à mesa dos Quill, e um encontro de velhos amigos termina na ponta das armas de homens pouco simpáticos.

É difícil imaginar um comic mais repelete e bizarro, e por isso mesmo interessante, pelo menos para aqueles capazes de traçar uma linha firme entre realidade e fantasia literária. Um comic bem temprado, para saborear e chorar por mais.

domingo, 14 de setembro de 2008

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Os dias tranquilos de Setembro.

Children of the Night



David Stuart Davies, ed. (2007). Children of the Night: Classic Vampire Stories. Londres: Wordsworth

O mito do vampiro é, de entre os mitos sobre criaturas tenebrosas da escuridão, um dos mais fascinantes. Ao contrário de outros monstros, o vampiro combina perigo e elegância, age de forma sexualizante e contém uma promessa de imortalidade. De certa forma, o vampiro é um mito sexualizante da reprimida sociedade vitoriana, e é esse carácter que o torna tão especial.

Com um título retirado de uma das célebres frases do livro de Bram Stoker, Children of the Night revisita o mito do vampiro através de doze contos, organizados por ordem cronológica. O primeiro conto é o desconhecido The Vampire of Croglin Hall, por Augustus Hare. Segue-se o clássico The Vampyre, a Tale de Jonh Polidori, que na figura atraente e ao mesmo tempo repelente de Lord Ruthven fixa o mito do vampiro elegante. Varney The Vampyre, romance de cordel dos finais do século XIX, tem inúmeros capítulos não muito organizados, dos quais um é publicado, que nos mostra o vampiro como criatura das tumbas e criptas, assassino sobrenatural sedento de sangue. As mitologias do vampiro enquanto criatura dos Balcãs, esses territórios ainda hoje vistos como dos mais selvgens e primevos da Europa, são revisitados no conto de Alexis Tolstoy The Curse of the Vourdalak.

Carmilla, de J. Sheridan Le Fanu, um dos clássicos autores de contos de arrepiar, revisita o lado sexualizante do vampiro num conto em que o vampiro é do sexo feminino, e as suas presas jovens raparigas junto das quais se insinua de forma íntima. Pegando na deixa, somos presentados com um longo excerto do mais famoso e seminal romance do género, Drácula de Bram Stoker, que traçou para sempre a imagem do vampiro como elegante mas repelente, nobre mas violento, matando para manter o seu simulacro de vida desmorta.

Outros mitos relacionados com o vampirismo são visitados em For The Blood Is The Life, de F. Marion Crawford, e Good Lady Ducayne, de Mary Braddon. No primeiro conto, a aparição vampírica liga-se a uma morte trágica nas escarpas mais selvagens da costa italiana. O segundo conto envolve a perversão da ciência em prolongamentos pouco naturais da vida.

M. R. James, um dos mestres do conto sobrenatural, envolve-nos em An Episode of Cathedral History num ambiente opressivo, em que o horror é apenas sugerido e nunca revelado. Esta estética de carácter psicológico é levada mais longe em Le Horla, de Guy de Maupassant, em que apenas as sensações íntimas da vítima nos são descritas, a sua confusão e horror, e nunca nos é dado a ver mais do que fugazes vislumbres da origem do terror. Edith Wharton assina Bewitched, uma história sobre trágicas tradições rurais, e o conto The Welcome Visitor, da autoria do editor desta colectânea, encerra o livro de uma forma apropriadamente irónica.

Children of the Night traça firmemente os caminhos de evolução do mito do vampiro, através de contos representativos das várias fases. E quanto aos filhos das horas nocturas, what sweet music they make...

sábado, 13 de setembro de 2008

Kill Your Boyfriend



Grant Morrison, Philip Bond, D'Israeli, Daniel Vozzo (1998). Kill Your Boyfriend. Nova York: DC Comics

Wikipedia | Kill Your Boyfriend

Onde se misturam angst adolescente, ultraviolência e viagens iniciáticas. Kill Your Boyfriend é um one shot publicado pela Vertigo, chancela da DC Comics virada para publicações mais arrojadas. Para além de revisitações dos personagens da editora, também investe em cartas brancas a argumentistas e ilustradores, o que resulta em obras que estão na fronteira entre o mundo dos comics e o mundo da banda desenhada. Comics e BD são essencialmente o mesmo, mas há nuances, de formato, linguagem visual e abordagens estilísticas e literárias.

