terça-feira, 31 de janeiro de 2017

The Infinity Entity



Jim Starlin, Alan Davis, Ron Lim (2016). The Infinity Entity. Nova Iorque: Marvel

Por si só, Thanos é o típico super-vilão megalómano de comics, que existe apenas para que as suas grandiosas maquinações sejam travadas pelos super-heróis em gloriosas batalhas. Emparelhado com Warlock, no entanto, torna-se algo mais, um resquício do psicadelismo cósmico em voga nos anos 70 do século XX. Jim Starlin é o culpado usual desta vertente, com as suas histórias onde os dois personagens, inimigos com demasiado em comum, duas faces da mesma força cósmica, se cruzam em dilemas verdadeiramente titânicos, para lá da mortalidade, dos limites humanos, em vastas e inimagináveis dimensões do cosmos. Nestas histórias, o foco está num Thanos que, derrotado mais uma vez, é visitado por um avatar seu do futuro que, detentor das jóias do infinito, lhe mostra que o seu destino não terminou com a derrota. Em seguida entramos em dimensões profundamente cósmicas, com um Warlock amnésico a viajar ao longo de todos os tempos, descobrindo que encerra em si todo um universo e avisado peças entidades cósmicas do universo Marvel que as suas acções irão determinar o fim da realidade, enquanto permanece inconsciente, dominado pelo inefável Mephisto, que decidiu usar a ciência para conquistar a nossa realidade. É também uma boa oportunidade de desempoeirar os mais bizarros personagens da Marvel, entre Galactus, o Tribunal Vivo ou a Eternidade.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Comics


Doom Patrol #04: Com Gerard Way, Doom Patrol continua deliciosamente weird. Diga-se que dos títulos DC Young Animal, este tem sido aquele que se mantém à altura das expectativas criadas.


Uber: Invasion #02: Kieron Gillen traduz para o seu universo ficcional a iconografia de Hiroxima depois da bomba atómica. Neste novo arco da série que mistura super-heróis com II Guerra, Gillen leva os seus seres superiores à américa, com resultados devastadores. A vantagem de publicar na Avatar Press é a de o argumentista não ter de se refrear para evitar traumas aos leitores, e isso nota-se bem nesta série.

domingo, 29 de janeiro de 2017

Edgar Pêra - Uma Retrospectiva







Registos da exposição Serralves em Torres Vedras: Edgar Pêra - Uma Retrospectiva, patente nos Paços - Galeria Municipal de Torres Vedras. Pequena e concisa exposição que nos dá um bom panorama da obra de vanguarda deste cineasta, video-artista e autor, a partir de excertos de filmes, curtas experimentais, material gráfico e apontamentos. Estéticas radicais e incómodas pela forma como recusam compromissos com conceitos tradicionais de beleza, atrevendo-se a desbravar novas fronteiras possibilitadas pela manipulação extrema dos materiais técnicos. Num toque pessoal, foi interessante rever algumas das crónicas que nos anos 90 Pêra escreveu para o jornal O Independente, que me despertaram a atenção quer para diferentes estéticas quer para o gosto pelos comics. A exposição terminará a quatro de março.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Erínias


As máscaras da peça As Fúrias ou de Como o Pai Venceu a Mãe, uma fortíssima versão de Fernanda Lapa a partir de As Eumenides de Ésquilo, em cena no espaço Escola de Mulheres até 31 de janeiro. Recomenda-se, com o arrepio que textos de múltiplos sentidos com mais de dois mil anos nos fazem sentir ao mostrar-se tão actuais. E as erínias são particularmente arrepiantes.




Manhã de inverno em S. Julião.


Despojos de automobilismos passados, à beira da estrada nacional 8 entre Alcainça e Malveira.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O Grande Baro e outras histórias



Virgílio Piñera (2016). O Grande Baro e outras histórias. Guimarães: Livraria Snob.

Um bom início para a prometedora coleção literária Pedante, que nesta sua primeira edição nos traz a obra de um escritor cubano maldito. Os contos de O Grande Baro e outras histórias caracterizam-se por um delicioso surrealismo macabro, com fortes doses de humor muito negro e uma iconografia que por vezes roça o diabólico. Histórias curtas, absurdistas, que exploram as pequenas estranhezas da vida levando-as por caminhos inesperados. O absurdo surreal é complementado por um forte sentido de carnalidade, nestes contos de crueldade subtil.

