domingo, 31 de março de 2013

Dérive




Panopticon banalizado, geometria rodoviária, borrão de movimento.

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Worlds of Amano


Yoshitaka Amano (2007). Worlds of Amano. Milwaukie: Dark Horse Comics.

Facilmente encanta este livro de ilustração artística cheio de exemplos visualmente ricos do estilo gráfico do ilustrador nipónico Yoshitaka Amano. Os trabalhos são criados com uma sensibilidade oriental que adapta para registos contemporâneos a iconografia da milenar da arte japonesa. O estilo pode ser definido como um fantástico onírico, centrado no corpo e no uso fluído e decorativo de linha, forma e cor.

sábado, 30 de março de 2013

Videomapping no Terreiro do Paço




Muito interessante o espectáculo multimédia de videomapping que tem estado nestes dias a encantar quem passa pelo Terreiro do Paço. Criado pelas mentes criativas do estúdio Ocubo, é um espectáculo encantador, invocando a primavera que neste ano tão elusiva anda sob a visão inocente e expressiva do desenho infantil. O mapeamento de projecção vídeo destaca-se pela precisão e perfeição técnica. O Torreão poente encheu-se de cor em movimento num espectáculo deslumbrante.

Arcadas


Pausa na modernidade sob as arcadas desertas, despertando uma sensação fugaz de tempo que regressa a  um passado iluminado a gás.Sombras sob os arcos desertos.

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deriva



Logs


Se calhar é porque estamos na época pascal. As tropelias dos termos de pesquisa que os logs registam são pérolas do automatismo literário surrealista. Esta veio parar a um dos meus trabalhos arquivados no Academia. Não é das piores. Nos logs do blogger encontro por vezes alguns sintomas das mais exóticas perversões sexuais humanas. Leio e sorrio. A diversidade da internet, esse fluxo de electrões que interliga boa parte da humanidade, nunca cessa de me surpreender.

sexta-feira, 29 de março de 2013

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Comics


East of West #01: Jonathan Hickman, responsável pelo surreal Mannhatan Projects para a Image, lança para a mesma editora um intrigante novo título onde géneros com elementos de horror sobrenatural, ficção científica, história alternativa e western se misturam. O cenário é uma américa futurista com história divergente, onde a guerra de secessão foi inconclusiva, as nações índias se unificaram e mantiveram a sua independência, o Texas é um estado livre, a Louisiana um reino e toda a costa oeste uma antiga colónia chinesa que proclamou a sua independência como república popular inspirada num Mao que morreu exilado nas costas americanas. Este vasto panorama por si só já seria um excelente palco para boa ficção especulativa, mas Hickman não se fica por aqui.


A série inicia-se com o renascer dos cavaleiros do apocalipse como crianças sanguinárias empenhadas em pôr fim ao mundo, mas dos quatro esperados falta um... a Morte, que com aliados misteriosos busca um artefacto oculto numa busca que se pode descrever como um passeio de fúria assassina. O primeiro número deste promissor comic surpreendeu, com os índices de estranheza a atingir máximos numa narrativa deliberadamente confusa, pensada para despertar a curiosidade do leitor e estabelecer as questões que se espera que venham a ser aprofundadas ao longo do arco narrativo. Muito é vislumbrado, pouco é revelado, e a curiosidade está decididamente desperta. 


Fatale #13: Pouco se fala desta curiosa série de Ed Brubaker que mistura terror lovecraftiano com policial noir. Os primeiros números foram pérolas do comic com gosto policial, glosando na perfeição os elementos do género e tendo como fio condutor a mulher fatal e o segredo de toque lovecraftiano nela encerrado. O elevado nível não surpreende em histórias criadas pelo argumentista de Criminal. Agora a tónica narrativa está no aprofundar do mistério sobrenatural através das histórias de várias encarnações da mulher fatal cuja presença tem o condão de transtornar os homens. Primeiro na idade média, onde previsivelmente é queimada como bruxa, e agora no velho oeste com uma maior influência de Lovecraft com livros misteriosos de aterrorizante conhecimento oculto, seitas tenebrosas e criaturas tentaculares. Se os parágrafos de Call of Cthulhu se cruzassem com L.A. Confidential, o resultado seria algo do género que Brubaker desenvolve em Fatale com ilustrações de Sean Phillips, nome também habitual nas séries desenvolvidas por este argumentista.



