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sexta-feira, 11 de abril de 2025

Futuros

 























Retirado de um livro sobre futurismo, encontrado em alfarrabista. Adoro estas iconografias clássicas, que hoje nos parecem datadas mas mantém o lustre do otimismo nas suas visões de futuros prováveis.

terça-feira, 4 de março de 2025

Power and Progress


G C Thornley (1966). Power and Progress. Londres: Longmans.

Nada como um mergulho nas utopias tecnológicas de meados do século XX. Power and Progress é um livro antigo de divulgação científica, focado nas forças motrizes do progresso: a energia, carvão, à época; os motores a vapor; o petrólelo; as comunicações por sinais; produção em massa; aviação, o telescópio e medicina. Cada tema é explorado sob um prisma de ideário de progresso, de evolução técnica e social. É interessante perceber que as tendências que sentimos hoje já estavam presentes nesta análise, especialmente nas questões ligadas à energia, esgotamento de recursos naturais, ou importância das comunicações no dia a dia.

O livro está irremediavelmente datado, mas hoje não se lê como um preditor, mas sim como marco conceptual da forma como num passado pouco distante se especulava sobre o seu futuro próximo. Tem uma forte mensagem anti-guerra, e de esperança num crescimento contínuo de cultura e prosperidade. Oh my sweet summer child, não consigo deixar de pensar, ao ler estas palavras de esperança escritas nos anos 50, num 2024 onde a humanidade parece ter decidido abraçar o caos, estar-se nas tintas para os problemas ambientais, admirar os retrocessos nos direitos sociais, e o sonho de cada um ter voz graças aos meios digitais se ter tornando um pesadelo infestado de trolls, discursos extremistas e ódio. Lamento, mas apesar de todos os sonhos, não progredimos como o esperado. Até pelo contrário.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Mundo dos "Robots"


 Confesso-me fã de antigos livros futuristas, que por vezes tenho a boa fortuna de encontrar em alfarrabistas ou feira da ladra. Seduz-me o olhar tecnológico do passado, a forma como extrapolavam estéticas tecnológicas, e aquele otimismo progressita que nos dias de hoje nos parece tão esquivo.

 








Velhos tempos, em que o Unimate dominava a fabricação de automóveis (um robot industrial que hoje é mera referência histórica, creio), e os Tornado eram aviões modernos. Note-se também aquela visão laboral do robot como quasi-escravo ao serviço das pessoas, um trabalhador que não se cansa, não resmunga e não precisa de salário, e até pode ser programado para estar sempre feliz.


Olho para estes retrofuturismos num misto de nostalgia (parte destes livros vem do meu passado e a sua estética ajudou a formar a minha visão de futuro), e de observação. Por um lado, anotar que todas as tendências que hoje se discutem com enorme alarido como novidade trazida pelas tecnologias de ponta de hoje, já tinham há muito sido identificadas e discutidas (isso, qualquer leitor conhecedor de Ficção Científica sabe-o bem). Por outro, registar o inevitável futuro das nossas correntes predições tecno-futuristas, hoje luminosas e intrigantes, amanhã pitorescas e peculiares na sua obsolescência.

quinta-feira, 27 de julho de 2023

O Terceiro Milénio


Eurico da Fonseca (1999). O Terceiro Milénio. Lisboa: Livros do Brasil.

Tenho um gosto peculiar por livros antigos de futurismo. Não olho para eles com aquele olhar condescente, de ah, o quanto eles se enganaram naqueles tempos do passado em que se atreviam a especular sobre o futuro. Prefiro lê-los de forma comparativa, percebendo o que ainda hoje nos preocupa, aquilo que ficou irremediavelmente datado, e, também, aquelas esperanças futuras que ainda hoje nos soam a sonho.

Eurico da Fonseca é bem conhecido dos leitores de FC portugueses por ser o prolífico tradutor de várias coleções clássicas (e, dizem os entendidos, não especialmente bom tradutor). Neste livro, segue por outros caminhos, puxando das suas especializações em astronáutica para procurar falar sobre o novo milénio que, no final dos anos 90, estava ao virar da esquina.

