sábado, 31 de março de 2012

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Ultimate Captain America


Jason Aaron; Ron Garney (2011). Ultimate Captain America. Nova Iorque: Marvel Comics.

Mergulhar no simplismo colorido da mitologia pop do Capitão América é um dos meus prazeres proibidos. Icónico e bidimensional, é caracterizado por linhas narrativas elementares e redutoras, que trazem ao leitor sempre mais do mesmo. Os comics de super-heróis são os hamburguers da cultura popular. O que leva este Ultimate a destacar-se da manada? Uma leve tentativa de misturar uma versão progressista da história contemporânea com a rudimentaridade do personagem. O lendário capitão, super-soldado leal à ideologia libertária, enfrenta um rejeitado, ex-capitão que tortura o capitão américa enquanto o esclarece sobre as atrocidades cometidas pelo governo dos estados unidos pelo mundo fora. Um pouquinho fora do âmbito da infantilidade deste género, mas suavizado pelo facto de as narrações incómodas virem da boca do vilão. Este comic tocou como uma pequena dose de amargura no sabor previsível do hamburguer. De resto, nada mais a destacar. O argumento é previsível e o traço assente na iconografia da Marvel.

sexta-feira, 30 de março de 2012

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Au Dela Des Nuages


Régis Hautière; Romain Hugault (2006). Au Dela Des Nuages. Genebra: Paquet

Debaixo de uma narrativa previsível sobre triângulos amorosos está uma pequena ode ao gosto pela aviação. O rigor e e explosão de acção nas cenas aéreas são o ponto de interesse destes livros. A história segue um padrão de tragédias, desencontros, traições e redenções enquanto o trabalho de ilustração se distingue por uma precisão assinalável na representação de aeronaves de época, pormenor importante para os aficionados da aviação.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Le Grand Rouge


Wouzit (2010). Le Grand Rouge. Paris: Manolosanctis.

A exuberância de cor e a simplicidade do traço num delicioso registo quase infantil ocultam uma história tenebrosa. O aparente bucolismo narrativo oculta uma violenta traição final que deixa marcas indeléveis nos responsáveis. Se o argumento é intrigante, este álbum brilha pelo seu grafismo naif, colorido, simples e exuberante.

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quarta-feira, 28 de março de 2012

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Aperto de mão digital



Coisas engraçadas do inconsciente colectivo anotadas enquanto mergulho mais a fundo em Alone Together de Sherry Turkle. Ainda nos capítulos sobre robótica, compreendo o seu argumento. Turkle descreve curiosas reacções de intimidade, ligação e cumplicidade frente a robots desenhados como elementos sociais. Mesmo sabendo que não estão vivos e não são conscientes, os sujeitos dos estudos criam relações afectivas com a máquina. São apontadas razões que vão da simples necessidade humana de ser ouvido - os movimentos e reacções programadas dos robots criam essa sensação, a insights profundos sobre a nossa forma de estar com os outros. O robot permite criar relações que não ameaçam a pessoa. Porque uma relação entre pessoas é sempre uma colisão de personalidades individuais que obrigam a consensos e adaptações. Os robots, com o seu simulacro de personalidade, não obrigam a isso. E é aqui, neste esvaziar de significado de uma das vertentes que define a humanidade, que reside o cerne da preocupação de Turkle.

E depois temos coisas como a deste vídeo. Uma mão mecânica que transmite sensações de força, textura e calor, destinada a ser utilizada na comunicação à distância. Pode ser interpretado de três maneiras: como precioso auxiliar que humaniza e melhora a interacção e a comunicação à distância, um prenúncio de um futuro próximo onde a humanidade solipsista só interage através de mediação mecânica ou digital, ou uma daquelas ideias de sanidade duvidosa que por vezes nos surpreende e se torna parte integrante do zeitgeist cultural. Não é por acaso que este é um projecto nipónico. É o país mais avançado na robótica humanóide e onde a interacção homem-máquina é aceite com mais naturalidade, talvez graças à influência uma cultura shintoista que vê lampejos de vida nos mais humildes elementos. Talvez vejam nas acções pré-programadas aleatória vislumbres de kami.

