terça-feira, 18 de março de 2025

Crepúsculo do Império


Pedro Oliveira, João Borges (Coord.) (2024). Crepúsculo do Império : Portugal e as Guerras de Descolonização. Lisboa: Bertrand Editora.

Não é muito fácil, por cá, debater as guerras coloniais de forma isenta. A memória ainda é viva, e as visões políticas interferem com a anáise dos acontecimentos. É indício disso o não haver uma indicação única que desgine este momento da história portuguesa. Para uns, é a guerra colonial, para outros, de libertação, e há os acérrimos defensores da velha ideia de guerra ultramarina. O afastamento ainda não é suficiente para que emoções políticas contaminem o olhar histórico. 

Mas temos de o fazer. Este conflito pesou no Portugal dos anos 60 e 70. Foi um sorvedouro de homens e recursos, causou vítimas e destruição de parte a parte, e terminou com um vazio de poder gerador de guerras civis que se prolongaram no tempo. Foi travado de forma eficaz com poucos meios por forças relutantes, que sabiam a impossibilidade da missão imposta por um governo. O peso moral recai sobre os governantes, o anquilosado e repressivo Estado Novo de Salazar e Caetano sempre recusou aceitar os ventos da história, defendendo ideários impossíveis, e com isso condenando povos e países à guerra. O fim do regime trouxe o fim do conflito, e a desmoralização dos militares, chamados a matar e morrer em África num conflito que sabiam sem fim nem finalidade, foi um dos grandes motivadores do 25 de abril.

Pessoalmente, vejo este conflito, estes anos de guerra (não me tocaram diretamente, o meu pai foi um dos afortunados que, no seu serviço militar, ficou colocado em Lisboa e não foi destacado para a guerra), como um profundo desperdício. Das vidas humanas, civis e militares. De recursos de um país estruturalmente pobre que queimou uma parte significativa da sua riqueza em armamento para sustentar uma luta perdida e imoral.

A riqueza deste livro é enorme, apresentando diferentes perspetivas sobre a guerra, vindas de todos os lados do conflito. Espelha visões factuais, geoestratégicas, sociais e económicas. Tanto nos fala do posicionamento face à NATO na tomada de decisões relativas à guerra como à importância da literatura e outras artes, quer como propaganda dos movimentos de libertação quer como memória dos combatentes. Num capítulo analisamos a economia da industria militar portuguesa, noutro o papel da mulher nos movimentos de libertação. São contributos para um conhecimento profundo de um conflito que nos sangrou (a todos, portugueses e povos colonizados), muito importante para a construção de análises que se saibam afastar dos discursos de veneno ideológico que demasiadas vezes sublinham as discussões sobre a guerra colonial.

domingo, 16 de março de 2025

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Aleksandr Kuzin - When Worlds Collide (USSR, 1974)
: Cenas cósmicas.

Scientists who were also great novelists: É uma ligação clássica, entre cientistas e ficção, e alguns dos melhores nomes do género foram, acima de tudo, investigadores nas fronteiras do conhecimento.

Graphic Novel Publisher Drops Neil Gaiman’s Books: Sem grande surpresa. Gaiman é agora tóxico, e a sua carreira terminou. Os comportamentos abusivos dele tocam no âmago da comunidade que mais admirava a sua obra. Não lhe será possível recuperar disto.

2025 va a estar lleno de lecturas inolvidables. Ahora mismo, esto es lo que está en la pila de pendientes de Xataka: Entre manga e literatura de viagens, estas sugestões despertam o interesse.

The Best Dark Fantasy Books, recommended by Alex Pheby: Para os fãs de fantasia negra, cinco sugestões do sempre interessante Five Books.

Entrevista à equipa de «O Velho e a Espada»: Daquelas divertidas bizarrias que só o cinema independente de género consegue. Recordo bem este filme tão fora da caixa, tão alucinatório mas também um tocante terra a terra.

Leituras - Janeiro 2025: Vá, o Pedro Cleto é simpático e não indica as leituras que não se devem fazer. Noto nelas um forte regresso da BD clássica.

NOSFERATU (2024): É, de facto, um filme visualmente assombroso, e o seu Orlok um verdadeiro condensar do mais nojento horror telúrico. Mas confesso não partilhar do entusiasmo que tantos sentem por ele.