Em Kill Your Boyfriend, uma jovem adolescente cataliza a sua insatisfação e o espírito de rebeldia adolescente para vias violentas, influenciada por um jovem deliquente que vive sem limites. A apologia da violência como forma de libertação é o tema que sublinha o comic. Nem todos são capazes de atravessar esta fronteira. Um grupo de artistas a que o jovem casal sociopata se junta para atravessar a inglaterra são adeptos da violência como forma de expressão estética, mas incapazes de levar a cabo os seus esquemas explosivos.

Não há arrependimento nem redenção neste comic, apenas violência sem sentido. E haverá outro tipo de violência?

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Um passeio pela costa do Castelo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

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O templo da Ordem dos Hospitalários. Igreja de S. Braz e Santa Luzia, sede da Ordem Soberana de Malta.

Leituras

Globe and Mail | Bosses screening applicant's web lives É o tipo de notícia que causa calafrios na espinha. O hábito dos empregadores e gestores de recursos humanos de avaliarem os candidatos a empregos pelo que colocam nos seus blogs ou perfis de sites sociais está cada vez mais enraizado. Assusta, ver que a obtenção de um emprego não depende tanto do currículo, como da percepção do empregador sobre as opiniões e estilos de vida pessoal de quem procura emprego, não só pelo verdadeiro acto de censura que representa como pela erosão da fronteira entre vida pessoal e profissional.

Der Spiegel | Parliaments, kings and tribal councils O mundo islâmico procura formas democráticas de governo, tarefa que não é fácil e que obriga à navegação por entre líderes tradicionais e monarquias enraizadas.

International Herald Tribune | Your mobile as Wi-fi hotspot É uma prática cada vez mais comum entre os utilizadores de redes sem fios, mal sucedidos na sua busca por redes abertas gratuitas: utilizar as ligações 3G dos telemóveis de forma indirecta, através de software que transforma telemóveis com capacidades de acesso a redes wi-fi em hotspots.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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Um longo, muito longo dia passado em reuniões. Preferia largamente ter passado o dia a vadiar por entre becos e escadinhas.

FC...

... in real life. Ver o telejornal da 2: foi encontrar um simpático momento de choque do futuro. Entrevista em directo de Genebra, sobre as intricacias do LHC, sem esquecer os temores de buracos negros e particulas estranhas. Tudo enquanto em rodapé circulavam as banalidades do dia a dia, algures entre o jantar e o serão.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

LHC



Pelos vistos correu bem. Não somos neste momento poeira atómica a girar num remoinho negro. O sistema solar não está a ser sugado para um buraco no espaço-tempo situado nas coordenada do antigo planeta terra. Não há reportagens acaloradas com repórteres afogueados a relatar o nascimento ao vivo e em directo de pequenos buracos negros para os lados de Genebra, enquanto magotes de cientistas fogem atarantados. o Large Hadron Colider foi ligado com sucesso. Agora resta esperar que entre os terabytes de dados nos permitam discernir mais um pouco dos insondáveis segredos do universo.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

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Sucessos

A notícia educacional de hoje é o aumento das taxas de sucesso no ensino básico e secundário. Pelos números, são as taxas mais baixas da última década. A máquina de propaganda governamental está em alta: este sucesso, dizem, é o corolário das medidas tomadas pelo ministério.

Quem está dentro do sistema educativo sabe que não é bem assim. Sabe, à partida, que este aumento das taxas de sucesso é artificial, assente num facilitismo forçado que leva a que perante a decisão de reprovar ou não um aluno, se opte pela passagem. Quase diria que no corrente estado do sistema de ensino português, é preciso fazer um esforço enorme para reprovar. Quanto ao aumento da taxa de sucesso no nono ano, isso dever-se-á ao sucesso dos alunos ou ao sucesso das provas, possivelmente as mais fáceis da década?

