sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Flanker (II)


Recordam-se daquele meu aluno do Flanker? Pois é, veio ter comigo à hora do almoço para me mostrar esta e outras criações suas em 3D. Bem como uns mapas elaborados no Minecraft. Gostei do seu rosto de contentamento quando lhe desvendei o que é que se anda a fazer com os mundos que ele criou.

Listen to the Echoes


Sam Weller (2010). Listen To The Echoes: The Ray Bradbury Interviews. Chicago: Stopsmiling Books.

Bradbury soube manter viva dentro de si a chama da ingenuidade, deleito e encanto infantil e transmutou-a numa obra vasta e influente que encanta gerações. Nesta série de entrevistas Sam Weller ajuda-nos a conhecer um pouco mais do homem por detrás da letras, recolhendo histórias da sua vida e opiniões que vão da politica às literaturas de género, ficção científica e futurismo. Sem ser um livro fundamental, deixa-nos a saber um pouco mais sobre o homem que criou ficções influentes e escrevia porque, nas suas palavras, "I thought, “How stupid,” not to leave the future up and build toward it".

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Leituras


A Interzone já chegou. Encontrei-a na loja Tema da Avenida da Liberdade e já percebi que é onde a posso encontrar. A do Colombo é para esquecer. À partida o alinhamento não desperta a atenção.... é difícil ultrapassar a edição anterior que contava com a colaboração de Lavie Tidhar. Mas isso é bom. Aumenta as probabilidades de uma boa surpresa.


O ecossistema dos fanzines e e-zines portugueses está a mostrar sinais de actividade intensa. Para além da Trëma e da Lusitânia, este mês está a ver a saída da nova edição da Dagon e a primeira edição da ISF, uma e-zine com curadoria portuguesa que procura dar voz a autores de todo o mundo. A estes ainda se junta o Infinitamente Improvável. São sinais óptimos de vitalidade, com a vantagem adicional de representarem esforços colaborativos de grupos de fãs do género que perante a nirmal aridez do panorama literário português não se ficam de braços cruzados e lançam estas iniciativas.


Agora, um resmungo... qual é a fixação pelo PDF? Dá para manter os layouts bonitinhos, mas é ilegível num e-reader, a conversão ao Calibre dá sempre bronca e é cansativo ler longos textos nos ecrãs coloridos do tablet ou computador. O epub poderia ser uma boa aposta.

(e aquele sentimento creepy de que a capa da ISF me faz lembrar qualquer coisa... ah, um engineer do inenarrável Prometheus...)

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Hubble


Diga-se em abono da verdade que os alunos não foram previamente avisados. Não fiz uma prelecção antecedente, e eles estavam felizes a criar paisagens virtuais no Bryce. Estava a testar (leia-se ripar) este DVD sobre o telescópio Hubble enquanto uma turma de nono ano se iniciava às intricacias do 3D. A música despertou a atenção dos alunos. O que é que o stor está a ouvir? Não estava, disse, e mostrei o vídeo e a capa do DVD. Hubble, stor? Que banda é essa? Não conhecemos.

Pois.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Flanker

Sai um professor incauto do portão da escola e é logo abordado por um aluno.
- Professor, sexta vai estar na escola?
- Claro, meu caro. Tenho aulas.
- É que lhe queria mostrar aqueles mundos que ando a fazer no Minecraft.

E lá lhe expliquei o que é que eu ando a fazer com os mundos que eles criam no Minecraft, e como iram poder aproveitar as suas mirabolantes criações para o trabalho final de TIC - um projecto multimédia que eu ando a encaminhar para a área dos mundos virtuais 3D em VRML/X3D. E que a ideia até tinha inspirado pessoas numa universidade.

- Professor, também já instalei o Doga e o BS Contact. Já estive a fazer uns modelos. Modelei um Blackbird... e olha com ar desconfiado para mim, que passei boa parte da adolescência de nariz enfiado em revistas e livros de aeronáutica, embevecido com a elegância das formas aerodinâmicas avançadas dos aviões de combate - Sabe o que é?
- Claro! Um SR-71, supersónico, infelizmente já não voa... e parei a tempo de assustar o miúdo com intricacias sobre o titânio da construção e outras histórias... - Tens de me mostrar.
- E agora vou fazer um bombardeiro invisível, sabe...?
- Sim, um B2. Mas no Doga se calhar não tens as peças...
- Tenho, se pegar em duas asas e... segue-se uma daquelas conversas sobre criação em 3D que só interessa realmente aos que mexem em 3D.

- E já pensaste modelar um Flanker? Não resisto a terminar a conversa com um desafio.
- Um Flanker? Não conheço.
- É um Sukhoi Su-27. Acho que vais adorar.
- Mas qual é esse?
- Sabes os Mig?
- Claro.
- Os Sukhoi também são aviões russos.
- Ok, professor, quando chegar a casa vou pesquisar! E na sexta trago-lhe os mundos...

Os meus alunos enchem-me de orgulho.

Minecraft e VRML


Um número considerável dos meus alunos é viciado no Minecraft, jogo onde se deliciam a criar construções complexas e bizantinas. Do meu lado, ensino-os a trabalhar com aplicações 3D genéricas e em VRML/X3D. Perante o entusiasmo deles com o Minecraft, perguntei-me se havia forma de combinar estes dois mundos. E há. Os wikis sobre o jogo indicaram alguns conversores que convertem mapas em objectos 3D. O mais promissor parece-me ser o Mineways, criado para converter elementos do Minecraft em modelos 3D para impressão em impressoras 3D.