Recordo ter lido um destes contos ainda por traduzir, no tablet do editor e livreiro por detrás da Snob, quando há uns anos me cruzei com o seu espaço numa escola de Guimarães onde fui falar de 3D no congresso da associação de professores de expressão e comunicação visual. Foi um encontro deveras funesto para a minha carteira. O bom gosto deste livreiro, tão à vontade na ficção mais tradicional como nas vanguardas e géneros fora da caixa que tanto aprecio, traduz-se num acervo cuidado da sua livraria física e online. Se vivesse em Guimarães, suspeito que teria estantes ainda mais recheadas por literatura. Daquela que não é boa literatura, aclamada pelos críticos e tida como intemporal. A literatura da boa, que encanta e fascina os seus leitores. Se este primeiro volume da Pedante, colecção lançada pela Snob, for sintomático, espera-nos uma colecção cheia de literatura da boa.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Moorcock's Multiverse



Michael Moorcock (2014). Mooocock's Multiverse. Londres: Gollancz.

Três romances de Moorcock reunidos num dos volumes da Michael Moorcock Collection, uma edição da Gollancz que colige toda a obra do autor. Este volume, Moorcock's Multiverse, colige três dos seus romances clássicos de ficção científica.

The Sundered Worlds: A Space Opera nas mãos de Moorcock ganha uma intrigante dimensão de psicadelismo cósmico. Com a humanidade a espalhar-se por um universo que não parece conter outra forma de vida inteligente que não a humana, um dos guardiães da expansão começa a sentir uma ameaça difusa. Este homem, Conde Von Bek, com os seus sentidos sincronizados com as vibrações cósmicas das leis da física, intui que a ameaça de extermínio paira sobre o universo. Para a combater, e tentar salvar a humanidade, desafia tudo e todos e viaja até ao local mais enigmático do universo, uma zona do espaço onde, ciclicamente, surge um sistema solar que parece vir de um universo paralelo, perpendicular ao de Von Bek. O mergulho nesse sistema revelará mais do que esperado.

No centro, Von Bek encontrará um planeta que existe simultaneamente em todas as dimensões do multiverso, onde contactará seres que se apresentam como superintendentes das espécies inteligentes do multiverso. Aí é-lhe revelado o propósito da ameaça que paira sobre o universo habitado pela humanidade: transcender ou perecer, iniciando um longo caminho que permitirá à espécie inteligente capaz de transcender os limites do seu universo vir a tomar o lugar destes alienígenas envelhecidos. O multiverso é composto por camadas de universos possíveis, e aqueles que não são inóspitos à vida são habitat exclusivo de uma única espécie. Fugindo do seu universo em derrocada, numa enorme frota de refúgio, a humanidade descobre-se noutro universo, e tem de lutar pela sobrevivência contra os seus habitantes nativos, uma espécie com um profundo código de honra que não pode ser derrotada militarmente. Resta um jogo cósmico de sensações e ilusões, e apenas aqueles que exploraram o planeta que existe simultaneamente em todos os universos terão a capacidade mental para infligir a derrota e garantir o futuro da humanidade.

Moorcock usa com gosto os elementos clássicos da Space Opera. Temos intrigas, aventuras em planetas exóticos, grandiosas batalhas espaciais. Mas, ao contrário do habitual no género, estes elementos são adereços e não a razão de ser do livro. Moorcock delicia-se com uma visão de colisão entre as teorias da física e o psicadelismo, descrevendo um conceito de multiverso finito mas gigante, composto por camadas simultâneas de universos, acessíveis apenas àqueles cuja percepção espacial e temporal é alterada por forças cósmicas.

The Winds of Limbo: Moorcock nunca se interessou por absolutos. Os seus personagens icónicos têm tanto de herói como de vilão, de vítima como de vitimizadores. Neste Winds of Limbo, tudo se foca na bizarra personagem do Fireclown, um homem que sobreviveu a um acidente cuja nave se aproximou demasiado do sol. Tendo as suas percepções alteradas, compreende para lá do espaço e do tempo, tornando-se capaz de criar tecnologia que ultrapassa as limitações físicas das viagens espaciais. Fá-lo para responder a uma questão muito pessoal, tentando perceber as vantagens da inteligência sobre a consciência. Se tudo o que este personagem tem a oferecer à humanidade poderá acelerar o progresso, aquilo que realmente procura ameaça a sua existência.

Mas não mergulhamos nos dilemas e lutas deste personagem singular. Aliás, apesar do romance girar à sua volta, não é o seu principal protagonista. Acompanhamos um jovem ligado às famílias mais poderosas da democracia global que, centrada na cidade que se ergue nas montanhas da Suíça, controla os destinos de um sistema solar pelo qual a humanidade cautelosamente se expande. O aparecimento do Fireclown vai despertar numa sociedade tranquila e complacente anseios e pulsões que se julgavam há muito esquecidos, enterrados sob a civilização progressista. Entre o efeito galvanizador do personagem junto das populações e os desejos de poder por parte das elites, a democracia fica em perigo, no limiar da ditadura. Uma conspiração entre traficantes de armas e políticos ambiciosos que, utilizando a estranheza do Fireclown como pretexto, geram medo na sociedade e exploram-no para atingir o poder. Grande parte deste livro de FC passa-se em deslindar de intriga política, bem dentro daquela visão clássica do futuro como progresso tecnocrático, rumo à estabilidade e união global, com fugas ocasionais para o lado cósmico e psicadélico que associamos ao autor.