Os números, por si só, pouco querem dizer. Conceber o futuro somente em termos numéricos é esquecer que por detrás de cada número está uma pessoa, pessoa essa que terá que ser capaz de responder aos desafios do futuro. Estando dentro do sistema educativo, pensando no futuro, não consigo deixar de sentir que o sucesso do presente é um engano para o futuro.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Banksy



Banksy em Lisboa? Apanhei este grafitti na esquina da Rua da Conceição com a Rua da Prata, na Baixa. O estilo do grafismo é muito similar ao do lendário artista de rua Banksy. Será uma assinatura de presença de um dos mais conceituados artistas contemporâneos pelas ruas de Lisboa, ou uma imitação?

(Bansky é um artista britânico especializado em grafitti, utilizando o medium para questionar as nossas percepções sobre a realidade mediática, preconceitos e tecnologia.)

Guns, Germs and Steel



Jared Diamond (2005). Guns, Germs and Steel. Londres: Vintage Books

PBS | Guns, Germs and Steel
Wikipedia | Guns, Germs and Steel

Foi com esta polémica obra que o antropólogo Jared Diamond foi catapultado para os palcos mediáticos. Guns, Germs and Steel apresenta argumentos polémicos, embora incisivos, que fazem questionar a forma como se concebe a evolução das sociedades humanas.

A questão de arranque de Guns, Germs and Steel é aparentemente simples. Como é que chegámos aonde chegámos? Porque é que a evolução das sociedades foi tão desigual? Quais são os factores que influenciam a evolução das sociedades? Quais as reais razões da predominância de algumas sociedades sobre outras? Para responder a estas questões, Diamond conta-nos aquela que é, nas suas palavras, uma história do mundo em quatrocentas páginas.

O colocar destas questões é já de si propício a polémicas. É fácil cair em radicalismos. Perguntar porque é que algumas sociedades se sobrepõem a outras abre a porta a argumentos questionáveis de hegemonia e superioridade rácica. São argumentos que Diamond evita, com perícia, encarando-os como falaciosos e mostrando uma visão orgânica das sociedades, mais baseada em tendências evolutivas do que ideias enganosas de superioridade.

Guns, Germs and Steel conta a história do mundo analisando alguns pilares comuns aos quatro continentes (aqui a antártida, por razões óbvias, não conta). Em primeiro lugar, a obra mostra-nos como evoluiu a alimentação, traçando a evolução desde a caça-recolecção dos tempos pré-históricos, mas ainda hoje praticada em partes mais remotas do mundo, até à produção agrícola e domesticação de animais. Diamond encontra aqui a primeira razão da hegemonia da sociedade ocidental, euroasiática. Em todo o planeta se encontram espécies vegetais cultiváveis e animais domesticáveis, mas a maior variedade encontrou-se no antigo crescente fértil na era crucial de passagem do nomadismo ao sedentarismo. Daí, a migração das sociedades espalhou as espécies cultiváveis e animais domesticados por todo o planeta, em diferentes fases: uma, mais natural e prolongada, ao longo dos climas euroasiáticos, e outra, mais recente, através dos esforços de colonização que ocuparam o novo mundo e a oceania. Diamond fala-nos de eixos, fundamentais na divulgação de espécies e tecnologias. Estes definem-se pela orientação dos continentes, e apresentam barreiras reais à transferência de conhecimentos e populações. Aqui, a eurásia sai a ganhar, com a sua orientação quase horizontal, que assegurou que as espécies animais e vegetais úteis à alimentação humana se espalhassem, levadas pelo incessante movimento humano, ao longo do continente. Outros continentes poderiam ter desenvolvido tão cedo como no crescente fértil a agricultura, mas tal não aconteceu por falta de diversidade de espécies e por barreiras climatéricas e naturais. A dieta das sociedades humanas é um dos factores principais de evolução: com maior abundância de alimentos, são possíveis estruturas políticas, militares e económicas que não estão ao alcance de grupos que dependem da recolecção.

Diamond aponta, entre outros exemplos, o da roda: conhecida das sociedades norte-americanas, não era utilizada para veículos. A razão prende-se com a falta de animais de tiro, capazes de fornecer força motriz para os veículos. Os animais domesticáveis autóctones da américa do norte não se prestavam para esta função. Mais a sul, nos andes, existia um animal domesticado capaz de ser adaptado para puxar veículos. No meio, as dificilmente transponíveis florestas e cordilheiras da américa central, uma barreira geográfica e climatérica.

