sábado, 23 de março de 2013

Le Faucon du Désert


Franz Zumstein, Rémy Colomb (2010). Le Faucon du Désert. Paris: Delcourt.


Para ser lida, a série Le Faucon du Désert obriga a uma total suspensão da descrença. Precisamos de acreditar que na áfrica da II Guerra um jovem líbio e a sua namorada seriam facilmente acarinhados por pilotos do Afrika Korps que o deixaria aos comandos de um Me109 e inserido como piloto de combate. Melhor, uma viagem atribulada que termina com um despenhamento na ilha de Pantelleria coloca o jovem como piloto de combate numa esquadrilha italiana a abater Spitfires num C.202 Folgore. Um novo despenhamento em Malta coloca o polivalente líbio aos comandos de um Spitfire, combatendo amigavelmente com os pilotos da esquadrilha italiana a que havia pertencido.

Por detrás há uma história misteriosa sobre as suas origens e um tesouro secreto que leva o jovem líbio, sempre acompanhado pela sua namorada, à cidade de Berlim para localizar uma parente afastada. Uma vez lá, é facílimo fugir à Gestapo e roubar um Me 110 para chegar à Suiça onde, mais uma vez, é muito fácil ser integrado como piloto a vigiar as fronteiras helvéticas a bordo dos Morane-Saulnier MS-406. O regresso ao norte de África faz-se aos comandos de um Mosquito internado na Suíça e a caça ao tesouro conta com ajuda de um piloto americano e o seu P-38 reluzente.

Pois. Suspensão total de descrença. Como se sabe, basta chegar a um aeródromo e acenar para se ser aceite como piloto de combate aos comandos dos mais avançados aviões. Também é fácil ir mudando de lados num conflito mundial. Hoje vamos combater pelos alemães, amanhã ao lado dos italianos, e no fim de semana que tal ir defender as colónias britânicas? É simples. O livro ainda inclui cenas escaldantes entre o herói e a sua namorada porque, como sabemos, os muçulmanos têm uma atitude muito liberal para com relações sexuais fora do casamento.

Se o argumento é um desastre de idiotices pegadas, a série salva-se pela qualidade da ilustração. É aqui que esta banda desenhada reluz, com o ilustrador a desenhar com gosto e precisão as mais icónicas aeronaves da II guerra e a recriar emocionantes combates aéreos. Aliás, todo o argumento não parece passar de uma boa desculpa para desenhar aviões, algo que como já referi o ilustrador faz de forma excelente. Infelizmente a mestria no traço aeronáutico e o hino à estética das aeronaves não chegam para colmatar um argumento imbecil.