The Shores of Death:  A humanidade parece estar a viver os dias do seu ocaso. Uma estranha invasão alienígena teve curiosas consequências. A rotação do planeta foi parada, passando a estar dividido entre zonas continuamente na luz ou na penumbra. A radiação alienígena provocou alterações biológicas que, se a natureza conseguiu adaptar-se, na humanidade se traduz numa esterilidade terminal para a espécie. Os humanos deste fim dos tempos, de longas vidas que culminarão na extinção, adaptam-se como podem. Uns procuram construir antenas de rádio para enviar uma última mensagem para as estrelas, outros naves espaciais para investigar rumores de uma colónia humana em Titã. A sociedade perfeita de um futuro sem escassez começa a desmoronar-se sob pressão de seitas e autoritarismos. Resta ao último homem nascido descobrir a solução para esta crise terminal, procurando um cientista cujas pesquisas poderão tornar a humanidade imortal.

É a capacidade literária de Moorcock que segura este romance que, nas mãos de outros escritores, seria um pastelão patético e ilegível. O notável na história é a minúcia com que Moorcock transpõe para as páginas aquelas visões utópicas e algo elitistas do futuro perfeito dos anos 60, com grupos elegantes de gente próspera e esclarecida, nas suas leves túnicas, a viver em casas luxuosas cheias de tecnologias inimagináveis num planeta verdejante, sem resquícios de pobreza, sobre-população ou outros dos males que historicamente assolaram a humanidade.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Triplanetary






E.E. "Doc" Smith (1997). Triplanetary. Old Earth Books.

É a este tipo de narrativa que os fãs e conhecedores de Ficção Científica chamam de good old stuff. Valem pelo que são, marca de época, e passo na evolução do género. Para um leitor da sofisticada FC contemporânea, histórias como as que formam este Triplanetary são demasiado simplistas, com o seu foco exclusivo na aventura, desdém pelo rigor especulativo nas tecnologias futuristas, sentido binário de bem e mal, ou falta de diversidade num futuro que se percebe que os homens valentes são todos brancos e anglo-americanos e as mulheres heroínas submissas. É o tipo de ficção que hoje só tem lugar nos delírios conservadores dos revanchistas sad puppies, mas sublinhe-se que tem a sua importância como marco na evolução da FC enquanto género literário. Triplanetary foi originalmente publicado em 1934, como série de histórias na revista Amazing Stories, um dos marcos da FC clássica.

Não que este seja um mau livro. Pelo contrário, EE Doc Smith dá-nos aventura em alta rotação com a história de um agente das forças unidas dos planetas que, após se confrontar com um cientista louco nas fímbrias do sistema solar, é capturado por misteriosos anfíbios alienígenas, mas consegue libertar-se, fornecendo sempre à Terra as informações necessárias para que as forças de defesa desenvolvam naves capazes de enfrentar a tecnologia alienígena. Aventura acelerada, grandiosas batalhas especiais, alienígenas exóticos e até um toque de romance, uma vez que o agente não viverá as aventuras sozinho, estando acompanhado de uma bela passageira da nave capturada pelo cientista louco e pelo seu capitão, valorosos companheiros de aventura e infortúnio, cujas lutas terão um final inevitavelmente feliz.

Está a aqui a génese de muitos elementos da FC contemporânea, especialmente das histórias de space opera onde bravos tripulantes de naves exploram planetas exóticos e civilizações alienígenas, sempre do lado da ordem, combatendo contra inimigos violentos mas, no final, prevalecendo sempre. Felizmente, a FC evoluiu, mas é interessante e divertido revisitar estes clássicos mais simples, de uma outra era onde bastava a este género fazer pulsar o coração dos leitores com histórias de aventura.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

The Unbeatable Squirrel Girl Beats Up the Marvel Universe




Ryan North, Erica Henderson (2016). The Unbeatable Squirrel Girl Beats Up the Marvel Universe. Nova Iorque: Marvel Comics.

Um comic refrescante. Claramente mais virado para leitores juvenis, simples sem ser simplista, com uma escrita leve no argumento, acompanhada por traços dinâmicos na ilustração. Squirrel Girl é um comic cuja heroína tem os poderes de um esquilo, também capaz de comunicar com estas pequenas criaturas. Na sua identidade secreta é uma estudante de ciências computacionais. Este comic atreve-se a quebrar alguns dos elementos expectáveis do género, pertencendo à nova geração de personagens Marvel para o público do século XXI. A sua protagonista não é uma beldade explosiva (tem como principal característica ter dentes de esquilo) e os argumentos não hesitam em puxar da lógica computacional como elemento narrativo. Cada página tem ainda uma intervenção do argumentista, a quebrar barreiras do espaço ficcional com comentários divertidos sobre a história que escreve.