O que vem por aí - Devir: O plano editorial da Devir é ambicioso, e está a expandir para além do seu ganha-pão dos mangá. O clássico Nikopol de Bilal é um bom regresso ao mercado literário português.

Why We Need a Literary Canon: Há muitos que não gostam da ideia, apontando arcaísmos, faltas de representatividade ou a desconexão ideológica entre o passado e o presente. Mas estas são na verdade mais excelentes razões para a existência de obras canónicas, que extravasam os seus tempos e contemporaneidades, que continuam a ressoar e a ser encantadoras, inspiradoras, importantes séculos ou milénios depois de terem sido escrutas. As quezílias ideológicas e as modas académicas vão e vêm, tão depressa são importantes como ficam esquecidas. As grandes obras, permanecem grandes, e quem compreende o valor profundo da cultura (e não apenas como ferramenta utilitarista) percebe a importância das obras canónicas.

Muzinga – André Diniz: Da constância na obra de um autor português que cruza o fantástico com o realismo na BD.

Comics Covers Have Three Jobs To Do: Mas o interessante, é a forma como cumprem os seus objetivos. E é verdade. As melhores capas são sempre aquelas que extravasam os limites estéticos dos títulos que publicitam.

An Exhibition of Non-Existent Books: O fascínio das literaturas imaginárias.


The time has come, ladies and gentlemen: Redes globais.

Tras poner del revés la industria IA, DeepSeek lanza su primer modelo que entiende y crea imágenes: Janus Pro: Os modelos de IA chineses entraram em força no ecossistema da IA Generativa. Depois do DeepSeek, que permite interagir com modelos de raciocínio sem custos, agora o JanusPro junta-se ao Flux como referência na geração de imagens.

5146) A foto impossível (26.1.2025): Há usos e abusos da IA generativa, mas nas mãos humanas criativas, é uma ferramenta para novas formas de expressão.

DeepSeek: Um resumo interessante sobre o DeepSeek e as suas capacidades.

Deep Impact: A façanha da DeepSeek e os impactos que teve nos mercados, mostram até que ponto a IA generativa está sobrevalorizada em termos financeiros.

We Interrupt the Ongoing Crisis for a Smidgen of Good News: Outro bom pormenor do DeepSeek é a forma como perfura a narrativa da necessidade exponencial de energia para sustentar a IA. Afinal, é possível ter modelos potentes e capazes com baixa pegada carbónica e consumos energéticos. Algo que as grandes empresas da IA nunca se deram ao trabalho de desenvolver, é mais lucrativo angariar dinheiro para comprar centrais nucleares. Para as empresas, não para a sociedade ou para o planeta, claro está.

“Who Is Ai Weiwei?” DeepSeek Refuses to Say: Confesso que acho este tipo de artigos profundamente ingénuos. É óbvio que um modelo treinado em dados chineses vai refletir as suas restrições sociais. O que é que esperavam? E a seguir à ingenuidade vem a pura estupidez - o poder destes modelos está na análise, não na resposta como oráculos detentores de todo o conhecimento. A preguiça mental de quem pergunta a um LLM em vez de ir pesquisar por si é abismal.

Boom’s XB-1 Demonstrator Achieves Supersonic Flight: A Boom conseguiu o seu primeiro boom. Compreendo. Perdoem-me a piada farsola. Mas compreendam. Tinha de a fazer. Em registo, fica a façanha de ser a segunda aeronave civil capaz de velocidades transsónicas.

For sale: An iPhone with TikTok installed, $50,000: O poder da adição. Estas ofertas destinam-se a alimentar aqueles que temem a saída da rede do mercado americano, e não hesitam perante nada para manter o vício.


70sscifiart: A set of four rare Del Nichols’ Star Wars posters: Que a força esteja.

Reality Is in the Eye of the Beholder: Cada um de nós tem a sua própria realidade. A nossa percepção do mundo é única, por muito que o partilhemos com outros.

Does Extraterrestrial Life Exist? Here’s What Scientists Really Think: É uma hipótese que não conseguimos comprovar, com os limites da tecnologia (e das distâncias galácticas). Mas também, pela mesma razão, não podemos rejeitar. É possível que haja vida não-terrestre no universo, resta saber como a encontrar.

