segunda-feira, 26 de março de 2012
Real Doll
A ler o Alone Together de Sherry Turkle e a compreender os receios da autora sobre o que o nosso recém-descoberto afecto por máquinas que imitam vida pode dizer sobre a desistência de ser humano. Para Turkle, veterana da investigação em implicações psicológicas e sociais das Tecnologias de Informação, os efeitos da introdução de robots nas relações humanas são perniciosos. Não pela imitação de vida ou sensações uncanny valley, mas por apontarem para um futuro em que os indivíduos optam pela facilidade das relações com a máquina e desistem da complexidade das relações humanas. Muitos dos entrevistados pela autora já referem esse factor como importante na relação que imaginam estabelecer com objectos mecânicos controlados por inteligências artificiais cuja programação simula alguns aspectos de personalidade. Um robot pode ser programado para ser como nós queremos, e uma pessoa não. Ainda não li o livro todo, por isso ainda reservo conclusões, mas isto está a anos-luz dos problemas éticos das três leis de asimov e curiosamente mais próximo do sonho de companheiras/os perfeitos como as Evas Futuras de Villiers de L'Isle-Adam. Turkle teme que prefiramos máquinas a pessoas porque as máquinas não desiludem, são previsíveis, estão lá, não nos importunam com necessidades individuais.
Outro pormenor das observações de Turkle é a naturalidade com que as novas gerações reagem ao robot como um ser vivo - não tão vivo como uma pessoa ou animal, mas aos seus olhos como se de uma forma de vida se tratasse.
E depois surgem coisas como esta: o vídeo de uma adolescente que se dedica a reinventar-se como uma boneca. Literalmente. Um ser humano que se redefine como boneca articulada. A total inversão de evas do futuro. É o surto de futurismo provável vindo à rede dos fluxos binários de cultura global.