sábado, 6 de setembro de 2008

Civil War



Marvel | Civil War
Wikipedia | civil War

Ainda não terminei de ler todo o arco da série Civil War, um crossover que redefiniu o universo Marvel, mas já descobri como termina... e fiquei surpreso.

Civil War é um tie-in, uma série de histórias entrelaçadas que se completam em vários títulos, e cuja premissa assentava numa guerra civil entre super-heróis. A Marvel começou a investir neste tipo de séries, que obrigam os leitores fieis dos comics de um personagem a ir ler os comics de outros personagens para saber como continua a história, após o sucesso de tie-ins da DC Comics como Crise nas Infinitas Terras e similares nos anos 80. Para os editores, estes arcos são boas formas de aumentar a audiência dos vários títulos, e para os argumentistas, uma forma de reformular personagens e universos.

Civil War mergulha em cheio na era contemporânea. A guerra civil entre heróis deixa para segundo plano as habituais lutas contra super-criminosos e ameaças cósmicas. Os heróis, divididos em duas facções com algumas nuances, lutam entre si, uns pelo lado da lei, outros pelo da liberdade. A discórdia nasce da aplicação de uma lei controversa, que obriga ao registo governamental e regulação de todos aqueles que tenham super-poderes ou o vício de colocar uma máscara e sair para as ruas em combate ao crime. De um lado, do lado da lei, do governo e das forças de segurança, encontramos o icónico Homem de Ferro. Do lado da liberdade e direitos individuais dos cidadãos, contra leis excessivas, está o simbólico Capitão América. No meio, todos os outros super-heróis e super-vilões. Aqueles que se submetem ao governo tornam-se agentes ao seu serviço. Quem insistir na sua liberdade é capturado e encarcerado num gulag interdimensional.

Os temas de Civil War oscilam à volta do choque que foi o 11 de setembro para a américa e para o mundo. No mundo pós-11 de setembro, as tradicionais liberdades individuais das democracias liberais começaram a ficar suspensas. Em nome da segurança, do medo e da estabilidade, os governos aumentam a visibilidade das forças de segurança e aprovam leis que restringem as liberdades individuais, como se observa pelas regras de segurança cada vez mais draconianas nos voos. Nos casos mais extremos, a suspensão dos direitos legais é total para os suspeitos de actividades que ponham em causa a segurança. Guantánamo é o caso flagrante. O resultado, global, e apontado por inúmeros comentadores e analistas, é uma progressiva diminuição das liberdades e direitos nas sociedades democráticas em nome do combate ao terrorismo. É a verdadeira vitória do terror: sob a ameça de bomba, de ataque terrorista, a sociedade democrática torna-se totalitária.

As leis que suspendem liberdades, os poderes alargados das forças de segurança, os discursos políticos e as divisões entre os que defendem que as liberdades devem ser mantidas e os que defendem que as leis injustas são necessárias para o bem comum são os temas centrais de Civil War. O paralelo com o mundo contemporâneo é obvio, e surpreendente em comics que tentam apelar a um público alargado. Espera-se abordagens a temáticas deste género em graphic novels ou séries limitadas, não em arcos épicos como Civil War que reformulam os universos da banda desenhada comercial de massas.

Como termina a série? Bem, deixo aqui um spoiler: digamos que vende o lado da lei, e que o lado da liberdade se rende ao ver que os cidadãos preferem a segurança às liberdades. É este comentário frio à política e sociedade contemporâneas que torna Civil War surpreendente.

Onde ler Civil War? A série data de 2006, abarcando títulos próprios (Civil War e Civil War Frontline) e serialização em títulos estabelecidos. No Scribd estão disponíveis cerca de 94 destes comics. Podem ser lidos online através do leitor flash iPaper do Scribd, ou descarregados em formado pdf. A legalidade é duvidosa, por isso não digam a ninguém que as histórias, tragédias e dramas de Civil War estão disponiveis no Scribd: JayUnt's Documents e Scribd Group Marvel Civil War.