M. Vassiliev, S. Guschtchóv (1973). Reportagem no Século XXI. Lisboa: Editorial Futura.
Não resisto a fazer a piada óbvia: a grande falha deste livro de futurismo soviético foi no prever a queda do regime. Mera piada, até porque este mergulho na especulação de antevisão de futuros vinda dos tempos soviéticos prima pela sua dureza. Nada de visões cardboard futures de utopias urbanas, o livro é construído a partir de entrevistas a cientistas que tentam olhar para o futuro das suas áreas. Com um foco na indústria pesada, ciência pura, materiais e agricultura. O futuro soviético não era muito fofo. De fora, tudo o que se veio a revelar a revolução digital, apesar de algumas linhas dedicadas a máquinas eletrónicas capazes de auxiliar o cálculo humano, ou de reconhecimento da automatização da força de trabalho. Talvez sintoma do desfasamento das tecnologias de computação nos tempos da União Soviética face ao ocidente. Nem tudo no livro é indústria pesada, finaliza com conceções sobre veículos autónomos, cidades ambientalmente sustentáveis e o sonho da exploração do espaço. É sempre interessante ler especulações sobre o futuro vindas do passado, na forma como apontam possíveis desenvolvimento que nós, com a visão que temos, sabemos que não se passaram tal como o especulado, mostra-nos que não devemos confiar na linearidade das nossas próprias projeções de futuros. A capa deste livro é um portento de ilustração entre o surreal e o horrendo.