Neste arco, a apropriação de tecnologia desconhecida do Alto Evolucionário pelo Homem de Ferro leva a consequência inesperadas quando Squirrel Girl é duplicada. O seu clone parece ser em tudo igual à original, mas depressa constrói um plano de domínio da humanidade. Usando lógica simples, começando com os oponentes mais fracos para adquirir armas que irão neutralizar os mais fortes, derrota todos os heróis e vilões do universo Marvel.

Bom humor, num comic que não se leva a sério mas aproveita para passar mensagens sérias. Squirrel Girl é uma das séries que actualiza a mitografia da Marvel para os públicos mais exigentes do século XXI.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Comics


Curse Words #01: Há laivos de Good Omens de Gaiman e Pratchett nesta nova série da Image sobre um mago que, chegado à Terra para a conquistar em nome de um poderoso senhor extra-dimensional, fica a gostar tanto do estilo de vida que por cá é possível que decide mandar às urtigas o seu papel de conquistador e passa a dedicar-se a ser um mago de sucesso. Charles Soule escreve, e este argumentista surpreende sempre pelos seus conceitos, embora se arraste ao alongar das séries.


Descender #18: Nada como vermes gigantes a sair do chão para vincar uma space opera. Estes não são shai-hulud nem segregam a especiaria necessária aos navegadores no hiper-espaço, mas são igualmente mortíferos. Jeff Lemire a homenagear Dune, no mais recente número do seu premiado comic de ficção científica.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Zero Graus


0º C em Alpedriz, a caminho da Batalha.


Luz matinal a fazer brilhar os vitrais da igreja do Mosteiro da Batalha.



Sol de inverno na Ericeira.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

The Vital Abyss



James S. A. Corey (2015). The Vital Abyss. Nova Iorque: Orbit.

A vida na Terra não é uma utopia de futurismo simpático no universo Expanse. A larga maioria dos seus habitantes vive de rendimento básico, sem grandes perspectivas ou sonhos para lá das residências onde passam o tempo. Aqueles que conseguem sair desses estreitos limites e, através da educação superior, tornar-se membros produtivos de uma sociedade que se expande pelo sistema solar saem da experiência transformados enquanto pessoas.

Esta curta história da série segue o percurso de um jovem cientista que, da pobreza do rendimento básico, consegue seguir um percurso académico e juntar-se a uma equipe de investigação na órbita marciana, que estuda a protomolécula, o misterioso bio-artefacto alienígena que é um dos pilares da série. No processo, desumaniza-se, vivendo apenas para a ciência sem limites éticos. Acaba como prisioneiro de um grupo de rebeldes da Cintura, que o aprisiona junto dos sobreviventes da captura da estação Toth, centro de estudo da protomolécula e responsável pelo genocídio dos habitantes de Ceres como parte de uma experiência para verificar os efeitos do artefacto sobre o corpo humano. Talvez se salve do cativeiro, tornando-se analista indispensável aos rebeldes e marcianos, como especialista num mistério que se adensou e criou os portais que abriram o espaço extra-solar à humanidade.

Os Corey regressam nesta novela à premissa que iniciou o primeiro livro da série, com um aceno ao mais recente. Uma das personagens fulcrais desta história será uma das principais de Babylon's Ashes. Nestes contos, os autores expandem o universo Expanse, com outros pontos de vista que não os dos seus personagens principais, ou detalhando ao pormenor a vida e sociedade das facções que dividem a humanidade. É curiosa a forma como abordam a questão da necessidade de rendimento básico garantido, ao mesmo tempo um direito fundamental para a sobrevivência e um grilhão que mantém em condições básicas grande parte dos habitantes da Terra. Um estranho misto de atenção às discussões sobre impactos das tecnologias avançadas de automação com a ética clássica do trabalho como fonte de remuneração e validação do ser humano.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Wunderwaffen T07: Amerika Bomber



Richard Nolane, Maza (2015). Wunderwaffen T07: Amerika Bomber. Toloun: Soleil.

É sempre divertido regressar a esta série, não pelas histórias em si, mas pelo belíssimo trabalho do ilustrador. Nesta realidade alternativa, a invasão da Normandia falhou e a Alemanha Nazi, com ajuda de avançadas armas de guerra, conseguiu suster os aliados nas várias frentes de combate. As histórias levam-nos ao lado mais esotérico dos mitos urbanos sobre o nazismo e II guerra, com o obrigatório toque ocultista, vril e busca por civilizações subterrâneas. Neste episódio, descobrimos armas de controle da atmosfera e bases secretas na antártida. Mas o que realmente distingue esta série de outras similares é o trabalho do ilustrador Maza a recriar todos aqueles projectos de aeronaves futuristas que os engenheiros do Reich criaram, a maior parte dos quais não saiu do papel. Os mais estranhos, avançados ou revolucionários aviões de combate concebidos no final da guerra ganham vida com o traço rigoroso do ilustrador.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Comics


Lobster Johnson Garden of Bones: Numa edição one off, o lacónico herói que enfrenta o mal de pistolas em riste e o símbolo da garra da lagosta cruza-se com um grupo de praticantes de vudu e os seus zombies relutantes. Acção pulp em modo clássico nesta edição de Lobster Johnson.