É interessante comparar este futuro provável visto do final do século XX com as preocupações que temos hoje. A questão ambiental, que para nós é emergência grave, é aqui ainda pouco aflorada. As preocupações futuristas focavam-se mais no crescimento populacional excessivo, pressão sobre recursos naturais e economia. 

O livro ganha vida ao falar de espaço, com detalhadas apresentações de propostas e projetos de exploração espacial, bem como de tecnologias em desenvolvimento. O deprimente, lendo este livro 24 anos depois da sua publicação, é que muitos dos projetos não passaram disso, e ainda continuamos longe de tecnologias que nos permitam ir aos planetas do sistema solar, bem como passar mais além. Esses sonhos, continuam a ser uma esperança longe de ser realizada.

Lendo uma curta biografia do autor na wikipedia, não posso deixar de registar a ironia de ter falecido precisamente na viragem do século que procurou antever neste livro.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A Terceira Guerra Mundial


John W. Hackett (1978). A Terceira Guerra Mundial: Agosto de 1985. Lisboa: Livros do Brasil.

A resposta à pergunta de como seria uma guerra entre a NATO e o Pacto de Varsóvia é, felizmente, hoje uma especulação retórica. Não o era no final dos anos 70, quando este livro foi escrito, as realidades da história passada colocavam como quase inevitável um confronto destes. Escrito por um general inglês, este livro é uma visão sóbria e realista de como um conflito destes poderia ter acontecido. Spoilers: não acaba com um holocausto nuclear.

Tendo sido escrito por um general, não esperem uma pérola literária. É essencialmente um imenso infodump especulativo, alicerçado no conhecimento das tecnologias militares, escolas de pensamento estratégico e relatórios sobre condições políticas. Tem um lado otimista, com o ocidente a triunfar e uma certa antevisão da desagregação da União Soviética, e a visão conservadora do militar coloca de lado algumas vantagens sociais óbvias (como ter sociedades onde as organizações laborais são uma voz ativa, embora há que reconhecer que nos tempos da guerra fria a instrumentalização destas no jogo político tenha sido uma realidade).  Como adoro infodumps e retro-futurismos, mergulhei a gosto neste livro.

Hackett extrapola algumas das condições históricas do final dos anos 70. Com as economias europeias a desinvestir na vertente militar, e os Estados Unidos moralmente enfraquecidos após a guerra do Vietname, a União Soviética explora os movimentos políticos no médio oriente e áfrica, para tentar garantir um progressivo controle de recursos naturais, ao mesmo tempo que mantém debaixo de olho o crescimento da China como potência asiática (curiosamente, sem grandes explicações, Hackett imagina uma espécie de união entre a China comunista e o Japão capitalista, o que não faz muito sentido, mas dá-se o desconto do livro ser sobre a europa). Mas o crescimento da influência soviética na geoestratégia global tem um reverso. As sociedades dos países da Cortina de Ferro (hey, lembram-se disto?) estão a ficar instáveis, em grande parte pela sua proximidade com a europa ocidental. Torna-se difícil convencer os cidadãos dos benefícios de viver na utopia soviética quando, do lado de lá da fronteira, os cidadãos dos países da europa ocidental gozam de um nível de vida muito superior. 

Hackett imagina uma sequência de movimentações políticas e diplomáticas que conduzem a uma decisão funesta. O esmagar das veleidades cidadãs nos países da cortina de ferro é contra-balançado por uma intervenção americana a favor destes. E a guerra torna-se inevitável. Será a Alemanha o palco principal do conflito, embora Hackett analise o impacto global, especialmente focado no atlântico norte.

A análise especulativa reflete o potencial histórico, com a superioridade numérica e em artilharia soviética a enfrentar o menore número de soldados, mas equipados com melhores tecnologias, da NATO. Hackett descreve um cilindrar inicial dos europeus e americanos, a enfrentar vagas esmagadoras de tanques e artilharia soviética, mas a serem travados por táticas inteligentes e uso de armas avançadas anti-tanque, que erodem a superioridade numérica. Junta-se a isto uma luta pela superioridade aérea e naval, em que os meios ocidentais se revelam superiores em capacidade tecnológica e perícia das tripulações. 