Leituras da Semana (#51 / 27 Jan 2025): Esta vinheta do João Campos mostra o poder do acaso, como fugazes encontros se tornam marcantes na memória, e, por vezes, oportunidades perdidas. Eu, confesso, senão pelo livro de Barata-Feyo, nem imaginaria este pormenor da história do Portugal do século XX.

Footprints fleeing Bronze Age eruption of Vesuvius found: Outras Pompeias, ou, em bom rigor, os vestígios do trágico impacto de antigas erupções do Vesúvio em comunidades neolíticas.

The Strange Power of Laughter: Não há nada como um sorriso, ou uma boa gargalhada. É das mais humanas emoções que podemos sentir. Claro, quem gosta da sua vida condicionada e reduzida não aprecia o riso, mas quanto a isso, caros, se é a infelicidade que vos faz felizes, sejam então infelizes.

El papiro griego más largo encontrado no era lo que parecía. Su traducción ha revelado una historia desconocida de Roma: Sobre a cultura da fuga aos impostos e suas consequências, um problema tão velho quanto a humanidade.

Who Were the Nazis?: Agora que parece voltar a ser moda, é bom recordar quem realmente são estas pessoas. Não, não são ingénuos crentes, nem vítimas de circunstâncias. São pessoas amorais e descaradas, que fazem tudo em prol do seu benefício individual.

The PKD Dystopia: Vivemos num mundo orwelliano ou huxleyano, perguntamos, sentindo que a nossa realidade não é a opressão totalitária de 1984 nem a repressão benévola de Brave New World. Viramo-nos para os distópicos cyberpunk, mas se estes nos ajudam a descrever a preponderância social da computação, não servem para tudo. Talvez o escritor que melhor nos preparou para visões de sociedade desconexas, assimétricas, onde o real e o falso se mesclam, cheias de figuras peripatéticas com poder, tenha sido PK Dick e as suas literaturas de abalo psicológico.

Is Porn Destroying Us?: De facto, os mais perversos lascivos do passado empalideceriam com a diversidade de luxúrias ao alcance de poucos cliques num mundo online, onde todas as taras e manias, inclusive aquelas que nem imaginamos, têm o seu nicho de mercado. O problema surge quando a realidade da sexualidade carnal e humana é substituída pelo consumo da performance pornográfica, e as consequências morais e sociais que isso tem na formação da mentalidade. Notem que qualquer jovem de hoje já normalizou, porque as viu de certeza, as práticas mais bizarras e demasiadas vezes violentas e redutoras da mulher a objeto de abuso para satisfação sexual. Pensar que isso não tem consequências é ingenuidade ignorante.

Rich Kids Are Using a Clever Trick to Get Stuff From Amazon for Free: Há aqui uma clara falha social (e não é exclusiva à realidade americana). Com tanto reforço na ética que se coloca na educação, é de notar que as pessoas apenas fingem aprender essa ideia, e quando podem, aproveitam todos os esquemas que as beneficiem, prejudicando outros. 

quinta-feira, 13 de março de 2025

China Airborne


James Fallows (2012). China Airborne. Nova Iorque: Pantheon.

Confesso, este foi daqueles livros que, em alfarrabista, peguei ao engano. Conheço o trabalho do autor como jornalista que escreve sobre as suas experiências como piloto, e pensei que o livro fosse sobre conhecer esse imenso país pelo ar. Bem, nem por isso, apercebo-me quando começo a ler sobre a modernização da indústria aeronáutica chinesa, que Fallows acompanhou enquanto jornalista e entusiasta com ligações fortes ao mundo da aviação.

O livro é mais do que um relato sobre modernização aeronáutica, acaba por ser um intrigante vislumbre sobre o colosso chinês. Intrigam, as descrições de Fallows sobre uma população ambiciosa, disposta a construir negócios para enriquecemento não só pessoal mas do seu pais, o papel de um estado totalitário nos seus princípios e operacionalidade mas que na realidade dá um espaço de manobra maior do que o expectável, e do seu contrato social de obediência em troca de investimento e e melhoria das condições de vida dos cidadãos (nem que para isso os dote do que Fallows designa de trabalhos de faz conta, pessoas cujas ocupações são praticamente inúteis e existem apenas para manter emprego).

