quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

...



Mais simples do que parece...

Leituras

Business Week | DEMO 2008: what's next in tech Quais serão as tecnologias mais quentes de 2008? Essencialmente, aplicações web 2.0, que passam pela integração do telemóvel com a internet, a capacidade de aceder a ficheiros em qualquer local via telemóvel, e aplicações baseadas na tecnologia Air da Adobe, um API utilizado para criar aplicações baseadas na web que funcionam mesmo quando o acesso à net não está disponível.

BBC | Why 3D is about to break through 3D, mas não como em animação 3D. Normalmente relegado para filmes de terror de série B, o cinema tridimensional parece estar a encontrar o seu nicho, graças ao potencial da tecnologia digital, que permitiu eliminar as dificuldades tecnológica a este género de cinema.

Guardian | Population growth is a threat. But it pales against the greed of the rich De entre todas as ameaças ao desenvolvimento sustentável, a economia é talvez a mais incontornável. A lógica de crescimento contínuo baseado numa economia de consumo constante choca directamente com a necessidade de gerir os recursos naturais, assegurando a sustentabilidade para as gerações futuras.

Los Angeles Times | A cold war redux is seen on the horizon Os inimigos fazem jeito... após o fim da guerra fria, assiste-se a uma espécie de guerra fria, uma curiosa distracção dos problemas políticos reais à escala global, que beneficia essencialmente os fabricantes de armamento covencional de alta tecnologia. Enfim, há que justificar os escudos anti-míssil e os caças de última geração...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

...



Antes do amanhecer.

Recortes

This age found its form, as early as the 1880s in America, in a new type of office building: symbolically a sort of vertical human filing case, with uniform windows, a uniform facade, uniform acomodations, rising floor by floor in competition for light and air and above all financial prestige with other skyscrapers. The abstractions of high finance produced their exact material embodiment in these buildings.
Lewis Mumford (51)

Making it possible for one subscriber to talk to many others would have enhanced the telephone as a non-hierarchical means of communication. It was not to be and the very construction of the network system to limit telephony to one-to-one communication is therefore a mark of its repression. That we allow broadcasting, a very much more inherently centralised, undemocratic and controllable technology, to do this is the obverse of that mark.
Brian Winston (60)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

...



Experiências em Bryce. É menos complexo do que parece.

Leituras

Globe and Mail | Nokia finds Romania's hidden labour force A deslocalização da fábrica alemã da Nokia para a Roménia sublinha a nova realidade empresarial de contínua busca de formas de maximizar o lucro baixando os custos de produção a qualquer custo. Se a região alemã se lamenta pela perda dos postos de trabalho, a região romena que irá receber a nova fábrica aplaude a criação de novos empregos e a prosperidade que trará à região. Há sempre dois lados na moeda das deslocalizações, e um muito tenebroso aproveitar de uma lógica de benefícios a regiões empobrecidas que se esfuma mal as regiões comecem a dar sinais de melhoria. Considerações à parte, a verdade é que estas iniciativas apenas buscam mão de obra cada vez mais barata. Será este um modelo económico sustentável?

Guardian | The ominous lesson of Tet Comemora-se o aniversário da ofensiva do Tet, o momento de viragem na guerra do Vietname que abalou a imagem de potência invencível associada aos E.U.A.. A ofensiva foi um desastre militar onde mais de metade dos soldados norte-vietnamitas envolvidos perderam a vida, mas foi uma vitória política que obrigou o governo americano, forçado por uma opinião pública chocada e abalada, a negociar um fim para a guerra do Vietname. Lição a retirar para os tempos contemporâneos? O calcanhar de aquiles dos modernos exércitos está na opinião pública dos países democráticos que os tutelam.

Los Angeles Times | China targets plastic bags Quando o governo chinês quer, geralmente consegue. Por desanimador que seja ver um dos mais tirânicos regimes do planeta a usar a sua muito específica forma de determinação social para eliminar o uso de sacos de plástico, não deixa também de ser um sinal de que a maior potência económica da actualidade, com um crescimento acelarado causador de graves problemas ambientais, está interessada em contribuir para a resolução destes problemas.

domingo, 27 de janeiro de 2008

...



XaoS: "XaoS is an interactive fractal zoomer. It allows the user to continuously to zoom in or out of a fractal in a fluid, continuous motion. This capability makes XaoS great for exploring fractals, and it’s just plain fun!"

Viciante. Desde os velhos tempos do Fractint que não me divertia tanto.

Leituras

SF Signal | Are we headed for a technological panopticon? O SF Signal colocou a questão, e alguns dos mais conceituados autores de ficção científica da actualidade respondem. Onde será que o potencial de vigilância tecnológica nos conduzirá? Já vivemos num mundo big brother, onde a privacidade é um mito, ou poderá a falta de privacidade gerar privacidade?

Globe and Mail | Breaktrough technologies for 2008 and beyond Quais serão as tecnologias mais revolucionárias de 2008? Uma dica: o maior potencial reside nas biotecnologias.

Guardian | Great art must be freed from the vaults Qual é o real valor da arte? Deverá ficar oculta nos fundos do museu, guardada nos cofres dos financeiros, ou exposta, visível ao mundo, enriquecendo-nos a todos com a beleza estética e a força da expressão?

BBC | Synthetic life advance reported Não é ainda uma forma de vida que rasteja nos laboratórios, mas lá se chegará. Trata-se apenas do construir da sequência de ADN de uma bactéria utilizando blocos de material genético. Uma espécie de lego com as bases do ADN.

Washington Post | D.C. workers fired for looking at porn Não vou discutir a falta de inteligência óbvia de quem aproveita as horas de trabalho em local público para contemplar pornografia. Gostaria antes de sublinhar a cada vez maior importância que as organizações dão ao instalar de software que vigia de forma oculta as actividades dos seus funcionários.

sábado, 26 de janeiro de 2008

...



Forma criada com comandos Logo, cores pixel a pixel, se necessário, no gimp.

The Island of Lost Maps



Miles Harvey (2000), The Island of Lost Maps. New York: Random House

Miles Harvey

Olhar para um mapa antigo revela um fascínio por voos de imaginação. Os mapas antigos são relíquias de uma época em que o planeta ainda estava por desbravar, onde os mapas indicavam terras incognitas ou terras inexistentes. Os locais em branco eram verdadeiros vazios de conhecimento. Sem se saber o que existia nas terras desenhadas, as mais estranhas hipóteses eram imaginadas. Criaturas míticas, bizarrias monstruosas, cidades exóticas ocupavam os espaços de onde os exploradores ainda não haviam trazido notícia. Ou então os mapas transmitiam o fascínio e a estranheza da novidade do contacto dos exploradores europeus com as culturas indígenas das novas terras que se iam constantemente descobrindo.

Os mapas sempre foram importantes artefactos culturais. Mais do que repositórios visuais de conhecimentos geográficos, foram (e são) documentos passíveis de secretismo, cuja posse conferia aos seus donos vantagens comerciais, políticas e militares. O tráfico de mapas entre estados era crime punível com as mais altas penas.

Séculos depois, esses velhos mapas ainda nos fascinam, um fascínio que vai para lá da sua importância histórica, que ultrapassa o mero fascínio da beleza do mapa enquanto objecto artístico.

Em The Island of Lost Maps, o traçar dos percursos de uma estranha personalidade - a de um ladrão de mapas, especializado em fazer desaparecer mapas de livros raros consultados nas mais prestigiadas bibliotecas norte-americanas, para retratar uma estranha, curiosa e lucrativa comunidade: a dos coleccionadores de mapas, ardentes detentores das linhas geográficas traçadas em tempos de antanho.

The Island of Lost Maps é uma obra que funciona sobre três eixos - a da compreensão dos percursos e acções do ladrão de mapas, o do retrato de uma comunidade pouco conhecida, e também uma viagem pessoal do autor, que acaba por traçar neste livro um mapa de um percurso pessoal de descoberta.

É um livro curioso, particularmente para quem não sabia que o mundo dos mapas movimentava somas avultadas de dinheiro e contava com especuladores cujos escrúpulos residem apenas na necessidade de rigor histórico dos artefactos que vendem. O coleccionismo é um hábito estranho.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

...