A guerra é curta e brutal, Hackett observa que o fortíssimo desgaste de meios militares que não podem ser rapidamente substituídos é o principal fator da necessidade de rapidez no conflito. O uso de armas nucleares é evitado a todos os momentos, temendo-se sempre alguma decisão irrefletida no terreno (uma das observações de uma potencial guerra era que, face à superioridade numérica soviética, seriam os militares da NATO a usar armas táticas como forma de deter os soviéticos). Mas o que decide o conflito é o uso de uma explosão atómica sobre uma cidade britânica, logo respondida com detonação similar sobre uma cidade soviética (uma aplicação das teorias de guerra nuclear estratégica limitada, com ataques contidos recíprocos para garantir a contenção do conflito). Uma ação que terá como consequências o afastamento dos países do pacto de Varsóvia da guerra, que não querem arriscar ter as suas cidades aniquiladas, bem como uma revolta no interior da União Soviética, porque as repúblicas não-russas também não se querem ver envolvidas no conflito. A União Soviética entra em derrocada, porque o seu poderio militar não consegue contrariar a evolução política, nem a necessidade de melhores condições económicas para os seus cidadãos. 

O livro é otimista, mas tenta ser brutalmente realista. A guerra é curta, mas sangrenta e brutal, com um enorme potencial de derrota ocidental. Hackett não poupa esforços a traçar um quadro global detalhado do conflito, suas origens e consequências. Não é por acaso que, apesar das suas idiossincrasias, este livro se tornou um clássico da especulação militar. 

É curioso lê-lo nos dias da guerra Ucraniana, onde uma Rússia que se afirma herdeira do império soviético tenta absorver uma Ucrânia independente. Curiosamente, no livro de Hackett, a faísca que levará a União à derrocada parte precisamente de independentistas ucranianos no seio do governo soviético. É curioso ver nas notícias que as táticas de esmagamento do adversário por intensas barragens de artilharia e tanques são hoje o elemento de combate russo, com consequências horrendas e criminosas para os civis. E, também, que o uso de mísseis anti-tanque portáteis anula a premissa do tanque como arma primordial de guerra. É, obviamente, uma curiosidade amarga.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Super Slim

 


 Olha, queres ver uma antiga tecnologia pedagógica, que aposto que durante algum tempo foi super requisitada pelos professores aqui na escola? Se calhar até por ti, pergunto a uma colega enquanto lhe mostro este gravador (e reprodutor de cassetes em fita magnética, para os que acharem este objecto mais enigmático). "Ah", responde, já nem me lembrava disso!"

"Tenho aqui uma coisa que ia colocar na reciclagem eletrónica, mas quis mostrar-te, talvez tenha interesse...", disse-me aqui há dias uma colega, que logo a seguir tira um portátil antigo da sacola. Normalmente torço o nariz a doações bem intencionadas de material obsoleto para a escola, mas olhei com atenção. Isto é excelente para o eventual futuro museu da tecnologia aqui na escola, disse-lhe. Ao longo dos anos tenho vindo a agregar exemplares de tecnologias antigas, obsoletas ou caídas em desuso que vão chegando, entre doações e coisas esquecidas no fundo dos armários. Alguns ainda a funcionar. Talvez um dia consiga encontrar forma de os mostrar.

O computador dela deu entrada na colecção. Parece estranho,  mas estamos sempre tão deslumbrados com as novidades tecnológicas, que nos esquecemos da importância da memorialização. Quer como curiosidade, quer como recordação da história das tecnologias que usámos, que nos permitiram fazer coisas interessantes e diferentes, ou explorar diferentes formas de ensinar. 

Aposto que algures, nalgumas bibliotecas universitárias, estão esquecidos alguns artigos  e teses a analisar o impacto do uso do gravador de fita magnética na aprendizagem, ou a elencar estratégias inovadoras para o seu uso. 