Shipwreck #03: Já se tinha intuído nos primeiros números, e agora Ellis abre o jogo. A terra desolada de Shipwreck é uma Terra paralela, explorada pela missão falhada que deixou o astronauta à deriva. Uma Terra que parece um espelho distorcido da nossa, mais cinzenta e com um aspecto generalizado de decadência. Resta perceber qual a simbologia dos bandos de corvos, tão prevalente nesta série.

sábado, 14 de janeiro de 2017

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Juiz Dredd: Guerra Total



John Wagner, et al (2015). Juiz Dredd: Guerra Total. Mythos.

Mega City One não é um sítio simpático para se viver. Não basta a hiperurbanização e a sobrevivência num planeta devastado por guerras nucleares, trancada entre os desertos atómicos da américa e a radioactividade do oceano atlântico, ou os choques de um futuro bizarro. A cidade é casa de Judge Dredd, o que se traduz num constante fluxo de ameaças fatais. Desta vez, um grupo de democratas radicais tenta forçar um golpe de estado que deponha os juízes da liderança dos destinos da cidade à força de bombas atómicas. Dredd vê-se forçado a combater uma ameaça terrorista invisível, correndo contra o tempo para evitar detonações nucleares nos bairros mais populosos da mega cidade. John Wagner igual a si próprio, entre o humor corrossivo e a crítica à nossa contemporaneidade, com um trabalho de cor notável da parte dos ilustradores. Edição brasileira da Mythos, coligindo a série publicada nos números 1408 a 1419 da revista britânica 2000 AD.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A Nebulosa de Andrómeda



Ivan Efremov (1986). A Nebulosa de Andrómeda. Lisboa: Caminho.

Começa como uma intrigante narrativa de exploração espacial, mas depressa se revela aquilo que é: uma especulação optimista, diria que quase propagandista, que extrapola os conceitos ideológicos da sociedade soviética para propor um futuro idílico, onde o triunfo do comunismo libertou o homem do jugo do capital e do individualismo, as etnias se fundiram numa união global, sem fronteiras geográficas e com os antigos países relegados à memória histórica investigada por arqueólogos que consideram repelente a barbárie do passado industrial. Um planeta alterado pela ciência, que modificou a sua superfície transformando desertos e zonas geladas em oasis para a vida. Uma civilização que explora outros sistemas solares e está em contacto com outras formas de vida inteligente através de um sistema de comunicações via rádio, trocando mensagens didácticas que, mercê dos vastos vazios espaciais, demoram milénios a ser recebidas. Uma rede intragaláctica de civilizações que conhecem a sua existência, mas jamais se poderão encontrar.

Através dos personagens do livro somos levados num périplo à sociedade futura. Acompanhamos exploradores abnegados que trocam a sua vida na Terra pelo tempo subjectivo das viagens sub-lumínicas na vastidão interestelar, explorando planetas e deparando-se com formas de vida alienígena, em missões de pesquisa científica. A ciência terrestre é-nos mostrada por astrónomos e arqueólogos, entre os institutos que emitem e recebem as mensagens da rede de comunicações galáctica, as pesquisas arqueológicas nos vestígios da civilização industrial - a nossa, refira-se, ou dos convénios onde cientistas em grupo decidem as grandes questões da humanidade. Num futuro onde é esperado que qualquer um se dedique a trabalhar em várias áreas, onde um grande cientista, depois de terminar a sua comissão num instituto de pesquisa, pode querer ir trabalhar para minas na antártida, somos por aí levados à superfície de um planeta transformado por empreendimentos de trabalho para o bem comum.