Fury MAX #10 My War Gone By: Alguém na Marvel deve ter achado boa ideia contratar Garth Ennis para  criar uma mini-série sobre Nick Fury, o eterno soldado e super-agente da S.H.I.E.L.D.. Afinal, Ennis distingue-se pelo cuidado que coloca em séries que abordam a história militar e Fury é soldado, por isso o que poderia correr mal? Na verdade nada, e o resultado é uma série fortíssima que deixa de lado todos os artifícios habituais do comic de super-heróis e coloca Fury nalguns dos mais sujos teatros de guerra do século XX. Assistimos à queda dos franceses na Indochina dos anos 50, tentativas de assassinato de Fidel Castro durante o falhanço da invasão da Baía dos Porcos, peripécias nas selvas do Vietnam e agora Nicarágua na guerra suja dos Contras, apoiada pelo governo americano com dinheiro do tráfico de narcóticos. Envolvido com uma bela mulher com olho para intrigas e um senador sem escrúpulos Fury vai-se cruzando com alguns personagens do universo Marvel ainda despidas dos fatos colantes e atributos do género enquanto revisita alguns dos conflitos mais sujos da segunda metade do século passado. Sem heroísmo, com muitos segredos políticos e num registo que está muito distante do habitual comic infantilizado em que a Marvel é especialista.


Joe Kubert Presents #06: O final de uma série onde um velho mestre recupera antigas personagens, conta histórias esquecidas e deslumbra o leitor com a firmeza fluída do seu traço. Kubert afirmava pretender que este fosse um comic que ele gostasse de ler, e o resultado é uma elegia apropriada a um dos grandes mestres do género. Faleceu aquando da publicação do segundo número de uma série que, felizmente para o público e para a história, já tinha deixado quase concluída. As capas não chegaram a ser terminadas e ficaram pelo desenho puro, sem cor e arte final, sendo de saudar a decisão editorial de as manter nesse registo em homenagem ao ilustrador. O que seria uma série acabou por se tornar elegia, digno ponto final na vida de um marco da história dos comics.


The Massive #10: É interessante notar a forma como Brian Wood oscila intencionalmente entre ritmos narrativos nesta série. Momentos muito rápidos, cheios de acção decisiva, intercalam com momentos mais lentos que permitem aprofundar as personagens e a solidez do mundo ficcional. Nesta edição é a isso que assistimos, com uma linha narrativa que dá continuidade à odisseia da tripulação do navio Das Kapital em busca do elusivo navio-irmão The Massive e que serve essencialmente para ampliar o espectro da narrativa. Wood sabe do que está a falar e o seu mundo ficcional reflecte algumas das previsões sóbrias e deprimentes para um futuro próximo condicionado pelo esgotamento dos recursos naturais e alterações climatéricas. O destaque é dado à América Central e do Sul sob os efeitos de conflitos armados pelo controle de recursos naturais e económicos onde a estrutura do estado-nação sofre uma desagregação acelerada. Mais uma edição a comprovar The Massive como um dos mais interessantes e pertinentes comics actualmente publicados.