Brincadeiras no logo... linguagem berkeley, programa Elica. Já seu fazer rabiscos e estrelinhas... vou já imprimir e pendurar no frigorífico...

Leituras

Washington Post | The complex crux of wireless warfare O departamento de defesa norte-americano encontra-se a trabalhar naquele que é o mais complexo sistema de software até agora imaginado: uma imensa rede militar, robusta, resistente a ataques electrónicos, que transforma cada soldado num nó capaz de interagir remotamente e em tempo real com equipamentos militares no campo de batalha.

BBC | Virgin unveils spaceship designs Ir até à órbita (baixa, é certo...), mas com estilo: a empresa que promete dar início ao turismo espacial de massas (massas bem abonadas, é certo...) revelou recentemente o styling aplicado aos Spaceship One desenhados por Burt Rutan.

Guardian | The market price Agora que os grandes poderes económicos se reúnem em Davos para lamentar a situação caótica que se faz sentir na economia, faz sentido reflectir no que possibilitou este momento económico, em que o mundo se encontra perigosamente à beira de uma forte recessão: terão sido as constantes pressões por parte dos grupos económicos para a total desregulação dos mercados e legislações nacionais, abrindo o campo para as formas mais puras e selváticas de especulação, que trouxeram tantos lucros a curto prazo mas que na prática estão a aniquilar a estabilidade da economia mundial? De qualquer forma, não se pode esperar muito disto. Muitas das empresas que durante anos reclamaram uma intervenção estatal mínima na economia reclamam agora subsídios públicos extraordinários para as salvar dos buracos em que se meteram com a especulação financeira. No reino unido existe um caso gritante. Ainda por cima, no corrente clima económico, as decisões draconianas do Banco Central Europeu parecem ser as mais ajustadas - criando apertos financeiros, obrigam as empresas a controlar os seus instintos especulatórios, reduzindo assim o risco de expeculações arriscadas.

BBC | Rogue trader to cost SocGen $7bn E aqui, nesta notícia sobre um funcionário bancário que perdeu quase cinco mil milhões de euros em especulações arriscadas, disfarçadas através de métodos de contabilidade criativa, está um exemplo típico do que discuti no parágrafo anterior: o gosto pelo risco, a procura do lucro estrondoso através de investimentos arriscados que, se bem sucedidos, trazem consigo elevados ganhos. O banco francês que sofreu estas perdas ainda anunciou mais dois mil milhões de euros de prejuízo em investimentos no agora famoso mercado subprime americano. Note-se que são os responsáveis por estas instituições os que insistem na desregulação estatal, retirando espartilhos legais aos movimentos eficientes da mão invisível do mercado.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

...



In bloom, dear Leopold.

Com F maiúsculo

Confesso que sou habitualmente apolítico e distraído em questões legalistas; um defeito, é certo, na cidadania contemporânea, mas prefiro exercer a minha cidadania de outras formas. Estou, como muitos, desiludido pelo baixo nível e hipocrisia dos políticos nacionais, pela mesquinhez, pura ignorância e nepotismo das faixas mais visíveis da classe política. Embora tenha uma esperança que entre as bases ou entre os elementos da classe ainda se encontrem cidadãos conscientes e dignos.

De qualquer forma, a vergonhosa realidade por vezes atinge-me de forma violenta. É o que se passa com o demolir da classe docente e com o desmontar sistemático do ensino público levado a cabo por este governo de confessas tendências neoliberais assumidas.

Escrevo estas linhas no furioso rescaldo da leitura que fiz ao decreto-regulamentar 2/2008, que regulamenta a avaliação dos docentes para efeitos de progressão na carreira. Eu não era daqueles que concordavam com o sistema anteriormente vigente. O progresso era uma formalidade automática, equalizava tudo pelo mínimo denominador comum. Baseava-se em relatórios de autoavaliação, sempre discutíveis, e na frequência de acções de formação que serviam únicamente para obter créditos para progressão na carreira e não como reais momentos de formação e valorização profissional e científica. Os profissionais mais esforçados não eram recompensados pelos seus esforços, e os menos dignos não eram normalmente sancionados pela sua falta de profissionalismo. De forma que recebi bem os novos projectos de avaliação de docentes, que prometiam valorizar o mérito e o esforço para lá do contratualmente estabelecido. Pelo menos até começarem a transpirar os verdadeiros moldes pelos quais essa avaliação seria efectuada. Aí, as dúvidas sobre os reais motivos, ocultos sob a capa de argumentos válidos, começaram. E agora, perante o fait-acompli, perante o decreto, esvaíram-se quaisquer dúvidas.

A valorizção do mérito, o prémio do esforço, o estabelecimento de metas de profissionalismo não passam de uma capa que mal cobre as reais intenções de impedir o progresso na carreira, contendo os gastos com mão de obra profissional.

Escrever sobre as muitas enormidades deste regime é coisa para muitos posts, e coisa já muito discutida. Aliás, os sindicatos, desacreditados e impotentes, já muito o têm feito. Mas sempre que leio o decreto, há coisas que me saltam à vista, óbvias injustiças e perigososos precedentes.

Um é no estabecimento de objectivos profissionais, que refere que o docente deverá estabelecer objectivos no cumprimento de, entre outros, apoio a aprendizagem de alunos, participação nas estruturas educativas e participação e dinamização de projectos, valorizando-se o desempenho para lá do horário do docente. Nobre princípio, que valoriza o empenho de todos os docentes que ficam nas escolas para lá do seu horário ocupados com tarefas pedagógicas, administrativas ou de apoio aos sistemas da escola? Nem por isso... é que falamos de uma avaliação regular, que determina a progressão normal na carreira e sanções caso o cumprimento dos parâmetros esteja abaixo do nível estabelecido. Na prática, temos uma entidade patronal a criar mecanismos de avaliação que podem levar a que só progrida na sua carreira o profissional que preste serviço para lá do seu horário contratualmente estabelecido. O sector privado, com o patronato português, por norma tão àvaro ao pagamento de salários justos, vai adorar este precedente criado pela tutela.

Outro perfeito paradoxo prende-se no estabelecimento de metas para melhoria dos resultados escolares dos alunos. Outra ideia nobre, sem dúvida. Qual é o professor que não deseja melhorar as prestações dos seus alunos? O problema coloca-se pela lógica falaciosa de constante melhoria. O que é que acontece quando já se parte de uma base de bons resultados? No meu caso específico, a taxa de sucesso para a disciplina que lecciono no contexto escolar ultrapassa os 90%. O estabelecimento de metas deverá sempre tentar ultrapassar essa fasquia, o que cria uma situação paradoxal. Como melhorar o que está bom, sabendo que se pode ser penalizado pelo não cumprimento da meta estabelecida?

Esta questão das metas tem outra argola. Imagine-se dois profissionais, ambos da mesma disciplina, com turmas semelhantes. Um é rigoroso e criterioso, outro corresponde na perfeição à imagem de baldas que a opinião pública tem da classe docente. O primeiro, aplicando com rigor os critérios de avaliação, esforçando-se pelo valor das aprendizagens, irá dar as notas ajustadas ao esforço e ao mérito dos seus alunos. O segundo avalia de forma a garantir que os seus alunos tenham boas notas, inflacionando assim a média das avaliações. No papel, segundo o critério contabilístico, na estatística final, qual destes dois docentes é o mais valorizável? E não poderá o primeiro, perante a nítida injustiça, recorrer aos tribunais para fazer valer os seus direitos? Não me surpreenderá se dentro de muito em breve os tribunais começarem a receber inúmeros processos e pedidos de providências cautelares levantados por professores com legítimos descontentamentos sobre a forma e os critérios como foram avaliados.

Podemos argumentar que para que estas situações estejam precavidas existe um outro mecanismo de avaliação - a comparação dos resultados da avaliação interna dos alunos (a levada a cabo pelo docente) com os resultados da avaliação externa, levada a cabo através de exames. A medida é lógica, trata-se de comprovar as formas de avaliação e as metodologias de trabalho de forma independente, mas o resultado será altamente pernicioso. Perante a ameaça de disparidades entre a avaliação interna e externa, os professores poderão fazer incidir as suas aulas na preparação para a avaliação (e idiota é aquele que não o fizer). O objectivo do sistema de ensino passará de ser o desenvolvimento dos alunos, ficando-se pela mera preparação para fazer boa figura em exames nacionais. Isto já acontece com as provas de aferição e exames nacionais de nono ano.

