quinta-feira, 28 de março de 2013

BD: Big Man, Flotille 66


David Mazzucchelli (2000). Big Man. Bolonha: Coconino Press.

David Mazzucchelli sempre surpreendeu por ser dos primeiros ilustradores a assumir um pé na indústria dos comics e outro como autor independente. É de recordar as ilustrações marcantes para o título Daredevil da Marvel a acompanhar bons argumentos em registo de policial noir por Frank Miller. No seus registos independentes destaca-se o magistral Asterios Polyp, fábula bem humorada sobre snobismo intelectual que saltita entre registos gráficos que homenageiam a história da arte contemporânea. Este Big Man é um trabalho sólido, graficamente similar aos desenhos para comics. Alicerçado numa história estanque, assume-se como fábula singela sobre o medo do outro, falsos receios despertados pela recepção de um estranho numa comunidade, e a difícil aceitação da diferença. Não sendo extraordinário, é uma obra pertinente e visualmente estimulante.



Romuald Pistis, Michel Lourenco, Nicolas Caniaux (2010). Flotille 66 #01: Les Messagers de l'Atome. Paris: Zephyr Editions.

Em França parte da indústria de banda desenhada (uma daquelas indústrias que existe noutros países mas que por cá parece de existência impossível) dedica-se a cativar o nicho de mercado dos aficionados da aeronáutica. São livros previsíveis, em que as histórias pouco mais são do que veículos condutores para belíssimas vinhetas retratando gloriosas aeronaves. Argumentos escritos a martelo, por vezes disparatados, que tentam unificar as imagens com uma espécie de narrativa coerente. Mas este tipo de livros são como a pornografia. Quem os faz sabe aquilo que quem os lê quer, gratificação visual com imagens excitantes e precisas. a aeronave é a estrela, e tudo o resto um pouco acessório. Interessa que os aviões sejam retratados com precisão, em voos aventureiros, poses espantosas e com atenção a pormenores que só os verdadeiros conhecedores entendem.

Este Flotille 66 não escapa à regra. O argumento mostra-nos pilotos de caças Rafale M destacados no modernizado porta-aviões Charles de Gaulle encarregues de missões arriscadas no Golfo Pérsico num futuro próximo em que a França mantém uma base militar em Abu Dhabi. Os corajosos pilotos escoltam missões de transporte que depressa se tornam de combate contra guerrilheiros em alto mar e há um enredo secundário sobre a constituição de uma esquadrilha secreta de operações especiais. Cereja em cima do bolo, os briefings são feitos directamente do palácio do Eliseu por uma figura semi-oculta nas sombras. O argumento é puro enchimento. A estrela do livro é o avião Rafale, gloriosamente retratado com uma precisão assinalável pelo traço do ilustrador Michel Lourenço. Nota-se a clivagem entre o esforço dispendido na ilustração aeronáutica, muito cuidada e realista, e tudo o resto onde o nível de realismo não é muito elevado e o traço banal e pouco cuidado.