The Unwritten #47: E porque estamos na páscoa... o coelhinho malvado criado pela imaginação perversa de Mike Carey está de regresso a The Unwritten. Este é um coelho especial, cuja primeira aparição surgiu numa das mais hilariantes edições da série onde um bruto mafioso de segunda categoria se vê encerrado como coelho fofo dentro de uma bucólica história infantil. Corpo de coelho, mente de criminoso, história inocente... a coisa não terminou bem naquela que foi uma brilhante sátira à doçura ingénua das histórias infantis com animais antropomórficos. Apesar de ser uma personagem muito secundária o conceito é demasiado bom para ser esquecido e Carey de vez em quando dá-nos vislumbres das aventuras do coelho mafioso no vórtice de mundos ficcionais que sustenta The Unwritten. O seu objectivo é regressar à vida normal, e sobe a pulso por entre os mundos imaginários da literatura, deixando um rasto de devastação por onde passa. Desta vez, uma passagem pelo hades mitológico coloca o coelho no trono do rei dos infernos gregos, visitado por um amnésico Tom Taylor em busca da sua amada Lizzie numa história que se vai contando como vénia profunda ao mito de Orfeu.

(Acabei de reparar que no mesmo parágrafo coabitam as palavras coelho mafioso, rasto de devastação e trono dos infernos. Parece um retrato deste portugal sob domínido dos austeritários neoliberais...)

quinta-feira, 28 de março de 2013

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BD: Big Man, Flotille 66


David Mazzucchelli (2000). Big Man. Bolonha: Coconino Press.

David Mazzucchelli sempre surpreendeu por ser dos primeiros ilustradores a assumir um pé na indústria dos comics e outro como autor independente. É de recordar as ilustrações marcantes para o título Daredevil da Marvel a acompanhar bons argumentos em registo de policial noir por Frank Miller. No seus registos independentes destaca-se o magistral Asterios Polyp, fábula bem humorada sobre snobismo intelectual que saltita entre registos gráficos que homenageiam a história da arte contemporânea. Este Big Man é um trabalho sólido, graficamente similar aos desenhos para comics. Alicerçado numa história estanque, assume-se como fábula singela sobre o medo do outro, falsos receios despertados pela recepção de um estranho numa comunidade, e a difícil aceitação da diferença. Não sendo extraordinário, é uma obra pertinente e visualmente estimulante.



Romuald Pistis, Michel Lourenco, Nicolas Caniaux (2010). Flotille 66 #01: Les Messagers de l'Atome. Paris: Zephyr Editions.

Em França parte da indústria de banda desenhada (uma daquelas indústrias que existe noutros países mas que por cá parece de existência impossível) dedica-se a cativar o nicho de mercado dos aficionados da aeronáutica. São livros previsíveis, em que as histórias pouco mais são do que veículos condutores para belíssimas vinhetas retratando gloriosas aeronaves. Argumentos escritos a martelo, por vezes disparatados, que tentam unificar as imagens com uma espécie de narrativa coerente. Mas este tipo de livros são como a pornografia. Quem os faz sabe aquilo que quem os lê quer, gratificação visual com imagens excitantes e precisas. a aeronave é a estrela, e tudo o resto um pouco acessório. Interessa que os aviões sejam retratados com precisão, em voos aventureiros, poses espantosas e com atenção a pormenores que só os verdadeiros conhecedores entendem.

Este Flotille 66 não escapa à regra. O argumento mostra-nos pilotos de caças Rafale M destacados no modernizado porta-aviões Charles de Gaulle encarregues de missões arriscadas no Golfo Pérsico num futuro próximo em que a França mantém uma base militar em Abu Dhabi. Os corajosos pilotos escoltam missões de transporte que depressa se tornam de combate contra guerrilheiros em alto mar e há um enredo secundário sobre a constituição de uma esquadrilha secreta de operações especiais. Cereja em cima do bolo, os briefings são feitos directamente do palácio do Eliseu por uma figura semi-oculta nas sombras. O argumento é puro enchimento. A estrela do livro é o avião Rafale, gloriosamente retratado com uma precisão assinalável pelo traço do ilustrador Michel Lourenço. Nota-se a clivagem entre o esforço dispendido na ilustração aeronáutica, muito cuidada e realista, e tudo o resto onde o nível de realismo não é muito elevado e o traço banal e pouco cuidado.

Pulp


O chocante no horror clássico: capa do fumetti Zora La Vampira #177 por Alessandro Biffignandi (1979)


A nova carne cibernética: Ghost in the Shell.