O obsoleto de hoje já foi o inovador do passado, e há que saber valorizar essa memória histórica e tecnológica. Para não se cair no desvalorizar de passos fundamentais para se chegar onde chegaremos amanhã. Para contextualizar as inovações de hoje (não por acaso, nas formações de capacitação digital nível 3 que dou, incluo um texto de Quintiliano nas leituras sugeridas). E, também, porque recordar esta evolução ajuda a distinguir o trigo do joio nas correntes discussões e hypes sobre as tecnologias educativas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

H-alt: El Futuro Que No Fue


O título espelha na perfeição a estética de Daniel Torres: futurismo do passado, que nunca irão acontecer, mas são profundamente sedutores. O livro é uma ode ao retrofuturismo, a todos os níveis. Pela história que nos conta, pela sua iconografia, como se espera deste autor. Mas o próprio livro como objeto espelha esse hino às ideias dos futuros inexistentes. Torres dá-nos uma obra completa. Recensão completa em H-alt - El Futuro Que No Fue.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Como Viveremos em 1980


Louis Armand, et al (1970). Como Viveremos em 1980. Lisboa: Editorial O Século.

Podemos aprender com as antevisões passadas sobre o futuro? Podemos ler estes livros em tom jocoso, assinalando onde falharam redondamente. É a forma mais fácil de os interpretar, a que nos tranquiliza, porque a outra forma - lê-los como ideias racionais, postuladas por aqueles que, no seu tempo, extrapolaram o seu momento presente para futuros possíveis, coloca em questão o nosso deslumbramento com o pico cultural e tecnológico do momento presente, e a forma como antevemos a sua evolução. Ou seja, dentro de poucos anos, as nossas visões do futuro irão parecer tão anacrónicas com estas vindas do passado nos parecem.

Este livro colige textos escritos nos anos 70, que tentavam antever como seria o mundo em 1980. Curiosamente, não erraram nas tendências, que sentimos nos dias de hoje - a necessidade de integração europeia, a necessidade de desenvolvimento de novos urbanismos, a aceleração da economia e sociedade, o surgir dos problemas ambientais, e a progressiva integração da tecnologia digital no nosso dia dia. 

Ou seja, não previram iphones e internet (os que gostam de futurismos simplistas apontam sempre estas falhas), mas puseram o dedo nas tendências estruturantes, nas forças que modelam o nosso modo de vida, dos quais iPhones e internet são, essencialmente, adereços. Dos ensaios, destaco o de Herman Kahn, dos mais prescientes sobre a forma como o digital iria alterar as nossas vidas. As tendências que apontou nos anos 60, são aquelas que caracterizam a nossa relação com a tecnologia, hoje.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Passaporte para o Futuro

 

Luis Miravitlles (1969). Passaporte para o Futuro. Lisboa: Editorial Verbo.

É sempre intrigante ler antigos livros de futurismo para perceber até que ponto as nossas visões do futuro estarão datadas, daqui a uns tempos. Este foi editado no final dos anos 60, e foca-se nas capacidades humanas (chegando a prever sistemas de comunicação futura via telepatia), nos avanços da biologia, na preocupação com o crescimento da população. Dedica todo um capítulo às máquinas, que é notável, por falar abertamente de inteligência artificial (refere o perceptron, um dos primeiros projetos do género), e de automação com base em informática e mecanismos. Fá-lo sobre uma perspetiva aumentativa, de expandir capacidades humanas com o homem no controlo, embora não descarte a ideia de cérebros artificiais.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

The Big Book of Mars

 

Marc Hartzman (2020). The Big Book of Mars. Quirk Books. 

Um olhar para o planeta Marte, dividido entre várias vertentes.  Primeiro, os mitos das ciências incipientes, sobre canais e possíveis habitantes. Não esquece a interrelação entre cultura popular e estes mitos vindos de observações que posteriormente vieram a ser desacreditadas pelo avançar da ciência. Marte, com os seus canais e civilizações imaginárias, captou a imaginação no cinema e literatura, e não deixou de o fazer quando a ciência nos mostrou ser um planeta deserto e desprovido de vida (tanto quanto se sabe), com o sonho de o colonizar a substituir a aventura clássica. Finalmente, encerra com um panorama do que se sabe, hoje, de Marte graças à exploração levada a cabo por sondas e rovers, bem como uma visão dos planos para o estabelecimento de uma presença humana no planeta vermelho.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Reportagem no Século XXI