O programa carrega mapas e converte em formatos como o STL, OBJ e VRML, o que para mim é uma excelente notícia. Pedi a alguns alunos jogos salvos e em poucos minutos estava a visualizar elementos do Minecraft em VRML que importados para o Vivaty Studio possibilitam criar mundos virtuais com pouco esforço. Com o Mineways, posso adicionar o Minecraft à lista de aplicações de criação 3D que possibilitam criar conteúdo web3D.

Inhaled, not impaled

"You must never ask questions of yourself when writing a story. Never think about stories. Do them. All of these stories came to me, boom, like that!" (p. 150)

"Let’s burn books. Why? And then Captain Beatty tells you. They are dangerous. They get you to thinking and that makes you unhappy. There’s no room for diversity because as soon as you become diverse, you begin to argue with people. And then you go to bed very unhappy. " (p. 160)

"Exploring space is our effort to become immortal. If we stay here on Earth, human beings are doomed, because someday the sun will either explode or go out. By going out into space, first back to the moon, then to Mars, and then beyond, man will live forever." (p. 183)

"WELLER: What about more explicit pornography?
BRADBURY: It shows too much. Women are meant to be inhaled, not impaled." (p. 256)

"Work is the only answer. I have three rules to live by: Get your work done. If that doesn’t work, shut up and drink your gin, and when all else fails, run like hell." (p. 328)


"WELLER: What is the future of humanity on planet Earth?
BRADBURY: We’re going to make it. We’ve already made it this far. We’ve conquered diseases. My sister died of the flu when I was seven. My brother’s twin died in the flu epidemic in 1918. My uncle died in the same outbreak. In those days, there were no medicines. We forget, because today’s generation has grown up with penicillin and sulfonamide. People have stopped dying, but before that we died from the simplest things. So we conquer things. We survive. We always have. We will live on." (p. 346)

Sam Weller (2010). Listen To The Echoes: The Ray Bradbury Interviews. Chicago: Stopsmiling Books.

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terça-feira, 27 de novembro de 2012

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Construção virtual


Com paciência e gosto, uma aluna cria uma casa no Sketchup. O nível de detalhe é cada vez mais complexo. Pode parecer incrível, mas esta fotografia foi tirada na segunda aula dedicada a esta aplicação. Estes alunos enchem-me de orgulho.


Um número significativo dos meus alunos delicia-se a fazer construções de complexidade bizantina no Minecraft. Será que isto se pode aproveitar para outro tipo de ambientes virtuais? Pode, graças ao Mineways. Delicioso ver o entusiasmo de alunos que perceberam que o projecto final de TIC podia ser realizado no seu jogo favorito.

Mind maps


A fotografia foi tirada à socapa porque não quis ferir susceptibilidades. Durante a sessão de domingo do Fórum Fantástico fiquei por acaso sentado atrás do escritor convidado deste ano, Dan Wells. Passou boa parte das sessões a trabalhar no seu iPad, pelo que percebi de relance num projecto literário. O que achei muito interessante foi a forma como Wells escrevia: utilizava um enorme mapa conceptual ao qual ia adicionando etiquetas de texto. É o equivalente digital de um quadro coberto de post-its ou notas espalhadas. A fluidez do seu processo de trabalho implica um à vontade com o uso deste género de aplicações que certamente vem de um uso intensivo. Este foi um curioso perscrutar do processo de pensamento e concepção de um autor de thrillers contemporâneo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

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Impressões

Terminou o Fórum Fantástico com um final em grande e a promessa de nova edição no próximo ano. Antes de sair das fantasias e ficções para regressar ao mundo real, algumas impressões:

A banca da Dr. Kartoon, cheia de maravilhas da banda desenhada. Livros de Steve Ditko, Alex Raymond, I.N.J. Culbard entre outras delícias da banda desenhada.

António de Macedo ao falar de ficção científica confessar-se desiludido com Júlio Verne e deslumbrado com H. G. Wells. Confesso que também não acho Verne assim tão importante e quanto a Wells, esse sim, compreendia as transformações que a cultura científica e tecnológica provocaram na sociedade.

Filipe Homem Fonseca a falar en passant do Daredevil escrito por Frank Miller como um dos melhores momentos de sempre nos comics, e a recordar as revistas da Abril, responsáveis pelo despertar da paixão dos comics em muitos de nós. Foi assim que adquiri o vício dos quadradinhos.

O vir à mente a imagem dos quadros pintados em Giverny por Monet ao rever o fortemente impressionista início da curta metragem Conto do Vento da Koto Studios.

Descobrir que foi feita uma análise fotograma a fotograma que provou que os acontecimentos da curta A Curva são reais, algo que surpreendeu imensamente o seu realizador, David Rebordão.

Perder a conta ao número de vezes que João Barreiros usou a palavra seca para qualificar o 2312 de Kim Stanley Robinson. Foram muitas. Foram mesmo muitas.