No meu caso específico, isso poderá implicar um retrocesso no meu trabalho. Em vez de optar por actividades práticas e expressivas, que valorizam o uso de tecnologias, até daquelas normalmente não associadas à sala de aula (como, por exemplo, o 3D), e a aplicação criativa das mais variadas ferramentas, das digitais às tradicionais, terei de pensar de forma diferente. Sabendo que no final do processo de ensino os meus alunos serão avaliados não pelas competências que lhes transmiti mas sim pelo seu resultado numa prova estandardizada que mede conhecimentos teóricos, e que eu serei avaliado por esses resultados, penso que me verei obrigado a optar pelo formalismo, pela teoria. Espero francamente que neste ponto esteja a ser alarmista: detestaria, em nome de metas estatísticas, ter de abandonar os meus princípios pedagógicos - desenvolver a criatividade, expandir o horizonte de conhecimentos dos alunos através das mais variadas ferramentas, com especial incidência nas novas tecnologias, forma de preparar os alunos para actuarem na sociedade do conhecimento de forma que ultrapasse a de consumidores/espectadores, e criar experiências de aprendizagens significativas para as crianças (é normal, se me permitirem a hubris, alunos novos contarem-me que os seus irmãos, antigos alunos meus, lhes mostram com orgulho trabalhos desenvolvidos comigo em anos anteriores).

E nem sequer comento o sistema de quotas de atribuição de níveis, ou as barreiras intransponíveis à atribuição de excelente.

Estarei a ser alarmista, será este novo modelo de avaliação assim tão terrível? A verdade é que é impossível não ficar alarmado com esta lei tão catch 22. Em particular, como professor que apostou na mudança, contra a estagnação, sinto-me traído e desmoralizado pela malevolência com que a tutela se apropriou de nobres ideiais para justificar o aniquilar de uma classe. Sinto-me tramado, com f maiúsculo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

...



Curvas.

Recorte

What he says about "how they shrink at first from the welter of additional stimulation, longing at times to return to the relative seclusion of their former world" is exactly the experience that every group and individual feels when trying to adjust to the unique sensory environment created by a new technology.
Marshall McLuhan

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

...



Agora que o sol voltou a brilhar...

Leituras

Globe and Mail | Renault to develop eletric cars for Israel Israel irá tornar-se no primeiro país do mundo a ter uma rede de abastecimento de carros eléctricos. A Renault será a construtora destes veículos. A escolha de Israel prende-se com as curtas distâncias interurbanas, na ordem dos cem quilómetros, óptimas para a corrente autonomia dos veículos eléctricos.

Washington Post | A big drop in emissions is possible with today's technology Uma solução para os problemas ambientais, uma entre muitas, mas uma que todos podemos por em prática: aproveitar a eficiência energética dos dispositivos, e desligar os equipamentos quando não são necessárias.

Look on my works, ye migthy, and despair A iconografia apocalíptica envolvendo a estátua da liberdade através de capas de livros, revistas pulp e cartazes de filmes. A imaginação dos ilustradores de FC dá sempre origem a imagens fascinantes.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A Galáxia Internet



Castells, Manuel (2004). A Galáxia Internet. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian

Gulbenkian
USC | Manuel Castells

Sabemos, de forma mais ou menos instintiva, que a internet está a mudar a nossa sociedade. Ideias como web 2.0, nova economia, vida digital, realidade virtual, são ideias que deixaram o âmbito da especulação e se tornaram lugares comuns no dia a dia. A explosão da internet enquanto meio de comunicação foi fulgurante: em menos de vinte anos, passou de uma tecnologia relativamente obscura, domínio de fanáticos reclusivos da informática, para se tornar um meio prevalente, que influencia a vida de milhões de pessoas. Esta explosão, ainda em contínua evolução, influencia a economia, a cultura e a sociedade. O mundo contemporâneo já é inconcebível sem a internet.

Este é um fenómeno largamente estudado. A excitação de observar e tentar prever onde nos levará este mundo digital tomou conta do mundo intelectual. Destacaria, entre a míriade de estudos, opiniões e livros publicados sobre a influência digital, as ideias de Kerckhove, Turkle, Rheingold, Virilio e Toffler. Estes estão entre os mais estimulantes conceptualizadores da nova sociedade, procurando perceber a influência do mundo online na evolução da inteligência, na percepção da personalidade, na acelaração da economia e na conceptualização do espaço e do tempo.

Se estes autores nos estimulam com as suas acutilantes observações sobre as tendências em que a sociedade parece evoluir, Castells faz o trabalho contrário. Castells observa, com um rigor científico de primeira linha, as transformações que a internet está a operar na nossa sociedade. O que emerge, neste conjunto de ensaios, é o retrato de uma nova sociedade em contínua evolução, uma análise às transformações propiciadas pela vida em rede.

A Galáxia Internet observa a internet, olhando para a sua história, para a construção da ideia de rede, para as transformações de uma economia cada vez mais dependente do conhecimento, para o emergir das comunidades virtuais, para a cada vez maior importância do virtual na vida política e social, para as àguas agitadas dos jogos empresariais das entidades que dominam a nova economia, para uma nova ideia de multimédia e, claro, para o perigo da infoexclusão, sem esquecer a geografia da rede. Ao fazê-lo, Castells desmonta uma série de mitos - o da internet ter tido uma génese puramente militar, o da queda da nova economia ou o do fim do crescimento urbano propiciado pelo teletrabalho. Por outro lado, sublinha o conceito de sociedade em rede, uma nova sociedade em permanente construção em que as instituições e os indivíduos se organizam em redes formais e informais através das tecnologias, uma sociedade ao mesmo tempo local e global, onde o conhecimento e o dinamismo da rede são os factores determinantes.

Escrito no tom seco, por vezes àrido, do discurso académico rigoroso, A Galáxia Internet é uma obra imprescindível para se compreender o que realmente é a Internet e qual a sua verdadeira influência na nossa sociedade.

...



Estou com um sério ataque de segundafeirite aguda.

domingo, 20 de janeiro de 2008

...



Aplicação do comando repeat 40 [rt 50 fd 150 rt 90 fd 50 rt 120 fd 50 lt 50 fd 20 rt 160 fd 25 rt 220 fd 100 rt 25] no Elica.

Leituras

BBC | Zimbabwe banks to issue $10m bill Sempre o sinal mais visível de inflação galopante: o banco central do Zimbabwe prepara-se para emitir uma nota de dez milhões de dólares, com o valor de cerca de dois euros e meio.

BBC | US team makes embryo clone of men Mais um passo na exploração da clonagem. Uma equipe de cientistas removeram o ADN de óvulos humanos, substituindo-o pelo ADN extraído de células da pele de dois voluntários.

The Guardian | Bubble economics O namoro entre as instituições responsáveis pela regulação da economia e as instituições que lucram a com a desregulação da economia trouxe-nos a este momento presente de incerteza financeira.

Air and Space | Lunar landers that never were O engenho e a imaginação por detrás dos grandes projectos tecnológicos não se esgota num produto final. Este artigo mostra-nos como foram concebidos alguns dos projectos de módulos de alunagem do programa Apollo.

Bang! #03 Uma má notícia: a Bang!, única revista portuguesa dedicada à FC e ao Fantástico, deixou de existir em formato papel. Uma boa notícia: os editores não desistiram, passando a oferecer a Bang! em formato PDF, de forma gratuita. Qual é a desculpa agora para não a ler? Elitismo? Analfabetismo? (Via A21)

sábado, 19 de janeiro de 2008

...



Mais brincadeiras na linguagem Logo.

Apollo 13



Missão Apollo 13
IMDB | Apollo 13

Tinha que ser a décima terceira. Após uma série de missões bem sucedidas, cujo ponto mais alto foi a alunagem do módulo Eagle, a missão da Apollo 13 ficou para a história como uma das mais azaradas missões lunares, e também como um dos momentos de maior valor dos técnicos e dos astronautas que fazem do incrível - o desbravar da nova fronteira para lá dos limites do planeta, algo de quase trivial.