O fortíssimo dinamismo da economia chinesa é feito de assimetrias e de um modelo de fábrica do mundo, apesar dos esforços do governo em contrário. O mesmo se nota no sector académico, onde se em estatísticas puras a China lidera, em termos de qualidade intelectual e prestígio académico fica muito aquém das universidades ocidentais. A fabulosa infraestrutura moderna chinesa de redes rodoviárias, ferroviárias e aeroportuárias representa um esforço contínuo de puxar uma enorme vastidão territorial para níveis de prosperidade ocidentais, garantido empregos e trabalho. 

Fallows é um observador atento destas tendências, e anota também a forte interligação entre chineses e norte-americanos. Se os governos gostam de se afirmar a agitar as espadas, assinalando a crescente capacidade militar chinesa como uma ameaça clara, na verdade a integração económica entre estes países, como mercados interdependentes, relações de investimento e esforços institucionais de modernização das instituições chinesas é fortíssimo.

terça-feira, 11 de março de 2025

Livesuit


James S.A. Corey (2024). Livesuit. Nova Iorque: Orbit. 

O primeiro volume da nova série dos autores de The Expanse deixou-me algo desiludido. Esperava mais deles. Não deixa de ser uma space opera castastrofista divertida, mas pouco mais do que isso, e por muito que os autores se esforcem, não consegui empatizar com os personagens. O mundo ficcional intriga mais pelo que deixa de fora do que pelo que descreve, e veremos como a série progride.

Para os leitores que ficaram aziados perante uma série literária onde o tema principal é o quasi-extermínio e escravidão humana, absorvida por uma espécie alienígena mais avançada que se dedica a aniquilar civilizações, escravizando os seres que lhe interessam e exterminando os restantes, esta novela inverte a lógica. Aqui, há humanos com tecnologia capaz de enfrentar os alienígenas, e a guerra trava-se nos planetas distantes, protegendo os mundos centrais. Uma guerra travada por soldados de elite que vivem em simbiose com os seus fatos de combate, saltando de missão em missão num tempo relativo que se mede em meses, mas no seu planeta natal, passam décadas. 

Parte da história é explorar esta vertente do mundo ficcional de Captive's War, e o resto é o confronto do soldado protagonista com as agruras do combate, mas também o saber que o tempo passou, irremediável, para as pessoas que ama e deixou para trás. 

Se isto vos soa a Forever War de Joe Haldeman, bem, confesso, a mim também soaram alarmes no faro literário. A dupla pseudodenominada Corey é exímia em contrar uma boa história, por isso é uma leitura expectavelmente divertida, mas, tal como o livro que deu início à série, pouco mais do que isso.

domingo, 9 de março de 2025

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siryl: siryl: Vintage magazine covers by Prieto Muriana
: Coisas retro. 

Underrated Sci-Fi Reads According to Reddit: A lista é longa (e li parte dela), muitos títulos que quem os leu, sabe que são marcantes.

Leituras da semana (#51 / 27 Jan 2025): Algumas notas às sempre acutilantes observações do João. De facto, o Fediverso não é para o comum dos mortais. É mesmo para quem gosta de liberdade, de escolha, de experimentar. Não é um serviço amigável e obriga a estudar, analisar, tomar decisões. Apesar disto, é aberto, não se nega entradas e a comunidade ajuda. Correndo o risco de soar elitista, esta barreira de acessibilidade inicial combinada com a mecânica da própria rede, que desencoraja a vacuidade do ciclo de likes, ajuda a manter fora dela muita gente que, sejamos honestos, não desejamos ver nestas redes. Não queremos influencers, oversharers ou trolls. O fediverso, por aberto que seja, não é o espaço para quem tornou tóxicas as redes sociais tradicionais. E quem o usa para isso depressa é isolado pelas instâncias. Já o Bluesky, pronto, lá tive de criar conta, já que a promessa de interoperabilidade entre esta rede e o fediverso é mesmo isso, uma promessa. Criei para manter contacto com um pequeno grupo de pessoas que me interessam e aprecio, e saíram das outras redes. Descobri uma app gira que me permite fazer crossposting, a OpenVibe, ou seja, posso estar no bluesky sem ter de estar no bluesky. É que gostaria mesmo de não ter de estar a saltitar entre serviços e redes para estar em contacto e me manter informado sobre as pessoas e projetos que me interessam. E não consigo deixar de pensar nessa rede como uma espécie de twitter 2.0, que se apropriou de uma variante de tecnologia aberta para ser uma daquelas alternativas de mudança na continuidade. Já sobre Campbell, na verdade a nossa posição é similar, variam os argumentos. Perante uma personalidade cultural marcante que também foi um grandessíssimo filho da mãe na vida, prefiro a postura de reconhecer os contributos, e também o lado negativo. De facto, se se fosse limpar o acervo cultural global das obras criadas por más pessoas, ficaríamos bastante mais pobres. Mas isso não significa que se feche os olhos, que se ignore o mal que fizeram. No caso de Gaiman, por exemplo, choca-me particularmente o total desprezo pelas mulheres que violou, e sim, nunca mais pegarei em The Sandman com os mesmos olhos. 