João Campos a apostar nos clássicos da FC. Deslumbrados pela incessante barragem de novidades literárias, é sempre bom recordar as obras basilares que definem o género.

João Barreiros a mostrar o golfinho incrustado na primeira página de uma das suas sugestões de leitura, um livro sobre golfinhos electrónicos que se infiltram no cérebro dos utilizadores e tratam ideias e memórias como software. Barreiros vira-se para mim e mostra-me o bonitinho golfinho azul colado no interior do livro. Porta 8080, comento. Ninguém percebeu. Nem reparou, certamente.

Folhear as páginas amarelecidas de uma edição original de La Guerre Infernale de Albert Robida que João Barreiros levou ao palco na apresentação de Lisboa no Ano 2000. Há um encanto especial no acto de segurar e folhear livros centenários que só os bibliófilos compreendem.

No meio de uma apresentação descontraída e divertida da sua obra ouvir Dan Wells dizer you don't actually perceive reality, you perceive what your brain tells you it's reality.

Luís Filipe Silva a mostrar-nos vestígios arqueológicos da ficção científica portuguesa. Ponto comum: eram obras fortemente misóginas, reaccionárias, eugenistas e preocupadas com visões de utopias totalitárias férreas onde as decisões de respeitáveis sábios asseguravam o bem-estar das pessoas de bem.

Pérolas literárias da proto-FC portuguesa, cortesia do trabalho de Luís Filipe Silva: "Lisboa ardia, abraçada ao sopro febril e violento das cupidas paixões operárias, do desbordar dos instintos livremente expandidos. Os impulsos animais, longamente contidos no íntimo das mais baixas camadas, vinham à superfície, e feitos vagas, atiravam-se com fúria doida, destruindo e arruinando." Ou torpor letárgico a descrever o primeiro uso do conceito de criogenia na ficção portuguesa. Ou melhor, uma descrição de Plutão estranhamente similar ao planeta Terra numa mal velada metáfora aos momentos incertos da II Guerra. Com uma diferença crucial: a geografia natural era geométrica, como se traçada a régua e esquadro.

Nuno Amado a apresentar o interessante projecto Zakarella observado que a personagem estava ao seu gosto... enquanto no ecrã se via a dita, com curvinhas perfeitas e seios avantajados. A banda desenhada e as mulheres ideais dos sonhos adolescentes... mas diga-se que fiquei convencido. E curioso.

A descoberta de Capitão Falcão, que não tinha visto no MoteLX. É... genial. No panorama audiovisual português dificilmente passará de vaporware, mas pelo menos fica para a história o brilhante episódio piloto, com um humor que revisita a história contemporânea, os lugares comuns da propaganda fascista e ideários absurdos canalizados numa perfeita homenagem aos filmes de kung fu dos anos 70 e o lendário Batman de Adam West. Gostei particularmente do pormenor de sempre que Salazar falava ouvir-se Wagner como banda sonora. Gotterdammerung, se não estou em erro.

domingo, 25 de novembro de 2012

Leituras


O estrago do fim de semana dedicado ao Fórum Fantástico. Não, a Wired não está a mais, há sempre um método na minha loucura. E agora, tempo para ler isto tudo? O dia só tem vinte e quatro horas. Mas podia ser pior. Noutros tempos mais folgados financeiramente teria dado um mergulho sério na banca da Dr. Kartoon.

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A poesia visual não intencional de pixels mortos no ecrã.

Leituras sugeridas, Fórum Fantástico 2012


Alone Together: há vinte anos, deslumbrada com as promessas de desenvolvimento pessoal trazidas pela tecnologia digital em rede,  Turkle escreveu Life On The Screen e The Second Self, obras seminais sobre o humanismo da cultura digital. Hoje, o olhar é mais sóbrio e de cautela. Divide-se em duas vertentes, o desânimo perante a adopção e simplificação das personas em redes sociais que acaba por condicionar as relações sociais, e o temor de desumanização ao observar a forma calorosa como reagimos a robots, máquinas que meramente simulam vida mas que despertam em crianças e idosos sentimentos de carinho e deleite. Um aviso para enquanto abraçamos a pós-humanidade, não nos esquecermos de ser humanos.


Channel Sk1n: um livro de Jeff Noon que pode melhor descrito como cocaína digital. Mistura da influência das teorias de McLuhan com cyberpunk puro num estilo de linguagem reminiscente do experimentalismo de William S. Burroughs. Uma jovem cantora pop em ascendência é contaminada por um vírus que lhe transforma a pele num ecrã, retransmitindo um ecossistema multicanais até ao previsível final triste de morte e esquecimento. O desespero da aspiração à fama pop provoca o devorar físico pela iconografia da cultura superficial como metáfora das eternas aspirações à presença debaixo das luzes da ribalta. Para alimentar o gosto pela ficção experimentalista de Noon o recomenda-se o twitter Echovirus12, sempre com cento e quarenta caracteres de brilhantismo literário.




Emperor Mollusk Versus The Sinister Brain: um polvo gigante, génio científico-tecnológico, governa a Terra como ditador benevolente mas tem de enfrentar as mais díspares ameaças lideradas pelo seu arqui-inimigo, um cérebro dentro da obrigatória redoma de vidro. Civilizações perdidas, dinossauros armados com lasers, ovnis robóticos e raios da morte são alguns dos ingredientes desta homenagem divertida aos lugares comuns da FC de série B escrita numa linguagem cristalina que leva o leitor a visualizar mentalmente as pavorosas aventuras das criaturas alienígenas com os seus artefactos cromados.