Apollo 13 relata a azarada missão dos astronautas Jim Lovell, Fred Haise e Jack Swigert. A meio da viagem para a órbita lunar, um acidente danifica sériamente a nave espacial, lançando os astronautas e o controle orbital numa corrida contra o tempo para tentar o impossível: salvar três homens em risco de ficar à deriva no espaço. O sonho de percorrer o chão lunar fica posto de parte. Apenas conta a probabilidade impossível da sobrevivência.

O filme é uma ode à minúcia e ao tecnicismo, à cultura de rigor e à coragem em face dos maiores perigos. A odisseia dos astronautas é salientada por uma obsessiva atenção à tecnologia, através da qual é possível correr riscos. Este filme olha não tanto para o heroísmo dos protagonistas, fugindo ao cânone do género, mas sim para o procedimento, para o detalhe tecnológico, para o esforço quase invisível do engenheiro.

O detalhe mais curioso deste filme é que é um filme sobre a aventura no espaço que, sendo uma aventura, é também uma história real, sendo talvez o primeiro grande filme que representa a maior das aventuras humanas de uma perspectiva histórica. Apollo 13 é um documento que retrata um momento histórico, não uma fantasia sobre homens heróicos que conquistam o espaço exterior.

Pintar como...

Jackson Pollock. Uma das frases que mais se ouve acerca da arte moderna e contemporânea é a "até eu conseguia fazer isto", geralmente proferida ao contemplar uma abstracção geométrica ou expressiva. Não é bem assim, mas este website permite concretizar esta frase. Ao clicar no link para o site Paint Like Jackson Pollock o vosso rato transforma-se num pincel e a janela do browser numa tela onde podem pintar como o mais famoso pintor expressionista abstracto da escola de Nova Yorque. Vá lá, experimentem! Não se sujam de tinta...

(Originalmente publicado no blog do Centro de Recursos Poeta José Fanha do Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro.)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

...



É favor apertar os cintos, aproxiama-se o fim de semana. Uma ideia banal, mas muito reconfortante.

Pequenos Artistas


(Imagem digital criada em Bryce 5 por um aluno do sexto ano)

Os novos Pequenos Artistas já estão online com uma galeria no Deviant Art. Tal como no ano passado, esta galeria reúne trabalhos de alunos criados nos mais varidados media, desde os tradicionais aos digitais. Por enquanto, estão a ser colocados online muitos trabalhos de alunos de quinto e sexto ano criados em Bryce, um software de modelação 3D.

Não se esqueçam de os visitar regularmente; há sempre trabalhos novos para mostrar!

Leituras

TSF | Pinho faz apelo para evitar saída de portugal Assim está a soberania na era da globalização: o ministro da economia fez um apelo à câmara de Mangualde para que esta exproprie terrenos que possibilitem à fábrica da Citröen se expandir. Caso contrário, a empresa já fez saber que pondera deslocalizar-se para outras paragens.

BBC | Darkest ever material created His dark materials... utilizando nanotubos de carbono, cientistas americanos um material cuja cor se aproxima muito do negro absoluto, essa definição teórica de uma cor que não é uma cor, antes a absorção de todas as radiações de cor sem qualquer reflexão.

BBC | The invisble computer revolution Enquanto desesperamos pelo alastrar mundial da revolução digital, sempre ao virar da esquina mas que tanto tarda, graças ao alto preço dos equipamentos (estado das coisas que projectos como o OLPC tentam modificar), está a ocorrer uma revolução digital invisível, alicerçada num objecto que apesar de não ter o estatuto do computador tem capacidades que se aproximam cada vez mais deste. Trata-se do telemóvel, que alastra pelo terceiro mundo, depois de saturar os países desenvolvidos. Mais do que um simples tijolo para coscuvilhice, o telemóvel é cada vez mais um computador em miniatura, embora muito sub-aproveitado.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

...



Reflexos

Recortes

I think that there is far too much work done in the world, that immense harm is caused by the belief that work is virtuous, and that what needs to be preached in modern industrial countries is quite different from what always has been preached.
Bertrand Russell

Na realidade, a liberdade nunca é algo que é oferecido. Requer uma luta constante; é a capacidade para redefinir a autonomia e pôr em prática a democracia em todos os contextos sociais e tecnológicos.
Manuel Castells

O conceito de noopolitik remete para as questões políticas derivadas da formação de uma noosfera (noosphere) ou ambiente global de informação, que inclui o ciberespaço e todos demais sistemas de comunicação, como os meios de comunicação, por exemplo.
Manuel Castells

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Leituras

BBC | Apple announces ultra-thin laptop Neste momento está tudo embevecido com a última novidade tecnológica da Apple, cujo design apaixonante oculta o carácter orwelliano do equipamento. Para além da beleza da máquina e da literal finura, destaca-se também a aplicação da memória flash de 64 gb, que permite trabalhar com o computador de maneira semelhante a um pda. Estará à vista do fim do tempo de arranque?

BBC | US approves animal clones as food O organismo americano que tutela a saúde alimentar deu luz verde para o uso de animais clonados na alimentação. Carne e leite transgénicos de porco, vaca e cabra foram considerados seguros para consumo humano. Espera-se que o uso de clones pela indústria agro-pecuária, para já, se fique pela reprodução dos animais. Não existe obrigatoriedade de assinar produtos provenintes de animais clonados como produtos transgénicos.

...



Curvas matemáticas.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

...



Um gigantesco UFA!

Breve História do Futuro



Jacques Attali, 2007, Breve História do Futuro. Lisboa: D. Quixote

Prever o futuro, diz-se, é apanágio de oráculos e profetas, de pitonisas, tirésias e cassandras, que nos mostram os caminhos do futuro, embora estes sejam por vezes tão ínvios que o desejo de os trilhar se transforma em desespero.

A futurologia é uma extrapolação de ideias e tendências contemporâneas que nos permitem tentar perceber para onde caminhamos. Não se trata de prever o futuro, isso é uma impossibilidade. Por mais perfeita que seja a previsão, o futuro tem maneiras abruptas de sacudir as ideias e fazer nascer o inesperado. Trata-se, antes de mais, de perceber qual o nosso estado das coisas, e como poderão elas evoluir. A sua falibilidade diminui consoante a proximidade temporal. Quanto mais próximo o futuro, mais provável a previsão. E quanto mais longínquo, mais imprevisível se torna.

As agruras das previsões futuras são sublinhadas pelo facto de carruagens puxadas por gansos não serem uma forma de voar, pela ausência de automóveis de energia atómica nas estradas, pelos lamentos por a estação espacial internacional se assemelhar mais a um amontoado de latas de refrigerantes do que a um elegante toro a girar em órbita, completo com hoteis para assegurar um momento tranquilo antes da partida para a lua.

E, claro, onde é que andam os jetpacks...?

As mais bem sucedidas futurologias são as que pegam nas tendências culturais que ditam a caminhada humana e as extrapolam a médio prazo, e mantém uma contínua evolução de acordo com os desvios das tendências. Observe-se, por exemplo, a pertinência das obras de Toffler, que permitem compreender tendências a médio prazo.

Breve História do Futuro, obra do francês Jacques Attali, segue fielmente este princípio. Attali pega nas tendências sócio-económicas, políticas, tecnológicas e culturais que caracterizam a nossa sociedade e projecta-os num futuro próximo. Específicamente, o autor analisa as grandes correntes da era contemporânea - o aquecimento global, os problemas ambientais, as catástrofes naturais, as alterações geopolíticas, o declínio das grandes potências, a emergência da àsia, a globalização económica, o carácter rarefeito da economia, a perda de poder dos governos face à economia transnacional, os movimentos sociais anti-globalização, o espectro do terrorismo, a evolução tecnológica e científica, para traçar um quadro negro do futuro que nos espera.