A carne feérica: Battle Angel Alita.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Manuscrito Encontrado em Saragoça




Jan Potocki (2010). Manuscrito Encontrado em Saragoça Volume 1 e Volume 2. Lisboa: Cavalo de Ferro.

Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto, diz-se. No caso deste livro a tendência é mais quem conta um conto acrescenta-lhe outro, numa sucessão fractal de narrativas dentro de narrativas tão entrelaçadas que a páginas tantas o escritor cria um personagem, geómetra distraído que reduz a sua percepção do mundo a convolutas elocubrações, que reclama com a confusão de tanta história dentro de histórias. Sendo geómetra, magica um algoritmo para se manter a par das histórias que se estendem, contadas por personagens que recontam as aventuras de outros personagens numa sucessão imparável.

Um livro intrigante, que faz recordar as mil e uma noites ou os contos de canterbury, em que as histórias se sucedem de forma quase fractal acabando por regressar ao início, diria que circular mas atendendo ao espírito do livro aplicar-se-á melhor os ouroboros como qualificação. Tem um certo carácter iniciático e obscurantista. Já há um certo tempo que um livro não me absorvia tanto. Insere-se na tradição literária de viagens em que os longos caminhos são a oportunidade para os participantes partilharem histórias com os seus companheiros, similar a clássicos como Decameron ou Os Contos de Canterbury. Mas Potocki vai mais longe. A viagem em si também é uma história, périplo de intrigas e aventuras que envolvem um jovem soldado em peripécias de fantasia nos caminhos serranos da Andaluzia. Ao longo das peripécias cruza-se com outros personagens, cada um desfiando um conto pessoal que cujas personagens por si contam as suas histórias. Apesar da dispersão fractal, cheia de ramificações rizomáticas que levam a novas histórias, todas se concluem no seu início, o cumprimento do destino do jovem soldado, herdeiro de um segredo que atravessa os mundos católico e muçulmano e cujas desventuras são testes ao seu carácter, cuja superação o torna digno de partilhar os segredos financeiros e políticos dos Gomelez, reino árabe que resiste oculto nas cavernas e serranias andaluzes.

Escrito ao longo de onze anos, toque que me recorda Joyce e a sua odisseia com Ulisses, e publicado em 1813 por um nobre polaco viajante consumado pela Europa do século XVIII e apaixonado pelas espanhas, este romance surpreende pela complexa estrutura e assombrosa variedade de registos literários. Potocki oscila sem pestanejar entre romance de aventuras, conto moralista, histórias de assombrações, crítica de costumes, romance de paixões, delícias de erotismo poético, pensamentos filosóficos e uma curiosa proto-ficção científica onde se conjugam fantasias de viagens ao passado e autómatos. Manuscrito Encontrado em Saragoça é um daqueles raros livros dos quais se pode dizer que, efectivamente, encerra mundos dentro das suas páginas.

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terça-feira, 26 de março de 2013

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Raygun


Um entretém enquanto os pcs são formatados e as rotinas de manutenção dos servidores são vigiadas.

Comics: Neuro Jack, Chester 5000


James Chambers, Erika Taguchi (1996). Neuro-Jack. Boca Raton: Big Entertainment.

Neuro-Jack #01: uma bizarra curiosidade de 1996, a aproveitar a onda cyberpunk dos anos 90. Um comic sobre um herói electrónico desincorporado que luta contra ameaças alienígenas numa vasta internet galáctica. Estranha mistura de Neuromancer com Tron. O herói, como não podia deixar de ser, usa óculos escuros. Mirrorshades são do mais cyberpunk que há em acessórios. Para sublinhar a novidade digital, a ilustração foi criada por computador (à época, algo de raro e experimental) numa estética que mistura a visualizações ciberespaciais de Johnny Mnemonic com o estilo de jogos como o Doom. Não é particularmente interessante mais vale como exemplo de um aproveitamento da estética cyberpunk por editores de comics num registo exploitaition. Não passou da primeira edição, o que não surpreende pelo argumento previsível e infantil.