"Fiasco" (1986) de Stanislaw Lem: Análise de uma obra clássica de Lem, que se centra em aspetos filosóficos.

2024 - 21 obras de autores estrangeiros a ler: O problemas destas sugestões, é que faltam tempo e estantes para tanta leitura. Mas ainda bem que assim acontece, que a edição de BD por cá é vibrante e com múltiplas vozes.

Vault Switches From Comics To Japanese Light Novels From April 2025: Um sinal intrigante, será que os romances leves japoneses serão a próxima febre pop cultural?


70sscifiart: Vincent Di Fate, “Christmas Eve”: Órbitas.

What the TikTok saga teaches us about platform power in politics: A crise TikTok foi rapidíssima, mesmo em termos internet. Demorou poucas horas entre desparecimento e restauração. A forma como anunciou ao mundo o seu regresso ao espaço americano é profundamente preocupante, uma vénia a elogiar o recém-empossado presidente Trump. Ou seja, a ByteDance optou pelo caminho de bajular o fascista laranja, e fê-lo de forma a transmitir uma imagem positiva dele nos seus utilizadores. É perigoso, não ao nível do assumir de viragem para a extrema direita da Meta, mas este elogio a uma entidade antidemocrática terá consequências. Curiosamente, apesar de tudo o que se diz, o TikTok é das redes que menos nos bombardeia com conteúdos de extrema direita. Existem. Volta e meia levo com vídeos do chega, mário machado, movimento 1143 ou os ocasionais boomer rants racistas. Mas é raro, e não há qualquer bloqueio ou depreciação de conteúdos abertamente de esquerda (desde institucionais tipo BE ou Robert Reich a amadores a discutir injustiças sociais). Mas isso pode mudar. É bom que nos recordemos disso.

Google Gemini now works across multiple apps in a single prompt: O crescimento dos assistentes de IA.

How A Japanese Studio Is Embracing AI In Its Anime Production Pipeline: Bons exemplos no uso de IA Generativa, que mostram como a integrar em cadeias de produção criativa, sem cair no lixo generativo ou retirar o trabalho humano.

What’s next for robots: Novos tipos de formas, cruzamento com biotecnologia, e IA aplicada à aprendizagem robótica.

When Teachers Dread Science, Students Suffer: A importância de um ensino STEM que seja prático, excitante, mas também erudito.

Mad at Meta? Don't Let Them Collect and Monetize Your Personal Data: Estratégias de defesa para combater o capitalismo de vigilância.

A New Movement to Free Social Media From Oligarchs: Pensava que ia ler algo sobre o Fediverso (que está a ser um ambiente muito positivo para minorias culturais e sociais). Mas não, é mesmo mais um esforço Bluesky. Replicar o modelo das redes sociais tradicionais não é nada de libertador.

A “Elonização” de Zuckerberg e o fim da inocência das redes sociais: Ah, mas terão as redes sociais sido realmente inocentes? O corrente bajular apenas revela uma queda de máscaras. Qualquer pessoa que olhe para o modelo de negócios que levou a Meta à estratoesfera percebe que de raiz, o tóxico, o violento e o acintoso estão na sua génese. É esse o modelo de negócios, acicatar para vender anúncios. E está a provocar um mal social tremendo.