As doenças, e a adpataçãos das sociedades humanas a estas, formam outro pilar da teoria de Diamond. Aqui, a domesticação dos animais fornece uma ligação à proliferação de doenças e desenvolvimento de resistência às mesmas.

Finalmente, a tecnologia. Todas as sociedades desenvolveram tecnologias que lhes permitiam sobreviver nos ambientes em que estão inseridas. Algumas sociedades desenvolveram tecnologias avançadas que acabaram por abandonar. Outras souberam aproveitar os conhecimentos e espalhar-se de forma hegemónica por todo o planeta. O porquê recupera os argumentos anteriores e adiciona argumentos mais humanos: as tecnologias são continuamente desenvolvidas, adaptadas e até rejeitadas pelas sociedades. Aqui a China surge como caso paradigmático: berço das maiores invenções humanas, não tirou partido delas por razões políticas e filosóficas.

Todos os continentes têm sociedades autóctones, capazes de sobreviver nos seus ambientes nativos, com tecnologias e conhecimentos próprios. O alastrar da sociedade euroasiática, dominante no planeta, deu-se após o desenvolvimento de tecnologias capazes de transferir a agricultura, animais domesticados e conhecimentos. A sobrevivência em àreas inóspitas tornou-se possível graças ao transporte, permitido pela evolução na complexidade da organização humana. Mas estes padrões não são sinónimo de superioridade étnica, nem exclusivos às populações euroasiáticas: tem antecendentes na ocupação da polinésia ou de áfrica por grupos humanos.

Trabalho de génio, Guns, Germs and Steel é uma potente reflexão sobre o porquê da evolução das sociedades humanas, com argumentos convicentes, assente numa enorme erudição sobre a ontogénese humana. Evita e refuta argumentos falaciosos, apresentando um panorama alargado da evolução das sociedades humanas.

domingo, 7 de setembro de 2008

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Telhados de Lisboa.

Leituras

International Herald Tribune | Chrome a serious challenger in the browser battle Algumas das opções do Chrome foram copiadas dos restantes browsers - o modo invisível, vindo do IE8 e do Firefox, as janelas em miniatura para acesso rápido (speed dial do Opera), entre outras. Por outro lado, o Chrome é um projecto de código aberto, disponibilizado pela Google. No design, sobriedade, leveza sobre o sistema e facilidade de uso começa a impôr-se. A entrada da Google na guerra dos browsers foi em cheio.

International Herald Tribune | In destitute kingdom, ruler lives like a king O rei da Swazilândia vive com a sua corte, que inclui dezenas de esposas, num luxo faustoso que o país, pobre e com poucos recursos, mal consegue suportar. Embora os habitantes do país se orgulhem da sua monarquia, as vozes de descontentamento perante o esbanjar dos parcos recursos começam a levantar-se.

Der Spiegel | Green Gold Rush A febre dos biocombustíveis manifesta-se em enormes aquisições de terrenos agrícolas em àfrica. As empresas da àrea não olham a meios para garantirem plantações de colheitas transformáveis em combustível. As práticas começam a ser denunciadas como um novo colonialismo.

Wulf and Batsy



Viper Comics | Wulf and Batsy
Wulf and Batsy

Wulf é um lobisomem que tenta restringir a sua dieta a animais, mas que inevitavelmente acaba a mastigar os ossos de um humano. Ou muitos. Batsy é uma sensual vampira, companheira de Wulf, relutante em debicar sangue humano por causa da má vizinhança que isso causa. Estes dois tenebrosos amigos procuram um lar, um local onde se possam sentir seguros e tranquilos. Mas a vida de monstro não é fácil.

Da autoria de Brian Baugh, Wulf and Batsy recupera o estilo e a iconografia dos velhos monstros míticos. Wulf e Batsy são monstros, capazes de actos monstruosos, mas são monstros que capturam a simpatia dos leitores. O grafismo recupera o estilo dos comics da EC dos anos 50, num registo a preto e branco onde o gore impera.