La Belle Mort: um grupo de sobreviventes explora uma cidade devastada por uma praga de insectos alienígenas que depois de devorar os humanos se reproduzem em massa para posteriormente invadirem outro planeta. O ponto forte deste álbum é ser um hino à poesia de cimento armado do espaço urbano, à verticalidade massiva do betão desolado, ao entrechocar de planos verticais e horizontais dos prédios desertos. Com insectos gigantes gelatinosos à mistura.



The Massive: num futuro próximo, a subida do nível dos oceanos afundou as principais cidades mundiais e provocou um colapso sistémico ambiental, financeiro e social. A tripulação do navio Das Kapital, eco-activistas liderados por ex-mercenários desiludidos com a amoralidade da guerra a pronto pagamento, busca o seu navio irmão The Massive perdido algures nos vastos oceanos. Pirataria de alto mar, negociatas com senhores da guerra somalis ou explorações de bases auto-suficientes na antártida são algumas das peripécias de uma história que nos transporta por um futuro plausível onde o aquecimento global trouxe novas propriedades à beira mar.



The Manhattan Projects: é difícil descrever ou definir este comic. Digamos que o nível de estranheza é elevadíssimo. Reinventa o projecto atómico original como uma cobertura para investigações científico-esotéricas e leva os principais personagens ao absurdo, com Oppenheimer dividido por personalidades múltiplas ou Von Braun como cyborg. E comandos suicidas de assassinos budistas nipónicos que atravessam portais para assassinar os pesquisadores americanos.



Reamde: tenho uma relação de paixão/desilusão com a prosa de Stephenson. Sou fã assumido desde que li o seminal Snow Crash mas desde o Cryptonomicon que a coisa tem andado a descarrilar. Stephenson está cheio de ideias interessantes, tem o dedo no pulso da sociedade contemporânea no que toca aos impactos tecnológicos e cria conceitos divertidos para nos mostrar as complexidades da modernidade. Infelizmente, cede à tentação de escrever em excesso e um livro que mais curto seria genial arrasta-se penosamente em centenas de páginas infindas, com uma prosa hiper-real que desvenda até à exaustão os mais ínfimos detalhes das situações. O que desperta o interesse e estimula perde-se num tijolo perigoso para a ecologia. É curioso notar que há uma tendência para colocar no mercado livros cada vez mais volumosos e subdivididos em tri-tetra-pentalogias, o que sobe a contagem de páginas até aos milhares. Porque é que isto acontecerá? Um espírito economicista de more bang for your buck, de pagar a obra e ser recompensado com um empanturrar digno de um banquete com o Sr. Creosote? Há poucos dias Warren Ellis resmungava no seu twitter que uma crítica feita ao seu novo livro, Gun Machine, o zurzia porque com 340 páginas era um livro muito pequeno. Bizarra, esta ideia contemporânea de que um livro para ser bom tem de ser gargantuesco, provocar lesões nas articulações e colocar em perigo florestas abatidas para imprimir extensas prosa, de tal forma insufladas que o seu interesse se desvanece na obesidade literária.



Estas foram as sugestões de leitura que levei à edição de 2012 do Fórum Fantástico. Tinha mais, mas o tempo não era muito. Felizmente na blogoesfera o tempo é relativo e depende do observador, por isso cá ficam aquelas sugestões que gostaria de ter dado mas não dei:


Hav, de Jan Morris: uma viagem imaginária pela história e cultura de um local inexistente, inspirado nos acidentes da geografia e história colonial. Local exótico, colisão entre o oriente imaginado e o ocidente conceptualizado.
Atomic Robo, de Brian Clevinger e Scott Wegener: bem humorado e indestrutível, este robot criado pelo decano Nikola Tesla homenageia o lado divertido da FC com aventuras inspiradas na iconografia dos clássicos de série B sem se dispersar com sentimentalismos complexos ou pseudo-ciência levada a sério. Na sua melhor aventura, tem de viajar ao longo do tempo para combater um horror lovecraftiano, mas... a viagem é feita da maneira dura. Um dia de cada vez.

E de fora continuam leituras como o divertido prazer puro de Jeff Lemire a escrever Frankenstein Agent of S.H.A.D.E., Alex Ross a canalizar a estética de Alex Raymond em Flash Gordon: Zeitgeist, os deliciosos infodumps de David Brin em Existence, o surrealismo melvilliano de China Mièville em Railsea, a sátira bem humorada aos lugares comuns da FC audiovisual de John Scalzi em Redshirts, a elegância do traço sóbrio e evocativo de I. N. J. Culbard em At The Mountains Of Madness, o prazer que foi ler a mistura do substracto cultural português e esoterismo em O Sangue e o Fogo de António de Macedo nas penedias da serra da Estrela, e a descoberta do horror na transição entre o barroco e o gótico de Álvaro do Carvalhal nos seus Contos.

sábado, 24 de novembro de 2012

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Fotografia virtual




Fotografar o que não está fisicamente lá. Experiências na sala de aula com o Augment e modelos criados pelos alunos em diversos programas de modelação 3D. À procura de um caminho de exploração. Ideia: criar um concurso de fotografia do invisível. Reacções reais, gestos corporais perante objectos virtuais. Justaposição do real e do virtual com toque de fantasia e bom humor. Vamos ver no que dá.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

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Experiências no CB Model, para demonstrar processos de trabalho aos alunos.