M. Vassiliev, S. Guschtchóv (1973). Reportagem no Século XXI. Lisboa: Editorial Futura.

Não resisto a fazer a piada óbvia: a grande falha deste livro de futurismo soviético foi no prever a queda do regime. Mera piada, até porque este mergulho na especulação de antevisão de futuros vinda dos tempos soviéticos prima pela sua dureza. Nada de visões cardboard futures de utopias urbanas, o livro é construído a partir de entrevistas a cientistas que tentam olhar para o futuro das suas áreas. Com um foco na indústria pesada, ciência pura, materiais e agricultura. O futuro soviético não era muito fofo. De fora, tudo o que se veio a revelar a revolução digital, apesar de algumas linhas dedicadas a máquinas eletrónicas capazes de auxiliar o cálculo humano, ou de reconhecimento da automatização da força de trabalho. Talvez sintoma do desfasamento das tecnologias de computação nos tempos da União Soviética face ao ocidente. Nem tudo no livro é indústria pesada, finaliza com conceções sobre veículos autónomos, cidades ambientalmente sustentáveis e o sonho da exploração do espaço. É sempre interessante ler especulações sobre o futuro vindas do passado, na forma como apontam possíveis desenvolvimento que nós, com a visão que temos, sabemos que não se passaram tal como o especulado, mostra-nos que não devemos confiar na linearidade das nossas próprias projeções de futuros. A capa deste livro é um portento de ilustração entre o surreal e o horrendo.

sábado, 29 de agosto de 2020

Baú da FC: Regresso ao Futuro

Recordar no Baú da FC um pouco de futurismo e FC encontrado enquanto perscrutava a coleção de revista da II Guerra do meu sogro... 

Na sua última edição de 1991, os editores do Expresso decidiram dedicar um dossier especial da revista que acompanhava este sempre espesso jornal à ficção científica. Tem o que se espera, pequenos textos e algumas crónicas sobre o género, bem como a inevitável especulação futurista sobre tecnologias e tendências que iriam moldar o mundo de amanhã, visto do final do ano de 1991.

 


quinta-feira, 19 de março de 2020

As Fronteiras do Possível


Jacques Bergier (1971). As Fronteiras do Possível. Lisboa: Editorial Verbo.

Ler um livro futurista escrito há cinquenta anos é uma experiência deprimente. Não pela ideia de o mundo não ter evoluído no sentido esperado. Antes, é sentir que a nossa visão do mundo, da evolução social e tecnológica que espelhamos nas nossas concepções de futuro, parecerá tão datada, algo absurda e levemente ridícula aos que daqui a cinquenta anos nos sucederem, como estas de há cinquenta anos atrás nos parecem a nós.

Não sei se Bergier é dos melhores nomes para ler visões sólidas sobre os futuros prováveis da sua época. É um nome ligado ao ocultismo pop, aos mistérios com toque sobrenatural. Parece que não foi só isso, tendo estado ligado à ficção científica e divulgação científica. Este livro espelha isso. Se a ciência que cita parece datada (quão datada? Cita abundantemente sábios soviéticos) , é ciência, e não especulação sobre o eventual sobrenatural.

Apesar das tendências do presente serem o alicerce o futuro, este tem uma certa tendência a evoluir de formas inesperadas. Para Bergier, de acordo com este livro, talvez a mais inesperada das evoluções seria a forma como a computação e a tecnologia digital se tornaram essenciais para a humanidade. São tecnologias que só aflora levemente, com algum desdém sobre as suas capacidades.

Começa com predições sobre a criação de vida artificial. Não em modo frankenstein, ou de extensão de capacidades humanas, mas numa extrapolação das capacidades da bioquímica, afirmando que em breve, seria possível criar vírus e outros microorganismos. A escrever nos anos 70 do século XX, Bergier não podia antecipar o que hoje se faz com biocomputação, possibilitada pela sequenciação genética. Tanto quanto sei, continuamos sem criar vida artificial, e não parece haver grande interesse nisso. O pormenor curioso é a forma como Bergier descarta de todo a possibilidade de inteligência artificial. Toca no assunto, mas considera o mecanicismo dos “ordenadores” (esta tradução revela o quanto a edição está datada) como artificial e impossível de se tornar vivo. Isto, apesar de citar um então jovem Marvin Minsky. Segue-se um tortuoso argumento, tentando misturar física que claramente não compreende com ficção científica elementar, a defender a possibilidade de viajar no tempo, embora não se atreva a imaginar como.