Trump executive order rescinds Biden's AI framework: Se acham que os abusos das empresas americanas de IA era maus... vem daí pior. É o vale tudo.

You Can Now Play DOOM In Microsoft Word, But You Probably Shouldn’t: Nem o word está livre de correr Doom. Por outro lado, sempre se mostra que o word sempre serve para qualquer coisa de interessante.

UK to unveil ‘Humphrey’ assistant for civil servants with other AI plans to cut bureaucracy: Ah, aquele típico humor britânico, de recuperar o nome de uma personagem da sátira "Sim, Sr. Ministro" para identificar serviços de IA desenhados para navegar o labirinto das burocracias legais. Estou curioso para ver como estas implementações irão evoluir, e se cumprirão a promessa de tornar mais acessível a interação com serviços públicos.

NASA Astronauts Set to Search for Life Clinging to the ISS Exterior: A vida encontra sempre caminhos, diz-se, e a pergunta aqui é se há organismos extremófilos capazes de sobreviver expostos ao vácuo do espaço orbital.

How a top Chinese AI model overcame US sanctions: Um dos pormenores curiosos do lançamento do modelo chinês DeepSeek é que não deveria existir… não por incapacidade intelectual, mas por limitações técnicas advindas das restrições de exportação de chips avançados para a China. Não houve aqui proezas de obtenção ilícita de materiais, mas sim uma enorme capacidade de inovação dentro dos constrangimentos.

'Grief apps' are turning death into data: Morte, o novo território de exploração do capitalismo digital.


BruceS: Deveras.

What Was Life Like For Ancient Greek Women? A New Exhibition Sheds Some Light: A liberdade grega vivia-se no masculino. Estes poucos artefactos mostram as visões do feminino na antiguidade clássica.

The Tech Oligarchy Arrives: O triunfo dos techbros, ou os piores e menos escrupulosos oligarcas do digital a tomar conta do poder.

The Crypto World Is Already Mad at Trump: O que dizer de alguém que chega a um dos mais altos cargos mundiais e começa logo a vender criptomoedas especulativas? Um presidente assumidamente vigarista.

Si la pregunta es "puede un país sostenerse solo con energía renovable", la respuesta está aquí al lado: Portugal: Fala-se pouco disto por cá, tirando algumas espúrias reportagens. É interessante saber que somos uma referência internacional na sustentabilidade energética.

We’ve Always Been Worried About Distraction (So What’s The Crisis?): É uma história tão antiga quanto a humanidade, suspeito, o pânico moral e intelectual sempre que a evolução das tecnologias de comunicação traz novidades que prometem ser distrativas, intelectualmente incapacitadoras, danosas para o desenvolvimento dos indivíduos e sociedade. Já se disse horrores sobre a distração trazida pelos romances, pela rádio, pela televisão. Hoje aponta-se o dedo ao telemóvel e às apps. E, apesar de tanta distração, as pessoas adaptam-se, encontram usos e equilíbrios.

The Revisionist History of the Nazi Salute: Não, não foi uma saudação romana, até porque os romanos não a faziam. Um mito da estética do iluminismo, apropriado pelos fascistas, que estão vivos e de boa saúde, infelizmente.

Porque não vamos abandonar o X – mas queríamos: Há um certo contrassenso nesta posição do Shifter. É totalmente compreensível. É um media, tem de encontrar leitores para sobreviver. Estar na praça pública também é isto, não é só aparecer no café trendy da moda, é também ir ao beco infecto. O que me deixa a pensar em contrassensos é que a redação mantém-se no X, mas não desenvolve quaisquer presenças em plataformas verdadeiramente abertas. As suas contas Mastodon estão dormentes. E, perdoem-me, mas investir no Bluesky, embora seja algo que tem de ser feito, é cair novamente na ideia de gaiola dourada controlada por uma empresa. É de recordar que o Bluesky é uma versão proprietária de um protocolo aberto, e tem tudo para se tornar um twitter 2.0 (ou seja,  pode correr mal).

Digital Art. 1960s to Now: Um livro que entra diretamente para a minha wishlist.