The Cardboard Valise


Ben Katchor (2011). The Cardboard Valise. Nova Iorque: Pantheon Books.

Ben Katchor é um daqueles autores de banda desenhada relativamente obscuros ao grande público mas fortemente influentes nos criadores mais populares. O seu estilo gráfico rascunhado abre as portas para um mundo interior de urbanismo surreal, onde os detalhes do dia a dia são subvertidos com humor erudito e um onirismo borgesiano. Katchor constrói mundos alternativos levemente desviados da normalidade do mundo real.

Viagens e entrelaçamentos de narrativas são os grandes temas de Cardboard Valise, com um elenco idiosincrático que nos mergulha nos desvios urbanos de cidades plausíveis onde a estranheza e o absurdo obssessivo são a normalidade. Utilizando como técnica a compressão gráfica e temporal da tira de jornal, Katchor leva-nos a um mundo muito pessoal de fascínios e sonhos.

terça-feira, 27 de março de 2012

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Strangehaven


Gary Millidge (2005). Strangehaven. Leigh-On-Sea: Abiogenesis Press

Bem vindos à vila de Strangehaven. Sintam-se confortáveis. É melhor. Se a vila gostar de vós nunca mais vos deixará partir. É sobre este fundo misterioso que numa aparentemente pacata vila inglesa se movem personagens aparentemente banais. O encanto de Strangehaven está nesta dicotomia. Um misto de banalidade telenovelística com relações que se quebram e estabelecem, traições, amores e as tropelias simples do dia a dia colidem com uma paranormalidade indefinida de espaços que se dobram sobre si próprios, laços temporais, conspirações entre sociedades secretas e um suposto alienígena que tenta construir um equipamento de comunicações enquanto foge aos encantos de uma rapariga da aldeia.

Sim, Strangehaven. A vila simpática onde todos têm segredos, que acolhe aqueles que estão à deriva na vida e os prende num laço inexplicável.

O outro grande ponto de interesse deste comic é o ser criado não por autores consagrados mas por um fanboy, que com paixão se dedicou à escrita, ilustração e edição desta série enganadoramente simples e surreal.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Real Doll



A ler o Alone Together de Sherry Turkle e a compreender os receios da autora sobre o que o nosso recém-descoberto afecto por máquinas que imitam vida pode dizer sobre a desistência de ser humano. Para Turkle, veterana da investigação em implicações psicológicas e sociais das Tecnologias de Informação, os efeitos da introdução de robots nas relações humanas são perniciosos. Não pela imitação de vida ou sensações uncanny valley, mas por apontarem para um futuro em que os indivíduos optam pela facilidade das relações com a máquina e desistem da complexidade das relações humanas. Muitos dos entrevistados pela autora já referem esse factor como importante na relação que imaginam estabelecer com objectos mecânicos controlados por inteligências artificiais cuja programação simula alguns aspectos de personalidade. Um robot pode ser programado para ser como nós queremos, e uma pessoa não. Ainda não li o livro todo, por isso ainda reservo conclusões, mas isto está a anos-luz dos problemas éticos das três leis de asimov e curiosamente mais próximo do sonho de companheiras/os perfeitos como as Evas Futuras de Villiers de L'Isle-Adam. Turkle teme que prefiramos máquinas a pessoas porque as máquinas não desiludem, são previsíveis, estão lá, não nos importunam com necessidades individuais.

Outro pormenor das observações de Turkle é a naturalidade com que as novas gerações reagem ao robot como um ser vivo - não tão vivo como uma pessoa ou animal, mas aos seus olhos como se de uma forma de vida se tratasse.

E depois surgem coisas como esta: o vídeo de uma adolescente que se dedica a reinventar-se como uma boneca. Literalmente. Um ser humano que se redefine como boneca articulada. A total inversão de evas do futuro. É o surto de futurismo provável vindo à rede dos fluxos binários de cultura global.

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David Boring


Daniel Clowes (2002). David Boring. Nova Iorque: Pantheon.