Attali centra a sua tese em três aspectos. Fala-nos do surigr de um hiperimpério, a influência global dominante não de um governo, mas sim da esfera económica, com o mundo empresarial a substituir o papel dos governos e das estruturas tradicionais, um mundo onde a economia, potenciada pela tecnologia, reina suprema. A complexidade, desprezo por valores que não os do lucro e a desumanização face às exigências da economia levam o autor a postular o surgir de um hiperconflito, não uma guerra global, mas sim uma míriade de conflitos de várias intensidades. Estes podem ser uma reacção das forças tradicionais face às exigências da contemporaniedade, conflitos pela posse dos cada vez menores recursos naturais, ou conflitos económicos e rivalidades empresariais que resvalam para o tiroteio. O caos tumultoso desta era levará a humanidade ao lado mais luminoso da tese de Attali, o surgir da hiperdemocracia, um utópico governo equilibrado à escala global, uma época de calmaria após os exageros, os desvarios e os conflitos que levarão à ruína a sociedade tal como a concebemos.

São ideias curiosas. Sem dúvida que o futuro está, neste momento único da história da humanidade, cheio de desafios cuja resposta poderá pôr em causa a sobrevivência da nossa espécie. Os prognósticos de Attali são tenebrosos, e sabendo à partida que o futuro não se escreve por linhas direitas, desafiam a credulidade. Mas as tendências que Attali identifica - o neoliberalismo galopante, o carácter cada vez mais transnacional da economia, a perda de poder e capacidade de actuação por parte dos governos, os descontentamentos pelo estado das coisas simbolizados pelas agitações de vária ordem que sacodem o mundo, a ameaça do terrorismo, a supremacia da economia de mercado sobre as reais necessidades dos cidadãos, a tecnologia cada vez mais avançada, o ressurgir dos fundamentalismos e a ameaça global representada pelo aquecimento global, tudo são tendências que já modelam o mundo contemporâneo.

Em rigor, as previsões de Breve História do Futuro não são bem previsões, são retratos exagerados da sociedade contemporânea que nos permitem encarar os desafios que nos esperam.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

...

Só acontece aos outros, diz-se.
A vida consegue virar-nos, atingir-nos com um murro no estômago que nos tira o ar, que nos tira tudo.

Estou sem palavras, estou sem imagens.

domingo, 13 de janeiro de 2008

...




Brincadeiras em Doga e Bryce. Apenas porque é divertido.

Recortes

He had enacted the adventure of vanishing into thin air and being reborn, phoenixlike, as someone else - literally, a self-made man.
Miles Harvey

The telescope, that epitome of the visual prosthesis, projected an image of a world beyond our reach and thus another way of moving about in the world, the logistics of perception inaugurating an unknown conveyance of sight that produced a telescoping of near and far, a phenomenon of acceleration obliterating our experience of distances and dimensions.
Paul Virilio

We dislike entrepeneurs like Arader or Gates, in part, because somewhere in our dark hearts we want to be like them. We wish we had their foresight and confidence, maybe even their ruthlessness, their ability to spot an oportunity and grab it. It angers us that we came to the scene too late, that the doors are now closed, that the money has been made, the power taken, the fame handed out. In many ways these men are heirs to the explorers who first came to this country, brash mercenaries like de Soto and Coronado. We may revile them for their crassness, their avarice, their destructivness, but who doesn't yearn to have been in their shoes as they strode deep into blank spots on the map?
Miles Harvey

sábado, 12 de janeiro de 2008

...



Mais brincadeiras com o Logo, utilizando o Elica e comandos simples do berkeley logo - fd (para a frente), bk (para trás), rt (volta para a direita) st (volta para a esquerda) e repeat x [fd rt bk] (repete uma sequencia de acontecimentos).

Recortes

O capitalismo atingirá então o seu propósito: destruirá tudo aquilo que lhe é alheio. Transformará o mundo num imenso mercado, com um destino dissociado do das nações, e liberto das exigências e das sujeições de um "coração".
Jacques Attali

Ideation transforms the processes of science into the testing of solutions - that is, the building of devices wich is the business of technological performance. This will go on until the device is widely diffused and even beyond, as spin-offs and refinements are developed. In the first stage the technologists begin to build devices working towards fulfilling the plans wich emerged from the ideation transformation. The devices they now construct can be thought of as prototypes.
Brian Winston

Não creio que alguém dirá que Sócrates, Platão e Aristóteles eram viciados na Ágora. As redes informáticas são a Ágora moderna.
Barry Kort

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Logo



O que é isto? Um regresso à infância...? De certa forma... confesso que foi o resultado de uma primeira vez. Este rabisco foi executado no Elica, um programa que permite utilizar, visualizar e escrever programas em linguagem Logo, uma versão do Lisp pensada por alguns pesos pesados das TI (pensem em Papert ou Minsky) para ser utilizada por crianças a partir de 4 anos de idade.

O Logo funciona por comandos simples, que fazem movimentar uma tartaruga (na realidade, um triângulo) pelo ecrã, criando padrões. Mas parece permitir muito mais, conforme se vê com o Elica (recomento uma visita à galeria de programas contidos no Elica ou com o Scratch.

Porreiro, já consigo fazer um rabisco típico de um puto de 4 anos...

...



Aí te deixo meu velho arado que te leve o diabo
assim como tudo o que é meu que fique em casa

Ao diabo amigo ao espírito imundo
(cornos de carneiro rabo de macaco
com seus pés de bode e manto encarnado)
ao senhor do mundo vendi minh'alma
vendi minh'alma ao diabo.

Aqui na minha barriga vazia sente-se a fé
assim como não lhe vi gosto nem cheiro ao dinheiro.

Banda do Casaco, D'Alma Aviada

Leituras



BBC | Jules Verne fueled for launch Um passo de gigante para a ESA: o primeiro ATV, apelidado de Júlio Verne, está já na Guiana, a ser preparado para a descolagem. O impedimento está na missão do vai-vém americano à ISS, com novo adiamento, que mantém no seu porão de carga o módulo europeu Colombo. O ATV, recordo, é um veículo espacial automatizado que permitirá à europa reduzir a sua dependência dos Shuttles americanos e Soyuz russos no cumprir de missões à Estação Espacial Internacional.

BBC | Intel undermined OLPC project Esta semana o projecto OLPC foi marcado pelo abandono da Intel e por acusações por parte da equipe do MIT de má fé por parte da Intel, que se por um lado atribuia financiamentos ao OLPC, por outro concorre agressivamente com o OLPC, oferecendo o seu Classmate a governos que já tinham assinado contrado para aquisição de OLPCs. O que não deixa de ser óbvio: não deve estar nos interesses da Intel, que se construiu como gigante através da célebre parceria com a Microsoft, a difusão de centenas de milhar de computadores baratos, não só graças ao hardware, mas especialmente graças ao software - linux e open source, em vez do software pago que constitui o paradigma no qual a Intel assenta.

E para aumentar o interesse à volta do OLPC, a vice-presidente da fundação também saiu, para fundar um projecto que visa criar um computador que custe, no máximo, 75 dólares.

Los Angeles Times | French royalty that's made in India E dos recantos mais profundos do antigo império britânico surge... um herdeiro do trono francês. Reclamando ser descendente de um Bourbon cujas aventuras mirabolantes o fizeram assentar arraiais na Índia do século XVIII, Balthazar Napoleon de Bourbon orgulha-se da sua tradição familiar e assume-se como um possível herdeiro do trono da flor de lis caso a república francesa se canse, peça perdão pelas cabeças que rolaram e o sangue azul que jorrou, e saia de mansinho...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

...



Delírios espirográficos.

Recortes

As a society we are schizophrenic about machines. On one hand, altough perhaps with an increasingly jaundiced eye, we still believe in the inevitability of progress. On the other hand, we control every advance by conforming it so that it "fits" to pre-existing social patterns. The same authorities and institutions, the same capital, the same research effort which created today's world is also trying to create tomorrow's.
Brian Winston

Para que as companhias de seguros sejam rentáveis do ponto de vista económico, todos - pessoas privadas, empresas - terão de aceitar que a sua conformidade às normas seja vigiada por terceiros; para isso, todos terão de aceitar ser vigiados.
Jacques Attali

"Tis a deception! granted, but such a one as does honour to human nature; a deception more beautiful, more surprising, more astonishing, than any to be met with in the different accounts of mathematical recreations.
Karl Gottlieb von Windisch

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

...



Espirografias digitais.