Si tu silla cojea en una entrevista de trabajo, no es casualidad: están evaluando algo más que tu currículum: Da sociopatia na avaliação de recursos humanos.

"ONDE ESTÃ OS TEUS MÍSSEIS" [M2581 - 05/2025]: Partidas que correm mesmo mal. O f***, c**! aqui é mesmo bem aplicado.

The Wings of Angels: A Brief History the Aircraft of the Blue Angels: As aeronaves utilizadas pela lendária patrulha aerobática americana.

quinta-feira, 6 de março de 2025

Mensageiro do Espaço

Luís de Mesquita (1957). Mensageiro do Espaço. Lisboa: Edições Sampedro.

Visitei recentemente a nova loja da Castro e Alves na Almirante Reis, mesmo em frente à Kingpin Books. É um espaço amplo que se está a encher depressa de livros antigos, como bom alfarrabista, mas faz concessões às estéticas instagramáveis com zonas arejadas bem decoradas. Não é uma crítica. O espaço é agradável, e o acervo enorme. Tem de tudo para todos, e um forte acervo de livros em línguas estrangeiras. Com sou daqueles que me rendi aos alfarrabistas para encontrar curiosidades ou livros antigos que me despertam a atenção (particularmente nas vertentes de história, ficção científica, futurismo, informática e literatura), encontrei nos escaparates muita variedade, e inevitavelmente boas curiosidades, a bom preço.

Esta foi uma delas. Do que conheço sobre a história da FC em português, não me recordo de menções a este autor. Ignorância minha, certamente (este artigo no Baú da FC fala-nos deste, e de outros livros de FC clássicos). Mensageiro do Espaço é uma daquelas raridades curiosas, um romance de ficção científica escrito por Luís Mesquita, editado numa série de livros dedicados à aventura e romance por uma editora hoje desaparecida.

Peguei no livro sem esperar muito dele. Se o livro é obscuro, haverá razões para isso, se bem que quando se trata de FC em português a própria pertença ao género garante o esquecimento. Fui surpreendido pela leitura. Não uma obra fabulosa mas esquecida, é até um livro muito corriqueiro, algo banal e datado das suas temáticas, mas não deixa de ser uma sólida obra de ficção científica, na forma como se entretece e especula.

A história é-nos contada por Carlos, um cientista amador que prefere viver em relativo isolamento numa quinta na serra de Aire, a fazer observações celestes. E é mirabolante no seu alcance. Conta como, durante uma noite de observação, viu o que lhe pareceu ser um meteorito a cair nas proximidades. Ao investigar, depara-se com os destroços de uma nave alienígena, e ajuda o seu tripulante a salvar-se. Começa aqui uma aventura-périplo vivida pelo personagem. O alienígena revela-se ser um humano do planeta Vénus, observador que faz parte de uma missão das humanidades venusiana e marciana unidas, que vigiam com preocupação o desenvolvimento da civilização terrestre enquanto aguardam a oportunidade de nos trazer para o seio das humanidades do sistema solar.

Notem que não escrevi que é boa ficção científica, daquela que equilibra o questionar científico com a narrativa, apenas que é um livro interessante na sua abordagem.

Segue-se a inevitável visita à civilização venusiana, a aceitação do terrestre como um proto-embaixador planetário, que seduz a elevada sabedoria das civilizações alienígenas com a sua capacidade moral e gosto pelo conhecimento, precisamente as qualidades que creem faltar à humanidade. Somos mergulhados em descrições da civilização venusiana, das suas cidades, sociedade e tecnologias. Temos vislumbres de outras civilizações para lá do sistema solar. Há ainda um salto a Marte e um pequeno périplo pelo sistema solar, com uma alunagem e uma desventura quase fatal em Júpiter. E, claro, não podia faltar uma história de amor entre o garboso terrestre e uma bela jovem venusiana.