Obsessão é o mote deste livro. Todos os personagens vivem obcecados pelo sue mundo interior, alheados dos sentimentos dos que os rodeiam. Solipsistas, buscam a solução para os seus intricados engimas indiferentes aos colapsos exteriores, que apenas servem para reforçar as suas obsessões.

O personagem que dá o nome ao livro é arrastado pelas circunstâncias, vive uma paixão de final infeliz com uma mulher que se adapta aos desejos dos homens, é alvejado por um professor universitário e acaba isolado com a sua família distópica e a companheira lésbica de casa e de vida numa ilha, afastado da sociedade. Sempre à procura de algo, sempre a perder o que tem.

O traço enganadoramente simples e fortemente contrastante de Daniel Clowes suaviza esta história de obsessões, tragédias apocalípticas, derivas pelo mundo e sexualidade individual desviante.

Coincidências...


Uma imagem do mergulho de James Cameron em direcção à fossa das Marianas


Uma imagem de animação 3D criada pelos meus alunos (eu renderizei, mas os enquadramentos foram sugeridos e combinados com os alunos). Gosto destas coincidências, quase de inconsciente colectivo. Também gosto de ler declarações como as que Cameron fez sobre o que o leva ao mergulhos e às pesquisa de desenvolvimento técnico: ‎"I grew up on a steady diet of science fiction at a time when people were living a science fiction reality. "People were going to the Moon, and Cousteau was exploring the ocean. And that's what I grew up with, what I valued from my childhood.".

Talvez seja do enquadramento de crise, mas não deixo de sentir que o zeitgeist de hoje não ajuda a ter sonhos. Que sonhos restam às crianças de hoje, para lá dos pré-formatados pela cultura popular mediática de massas em decadência face ao assalto estilhaçado da sociedade em rede?

domingo, 25 de março de 2012

Icaro


Jirô Taniguchi, Moebius (2003). Icaro. Nova Iorque: Ibooks.

O mito de ícaro é reconstruído num registo cyberpunk attavés de uma colaboração entre Moebius e Taniguchi. Como se espera destes mestres, a criação é sólida e a ilustração sedutura, mergulhando-nos num mundo fantástico hiper-tecnológico sob a estética nipónica da elegância industrial. Sendo um cruzamento entre bande dessiné e manga, estilisticamente está mais próximo do estilo japonês do que do europeu. Fascina pelos panoramas industriais em linha clara que enchem o olhar do leitor.

sábado, 24 de março de 2012

Cinema Descartável



Fiquei espantado com a precisão e inventividade desta curta metrage. Dou razão ao comentário do Singularity Hub: algumas destas obras são vastamente mais interessantes do que a maioria das coisas bonitinhas projectadas nas salas de cinema. Tudo por causa do Disposable Film Festival, dedicado a obras feitas fora das regras técnicas e estéticas do cinema clássico. Filmados com câmeras DSLR, captura de ecrã, mashups, máquinas fotográficas, telemóveis... são novas formas de filmar e contar histórias com imagens em movimento. Cliquem para ler e, especialmente, ver: Disposable Film Festival.

Shaky Kane's Monster Truck


Shaky Kane (2011). Shaky Kane's Monster Truck. Berkeley: Image Comics

Carros, monstros, aviões, mulheres sexy, e cor, muita cor. Cor gritante que agride os olhos num álbum absurdista, caderno de desenhos fetishista que seduz pelo puro gozo espalhado pelas páginas. Uma colisão entre o lápis e a cultura pop, despejada em quadricromia nas páginas de um livro.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Novas Estéticas


Ainda não me tinha apercebido da integração entre o Google Maps e o Google Earth. Fiquei embasbacado a ver as ruas de Santos a renderizarem-se em 3D quase em tempo real.

+eco


Certificado de participação na 2ª fase do concurso de ideias.

Foi com agrado que recebemos a boa notícia: o projecto +eco foi um dos seleccionados para a fase de desenvolvimento da iniciativa Prémio Ciência na Escola da Fundação Ilídio Pinho. Este ano participamos com um projecto abrangente e multidisciplinar com uma equipe de professores de Educação Visual e Tecnológica, Ciências da Natureza e Ciências Naturais. Temos como objectivo realizar um documentário que analise a possibilidade de adopção de energias renováveis no espaço físico da escola. Envolve actividades de tomada de consciência para os problemas ambientais, inquéritos sobre tecnologias verdes, estudos e propostas de implementação de equipamentos energéticos e de reciclagem e pesquisas sobre soluções energéticas.