E comunicar com extraterrestres? Bergier aborda o assunto, citando abundantemente o trabalho de sábios soviéticos (isto mostra o quanto o livro está datado, o que é natural), especulando sobre formas de captar sinais de vida inteligente via rádio ou laser. De raspão, cita Fred Hoyle, observado que as hipotéticas civilizações alienígenas cujas comunicações detetássemos poderiam ser máquinas inteligentes. Seguindo a onda alienígena, Bergier pergunta-se se poderemos construir naves que nos levem às estrelas, apontando algumas soluções hoje quase esquecidas, entre reatores Broussard e propulsão nuclear. Termina as suas visões futuristas, ou melhor, de potenciais tendências, com a ideia de transmissão de energia por vias sem fios, algo cujo impacto ambiental teme. As redes de electricidade sem fios poderiam aquecer o ambiente, observa. Bem, diria que não precisamos dessa tecnologia para aquecer o clima, e é curioso que das tendências apontadas por este autor, a transmissão de energia sem fios parece ter sido a única que realmente se tornou realidade. Não em grande escala, mas para aumentar a conveniência de eletrodomésticos e telemóveis, graças aos carregadores por indução.

Termina o livro com uma exploração do que considera impossível, essencialmente o que está restringido por limites físicos, mas também culturais. Nestas, há um impossível que se está a mostrar ser possível: a tradução automatizada, que para Bergier nunca iria ser possível, mas que hoje é uma das aplicações corriqueiras da Inteligência Artificial.

domingo, 26 de janeiro de 2020

URL

Ficção Científica 


Death’s Last Patrol: Verdadeiramente pulp.


Why Authors Like Austen Became Canonical: Cheap Books: Não é particularmente novidade para bibliófilos, mas a publicação de livros a baixo custo, que quando surgiu foi criticada, provocou uma revolução de literacia. E, com isso, assegurou o não esquecimento de autores que hoje são incontornáveis.

Comic Art: 120 Years of Panels and Pages: Uma exposição na venerável biblioteca do congresso norte-americano, que nos mostra a longa história dos comics.


magictransistor:Max Ernst, Configuration, 1974: Cruzamento improvável entre modernismo clássico e ficção científica.

The 100 Best Comics of the Decade: Uma lista discutível, como todas são, com livros que surpreendem, outros que não são assim tão bons, e a falta de outros. Mas não deixa de ser uma excelente, e extensa, lista de comics a descobrir.


Frank Frazetta’s Buck Rogers art: Frazetta não é dos nomes mais ligados à ilustração de ficção científica, mas deu uns toques, se bem que mais a puxar ao estilo da fantasia.

“Snow Crash”: Neal Stephenson’s Seminal Cyberpunk Novel Set for HBO Max Adapt Series: É, provavelmente, o melhor livro de Neal Stephenson. Não que os seguintes sejam maus, mas este foi dos poucos em que o autor não se esticou desnecessariamente e contou a história na medida certa. Os restantes são verdadeiros matacões multi-volumes. Não é piada: olhem para a genial, mas destruidora de pulsos, série que começou com Cryptonomicon e tem a mais recente iteração com Fall, Or Dodge In Hell. Adaptar um livro tão intenso de ideias como Snow Crash para televisão pode resultar muito bem, tal como Altered Carbon o foi, ou correr muito mal. Worst case scenario será ser algo similar à muito badalada e incrívelmente boring adaptação de Childhood's End de Arthur C. Clarke pelo SyFy. A ver vamos.

How reading has changed in the 2010s: A morte da leitura erudita tem sido muito anunciada, mas pouco praticada. No entanto, é inegável que, como em tudo o resto, a nossa sociedade hiperconectada e tecnológica está a ter impacto transformativo na literatura. Este artigo regista alguns, entre audiolivros, auto-publicação digital, o livro físico como objeto de desejo, a queda dos rendimentos literários ou novas formas de escrever usando a estética das redes sociais.


Philippe Druillet: O nome imbatível da BD francesa de ficção científica de recorte psicadélico.

