domingo, 18 de novembro de 2012

Robocop

Portanto, um mundo urbano decadente, com uma fortíssima clivagem entre uma minoria de ricos e uma vasta massa de população cada vez mais empobrecida, com uma periclitante classe de lacaios que está em permanente risco de se juntar às massas desfavorecidas. Poder político em ocaso a entregar a gestão de serviços sociais a corporações. Exércitos privados ao serviço de empresas que complementam e se sobrepõem aos soldados tradicionais. Tecnologia pervasiva utilizada como forma de vigilância panopticon. Robots autónomos capazes de descarregar mísseis nos inimigos da ordem social. Conflitos urbanos localizados e insurgências em diversas partes do planeta. Degradação do tecido social, intensificar das desigualdades, tirania das oligarquias financeiras, tecnologia potenciadora de panopticons.

Por muito que pense qual o género ou obra de ficção científica que anteviu o corrente estado das coisas, nunca lá cheguei. As distopias ficcionais ou tocam tangencialmente nalguns aspectos da nossa modernidade ou revêem o totalitarismo opressivo. A estética cyberpunk tem muitos dos elementos no que toca à tecnologia digital e poder empresarial corporativo, mas não chega a tudo. Até que revi o velhinho robocop. Uma cidade socialmente estratificada onde centros de luxo estão rodeados pela urbanidade empobrecida em ruínas, cuja força policial é privatizada e complementada por robots controlados pelas directivas de uma elite oligárquica? Soa familiar, nesta era de colapsos financeiros, hiper-ricos que se arrogam do direito de controlar as escolhas de vida das populações, privatização desenfreada de serviços sociais e de segurança, drones e conflitos assimétricos entre forças com equipamentos de alta tecnologia e insurgentes zelotas em zonas remotas do planeta com extravasamentos pontuais para os grandes centros urbanos?