Cerimónia de entrega de prémios de participação no dia 22 de Março, Escola Secundária Dom Pedro V.

Para além de apoio generalizado ao projecto, o 3D Alpha está envolvido especificamente nas componentes de edição vídeo e criação de animações ou modelos 3D de equipamentos de energias renováveis. Para saber mais sobre este e outros projectos de utilização criativa das TIC no Agrupamento de Escolas Venda do Pinheiro consultem a página 3D Alpha.

(momento pequeno orgulho pessoal do dia: ir receber os certificados e ao cumprimentar o director regional adjunto da DRELVT ouvi-lo dizer que se recordava do projecto do ano anterior, "um com imagens em 3D".)

Tinkercad

A brincar com o Tinkercad, um site que permite criar modelos 3D a partir de um interface simples. Tem coisas giras: é fácil de criar objectos a partir de formas primitivas num interface bem desenhado (AJAX e Canvas em HTML5, parece-me. Permite enviar o ficheiro directamente para um serviço de impressão 3D ou... e disto gosto muito: exporta em .stl e descarrega para o computador local.


Interface do Tinkercad: clicar sobre forma primitiva, e reposicionar/redimensionar no espaço tridimensional (a base milimétrica ajuda muito). Como o resultado poderá ser impresso em 3D, a aplicação dá-nos medidas em milímetros e linhas de cota em tempo real nas operações de rotação e redimensionamento.


O Tinkercad dá-nos a opção de descarregar o ficheiro STL para o computador. Aberto no Meshlab está cá tudo. Esta é uma primeira experiência, e o site promete. A dica veio da Popular Mechanics: How to Get Started: 3D Modeling and Printing.

Hav


Jan Morris (2006). Hav: comprising last letters from Hav, Hav of the Myrmidons. Londres: Faber.

A literatura de viagens pode ser lida como uma elaborada forma de ficção. Afinal, que provas temos que um escritor este realmente no lá que descreve? Saltou de um avião para a poeira e arquitectura exótica ou reconstruiu na sua mente uma imagem de um além da fronteira a partir de imagens e leituras? Instintivamente sabemos que não é assim, não seria possível ser assim. E no entanto a literatura de viagens não é um retrato fiel de locais, é uma reconstrução feita a partir das percepções do vajante-escritor.

Ou então podemos ter algo como este intrigante relato a duas épocas sobre Hav, esse curioso enclave na costa turca. Como o descrever? Langor levantino com misturas de resquícios de impérios perdidos na história, onde seitas esquecidas ainda dominam o espectro intelectual e político. Não um cemitério de impérios, antes um daqueles portos que o devir histórico, as leis dos mercados e as andanças das gentes transformaram em mesclas culturais únicas. Pense-se uma colisão a baixa velocidade entre Gibraltar, Tânger, Malta, Rodes, Macau e o Mónaco e começa-se a conceber o carácter de Hav.

Como lá chegar? Apenas pelas palavras contidas entre a capa do livro, pois Hav é um local ficcional criado pela escritora de viagens Jan Morris para tentar, como observa no posfácio, dar sentido às experiências que relatava e mostrar que o mais arguto dos escritores não consegue dar a conhecer o carácter profundo das terras que visita e regista. A ficcionalidade de Hav, moderna Ruritânia, não impediu que curiosos viajantes se dirigissem a agências de viagem em busca de um bilhete para o enclave. Ficção, mais real que a realidade.

Hav vive de dois momentos: a descrição de um poeirento entreposto tradicional, langoroso e esquecido pelo tempo, e o seu perfeito contraste, uma reflexão sobre a hipermodernidade estéril de locais como Singapura ou Doha, onde o arranha-céus e o ar condicionado esmagam o carácter tradicional. Morris descreve a sua ficcional Hav com um intervalo de vinte anos entre uma estadia prolongada na colorida velha sociedade e uma visita ao enclave após um bem sucedido golpe de estado que coloca no poder uma teocracia cátara (leram bem) que arrasa o antigo para o substituir por efémeros e impessoais paradigmas de modernidade.