FC portuguesa? Para onde vai?: Credo, o Candeias está a meter-se comigo? Se calhar tenho de rasgar as vestes, mostrar a musculação em pose 300 (quer Frank Miller quer Zack Snyder, é a mesma coisa), e dizer-lhe bring it on. Porque é uma das coisas que precisamos na FC portuguesa, discussão daquela a sério, com argumentos mas sem equimoses. E informal, para formalidades já bastam os académicos e os seus (bocejos) ditos profundamente banais sobre FC. O meu fatalismo face ao potencial da FC portuguesa é, talvez, efeito secundário da minha profissão. Onde confesso que desisti, não vale a pena falar de literatura de género (e arriscando-me a ser injusto e a ser expulso definitivamente da sala de professores, de qualquer tipo de livros) junto dos meus colegas. O que me irrita, porque uma das obrigações óbvias de um docente é ser culto, e não de formas superficiais. Abro exceção com os alunos, aí vale toda a pena. Confesso que nestas andanças, o que me surpreende é a resiliência do género por cá, apesar de tudo, ainda resiste. Nem sei como é que se formam públicos para a FC, mas eles existem, vindos do cinema, BD e gaming. São os que conseguem ultrapassar a barreira da superficialidade dos géneros mais visuais e comerciais. Mas depois da nossa escaramiça, Candeias, podemos partilhar uma (inserir aqui a bebida preferida): no fundo, o que interessa é que os leitores gostem.



Moebius: Da mestria.

Selva!!!: Quando for crescido quero ter esta capacidade crítica sobre livros. Não, não foi uma piada. A crítica de Pedro Moura ao recente (e fantástico) livro de Filipe Abranches expõe exatamente as sensações que tive durante a leitura.

REVIEW: Batman’s Grave #3 — “I Am Habitually Ripped To The Gills On Very Fine Cocaine, sir”: Ah, Warren Elllis à solta em Batman tem destas pérolas de detournement dos pressupostos dos comics. Oh my, Alfred, what a naughty butler you are.


70sscifiart:Michael Whelan’s “Lovecraft’s Nightmare” diptych: As imagens inesquecíveis da primeira edição de obras de Lovecraft que consegui apanhar. Porque houve um tempo em que não havia Internet, e tínhamos de esperar por vezes anos por livros, filmes ou músicas.

The Decade Disney Won: A empresa tornou-se detentora da esmagadora maioria da cultura pop cinematográfica. Notem: Leia (Star Wars) e Black Widow (universo Marvel) são, tecnicamente, princesas Disney.

Tecnologia


Diaphanorama (Projection Lantern) Paintings, 18th-19th Century: Multimédia do passado. Imagens que, quando projetadas, arrepiavam os nossos antepassados.

114 :: Please for the love of Blarg, Start a Blog: Precisamente. Um blog dá-nos independência das curadorias algorítmicas das redes sociais, não nos limita em temas, ou obriga a simplificar discursos. E, ao contrário das linhas de tempo nas redes sociais, o que é publicado fica publicado e acessível. Notem que fugir do imediatismo (e do lixo, estar em redes sociais é uma experiência que por vezes testa a fé na bondade humana) não implica desprezar as redes. Há quem as abandone, há quem as use em apoio ao principal (e que realmente interessa): participar do imenso discurso de liberdade de pontos de vista permitido pela publicação digital. Mas nisto sou suspeito, quem me tira os feeds rss corta, literalmente, o meu acesso primordial à informação.

The World Relies on China's Surveillance Technology: Até porque se há uma coisa que uma ditadura repressiva faz bem, é congeminar formas de manter os seus cidadãos sob vigilância pervasiva. Não admira que as empresas chinesas sejam imbatíveis nisso.

Virtual Reality Before There Was Virtual Reality: A história da tecnologia tem destas coisas, tecnologias interessantes que, passado o seu tempo, depressa ficaram esquecidas. É o caso da fotografia estereoscópica, vista através de visores. Foi popular nos anos 50 e vendiam-se series de slides que permitiam a qualquer um ver locais distantes ou exóticos. Soa familiar às nossas experiências contemporâneas com realidade virtual, não soa? Na verdade, a tradição de recriação virtual do real usando meios técnicos para criar ilusão de tridimensionalidade é bem antiga, e antecede a estereoscopia de que fala o artigo.