Cálices virtuais

O objectivo era experimentar o CB Model Pro como introdução à modelação 3D por escultura digital. Podiam fazê-lo livremente ou respondendo ao desafio de modelar um cálice. Este foi um dos resultados. Nada mau, mesmo nada mau para alunos que há quatro semanas não se entendiam com o posicionamento de objectos num espaço tridimensional, nada sabiam de coordenadas cartesianas em três dimensões (mas tranquilizem-se, senhores professores de matemática, que reconhecem as coordenadas X e Y) e desconheciam as várias dimensões da criação em 3D. Mais resultados do processo de aprendizagem aqui: 3D_AEVP_2012.

Brasyl




Ian McDonald (2007). Brasyl. Amherst: Pyr.

Três narrativas em três realidades de um Brasil alternativo colidem numa revisitação de ideias sobre a virtualização do universo. Num presente decalcado dos piores pesadelos mediáticos uma hiperactiva agente de um canal televisivo com queda para o ritualismo da capoeira dá tudo por tudo para conseguir audiências. Ao investigar um personagem de um momento-pivot da história recente do país acaba envolvida num conflito que ultrapassa as fronteiras do que julga ser a realidade.

Num passado ucrónico um padre jesuíta irlandês chega a um Brasil setecentista onde os animais de tiro extinguem-se por doença para punir um membro transviado da ordem, que está a cinzelar um pequeno império de fé, ferro e fogo nas entranhas da Amazónia. Acompanhado por um cientista francês desce o rio rumo à escuridão e a uma colisão com um padre louco que utiliza os membros de uma tribo isolada para perscrutar as maquinarias do universo. Vítima sacrifical, o jesuíta sobrevive e organiza uma comunidade utópica na floresta. A capacidade de visitar infinitas instâncias de realidades alternativas transforma-o num deambulante entre realidades paralelas. Neste passado ficcional McDonald faz uma tortuosa referência aos mitos de Hy-Brasil, reforçado pelo personagem polimata do jesuíta irlandês enviado de Portugal como um S. Brandão setecentista.

Num futuro próximo um jovem desenrascado tenta singrar no turbilhão da favela. Neste futuro Brasil todos os objectos têm identificadores rfid, as queixas policiais são entregues a empresas que apresentam propostas de baixo custo em tempo real e a cidade é vigiada constantemente por uma rede de aeronaves robóticas. Neste caldeirão cultural o jovem apaixona-se por uma cientista de computação quântica especializada em crackar códigos de identificação com algoritmos complexos perscrutando realidades paralelas. Ela morre, e dá-se a aparição de uma sósia, contraparte fugida de uma outra realidade que revela a razão por detrás das histórias paralelas e uma guerra entre facções que pretendem manter oculto o segredo da multiplicidade de realidades.

Uma fascinação com a visão de um Brasil misto de turbilhão de cultura exótica e favela chic coexiste com uma intrigante visão de uma modernidade futura hiper-liberal e um olhar crítico sobre o colonialismo através das injustiças ficcionadas no passado que mimetizam o espírito de No Coração das Trevas de Conrad. O cerne do livro, o conceito de realidades alternativas, é fortemente ambíguo. Há uma indecisão, talvez deliberada, sobre o conceito. Realidades que se dividem a nível quântico, múltiplas bifurcações das teias das linhas de tempo, experiência shamânica acessível graças às toxinas de uma espécie de sapos tropicais, ou simulações indistinguíveis do real a correr no computador quântico nos tempos finais de um universo colapsado pela entropia, vivendo infinidades de tempo no horizonte de acontecimentos de uma singularidade final. Três possibilidades que Ian McDonald equilibra num livro que apesar dos conceitos que despertam a imaginação e da solidez da tríade narrativa se arrasta e perde-se no deslumbramento com uma certa ideia de exotismo terceiro-mundista.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Out of Our Minds



Ken Robinson (2011). Out of Our Minds: Learning to be Creative. Chichester: Capstone Publishing.

A reputação de Ken Robinson como evangelista da criatividade está bem estabelecida, particularmente após as suas influentes conferências TED. A sua crítica aos sistemas de ensino que apesar de apregoarem o objectivo de formação individual se centram cada vez mais no back to basics, memorização e testes padronizados é muito válida. Atendendo à realidade complexa do mundo contemporâneo, à necessidade de compreensão profunda das ciências e tecnologia, fica claro que a noção de criatividade se estende para lá dos domínios artísticos e é aplicável em todos os domínios de intervenção humana. Robinson aponta as falhas sistémicas que impedem organizações de tirar o melhor partido das pessoas e as limitações individuais advindas dos constrangimentos uniformizantes sem alternativas para desenvolvimento do potencial pessoal.