Jessica Fink (2011). Chester 5000. Marietta: Top Shelf.

Steampunk colide com banda desenhada erótica nesta história sobre um dotado robot vitoriano criado para satisfazer os desejos luxurientos da jovem esposa de um cientista mais apaixonado pelos prazeres do intelecto do que os da carne. Soa exactamente ao que é, e não passa de uma justaposição de vinhetas eróticas com um homem mecânico com próteses tecnológicas úteis em situações muito específicas. Um tédio
previsível.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Ficções

I Have Placed My Sickness Upon You: Um conto intimista de Karin Tidbeck, relato que parece absolutamente normal de um tratamento psicológico contra a depressão onde a estranheza surreal é dada por um pormenor chave. O medicamento é um bode que absorve a doença mental do paciente. A cura faz-se por transferência do mal para a figura patética do bode expiatório. Um pequeno, subtil e bem escrito conto onde o banal colide com o surreal.

Down to a Sunless Sea: A chuva torrencial que se abate sobre o Tamisa é a tela de projecção dos pesadelos do espírito inquieto de uma mulher atormentada por memórias dolorosas. Debaixo da névoa, o tempo parece dissolver-se e a realidade contemporânea mescla-se com uma Londres dickensiana. Conto muito curto de Neil Gaiman, de assombração sugerida pelo final abrupto.

Jetsam: O final confuso deste conto de Livia Llewellyn não diminui a estranheza atmosférica que o anima. Recordações oníricas em paisagens devastadas por um cataclisma inexplicado, livros de onde se desprendem fragmentos de uma memória que corresponde ao real, vida banal que é uma ilusão que suprime os momentos de horror.

Ariadne and the Science: Warren Ellis num registo invulgarmente lírico a brincar com conceitos tecnológicos singularitários numa história onde o desejo de conhecimento de uma rapariga que não aprendeu a calar perguntas devora o universo, o multiverso e o omniverso numa gargantuesca máquina computacional... que depois de incorporar as realidades possíveis não deixa de continuar a questionar. As palavras oníricas que disfarçam ideias da bleeding edge contemporânea da tecnologia e ciência são ilustradas por Molly Crabapple.

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domingo, 24 de março de 2013

Wildlands


Hábitos de leitura contemporâneos, em modo digital. As periclitantes pilhas de livros sobre as mesas de cabeceira ou as acumulações desesperantes nas prateleiras começam a estar obsoletas, embora mantenham um certo encanto elegante. Agora os livros acumulam-se em bits dispersos pelas pastas que compõem a estrutura dos directórios dos leitores de livros electrónicos, tablets ou outros dispositivos. Palavras binárias, bytes que não ganham pó e esperam silenciosos nos recantos da memória magnética um olhar do utilizador. A informação não tem sentido até que os olhos a leiam e dela retirem significados. Nos nossos bolsos carregamos bibliotecas em crescimento contínuo cuja quantidade de tomos faria as invejas mortais dos sábios de antanho, embora a qualidade das ideias alinhadas pelas palavras seja um pouco mais discutível. E para o letrado viciado em ideias, as tentações do canto de sereia digital obrigam a um acumular constante de ficheiros que depressa transformam o mais cuidado repositório numa selva literária.

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Suburban Glamour



Jamie McElvie (2008). Suburban Glamour. Berkeley: Image Comics

O traço elegante de McElvie fica desaproveitado numa história de contornos fantasistas. Uma jovem adolescente a viver numa vila inglesa banal descobre que não é realmente humana como julgava. Fada a viver vida de rapariga normal, depressa se descobre no meio de uma luta milenar pelo domínio do reino das fadas. O toque de fantástico falha, a aura de mistério que esperamos ver neste tipo de histórias nunca chega a ser criada e a imagem das criaturas fantásticas não passa de caricatura risível. A força do desenho do ilustrador está no retrato e na figura humana, algo que consegue com um forte toque pop conseguido por contrastes fortes de cor, linha de contorno sólida e ausência de sombras.

sábado, 23 de março de 2013

Boa noite, Lisboa.