Hav lê-se como literatura de viagens ficcional, como um passeio Borgesiano a Üqbar se Borges escrevesse como Paul Theroux. Mas ao criar um elaborado e verosímil mundo ficcional que reflecte sobre as dicotomias do mundo real contemporâneo coloca-se no campo da melhor ficção científica. Não tem naves espaciais e raios da morte, mas tem a percepção de como as contracções históricas modelam os locais e as gentes.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Odd and the Frost Giants


Neil Gaiman (2008). Odd and the Frost Giants. Londres: Bloomsbury.

Sempre que leio Gaiman em registos mais simples imagino uma voz de sotaque eminentemente britânico a pronunciar elegantemente as palavras que narram a história. É esta oralidade literata o que me atrai na prosa deste escritor, mais do que a sua visão bucólica do fantástico ou as interessantes histórias. Conto infantil, de volta ao velho tema de ritos de passagem/jovem perdido que encontra o seu lugar no mundo que é tão habitual em Gaiman, leva-nos ao medievalismo nórdico e às lendas de Asgard. Mas o melhor deste livro é sentir aquela voz a sussurrar na mente, envolvendo-nos na história...

quarta-feira, 21 de março de 2012

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Le Grand Jeu


Jean-Pierre Pécau, Leo Pilipovic (2007). Le Grand Jeu. Paris: Delcourt.

É uma série que parte de premissas intrigantes. Se em 1939 Estaline não tivesse ligado ao pacto de não-agressão com a Alemanha nazi, os tanques soviéticos estariam às portas de Berlim em 1941... e um ocidente em pânico apoiaria o regime alemão para suster o avanço russo. Misture-se isto com uma dose bem investigada de teorias esotéricas e desenvolvimento de armas secretas germânicas e temos os ingredientes para este Le Gran Jeu, onde misteriosos acontecimentos numa zona de exclusão internacional na Gronelândia levam um intrépido jornalista francês a enfrentar lobisomens nazis, haunebus, civilizações pré-adâmicas, criaturas de além espaço e tecnologias militares secretas avançadas. Ponto de partida interessante, mas infelizmente o argumento de Jean-Pierre Pécau centra-se mais em aventuras frenéticas do que no desvendar dos segredos que faz vislumbrar. É na ilustração, a cargo de Leo Pilipovic, que esta série se distingue. Apesar de formalista e sem trazer nada de novo à estética da banda desenhada, o ilustrador fez e muito bem o trabalho de casa e dá-nos representações admiráveis de alguns dos mais esotéricos projectos de alta tecnologia saídos da época da II Guerra. Desde ovnis nazis a aviões de combate a jacto, passando por aerosubamrinos e aeronaves exóticas, o olhar de um leitor conhecedor dos projectos utópicos deleita-se com as representações fiáveis.

terça-feira, 20 de março de 2012

Cinco postais, uma ideia.

Uma ideia estranha, que me foi sugerida por uma vinheta de The Cardboard Valise de Ben Katchor em que um personagem segura um postal. Porque não adquirir cinco postais com imagens panorâmicas, escolher ao acaso cinco endereços no Google Earth, e enviar às cegas com instruções sobre como continuar o jogo/experiência? Qual a reacção dos incautos receptores dos postais desconhecidos? Deitariam para o caixote de lixo mais próximo, enfurecer-se-iam com um toque de paranóia ou continuariam a tendência? Os cinco postais morreriam nos primeiros destinos ou iterar-se-iam em 5x5, 5x5x5, 5x5x5x5, ad infinitum? Hmmm. Ideia a explorar, que poderia ter um site a acompanhar, onde os interessados registariam as imagens recebidas nos locais de recepção. Conseguem imaginar a mão de um estranho a mostrar uma vista policromada de Lisboa nos arredores de uma qualquer cidade europeia? Porque não?