Robinson mantém-se muito no campo difuso do desenvolvimento pessoal, próximo da auto-ajuda. Este não é um livro muito profundo, pensado como divulgador de ideias e linhas gerais de desenvolvimento criativo. Esta superficialidade permite-lhe chegar a públicos abrangentes, mas perde-se a questão da concretização prática das suas propostas. Os exemplos abundam, mas dos exemplos pessoais à reorganização sistémica vai uma grande distância. Mas não deixa de ser uma voz refrescante nestes tempos sufocantes em que mais que nunca precisamos de soluções criativas e inovadoras, em que sentimos que a preparação da maior parte dos indivíduos falhou crucialmente nestes aspectos.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Makers


Chris Anderson (2012). Makers: The New Industrial Revolution. Nova Iorque: Crown Business

Chris Anderson excede-se muito no tom optimista deste Makers. O que começa por ser uma visão abrangente do potencial da impressão em 3D arrasta-se para uma elegia rosada da nova economia onde as fronteiras entre amadores e profissionais se esbatem e pequenas organizações inovadoras conquistam interessantes nichos de mercado. São factos, mas tornam o livro demasiado superficial e centrado num optimismo financeiro e tecnológico. Não ajuda o facto do autor ser criador e investidor em parte das empresas cujo perfil traça.

Anderson tem o dedo naquilo que é o princípio de uma avalanche tecnológica transformativa. A combinação entre comunidades e partilha através da internet, o gosto pela criação técnica e a cada vez maior disponibilidade de materiais e ferramentas de software e hardware com custos em diminuição têm o potencial de revolucionar o conceito clássico de indústria. O modelo tradicional das fábricas e linhas de abastecimento está a ser complementado e desafiado por aqueles que nas suas garagens e ateliers constroem protótipos, criam produtos e desenvolvem tecnologias baseadas em plataformas open source. Num certo sentido, é um retorno às raízes locais de manufactura industrial possibilitada por ferramentas de alta tecnologia.

Uma tecnologia em particular está a destacar-se pelo seu potencial e iminência de abrangência ao grande público. A impressão em 3D saiu dos laboratórios, instalou-se nos ateliers e oficinas e ameaça chegar a todos os utilizadores. Pode parecer prematuro prever uma taxa de penetração destes equipamentos similar à das impressoras hoje, mas a comparação feita por Anderson é convicente. Hoje, uma impressora de documentos é barata e fácil de encontrar, possibilitando a quem o quiser imprimir em papel. Coisa mágica, se pensarmos que não há tanto tempo assim a impressão era domínio de técnicos especializados e maquinaria pesada. A adição da terceira dimensão já está aí e são cad a vez mais os exemplos de utilizadores que pegam nas suas impressoras 3D e software de CAD para usos que vão da impressão de brinquedos para os filhos à impressão de peças mecânicas caras ou raras. O mercado já está a prestar atenção. Sucedem-se os projectos de disponibilização de impressoras 3D a custos cada vez menores (se bem que ainda substanciais) e gigantes do software apostam em versões gratuitas de aplicações e pacotes de CAD a pensar na explosão do mercado de utilizadores pessoais. Nisto a Autodesk destaca-se com aplicações como a 123D ou 123DCatch, que democratizam o processo de modelação 3D e transformação num objecto real.

É intrigante observar esta explosão tecnológica, comparável às vagas iniciais da internet ou da computação pessoal. O fascínio humano pelo objecto físico encontra no virtual uma nova dimensão, e a possibilidade de concretização física do virtual abre novos e intrigantes campos de actuação. Num futuro muito próximo, será possível a qualquer um imprimir peças mecânicas, objectos artísticos, brinquedos, enfim, tudo o que a imaginação e o domínio de ferramentas de CAD e modelação 3D lhe permtir.

(Nota: iniciei as aulas este ano mostrando vídeos sobre tópicos bleeding edge das tic, entre os quais impressão 3D. Agora, os meus alunos começam a perguntar-me se os objectos que estão a aprender a modelar em 3D utilizando aplicações como o Sketchup poderiam ser impressos. Intrigante.)

domingo, 18 de novembro de 2012

Robocop

Portanto, um mundo urbano decadente, com uma fortíssima clivagem entre uma minoria de ricos e uma vasta massa de população cada vez mais empobrecida, com uma periclitante classe de lacaios que está em permanente risco de se juntar às massas desfavorecidas. Poder político em ocaso a entregar a gestão de serviços sociais a corporações. Exércitos privados ao serviço de empresas que complementam e se sobrepõem aos soldados tradicionais. Tecnologia pervasiva utilizada como forma de vigilância panopticon. Robots autónomos capazes de descarregar mísseis nos inimigos da ordem social. Conflitos urbanos localizados e insurgências em diversas partes do planeta. Degradação do tecido social, intensificar das desigualdades, tirania das oligarquias financeiras, tecnologia potenciadora de panopticons.

Por muito que pense qual o género ou obra de ficção científica que anteviu o corrente estado das coisas, nunca lá cheguei. As distopias ficcionais ou tocam tangencialmente nalguns aspectos da nossa modernidade ou revêem o totalitarismo opressivo. A estética cyberpunk tem muitos dos elementos no que toca à tecnologia digital e poder empresarial corporativo, mas não chega a tudo. Até que revi o velhinho robocop. Uma cidade socialmente estratificada onde centros de luxo estão rodeados pela urbanidade empobrecida em ruínas, cuja força policial é privatizada e complementada por robots controlados pelas directivas de uma elite oligárquica? Soa familiar, nesta era de colapsos financeiros, hiper-ricos que se arrogam do direito de controlar as escolhas de vida das populações, privatização desenfreada de serviços sociais e de segurança, drones e conflitos assimétricos entre forças com equipamentos de alta tecnologia e insurgentes zelotas em zonas remotas do planeta com extravasamentos pontuais para os grandes centros urbanos?