Le Faucon du Désert


Franz Zumstein, Rémy Colomb (2010). Le Faucon du Désert. Paris: Delcourt.


Para ser lida, a série Le Faucon du Désert obriga a uma total suspensão da descrença. Precisamos de acreditar que na áfrica da II Guerra um jovem líbio e a sua namorada seriam facilmente acarinhados por pilotos do Afrika Korps que o deixaria aos comandos de um Me109 e inserido como piloto de combate. Melhor, uma viagem atribulada que termina com um despenhamento na ilha de Pantelleria coloca o jovem como piloto de combate numa esquadrilha italiana a abater Spitfires num C.202 Folgore. Um novo despenhamento em Malta coloca o polivalente líbio aos comandos de um Spitfire, combatendo amigavelmente com os pilotos da esquadrilha italiana a que havia pertencido.

Por detrás há uma história misteriosa sobre as suas origens e um tesouro secreto que leva o jovem líbio, sempre acompanhado pela sua namorada, à cidade de Berlim para localizar uma parente afastada. Uma vez lá, é facílimo fugir à Gestapo e roubar um Me 110 para chegar à Suiça onde, mais uma vez, é muito fácil ser integrado como piloto a vigiar as fronteiras helvéticas a bordo dos Morane-Saulnier MS-406. O regresso ao norte de África faz-se aos comandos de um Mosquito internado na Suíça e a caça ao tesouro conta com ajuda de um piloto americano e o seu P-38 reluzente.

Pois. Suspensão total de descrença. Como se sabe, basta chegar a um aeródromo e acenar para se ser aceite como piloto de combate aos comandos dos mais avançados aviões. Também é fácil ir mudando de lados num conflito mundial. Hoje vamos combater pelos alemães, amanhã ao lado dos italianos, e no fim de semana que tal ir defender as colónias britânicas? É simples. O livro ainda inclui cenas escaldantes entre o herói e a sua namorada porque, como sabemos, os muçulmanos têm uma atitude muito liberal para com relações sexuais fora do casamento.

Se o argumento é um desastre de idiotices pegadas, a série salva-se pela qualidade da ilustração. É aqui que esta banda desenhada reluz, com o ilustrador a desenhar com gosto e precisão as mais icónicas aeronaves da II guerra e a recriar emocionantes combates aéreos. Aliás, todo o argumento não parece passar de uma boa desculpa para desenhar aviões, algo que como já referi o ilustrador faz de forma excelente. Infelizmente a mestria no traço aeronáutico e o hino à estética das aeronaves não chegam para colmatar um argumento imbecil.

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Musty antique feel


The one thing we know for sure about state-of-the-art ebook readers is that a few years down the line they'll have the musty antique feel of VHS, Betamax, punched computer cards or wax phonograph cylinders.

There's a 1968 Isaac Asimov story called "the Holmes-Ginsbook Device", set in a world of advanced digital reading technology. The title's two innovators devise a system of pritinig page images and assembling them into a kind of codex, a physical entity that needs only hands and eyes to read. Of course the inventors are unfairly forgotten whe the device bearing their names is shortened by popular usage to "book".

David Langford, a comentar cheio de bom humor a questão dos livros digitais na SFX #233.

sexta-feira, 22 de março de 2013

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MiniZine #02


Chaka Sidyn, et al (2013). MiniZine #02.

Uma boa surpresa de leitura em banda desenhada independente. Editado pela Sanktio Comix, este e-zine reúne histórias curtas de Chaka Sidyn, pseudónimo do autor, e bem ilustradas por diversos desenhadores. Em termos narrativos as histórias mostram alguma imaturidade intelectual, pouco profundas e a carecer de mais desenvolvimento. É algo de esperar neste género de publicação e que não demonstra falta de qualidade. Antes pelo contrário, denota muito esforço e evolução progressiva do domínio das técnicas narrativas, que certamente se traduzirá no futuro em melhores histórias curtas. As desta edição são muito promissoras, e o caminho tendencial é de melhoria, comparando com a primeira edição disponível no site. O esforço prometido pelo autor e dinamizador de manter uma publicação regular certamente dará frutos interessantes.

