domingo, 1 de janeiro de 2017
Where's my jetpack?
Diria que 2016 foi um ano fantástico, com projectos pessoais que cresceram e me levaram a sítios imprevistos. Mas não é a percepção que se tem de um ano em que denegri-lo se tornou meme. 2016 ficou marcado pelo falecimento de muitas figuras da cultura global, rostos e vozes que nos acompanharam desde que nos recordamos. Desde sempre, até ao dia em que nos recordaram o poder da mortalidade. Chocaram-nos, mas em termos estatísticos não foram mortes inesperadas. Este também foi o ano em que os ideais de progresso parecem ameaçados de regressão perigosa. Brexit, trumpismo, a subida ao poder de políticos autoritários um pouco por todo o mundo, guerras violentas e caóticas contínuas no médio oriente, o espectro do regresso em força dos extremismos religiosos, o jugo um percentista de um neoliberalismo. Não são tendências que nos deixem optimistas, apesar de todos os sinais de progresso tecnológicos e científico, e da vontade de construção de um mundo global mais justo e sustentável.
Dizem os historiadores que o século XX só começou realmente não em 1900, mas 1915, nas trincheiras da frente ocidental, quando o velho mundo proto-industrial da honra aristocrática enfrentou a matança industrial na lama varrida a metralhadora. O século XX foi aí forjado, a sangue e a dinamite.
É assim que nos sentimos quando a nossa cultura começa a desvanecer-se? Talvez 2016 seja o ano em que o século XX se extinguiu. Talvez seja isso o que realmente nos choca com o desaparecimento de figuras de charneira da cultura do século XX, e com as evoluções preocupantes da sociedade global. 2017, sucessor do ano assassino, o primeiro ano que se possa dizer verdadeiramente do século XXI. Soa bem?
Se bem que o século XXI é deprimente. Fui à internet marcar viagem nos voos orbitais translunares, com escala na ISS. Estava-me mesmo a apetecer beber um dry martini em órbita, enquanto aguardava o transbordo para a injecção translunar e umas merecidas férias a passear na poeira lunar e relaxar na base. Estava já a antever umas belíssimas selfies com o meu capacete no sítio arqueológico do módulo Eagle. Mas bolas, tudo a que net me deu foram mensagens de 404 file not found. Isto já não se fazem futuros como antigamente. 2017 está aí mesmo ao virar dos dígitos do contador de tempo, e eu ainda não tenho um jetpack. Bolas.