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A fazer malandrices ao menino da lágrima. Porque... sim.

Salvação

"Depois de ler muitos livros do tipo P. C. Cast, ou mommy porn, tipo fifty shades, género que já anda aí desde os anos oitenta, comecei a aperceber-me dos padrões que estes autores usam para escrever estes livros. São todos sobre homens poderosos mas que no seu íntimo são desiquilbrados, e mulheres fracas que são capazes de completar o que lhes falta."

Interiormente arrepiei-me. Século XXI, feminismo, igualdades e a literatura popular para público feminino vive de estereótipos submissivos? Os ínvios caminhos da psique humana não cessam de me surpreender. Para mim a melhor imagem do Cinquenta Sombras é tê-lo encontrado empilhado em promoção num supermercado ao lado de uma promoção de papel higiénico. A sério, estas coisas não se inventam.

"Sabes, é o sonho de muitas mulheres. Ser capaz de salvar alguém que não quer ser salvo."

Nesta frase cabe o conceito que vende a metro livros sobre vampiros efeminados, dominação sedosa, lobisomens dóceis e talvez alguém se lembre de criar zombies existencialistas que matutam na inelutabilidade do ser e do devir com as résteas de neurónios putrefactos enquanto abocanham relutantemente humanos indefesos, à espera das jovens submissivas que os irão libertar através da dominação sentimental.

sábado, 17 de novembro de 2012

À Meia Noite Levarei Sua Alma



Haverá maneiras menos interessantes ou mais convencionais de contar a história de um homem atormentado pelo desejo de assegurar a sua descendência. À Meia Noite Levarei Sua Alma é talvez uma das mais estranhas visões da vontade masculina de assegurar um legado dinástico, através de um dos mais intrigantes filmes de terror que já vi.

Este é um daqueles filmes que encarna a expressão tão mau, tão mau que se torna bom. José Mojica Marins escreve, realiza e encarna um filme que acumula todos dos lugares comuns do género. Assassínios, almas penadas, divagações góticas com caveiras de papier machè, violência cínica, féretros putrefactos, premonições amaldiçoadas, presságios funestos, terrores nocturnos no cemitério, até uma espécie de proto-zombie tem direito a segurar uma vela neste filme. A iconografia do terror clássico, da historia de fantasmas vitoriana, é revista à luz da ruralidade brasileira dos anos 60 com um toque grand guignol. Para a história do género fica a personagem Zé do Caixão, cangalheiro amoral que é mergulhado num vingativo turbilhão sobrenatural.

Apesar de todas as suas falhas, o filme aguenta-se com uma rigorosa progressão lógica  que transmite uma metódica descida aos infernos. Os adereços e efeitos especiais primam pelo amadorismo. A sonoplastia é quase inexistente e as prestações dos actores algo de inenarrável. Isto é Ed Wood tropical ao ritmo do samba e candomblé a canalizar a mais clássica tradição do terror gótico europeu. Resta o icónico Zé do Caixão, personagem maior que o ecrã, canalizado por Morins como um alter-ego demente que se atreve a representar os mais recônditos desejos ocultos nos recantos negros da alma.

Comics


Atomic Robo and the Flying She-Devils of the Pacific: bom humor, retrofuturismo e ciência insana caracterizam as aventuras do indestrutível robot atómico criado por Nikola Tesla. Cientistas loucos, criminosos desafortunados e zelotas japonesas com armas secretas cruzam-se nos argumentos de Brian Clevinger, ilustrados com um traço perfeito para robots de estilo retro de Scott Wegener.


Battlefields: The Green Fields Beyond #1: Garth Ennis continua as suas histórias de elevado nível com um tema que lhe é querido. Depois de séries excepcionais sobre a II Guerra Ennis volta-se para a Guerra da Coreia para mais uma série que promete lama, reconstituições fieis de armas, muito acaso e pouco heroísmo.


2000 AD #1809: Brass Sun de Ian Edgington é a melhor série de momento no lendário comic britânico. O traço simples e elegante de I. J. N. Culbard foge aos excessos barrocos que caracterizam o steampunk, mas nem por isso deixa de ser evocativo do imaginário dos mecanismos de relojoaria. A cada edição é desvendado mais um novo mundo do planetário mecânico imaginado por Edgington.


Dial H #06: o absurdo do género de super-heróis é posto a nu pelos excessos imaginativos de China Mièville, que está a levar a premissa de poderes concedidos pelo disco telefónico rotativo a colisão com a história da humanidade.


Flash Gordon Zeitgeist: Eric Trautmann e Alex Ross revisitam um dos mais clássicos personagens da banda desenhada de forma genial. Os argumentos equilibram revivalismo com novas dimensões (digamos que Ming the Merciless e Hitler partilham objectivos) e a direcção artística de Alex Ross transforma as pranchas numa explosão de cor exotismo que homenageiam o traço clássico de Alex Raymond. Este é um dos comics visualmente mais deslumbrantes dos últimos tempos.