A ilustração distingue-se pela variedade de estilos dos diferentes ilustradores. O destaque é dado para a espectacularidade das pranchas de Peebo Mondia, muito próximas do profissionalismo do comic comercial naquela que é sem quaisquer dúvidas a melhor das três histórias deste e-zine. O uso sólido dos contrastes a preto e branco de Rafael Desquitado é outro dos destaques gráficos desta publicação.

Sem ser perfeito, este MiniZine é surpreendente e demonstra uma evolução progressiva em termos narrativos e gráficos. É de elogiar a qualidade e a iniciativa, permitindo partilhar com públicos um jovem fervilhar criativo que enriquece o espaço cultural. Pode ser lido online: MiniZine #02. Cliquem, leiam e descubram o que de mais novo e de interessante há na banda desenhada portuguesa.

Caboto


Lorenzo Mattoti, Jorge Zentner (2003). Caboto. Paris: Casterman.

Apesar da mestria do traço de Mattoti, este Caboto não se livra de um certo tédio formalista. A narrativa parece criada para agradar aos professores de história como um relato ficcional das aventuras de um conquistador, e como tal é eminentemente esquecível. Não de todo desinteressante, mas não sai dos lugares comuns esperados. Resta o estilismo de Mattoti para dar vida a este livro, mas o ilustrador italiano que foi capaz de misturar delírios inspirados no abstraccionismo, dadaísmo, surrealismo e futurismo italiano na sua obra aqui fica-se por um formalismo que apesar de esteticamente perfeito fica muito aquém do seu trabalho. Agruras da adaptação do traço à linha narrativa.

Comics


2000AD #1824: Ian Edgington de regresso, desta vez a escrever as mais recentes aventuras de Stickleback, o mestre criminoso da Londres de fim de século. E sim, a estética steampunk invadiu de vez a 2000 AD graças a este autor. O flexível e sempre interessande D'Israeli ilustra.


Constantine #01: John Constantine está morto. Viva Constantine. A visão de Moore e Milligan de um anti-herói vulnerável que atravessa o oculto com finais sempre trágicos foi enterrada no último número de Hellblazer. Agora é  um herói da continuidade principal que continua com um lado escuro mas ganhou uma espécie de esconderijo atravancado de objectos ocultos (não é uma bat-cave, será uma constantine-cave?), uma galeria de inimigos sobrenaturais perigosos agrupados com um conveniente nome ameaçador (os elegantes feiticeiros revividos por Moore em Swamp Thing agora são uma espécie de zombies malévolos) e parece que Constantine ganhou a capacidade de disparar raios das mãos. Para já Jeff Lemire está o leme, e este novo faz-tudo da DC já se mostrou capaz de meter ideias interessantes no mainstream.


Sledgehammer 44 #01: Robots, mechas e nazis. Mike Mignola escreve, e o tom retro-futurista é ditado pelas ilustrações de Jason Latour, a substituir o infelizmente falecido e lendário John Severin. Quanto à história, o que é que esperam? Robots, mechas e nazis. Não é ponto de partida para profundas reflexões sobre o estado do mundo. Puro divertimento, bem escrito e bem ilustrado.


MindMGMT #09: A trama adensa-se... MindMGMT é uma genial tareia mental de estranheza surreal, paranóia e espionagem saída da imaginação única de Matt Kindt. Ex-agentes secretos de uma agência especializada em manipular a realidade através de mensagens subliminares e métodos subtis de eliminação com prejuízo extremo lutam contra uma conspiração obscura de contornos difusos. A cada número Kindt vai expandindo a conspiração e inventando novos agentes com capacidades verdadeiramente borgesianas. Neste comic, é na realidade perceptível que não se pode confiar.