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War Is a Force that Gives Us Meaning


Chris Hedges (2003). War Is a Force that Gives Us Meaning. Nova Iorque: Random House.

Se procuram este livro como um argumento para exaltar as virtudes da guerra, o título induz em erro. Reflexão muito pessoal de um repórter de guerra que há décadas que cobre conflitos nos locais mais desesperados do planeta, leva-nos a repensar a guerra como palco cru de atrocidades, onde os conceitos morais se desmoronam e os intervenientes se desvanecem num frenesi de violência e morte. Hedges é implacável ao retratar sem piedade nem idealismos o talvez mais antigo hábito humano. Desmonta os mecanismos propagandísticos e ideológicos, reconhece a importância da memória das vítimas, mostra a crueza dos campos de batalha e a insanidade temporária dos combatentes. Confessa-se viciado na guerra, descrevendo-a como uma droga potente inescapável para aqueles cuja mente cai nas suas garras.

Não é um livro de relatos, embora nos sejam dados muitos vislumbres do que o autor testemunhou na sua carreira como jornalista. Não é uma obra sequencial, reminiscente de visitas a diferentes teatros de conflito ao longo do tempo. É uma reflexão profunda sobre os males da guerra e a sua principal vítima: não os danos estruturais ou a mortandade, mas o espírito de humanidade.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O que está no fundo do mar?

Mais um visto na lista de afazeres. Para saber mais e conhecer outros projectos deste género consultem o 3D Alpha.



Animação 3D para cenário de instalação sob o tema o que está no fundo do mar. Software utilizado: Doga L3 para modelos mecânicos; Bryce 7 para modelos orgânicos, texturização, cenários, animação e rendering; Vegas Movie Studio HD para edição vídeo. Sons provenientes do repositório Freesounds.org. Criado pelos alunos da turma 5ºE em Educação Visual e Tecnológica, Estudo Acompanhado e Ciências da Natureza. Trabalho orientado pelos professores Sónia Azevedo (Ciências da Natureza e ideias de sanidade questionável), Fernando Ferreira (Educação Visual e Tecnológica às voltas com papier-machè, cola e tintas) e Artur Coelho (Educação Visual Tecnológica, bits, pixels, coordenadas XYZ e sanidade mental inexistente).

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From Hell : Being a Melodrama In Sixteen Parts


Alan Moore, Eddie Campbell (2010). From Hell : Being a Melodrama In Sixteen Parts. Londres: Knockabout.

Alan Moore pega num dos mistérios mais perenes da história recente e dá-lhe um toque místico que coloca os assassínios de Whitechapel como uma metáfora do nascimento do século XX. A base narrativa de From Hell é o mistério de Jack o Estripador, protótipo de serial killer e criminoso nunca descoberto. O falhanço na descoberta da identidade do homem que estripou cirurgicamente prostitutas num bairro londrino levou ao desenvolvimento de inúmeras teorias. Moore pega em algumas: os assassínios como forma de encobrir desvios comportamentais de altos membros da família real britânica e a identidade do cirurgião da rainha Vitória como o perpretador dos hediondos crimes. Esta é uma das vertentes do livro, feita de pedidos secretos, encobrimentos por parte das autoridades e corrupção de membros da polícia, onde Moore brilhantemente coloca a influência da irmandade maçónica. Se esta aproximação dá uma boa história, é no lado místico que o livro abre os horizontes para algo mais largo do que a sordidez criminal.

Misturando mitologia com a história oculta de Londres, num piscar de olhos à obra de Iain Sinclair, Moore retrata os assassínios como um elaborado ritual de transcendência de espaço e de tempo. Na convergência de sangue e mitos, o cirurgião metamorfoseia-se no parteiro de um novo século, entrevisto em vislumbres que desfazem as barreiras cronológicas. Esta transcendência é retratada no final de forma brilhante, com a simultaneidade do tempo infinito e infinitesimal sentida no momento da morte do estripador, abandonado num asilo de loucos.

O traço expressionista e rascunhado de Eddie Campbell dá a From Hell um carácter áspero, que equilibra os voos ocultistas de Moore e dá mais crueza aos retratos nus da Londres vitoriana.