GI Combat #06: Os personagens de guerra da DC vão sendo sucessivamente revisitados neste título da DC 52. Depois de revisitar de forma pouco impressionante o clássico Land That Time Forgot agora é a vez de Haunted Tank, ilustrado pelo veterano Howard Chaykin. The Unknown Soldier acompanha todas as edições. Se o projecto é insuflar nova vida nos clássicos, esperemos que corra melhor do que a falhada reedição de Sgt. Rock. Haunted Tank, por enquanto, está a ser bizarro. É o que se espera.


Locke & Key Omega #01: Confesso que quando deparei com este comic não fiquei cativado. Demorei um pouco a perceber o porquê da sua boa fama até que o traço expressivo, rico e preciso de Gabriel Rodriguez e a complexidade do argumento de Joe Hill me agarraram. Agora, sigo fielmente o fim anunciado que se inicia com o primeiro volume de Omega. A capacidade de utilizar as chaves mágicas desaparece com o fim da infância e adolescência e os personagens estão quase a atravessar esse limiar.


The Massive #06: Brian Wood prossegue a viagem pelo sólido futuro próximo distópico que criou nesta série de ficção científica mal disfarçada. A premissa de um navio de activistas ecológicos num périplo pelos mares cujo nível elevado submergiu as zonas costeiras de planeta mergulhado no caos da derrocada económica e social tem espaço para muitos desenvolvimentos. Wood equilibra o passado negro dos personagens (num comentário fortíssimo sobre o poder do dinheiro e das empresas de mercenários que se substituem cada vez mais aos soldados clássicos em operações militares) com um futuro próximo muito plausível onde as catástrofes ambientais representam uma singularidade inversa. O mais interessante de The Massive é que não é uma série pós-apocalíptica. Os acontecimentos sucedem-se nos momentos imediatos aos colapsos sociais, e não num futuro mais distante.


The Manhattan Projects: Talvez o mais surreal comic editado actualmente. A premissa é alucinante: o Projecto Manhattan serviu para ocultar bizarrias místico-científicas coordenadas por um Robert Oppenheimer cuja mente é habitada por múltplas instâncias da sua personalidade. O conceito de cientista louco é levado a extremos absurdos pelo argumentista Jonathan Hickman, que nos mergulha numa surreal história alternativa onde Von Braun é um nazi violento com um gargantuesco braço robótico, o presidente Truman um maçónico que toma decisões com base em rituais orgásmicos, Roosevelt é um super-computador a válvulas ou Fermi um físico nuclear alienígena.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Recordai-vos do 5 de Novembro...


Para comemorar o 5 de Novembro o blog Viagem a Andrómeda mete-se com Alan Moore, um dos gigantes da banda desenhada responsável pela imagem icónica que tomou conta das consciências contemporâneas. João Campos disseca cuidadosamente o marco literário e gráfico que é V for Vendetta, com passagem obrigatória pelo filme que lhe deu vida para lá dos conhecedores dos comics:


V for Vendetta: Introdução - do comic icónico à adaptação cinematográfica
V for Vendetta: A distopia como enquadramento da narrativa
V for Vendetta: Os protagonistas
V for Vendetta: As personagens e os arcos narrativos enquanto peças do dominó
V for Vendetta: Os altos e baixos da adaptação cinematográfica
O legado de V for Vendetta

Da genialidade do comic original aos compromissos necessários da adaptação cinematográfica, esta série de posts reflecte muito bem sobre a génese e influência de uma das obras maiores de Alan Moore, à qual o grafismo de David Lloyd deu vida.

Fórum Fantástico 2012


Já está disponível o programa da edição de 2012 do Fórum Fantástico, que irá decorrer nos dias 23, 24 e 25 de Novembro na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro em Telheiras. O programa pode ser consultado na página do Fórum Fantástico.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Leituras Fantásticas

Prevê-se que Dezembro seja um belíssimo mês para leituras no domínio do Fantástico em português. Os lançamentos decorrem neste mês de Novembro, mas é para o final do ano que antevejo as delícias exponenciais do sofá, chá e livros (nos quais se inclui A Conspiração dos Abandonados, que António de Macedo sugere que se leia nas noites invernosas). Três leituras, para acabar em cheio o ano de 2012:


A revista Trëma, coordenada pelo infatigável Rogério Ribeiro, estará em breve disponível. A capa acabou de ser divulgada.


A ser lançada no Fórum Fantástico, a antologia Lisboa no Ano 2000, organizada por João Barreiros coligindo contos sobre uma possível Lisboa electropunk.


Saída do colóquio Mensageiros das Estrelas, uma antologia de contos que conta com participações de Luís Filipe Silva e António de Macedo, entre muitos outros.

Junte-se a isto a edição de 2012 do Fórum Fantástico com os dias de 23 a 25 de Novembro  dedicados à FC e Fantasia e o colóquio Mensageiros das Estrelas também a decorrer de 27 a 30 deste mês com um programa muito estimulante. As próximas semanas são prometedoras, graças aos esforços de todos aqueles que neste país organizam iniciativas ligadas à literatura de ficção científica.