Leituras



Boing Boing | Tenho de começar com este divertido paradoxo: ateísmo cristão, saído das fotos de viagem de um dos editores do bíblico boing boing. As bizarrias da alma humana não parecem ter fim...

Popular Mechanics | Surveillance society: new high-tech cameras are watching you Um olhar de uma revista normalmente mais inclinada a analisar os brinquedos high-tech sobre as poderosas tecnologias capazes de analisar o oceano de informação recolhido pelas câmeras de video que cada vez mais invadem espaços públicos e privados em nome da segurança e da defesa dos interesses empresariais.

Reuters | Taylor trial hears how child was dismembered Está a decorrer no tribunal internacional em Haia o julgamento de um dos mais tenebrosos carniceiros da guerra civil liberiana, o presidente da temida RUF, Charles Taylor, que financiado pelo dinheiro dos diamantes travou uma guerra atroz pelo controle do território e dos recursos do país. Os relatos da acusação são arrepiantes.

Los Angeles Times | From the depths of Moscow É no metropolitano de Moscovo que melhor se observa as clivagens, as injustiças, a pobreza absurda da nova Rússia, rica em petróleo e oligarcas.

Guardian | Obama in overdrive as Clinton falls behind A corrida eleitoral pré-eleitoral (é complicado) para as eleições para a presidência americana tem potencial para provocar a mais revolucionária eleição presidencial de sempre. Do lado mais tradicionalista, dos Republicanos, a candidatura poderá ir para candidatos patrocinados pelas confissões religiosas, defensores dos valores tradicionais e apoiantes do creacionismo. Do lado democrata, o completo oposto: a potencial eleição de um afro-americano ou de uma mulher para a presidência, algo perfeitamente impensável há poucas décadas atrás. A curiosidade aguça-se: quem será o novo pro-consul do império americano?

Terapia de Choque



Naomi Klein (2007). The Shock Doctrine. New York: Metropolitan Books

Naomi Klein.Org
The Nation | Naomi Klein
The Age of Disaster Capitalism

Autora de No Logo, implacável análise aos meandros da cultura de consumo globalizada apoiada num submundo de salários miseráveis, exploração laboral e desrespeito pelas mais elementares regras de ética comercial e ambiental, Naomi Klein é uma conhecida jornalista canadiana, colunista regular do jornal Guardian, e praticante adepta do jornalismo interventivo de acutilante sentido crítico.

The Shock Doctrine, a sua última obra, é o resultado da investigação desenvolvida sobre a influência das teorias económicas ultra-liberais de Milton Friedman e da Chicago School of Economics nas decisões políticas, estratégicas, sociais e económicas que estão a moldar o mundo contemporâneo. Começando no Chile de Pinochet e terminando no Iraque ocupado pelos americanos, Naomi Klein traça um mapa aterrador de triunfo do capitalismo selvagem em detrimento de todos os direitos civis, despojando os mais necessitados dos mais elementares bens sociais, empobrecendo uma vasta quantidade da população mundial, abrindo as riquezas das nações à cupidez das grandes corporações transnacionais, em nome de uma ilusória noção libertária de progresso que se traduz em lucros fabulosos a curto prazo para uma minoria afluente enquanto as condições de vida se degradam irremediavelmente para a imensa maioria.

Klein analisa a fundo as mais díspares situações, desde experiências psicológicas levadas a cabo nos anos 50 com o objectivo de desprogramar personalidades, passando pelos anos negros da américa do sul, o Chile de Pinochet, a Argentina e o Brasil das juntas de generais, a Inglaterra de Thatcher, o colapso da União Soviética e o desastroso governo de Yeltsin, a derrocada das economias asiáticas na crise financeira do final dos anos 90, a estrutura do crescimento económico chinês, os nepotismos que se seguiram ao arrasar do sudoeste asiático após o tsunami de 2004, o cilindrar do Iraque debaixo da doutrina do shock and awe, o colapso dos serviços de protecção civil americanos no rescaldo do furacão que arrasou Nova Orleães.

De acordo com Klein, a todos estes acontecimentos, aparentemente díspares, está subjacente uma lógica de terapia de choque: o avançar do ideal ultra-liberal do capitalismo mais selvagem, que aposta no desmantelar do sector público e no derrube de barreiras legais ao lucro selvagem, apregoando a trickle-down economics como uma forma mais eficaz de desenvolvimento social do que iniciativas de redistribuição equitativa da riqueza. Esse avançar só é possível, afirma a tese deste livro, com terapias de choque, que eliminam ou aterrorizam a vasta maioria dos cidadãos, deixando-os aturdidos e incapazes de lutar contra a pilhagem dos seus sistemas sociais, das suas economias, das riquezas nacionais. É esta a noção de shock doctrine, apregoada pelos doutrinários do ultra-liberalismo friedmanita: na tabula rasa das ruínas de uma sociedade, constrói-se um novo mundo de vastas injustiças e lucros astronómicos.

As terapias de choque variam. Tanto podem ser a imposição de regimes de terror interno por parte de ditaduras sanguinárias, como as políticas do Banco Mundial, o arrasar de países debaixo de máquinas de guerra que se assumem como todo-poderosas, ou a destruição provocada por catástrofes naturais. Por entre as ruínas, os escrúpulos esfumam-se, e tudo fica a saque. Na américa do sul dominada pelas tenebrosas ditaduras dos anos 70, países inteiros foram mergulhados na pobreza, enquanto grandes corporações enriqueciam com a ajuda das baionetas dos militares; na rússia dos anos 90, a transição para a democracia foi deliberadamente manipulada pelos oligarcas, que enriqueceram desmesuradamente enquanto um dos países mais desenvolvidos do planeta regredia a níveis do terceiro mundo. No rescaldo do tsunami que varreu o sudoeste asiático, populações inteiras de aldeias do litoral foram proibidas de regressarem às ruínas das suas casas, para que os terrenos fossem entregues a promotores imobiliários que se apressaram a construir hoteis de luxo. No Iraque a ferro e fogo, arrasado pelas bombas, dividido por uma guerra civil sectária, a administração proconsular enterrou milhares de milhões de dólares em projectos de reconstrução que nunca foram levados a cabo, tendo o dinheiro esfumado-se numa vasta teia de corrupção institucional. Na Nova Orleães encharcada pelo furacão, a ruína e o falhanço da protecção aos mais desfavorecidos criaram a oportunidade de limpar a cidade da sua população menos afluente, reconstruindo-se não a cidade que antes existia mas sim um paraíso turístico limpo de massas indesejáveis.

The Shock Doctrine é um livro arrepiante, alicerçado em dados concretos, que traça um retrato assustador de uma tendência ideológica que parece estar a dominar as consciências.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

...



Opticon Pan

A Revolução da Riqueza



Alvin e Heidi Toffler (2006), A Revolução da Riqueza. Lisboa: Actual Editora

Alvin + Heidi Toffler {futurists}

As credenciais futurologistas do casal Toffler foram estabelecidas pelo clássico Choque do Futuro, obra que com uma precisão quase assustadora descreve as grandes forças económicas e sociais que modelam o mundo contemporâneo. Décadas após a publicação da sua obra seminal, o casal Toffler analisa o impacto das novas tecnologias na economia mundial, na riqueza mundial, na riqueza pessoal e na riqueza das nações.

As linhas traçadas pelos Toffler são surpreendentes: a evolução tecnológica está a permitir a criação de uma nova economia, uma terceira vaga alicerçada não na produção de bens tangíveis mas sim na manipulação de informação, uma economia global em funcionamento contínuo onde a única constante é o progressivo acelarar das transformações.

Tal como a revolução agrária e a revolução industrial criaram impactos que transformaram radicalmente as sociedades da época - do nomadismo ao sedentarismo, da tradição terratenente ao poder da indústria, a revolução contemporânea - tecnológica, digital, de informação, o que lhe quiserem chamar - está a modificar irremediavelmente a sociedade global. Algumas alterações são óbvias e pacíficas, outras representam embates violentos entre tradição e a contemporaniedade. À volta do planeta, novas maneiras de viver e de pensar substituem-se ao peso das tradições. Algumas sociedades adaptam-se melhor aos desafios do mundo moderno, outras nem tanto, e algumas recusam-no, temendo a sua aniquilação. Mas o facto é que a mudança, de que o mundo é composto, como escreveu o poeta, veio para ficar. Assistimos, vivemos e actuamos a construção de uma nova sociedade, global, acelarada, multicultural e apoiada na tecnologia digital.