Pensamento computacional: Só mesmo a Fernanda Ledesma para se lembrar desta, ilustrar os conceitos essenciais do pensamento computacional com peças do robot Anprino. Faz sentido, porque antes de ser programado para andar, rabiscar ou piscar luzes, este robot começa por ser um monte de componentes. Só mobilizando decomposição, reconhecimento de padrões, abstração e algoritmos é que se transforma num robot.

AI Now 2019 Report (2019): Qual é o corrente estado da arte nos campos de investigação sobre inteligência artificial? Problemáticas, potenciais, vias de investigação, em análise num relatório sobre o estado da arte desta tecnologia em 2019.

Why Is Your Cellphone Not A More Useful Computer?: Porque… pois, pois é, porquê? Com smartphones e tablets tão poderosos, porque é que não são o principal meio de produtividade digital? Talvez por questões de interface, ou capacidade das aplicações. Mas não é impossível substituir o computador por dispositivos móveis em contextos de trabalho. As Capturas são um exemplo disso, escrevo-as no meu tablet.

Artificial Intelligence: Threat or Menace?: Um texto fabuloso de Charles Stross, sobre ficção científica, como usar o futurismo enquanto ferramenta de análise social, e sobre o potencial negativo de sistemas de Inteligência Artificial cada vez mais complexos e opacos, sendo a opacidade o problema. Poderemos confiar nas decisões tomadas por sistemas autónomos cujos critérios de decisão são invisíveis?

The Next Big Customer Experience From Jeff Bezos: A Blue Origin é a sua aposta sustentada no aumento do acesso ao espaço. Sem a visibilidade da Space X, mas com uma visão de desenvolvimento metódico, sustentado pelos bolsos fundos do patrão da Amazon.

Mall robot is programmed to detect when kids are about to bully it, and take evasive action: Sei do que falo, as crianças entre elas são terríveis e implacáveis (parte do trabalho de qualquer professor é ensinar a gerir e controlar estas pulsões). Não invejo a sorte deste robot.

Modernidade



*The good old fashioned Post-Anthropocene: Um belíssimo achado de Bruce Sterling.

What we get wrong about time: Concebemos o tempo como algo linear, embora para a Física seja algo muito mais fluido. A percepção linear que temos é ainda mais atraiçoada pela forma como formamos, e recuperamos, memórias.

Why Goldman Sachs Is Fighting Climate Change—And the UN Isn’t: O capitalismo vai salvar-nos do apocalipse ambiental? Enquanto governos se desmultiplicam em discursos de intenções vazias e conferências onde nada se decide, são os investidores que realmente estão a fazer ações concretas para travar as indústrias mais poluentes. Em parte é uma jogada de marketing, para limpar a imagem num contexto de opinião pública cada vez mais atenta aos problemas ambientais. Por outro, talvez haja algum reconhecimento de necessidade de sobrevivência. O caminho de industrialização cega e exploração de recursos trazido pelo capitalismo já se revelou insustentável em todas as vertentes, e já passamos o ponto de retrocesso nas alterações climáticas.

Keynes was wrong. Gen Z will have it worse.: O futuro não está nada brilhante. Se vivemos numa época de desenvolvimento tecnológico e social talvez incomparável ao nível global, as realidades do progressivo fosso de desigualdades, excessiva concentração de riqueza e aquecimento global estão a levar-nos a um futuro muito inferior ao nosso presente. Os sinais estão todos visíveis.

The Best Illusions of the Year Will Have You Further Questioning the Reality You Live In: As ilusões de ótica são mais do que imagens com piada, são uma janela para a forma como o cérebro processa informação visual.

Antarctica Is Stark, Beautiful, and Will Shrink Your Brain: Compreender os efeitos físicos e neurológicos do isolamento extremo em zonas remotas como a Antártida é importante para perceber como reage a fisiologia humana às viagens no espaço.

The jokes always saved us: humour in the time of Stalin: Quando a piada inócua podia significar anos de cadeia, ou pior. Mas o intrigante é perceber como, apesar dos riscos, o humor foi fundamental para se suportar os tempos mais repressivos.

History’s Greatest Sea Is Dying: O nosso mare nostrum, cercado pelo aquecimento global, poluição, exploração de gás natural, desleixo dos governos dos países que banha, e os jogos geopolíticos.