Sem ser excepcional, Wulf e Batsy é uma série divertida e apelativa para os fãs do horror. Com argumentos simples, inspirados nos temas do conto clássico de terror, apoia-se num grafismo cuidado, entre o cartoon e o realismo, próximo do estilo gótico de Gorey ou Burton. Podem saborear o simpático estilo do comic nesta edição online: Wulf and Batsy 01 Preview.

sábado, 6 de setembro de 2008

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O descanso da sabedoria, ou fim-de-semana chuvoso.

Civil War



Marvel | Civil War
Wikipedia | civil War

Ainda não terminei de ler todo o arco da série Civil War, um crossover que redefiniu o universo Marvel, mas já descobri como termina... e fiquei surpreso.

Civil War é um tie-in, uma série de histórias entrelaçadas que se completam em vários títulos, e cuja premissa assentava numa guerra civil entre super-heróis. A Marvel começou a investir neste tipo de séries, que obrigam os leitores fieis dos comics de um personagem a ir ler os comics de outros personagens para saber como continua a história, após o sucesso de tie-ins da DC Comics como Crise nas Infinitas Terras e similares nos anos 80. Para os editores, estes arcos são boas formas de aumentar a audiência dos vários títulos, e para os argumentistas, uma forma de reformular personagens e universos.

Civil War mergulha em cheio na era contemporânea. A guerra civil entre heróis deixa para segundo plano as habituais lutas contra super-criminosos e ameaças cósmicas. Os heróis, divididos em duas facções com algumas nuances, lutam entre si, uns pelo lado da lei, outros pelo da liberdade. A discórdia nasce da aplicação de uma lei controversa, que obriga ao registo governamental e regulação de todos aqueles que tenham super-poderes ou o vício de colocar uma máscara e sair para as ruas em combate ao crime. De um lado, do lado da lei, do governo e das forças de segurança, encontramos o icónico Homem de Ferro. Do lado da liberdade e direitos individuais dos cidadãos, contra leis excessivas, está o simbólico Capitão América. No meio, todos os outros super-heróis e super-vilões. Aqueles que se submetem ao governo tornam-se agentes ao seu serviço. Quem insistir na sua liberdade é capturado e encarcerado num gulag interdimensional.

Os temas de Civil War oscilam à volta do choque que foi o 11 de setembro para a américa e para o mundo. No mundo pós-11 de setembro, as tradicionais liberdades individuais das democracias liberais começaram a ficar suspensas. Em nome da segurança, do medo e da estabilidade, os governos aumentam a visibilidade das forças de segurança e aprovam leis que restringem as liberdades individuais, como se observa pelas regras de segurança cada vez mais draconianas nos voos. Nos casos mais extremos, a suspensão dos direitos legais é total para os suspeitos de actividades que ponham em causa a segurança. Guantánamo é o caso flagrante. O resultado, global, e apontado por inúmeros comentadores e analistas, é uma progressiva diminuição das liberdades e direitos nas sociedades democráticas em nome do combate ao terrorismo. É a verdadeira vitória do terror: sob a ameça de bomba, de ataque terrorista, a sociedade democrática torna-se totalitária.

As leis que suspendem liberdades, os poderes alargados das forças de segurança, os discursos políticos e as divisões entre os que defendem que as liberdades devem ser mantidas e os que defendem que as leis injustas são necessárias para o bem comum são os temas centrais de Civil War. O paralelo com o mundo contemporâneo é obvio, e surpreendente em comics que tentam apelar a um público alargado. Espera-se abordagens a temáticas deste género em graphic novels ou séries limitadas, não em arcos épicos como Civil War que reformulam os universos da banda desenhada comercial de massas.

Como termina a série? Bem, deixo aqui um spoiler: digamos que vende o lado da lei, e que o lado da liberdade se rende ao ver que os cidadãos preferem a segurança às liberdades. É este comentário frio à política e sociedade contemporâneas que torna Civil War surpreendente.