A Revolução da Riqueza não é uma obra futurológica. As tendência que os Toffler analisam, os casos que relatam, as iniciativas que sublinham, as decisões que estudam, não são hipóteses reflexivas, são realidades contemporâneas. Mais do que uma obra conclusiva, A Revolução da Riqueza é uma obra que nos dá pistas sobre a evolução das transformações que estão a modificar radicalmente a forma como concebemos a economia e a sociedade.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A Casa dos 1000 Cadáveres



IMDB | House of 1000 Corpses
Rotten Tomatoes | House of 1000 Corpses
YouTube | House of 1000 Corpses

A subtileza é a marca dos mais bem sucedidos filmes de terror. A sugestão é vastamente mais eficiente do que a revelação; aterroriza mais o imaginar do assustador do que o olhar o assustador. Desvendado o véu, perde-se o horror. Fica apenas a banalidade do choque, a escatologia da estética do horror.

Não se pode acusar A Casa dos 1000 Cadáveres de ser um filme de terror subtil, carregado de inquietantes nuances. Pelo contrário, este é um filme que assume totalmente a escatologia e o olhar mórbido sobre o fascínio da violência absoluta. As suas visões de pesadelo são visões viscerais, violentas, misóginas. A Casa dos 1000 Cadáveres é um filme que assume o gozo da banalidade, que passeia um olhar luxuriante pela escatologia sanguinária.

Não é um filme pretensioso, é essa a sua qualidade. Não é um ensaio pedante sobre a violência. É antes um filme grand-guignol de puro exagero, que assume plenamente a sua estética pop de violência sexualizante.

A Casa dos 1000 Cadáveres rebusca o velho mito do serial killer, aqui corporizada numa dimensão familiar insana, com o obrigatório grupo de jovens a cair nas garras de uma bizarra família de assassinos loucos. A história é previsível, uma sequência imparável de cenas que se pretendem revoltantes, mas que acabam por ser banais na sua bizarria e no olhar nitidamente depravado que, apaixonado pela luxúria do que vê, perde a capacidade de perturbar o espectador. A diferença entre um filme deste género e o melhor cinema de terror é como a diferença entre o erotismo e a pornografia; enquanto o erotismo excita pela sugestão da revelação, a pornografia banaliza a carne, retirando a luxúria, deixando apenas um mecanicismo animalesco.

A Casa dos 1000 Cadáveres não é tanto um filme de terror, é mais um longo videoclip gore. Posto isto, é um filme divertido quanto baste. Não é para espíritos sensíveis nem para estômagos fracos. Pretende ser, e de facto tornou-se, filme de culto, apregoando a sua estética da violência imaginária. A realização de Rob Zombie transforma o filme num longo videoclip de ritmo entrecortado, a tónica dos actores recai no mais puro exagero, com especial destaque para Sheri Moon Zombie, péssima actriz cuja presença no ecrã depende mais da sua linguagem corporal sexualizada do que da qualidade da sua actuação.

A Casa dos 1000 Cadáveres é um mau filme, mas é um daqueles maus filmes que todos gostamos de ver. Um prazer... culpado.

...

Bonifácios

Nascemos nas mãos da parteira pública
crescemos aos pés da estátua do rei
mamámos sempre na teta do exemplo
adoradores do credo tirámos as nódoas na água do templo
navegámos num ventoso mar de cágados
respirámos o enxofre da brisa
profissionais do bico calado
solidários no medo grandes viajantes em fraldas de camisa
caímos na graça dos santos populares
tomámos de graça o cacau alheio
tivémos de afagar a tromba ao elefante
e lá no alto mar andámos a nada na popa do infante.

Comemos à sombra do sinal da cruz
chupámos o rabo ao carapau de gato
batemos palmas fizeram de nós saltimbancos
e colados aos bancos assinámos c'o dedo e tirámos o retrato.

Compomos os vincos do fato mal vincado
arrancamos da cabeça barretes de campino
não se acabam os domingos ao sol da bola
cantadores do fado acompanhámos o destino
à guitarra e à viola.

Banda do Casaco, Dos Benefícios Dum Vendido No Reino Dos Bonifácios.

domingo, 6 de janeiro de 2008

O Libertino

O Libertino Passeia Por Braga, A Idolátrica, O Seu Esplendor

Faleceu hoje Luiz Pacheco, um dos nossos raros escritores malditos, escritor quase esquecido pelo grande público, possivelmente o escritor português com a pior fama. Pacheco era acutilante, interventivo, polémico, escatológico, incómdo. Diria que foi um Henry Miller português.

Descubro que o êxito e o fracasso são uma e a mesma cadeia e em tudo. O êxito para cima, o fracasso para baixo, e quando digo baixo digo baixo: sujidões, dívidas, vergonhas, podridão, loucura. Mas o que toma tudo igual é que ambas as cadeias se encontram, nada a fazer, meus caros, daqui a cem anos ninguém se lembra.

Talvez agora, fiel à fama dos mortos portugueses, Pacheco volte aos escaparates das livrarias, para chocar os espíritos mais conservadores. Até lá, deixo-vos com um dos poucos textos deste autor único, O Libertino Passeia Por Braga, A Idolátrica, O Seu Esplendor, que, aviso já, é leitura para estômagos fortes.

...



Há que ter do bom dinheiro
nunca lhe vi gosto ou cheiro
há que ter do bom dinheiro.

Banda do Casaco, A Cavalo Dado...

Smoke/No Smoke

O que realmente me assusta na nova lesgislação anti-tabágica não é a lei em si. Esta é previsível, sabendo-se como se sabe que o vício de fumar já não é considerado inócuo e é cada vez mais concebido como um problema de saúde pública que requer intervenção das autoridades de saúde. Por isto a lei não surpreende, nem é certamente tão draconiana como poderia ser.

O que é assustador é observar as reacções das pessoas à lei. A vox populi, se assim lhe quiserem chamar. Os fumadores mais inveterados são os que, paradoxalmente, têm a reacção mais saudável - a de desafio. Dispostos a cumprir a lei, mostram-se no entanto desafiantes perante a defesa das suas liberdades individuais, respeitando as dos outros. O acto de fumar é uma escolha, e estes assumem-na, conscientes do risco de saúde, que é equivalente ao de um suicídio prolongado.

Por outro lado, a larga maioria aplaude a nova lesgislação, não por razões de saúde, mas por razões sociais e comportamentais. Os que fumam, aceitam a lei, e ainda afirmam que esta os irá ajudar a deixar de fumar. Os que não fumam, aplaudem, apreciando o facto da lei lhes garantir que podem respirar sem fumo em todos os espaços públicos fechados. E é isto que me assusta tremendamente.

Subjacente a estas declarações está uma perigosa ideia de desresponsabilização pessoal e social que só é considerada revertível através da intervenção autoritária. "Eu sou fumador, mas não consigo encontrar forças para deixar de fumar, ainda bem que a lei me vai obrigar a deixar de fumar", ou "o fumo incomoda-me, as atitudes dos fumadores que irresponsavelmente fumam em espaços públicos ao pé de crianças estão erradas, mas eu não me levanto e reclamo, por isso ainda bem que a lei agora proíbe e posso chamar o senhor polícia". É assustador observar esta desresponsabilização pela luta pelas liberdades individuais (que incluem o respeito pelas dos outros), esta tácita atitude canina de que só a autoridade pode ditar o saudável convívio humano.

Noutras épocas chamariam a isto fascismo. Hoje, aplaude-se.

Perante os desafios do multifacetado mundo contemporâneo, a reacção de defesa mais óbvia é a descida ao autoritarismo. A juntar aos talibãs das religiões poderíamos juntar esta nova aquisição, os talibãs do legalismo, que fazem valer a ideia de liberdade individual através do ilegalizar dos comportamentos que não se adequam à sua noção de indivíduo. As novas ditaduras não vão ser simbolizadas pelo queimar de livros e pelas marchas em passo de ganso; vão antes assentar na legitimação democrática do autoritarismo legalista, na ideia que os comportamentos não sancionados pela maioria deverão ser legalmente eliminados, numa ideia de liberdade individual de privacidade altamente restringida pelo panopticon das câmaras que se colocam em espaços públicos - que será uma das próximas iniciativas governamentais...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

...