O interessante neste livro é a construção de mundo ficcional desta utopia soviética num futuro distante. Não é uma visão partidarista, ou dogmática. Este futuro não é vermelho, mas incorpora os ideais de comunitarismo, superação do indivíduo, união perante grandes objectivos, progresso através da ciência e tecnologia, domínio do mundo natural e igualdade social que estão na base das utopias comunistas. Efremov transmuta aos seus contemporâneos através da ficção científica os grandes ideais que torneavam a sociedade soviética, mostrando-lhes uma utopia futura quase bucólica  que seria o corolário da grande luta social. Efremov não se esquece de incluir um gulag, onde os inadaptados que não se conformam ou se sentem parte da engrenagem social se auto-exilam ou são deportados, embora diga-se que uma ilha paradisíaca onde se leva uma existência pastorícia parece mais agradável do que o inverno siberiano. Depois da leitura, não sei se qualifique o livro como FC no campo das utopias ideológicas, ou propaganda política. Os apelos elementares propagandísticos não estão muito presentes no livro, mas este serve essencialmente como um veículo de transmissão ideológica que ao ser lido, hoje, desperta uma certa ostalgia pelos velhos tempos dos sovietes.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Comics


The Autumnlands #14: Kurt Busiek encerra o segundo arco desta intrigante mistura de pulp, fantasia e FC conseguindo fugir à questão central: o que é, precisamente, o mundo de Autumnlands, onde a magia pode ser ciência, bárbaros de espada em riste controlam nano-implantes digitais, cariátides são robots inspiradas no mito de pigmalião, animais antropomórficos constroem civilizações, e personagens aparentemente divinos se mostram humanos detentores de alta tecnologia? Suspeito que Lord of Light de Zelazny tenha sido uma das fontes de inspiração desta série. Pelo menos partilham a mistura de FC com misticismo.

Batman #14: Uma vinheta surpreendente, a rematar uma sequência impressionante. Creio que nenhum argumentista se tinha atrevido a tornar tão explícita a relação entre Catwoman e Batman. Tom King surpreende com os seus argumentos discretos, contidos, sólidos mas que se atrevem a desbravar terrenos inesperados.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Cosmically Aware


Nada como uma boa dose de psicadelismo da Marvel nos anos 70. Traço de Jim Starlin em Captain Marvel.

sábado, 7 de janeiro de 2017

x + (1/2)





Traços do inverno profundo. Nevoeiro cerrado na Malveira, salas geladas e infraestruturas na Venda do Pinheiro, o último nascer da lua de 2016 nas Gaeiras.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Pirate Utopia



Bruce Sterling (2016). Pirate Utopia. São Francisco: Tachyon Publications.

Está claro que Bruce Sterling, como se costuma dizer, has gone native. Já se andava a perceber, quer pelos contos mais recentes, quer pelo fascínio no seu blog com o movimento maker e a cultura inter-fronteiriça do norte de Itália e balcãs. Este texano veterano do cyberpunk enamorou-se do espaço de ideias da europa progressista, das cidades centenárias, história e irreverência. Uma certa atração pela ideia de uma Europa como zona de progresso social, humano e técnico já se notava nalguns dos seus romances (recordo, por exemplo Holy Fire) mas agora que fincou raízes no makerspace de Turim e se divide com Belgrado, o fascínio é confesso e torneia a sua obra, por pouca que seja. Sterling, nos últimos anos, tornou-se um pós-escritor, guru da modernidade que se alicerça num poderoso currículo literário para transmitir as suas ideias, sem que tenha nos últimos produzido obras de fôlego. Longe vão os tempos de Schismatrix ou The Difference Engine.

Curiosamente, este Pirate Utopia ocupa o mesmo espaço conceptual de Difference Engine, o romance a quatro mãos (com William Gibson) que se tornou pedra basilar do steampunk. Pirate Utopia inspira-se numa época e local muito específicos da história europeia, levando o leitor a um delirante e se que mistura figuras históricas e a vertigem do futurismo. Não o de especulação informada sobre futuros, mas o movimento artístico de quebra conceptual com o passado e fascínio pela aceleração mecânica que nasceu em Itália nos primeiros anos do século XX.

Com o fascínio que só quem vem de fora consegue transmitir sobre momentos históricos e culturais a que os nativos de uma cultura sempre viram como normais, Sterling diverte-se a projectar um caldo fervente de futuristas, anarco-sindicalistas, comunistas e outros vibrantes movimentos de mudança na cidade de Fiúme, actualmente Rijeka, transformada numa zona autónoma temporária no final da I Guerra. A revolta de italianos com a entrega da cidade ao recém-fundado reino da Jugoslávia levou um grupo de ardentes patriotas liderado pelo poeta D'Annunzio a tomar a cidade. Na história real, foi coisa que durou pouco, e depressa se metastizou no fascismo de Mussolini, para onde também migraram os ideias de muitos futuristas. Aqui, nesta fantasia de Sterling, D'Annunzio consegue manter Fiúme como cidade portuária e pólo de atracção de todos os rebeldes europeus, que se juntam para criar utopias sociais. Entre estes, encontra-se um antigo engenheiro militar italiano, que depois de passar a guerra a manter as máquinas de combate operacionais no rigor da frente alpina, vai para Fiúme fundar um bando de piratas especializados no roubo de tecnologia e, detentor de uma fábrica de munições abandonada em parceria com uma rija austro-italiana cujo marido se anda a divertir pelas ruas de Viena e Munique em putschs com um certo cabo alemão de bigode inconfundível, se dedica a inventar temíveis torpedos aéreos, a arma decisiva do futurismo. É o mote para uma aventura desconexa com piratas, operárias sindicalistas, líderes rebeldes iluminados como poetas-guerreiros, comunistas que não sabem conduzir carros blindados, condessas italianas amantes de arte radical, e missões de espionagem americanas lideradas pelo ilusionista Houdini e por um escritor de Providence que largou as trevas arcanas da sua imaginação para se dedicar à publicidade, colaborando num projecto secreto místico e tecnológico desenvolvido em Manhattan.