Onde ler Civil War? A série data de 2006, abarcando títulos próprios (Civil War e Civil War Frontline) e serialização em títulos estabelecidos. No Scribd estão disponíveis cerca de 94 destes comics. Podem ser lidos online através do leitor flash iPaper do Scribd, ou descarregados em formado pdf. A legalidade é duvidosa, por isso não digam a ninguém que as histórias, tragédias e dramas de Civil War estão disponiveis no Scribd: JayUnt's Documents e Scribd Group Marvel Civil War.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

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Saudades...

Leituras

Washington Post | In Africa, a new middle income consumerism Não é a imagem tradicional que associamos aos países africanos: a de uma classe média semelhante às classes médias europeias e americanas, com profissões liberais, salários médios, hipotecas de casa, férias longe da residência e um nível de vida acima da pobreza generalizada que ainda aflige o continente africano, mas abaixo da cleptocracia dos regimes políticos do continente.

Globe and Mail | Digital memories can be fleeting A proliferação de aparelhos capazes de registar o momento, quer sejam telemóveis, máquinas fotográficas ou câmaras de video, facilita o registo das impressões momentâneas que atraem no nosso dia a dia. Mas esta facilidade tem os seus problemas, de formato, durabilidade e quantidade, ainda não resolvidos.

Der Spiegel | Russia and the west: the cold peace A nova Rússia, tutelada de facto por Putin, quer recuperar o seu lugar nos palcos internacionais. Herdeira do poderio militar e das instituições científicas soviéticas, rica em recursos naturais, a nova Rússia enfrenta o futuro à sua maneira, sem subserviências aos interesses ocidentais.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

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Com novas responsabilidades vêm novas tarefas. O tempo encurta, e deixa de haver tempo para algumas actividades que dão prazer. Valha-me a câmara do telemóvel, para capturar alguns instantes dos percursos diários. No caso, a estrada de acesso a Montemuro, a poucos quilómetros da Venda do Pinheiro, um oásis intocado às portas de Lisboa.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Chrome

Minimalista. É essa a impressão que estou a ter do Google Chrome, o projecto de navegador da internet saído da Google. É rápido a carregar páginas (os gurus logo dirão se é mais rápido do que o Opera) e espartano no seu visual, sem botões intrusivos e acumulações de barras de ferramentas. É um browser que mal se nota. Muito subtil, mas estou de opinião reservada... afinal, estou "formatado" no Opera. Mas a escrever este post no Chrome. Um test-run (por outro lado, se o site de blogs da Google não funcionar bem no browser Google... não é o que se espera do gigante da net).

Navegar com o Chrome é esquecer o browser e ficar concentrado na página. Uma experiência agradável.

Com o predomínio do Internet Explorer, o sucesso do Firefox e os nichos do Safari e do Opera, será mesmo necessário mais um browser? É uma jogada inteligente da Google: prevê-se um futuro em que as aplicações e os dados estejam sempre online. É o cloud computing, as aplicações online e os sistemas operativos online. O browser tornar-se-á o software imprescindível no computador, e passará a gerir o acesso a tudo. Quem dominar os browsers dominará o futuro do mundo digital, tal como o domínio da Microsoft sobre os sistemas operativos ditou a hegemonia presente deste gigante.

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Perto de Montemuro.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

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Instante urbano.

Leituras

International Herald Tribune | Brussels magazine pays price for covering news A censura é algo de impensável nos países europeus. Mesmo assim, há formas de pressionar os editores de jornais a não publicarem notícias que ofendam certos interesses, utilizando a arma das pressões financeiras. No caso, um jornal belga perdeu o apoio de longa data da cadeia de hoteis Hilton, após uma notícia pouco abonatória sobre as práticas laborais de um dos clientes de um hotel em Bruxelas. Esta passou, mas quantas notícias não ficam enterradas por pressões deste género?

Salon | Ask the Pilot A elegância estética parece andar cada vez mais arredada da aeronáutica. As aeronaves civis primam cada vez mais pela capacidade de trasportar grandes quantidades de passageiros e cada vez menos pela sua beleza. A opinião, de alguém para quem a beleza dos aviões ainda conta.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

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Mais um ano lectivo que se inicia. Este traz consigo novos desafios e novas responsabilidades. Espero estar à altura.