O raio que as parta mai'las vossas aldrabices
que eu parto e bem farto de presságios e crendices.

Vade rectro Satanás
t'arrenego Belezebú
ai Jesus cruzes canhoto
lagarto
lagarto
lagarto


Banda do Casaco, A Ladaínha das Comadres

A Vida no Ecrã


Sherry Turkle (1997), A Vida no Ecrã. Lisboa: Relógio D'Àgua

Sherry Turkle
WIRED | Who Am We

Esta obra seminal sobre a essência da vida digital é mais conhecida pelo seu profundo estudo das transformações que a noção de identidade e de sentido de ser está a sofre graças à emergência dos mundos virtuais, que permitem aos seus utilizadores mudarem de pele com alguns toques no teclado. O anonimato possibilitado pela comunicação à distância mediada pelos ecrãs convida a experimentar, convida os utilizadores a explorarem facetas da sua personalidade que não explorariam no mar de relações humanas da vida real.

São transformações a que normalmente não prestamos atenção. Sabemos, e não atribuímos importância, que nos chats e na vida online as pessoas não agem da mesma forma que agiriam na vida real. Os tímidos proferem, através do teclado, palavras cheias de coragem. A mulher com que estamos a falar (falar, utilizando o teclado e não a voz) pode ser, do lado de lá do ecrã, um homem, ou uma mulher que na vida online se transmuta num homem que se transmuta numa mulher (um exemplo desses é referido por Turkle). O mundo virtual é, antes de mais, um mundo que dá corpo, que exterioriza a imaginação humana. As variações de comportamento, o experimentar de diferentes personalidades, anulando tabus e preconceitos, são um exemplo da importância da virtualidade para a alma humana. A questão que Turkle coloca está no saber se estes actos são superfíciais, brincadeiras sem consequências, ou se se traduzem em novas formas de construir o indivíduo.

Sendo fortemente influenciada pelos pós-modernistas, Turkle constroi uma elaborada e bem comprovada teoria de transição de uma noção de eu unitário, individido, para uma noção de eu multiforme e multifacetada. A internet surge como o grande catalizador que permite a emergência da individualidade descentrada.

Na vida no ecrã, todos temos personalidades múltiplas. Longe de ser uma doença mental, essa multiplicidade revela uma nova visão multidimensional da realidade, propiciada pelas ferramentas tecnológicas.

Se A Vida no Ecrã se deixasse ficar por estes campos de estudo psicológico, já seria uma obra fascinante. Mas este estudo vai muito para além da ideia de indivíduo, embora esta o norteie. A Vida no Ecrã traça igualmente uma ambiciosa história das formas de pensar, de conceptualizar o computador, desde o impacto que a descoberta desta máquina tem na forma de pensar dos seus utilizadores, o surgir da cultura de simulação, o fascínio das crianças pelas máquinas, até aos paradigmas de utilização e aos sempre fascinantes campos de estudo no domínio da Inteligência Artificial.

Professora no MIT, Sherry Turkle está no melhor local para analisar a emergência da vida virtual. A influência de personagens como Marvin Minsky e Seymour Papert nesta obra é notória- são, no fim de contas, colegas de trabalho, garantindo o acesso imediato de Turkle a novas ideias e tecnologias.

Turkle conclui com fascinantes observações sobre a emergência de novas consciências de Ser, de novas formas de pensar a personalidade, que fazem evoluir a tradicional consciência unitária até agora dominante para uma indivualidade múltipla, assente em extensões tecnológicas do ser.

Escrito em 1995, A Vida no Ecrã consegue algo raro para uma obra que se debruça sobre a tecnologia digital, cujo rápido avanço deixa muitas obras que a estudam desactualizadas pouco tempo depois de serem publicadas. A Vida no Ecrã escapa a este axioma. Se bem que as tecnologias descritas já são, nalguns casos, arcaicas o sentido das transformações não se modificou, e as consciências potenciadas pela tecnologia que Turkle descreve são tão actuais nos metaversos como nos velhos MUDs... ou o conferir de espírito animado pelas crianças a artefactos tecnológicos, que os entendem como quase criaturas, esbatendo a fornteira entre o vivo e o não vivo, é talvez ainda mais autêntico hoje, na era dos brinquedos robóticos que simulam vida, do que na época em que os mais avançados simuladores de vida se resumiam ao jogo da vida de Conway.

A Vida no Ecrã é uma obra capaz de mudar a nossa maneira de pensar a tecnologia e a identidade.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Henriquecer...

Emagrecer depois de amigo ser é dizer não
Henriquecer ou não Henrique ser é a questão
Enriquecer depois de Henrique ser é o perdão?

Banda do Casaco, Dos Benefícios de Um Vendido No Reino dos Bonifácios

...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

...



Dia de atacar livros.

Recortes

"A simulação é infinitamente mais perigosa, pois deixa sempre supor, para além do seu objecto, que a própria ordem e a própria lei poderiam não ser mais que simulação."
Jean Baudrillard

"I'm afraid we are not rid of God because we still have faith in grammar."
Nietzsche

I couldn't sleep last night, you know the blues walking ‘round my bed, Oh Lord, the blues walking 'round my bed I went to eat my breakfast, the blues was in my bread.
Leadbelly

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

...



Fiel à tradição dos reveillons, na manhã seguinte é a isto que se assemelha o meu cérebro...

Day of the Dead



IMDB | Day of the Dead

Day of the Dead encerra a trilogia zombie de George Romero, iniciada com o lendário Night of the Living Dead e continuada com o irónico Dawn of the Dead. Dos três filmes, este é o mais violento, e o mais desesperadamente catastrófico, mais até do que o regresso políticamente carregado de Romero à sua mitologia zombie com Land of the Dead.

Day of the Dead explora a desagregação de um grupo de sobreviventes do apocalipse zombie, um grupo de soldados e cientistas isolados numa mina, rodeados por hordes de mortos-vivos. A missãoo inicial era a de procurar uma cura para o apocalipse, mas o isolamento e o horror que os rodeia leva-os à degradação de todas as relações e ao decair no caos.

Como todos os filmes de Romero, Day of the Dead funciona a dois níveis. Por um lado temos o filme de terror puro, com os ingredientes clássicos do melhor do género zombie, com uma generosa dose de efeitos gore. Dos filmes zombie de Romero, este é o mais sangrento, em alguns momentos verdadeiramente revoltante, o que atesta as capacidades de Tom Savini, mestre dos efeitos especiais.

O segundo nível reflecte a descrença de Romero na alma humana. Não há personagens perfeitos, sem defeitos. Os detentores do poder, militares de dedo fácil no gatilho, são brutos ignorantes susceptíveis a abusos de poder e que depressa se desagregam quando as coisas dão para o torto. Os cientistas perseguem cegamente a ciência pura, enquanto o mundo à sua volta mergulha no apocalipse. Exemplo máximo é Logan, mais velho dos cientistas, mistura de Dr. Frankenstein com Edward Teller e B. F. Skinner, capaz de levar a cabo as mais horríficas experiências enquanto tenta domesticar um zombie.

A desagregação é inevitável. Os zombies não são a maior ameaça. A escuridão da alma humana, a cobardia, a inveja, a brutalidade e a pura estupidez são vastamente mais mortíferas do que hordes de mortos-vivos sedentos de carne fremente.

Recortes

Johnnie Walker pointed his finger at Nakata's chest. "Bang!" he said. "Human history in a nutshell."
Haruki Murakami, Kafka on the Shore

O conteúdo da Internet, em constante expansão, resulta em parte de um dos maiores projectos de voluntariado da história humana.
Alvin Toffler, A Revolução da Riqueza

Existimos num estado de contínua construção e reconstrução; é um mundo onde tudo pode ser negociado. Cada realidade do eu abre caminho a interrogações reflexivas, à ironia, e, em última análise, à exploração lúdica de mais uma realidade. O centro não consegue manter-se coeso.
Gergen