Sterlig cruza nesta intrigante novela elementos das suas vertentes de intervenção cultural. Propriedade intelectual, progressismo social e tecnoluxúria cruzam-se com ecos de vibrantes movimentos culturais do passado, pontos absurdos da história recente e a sensação que coisas interessantes se passam nas franjas do calmo continuum do devir histórico. Não é Sterling no seu clássico melhor, é um mestre à procura de uma nova voz, e a mostrar que claramente se diverte com o processo. A completar o livro estão ilustrações de John Coulthart inspiradas nas estéticas futurista e construtivista, que replicam um pouco do fascínio pela vertigem mecânica afirmado por Marinetti no seu clássico manifesto. E se dúvidas persistem sobe Sterling se ter tornado nativo, há coligida no livro uma fantástica entrevista onde o veterano do cyberpunk discute a história turbulenta do século XX na europa meridional e a importância da fantascienza enquanto género de fusão entre FC, ficção especulativa, fantasia e fantástico.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Visões


Rogue One: A Star Wars Story (Gareth Edwards, 2016).

Fui ver The Force Awakens com um espírito céptico, inclinado a desvalorizar o filme como um produto comercial nostálgico destinado a manter viva a rentabilidade do universo Star Wars. Saí da sala de cinema convencido, depois de noventa minutos de excelente cinematografia que, dentro dos estreitos limites do universo ficcional, recuperou o espírito de aventura clássico dos primeiros filmes.

Claro, estamos a falar de Star Wars, notem que para que qualquer fã conhecedor de Ficção Científica apreciar estes filmes, tem de desligar parcialmente o cérebro. Star Wars é FC no seu pior, sem plausibilidade nem especulação, mera história de aventura entre o western e o medievalismo, com sabres laser e naves espaciais para as quais os limites da física não existem. No entanto, é inescapável e um prazer culposo, admito.

 

Rogue One tinha tudo para ser mais um excelente filme da saga. Os já habituais efeitos especiais de excelência, uma história que completa a linha narrativa do universo ficcional detalhando como é que a Aliança obteve os planos da Estrela da Morte para a história de A New Hope, personagens interessantes e condenados à partida, a boa vontade de um público reconquistado por The Force Awakens. Mas falha redondamente. É um problema claramente técnico de realização, que torna a história desconexa, feita de cenas mal encadeadas, onde as tentativas de piscar o olho aos fãs com meta-referências visuais e verbais se sentem como forçadas e derivativas. Os actores estão especialmente pouco convincentes. Digamos que quando o único personagem com o qual os espectadores conseguem estabelecer empatia é um robot, algo correu muito mal na realização. O pormenor de utilizar actores sintéticos, reconstruindo a figura do falecido Peter Cushing para volta a desempenhar um papel na saga, é demasiado creepy e foi parar ao lado errado do uncanny valley. A técnica está lá, o cérebro detecta o artificialismo e arrepela-se, e as implicações éticas de ressuscitar digitalmente um actor falecido são muito fortes.

Uma história com tudo para ser empolgante, entre aventura, drama e fantásticas batalhas espaciais, acaba por ser um longo bocejo de tédio. Os fãs mais hard-core da série jurarão a pés juntos sobre a excelência do filme, enquanto o analisam em busca de easte eggs, pistas ou outros acenos aos fãs, mas não passa de uma boa história, muito mal contada. Mesmo sendo Star Wars, há limites para o desligar de cérebro.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

The Phantom Atlas



Edward Hitching (2016). The Phantom Atlas: The Greatest Myths, Lies and Blunders on Maps . Londres: Simon & Schuster.

Um catálogo de erros, efabulações, vigarices ou o imaginário a preencher as lacunas do conhecimento que se encontraram ao longo de séculos de cartografia. Uma exploração de terras que nunca existiram mas, durante anos, séculos nalguns casos, fizeram parte dos mapas de navegação que registavam os recantos do planeta. Alguns são a transposição da sabedoria da antiguidade clássica para a era moderna da navegação. A maior parte são erros de localização, confusão entre miragens e terra firma. Não podem faltar as experiências de embusteiros que inventavam novas e maravilhosas terras para colonizar, quer para lucro próprio quer como invenção de aventuras que nunca viveram. O meu favorito é o comentário fugaz de um pintor de mapas do século XVI, creio, que afirma que a existência de uma ilha inexplorada e desconhecida se deve ao capricho da sua mulher, que gostaria de ver uma ilha num espaço vazio do mapa que o marido, meticulosamente, pintava. Resquícios do imaginário a preencher o vazio do conhecimento, nas eras onde boa parte da superfície planetária era desconhecida, algo que hoje nos parece divertido e excêntrico nesta era onde a cartografia ampliada por satélites não deixou um milímetro quadrado deste planeta por esquadrinhar.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Comics


Six Pack and Dogwelder: Hard-Travellin' Heroz #05: Aparentemente, autorizaram Garth Ennis a escrever uma série satírica para a DC. O resultado é estes Six Pack & Dogwelder, sobre uma equipa algo bizarra. O super-poder do seu líder, como o nome indica, é emborcar cerveja, e os restantes são ainda mais estranhos. Há um demónio dos infernos que passa o tempo a berrar o seu nome, uma criatura constituída unicamente pelas entranhas do sistema digestivo, acompanhada do marido, um pervertido que tenta constantemente violar qualquer coisa feminina. E, claro, o segundo elemento do título, um soldador que é compelido a soldar cabeças de cães a criminosos, e que só consegue comunicar quando enfia a mão pelo traseiro de um cão morto, que utiliza como marioneta de ventríloquo. Yep, a DC está a publicar isto. É absurdo e hilariante, com Ennis a ridicularizar num humor corrosivo e visceral todas as tropes do género. Este é o tipo de comic capaz de provocar palpitações de sensibilidade chocada aos mais incautos. Afinal, estamos a seguir a viagem de auto-descoberta de um soldador que precisa de enfiar o braço no rabo de um cão morto para poder falar.


Harrow County #19: É por isto que este é o melhor comic de terror actualmente publicado. Suave, subtil, misturando um bucolismo faulkneriano com horror profundo.


The Mummy #02: Pete Milligan a reinventar o terror da Hammer para a Titan? Os velhos filmes de série B das maldições das múmias são aqui actualizados numa história que envolve vítimas de tráfico humano e elites aristocráticas que se mantém imortais sacrificando vítimas adequadas a um processo de mumificação em vida que reencarna, temporariamente, uma sacerdotisa egípcia. É glorificação de série B, o que é que esperam?

domingo, 1 de janeiro de 2017

Where's my jetpack?




Diria que 2016 foi um ano fantástico, com projectos pessoais que cresceram e me levaram a sítios imprevistos. Mas não é a percepção que se tem de um ano em que denegri-lo se tornou meme. 2016 ficou marcado pelo falecimento de muitas figuras da cultura global, rostos e vozes que nos acompanharam desde que nos recordamos. Desde sempre, até ao dia em que nos recordaram o poder da mortalidade. Chocaram-nos, mas em termos estatísticos não foram mortes inesperadas. Este também foi o ano em que os ideais de progresso parecem ameaçados de regressão perigosa. Brexit, trumpismo, a subida ao poder de políticos autoritários um pouco por todo o mundo, guerras violentas e caóticas contínuas no médio oriente, o espectro do regresso em força dos extremismos religiosos, o jugo um percentista de um neoliberalismo. Não são tendências que nos deixem optimistas, apesar de todos os sinais de progresso tecnológicos e científico, e da vontade de construção de um mundo global mais justo e sustentável.

Dizem os historiadores que o século XX só começou realmente não em 1900, mas 1915, nas trincheiras da frente ocidental, quando o velho mundo proto-industrial da honra aristocrática enfrentou a matança industrial na lama varrida a metralhadora. O século XX foi aí forjado, a sangue e a dinamite.

É assim que nos sentimos quando a nossa cultura começa a  desvanecer-se? Talvez 2016 seja o ano em que o século XX se extinguiu. Talvez seja isso o que realmente nos choca com o desaparecimento de figuras de charneira da cultura do século XX, e com as evoluções preocupantes da sociedade global. 2017, sucessor do ano assassino, o primeiro ano que se possa dizer verdadeiramente do século XXI. Soa bem?

Se bem que o século XXI é deprimente. Fui à internet marcar viagem nos voos orbitais translunares, com escala na ISS. Estava-me mesmo a apetecer beber um dry martini em órbita, enquanto aguardava o transbordo para a injecção translunar e umas merecidas férias a passear na poeira lunar e relaxar na base. Estava já a antever umas belíssimas selfies com o meu capacete no sítio arqueológico do módulo Eagle. Mas bolas, tudo a que net me deu foram mensagens de 404 file not found. Isto já não se fazem futuros como antigamente. 2017 está aí mesmo ao virar dos dígitos do contador de tempo, e eu ainda não tenho um jetpack. Bolas.