Não sendo de todo uma obra de Hard SF (comecemos por "humanidades estelares"), mostra que está bem inserida nalgumas temáticas da época, explorando ideias comuns à FC, quer a pulp, quer a mais erudita. Encontramos a preocupação perene com os maus caminhos da evolução humana, com a ameaça das armas nucleares e da tecnologia ao serviço da violência como moralmente reprováveis e ameaça à sobrevivência humana. Temos as civilizações evoluídas que nos vigiam, preocupadas, aguardando o momento em que nos mostramos capazes da libertação das pulsões negativas e, com isso, assumir um devido lugar. As descrições das sociedades extraterrestres são representativas das calmas utopias clássicas, civilizações unidas e prósperas, que vivem em equilíbrio com o seu ambiente e desenvolveram tecnologias avançadas que lhes permitiram construir sociedades pós-escassez. Os seus habitantes, pacíficos, vivem em harmonia e dedicados ao progresso científico e cultural. Os seus sistemas políticos baseiam-se na liderança sábia de colégios de anciãos, cuja bonomia dita os destinos das sociedades. Parte da FC clássica vive do entrecruzar destes ideários.

Há uns pormenores curiosos que destaco, claramente saídos do viés cultural do autor. O papel da mulher nas humanidades estelares é recatado e submissivo (cm algumas críticas pouco veladas à liberdade excessiva das mulheres contemporâneas do autor). Talvez o mais curioso, a fazer-me recordar a história sobre a veneração de Vasco da Gama perante divindades hindus que assumiu serem representações locais da virgem Maria, seja a visão de uma religião universal professada por todas as humanidades do espaço, claramente o cristianismo, embora nunca seja referido como tal, com a veneração da figura do salvador. Outra nota recai sobre a ideia de humanidades, Mesquita concebe os seres extraterrestes como essencialmente humanos, embora se atreva a imaginar alguns casos em que a evolução biológica foi forçada a afastar-se do nosso normativo biológico por via das condições planetárias.

Sem ser um grande clássico, este livro é uma boa surpresa, e também boa adição ao meu acervo dos primórdios da Ficção Científica em português. Vale o que vale, não é perfeito e está fortemente datado, mas é dotado de uma candura que seduz.

terça-feira, 4 de março de 2025

Power and Progress


G C Thornley (1966). Power and Progress. Londres: Longmans.

Nada como um mergulho nas utopias tecnológicas de meados do século XX. Power and Progress é um livro antigo de divulgação científica, focado nas forças motrizes do progresso: a energia, carvão, à época; os motores a vapor; o petrólelo; as comunicações por sinais; produção em massa; aviação, o telescópio e medicina. Cada tema é explorado sob um prisma de ideário de progresso, de evolução técnica e social. É interessante perceber que as tendências que sentimos hoje já estavam presentes nesta análise, especialmente nas questões ligadas à energia, esgotamento de recursos naturais, ou importância das comunicações no dia a dia.

O livro está irremediavelmente datado, mas hoje não se lê como um preditor, mas sim como marco conceptual da forma como num passado pouco distante se especulava sobre o seu futuro próximo. Tem uma forte mensagem anti-guerra, e de esperança num crescimento contínuo de cultura e prosperidade. Oh my sweet summer child, não consigo deixar de pensar, ao ler estas palavras de esperança escritas nos anos 50, num 2024 onde a humanidade parece ter decidido abraçar o caos, estar-se nas tintas para os problemas ambientais, admirar os retrocessos nos direitos sociais, e o sonho de cada um ter voz graças aos meios digitais se ter tornando um pesadelo infestado de trolls, discursos extremistas e ódio. Lamento, mas apesar de todos os sonhos, não progredimos como o esperado. Até pelo contrário.

domingo, 2 de março de 2025

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For 2025, I’m doing Control Panel Saturday
: Muitos botões a piscar.

Orbital: a nossa existência vista do céu: A curiosidade ficou desperta com este pequeno livro de ficção científica.

What Does ‘Escapism’ In Reading Even Mean?: Olhar para aquele conceito-anátema na literatura, percebendo que tem várias leituras e visões.

There Is No Safe Word: Confesso que já fui mais fã de Neil Gaiman. Descobri o seu talento a ler o apaixonante Sandman, e durante algum tempo li sem parar o que escrevia. Até que me apercebi que por detrás do floreado e elegância linguística, estava um escritor fortemente limitado. Quanto mais o lia, mais percebia que ele contava sempre a mesma história, de percursos de descoberta individual com personagens inadaptados a gerir interações com mundos que compreendem mal. Cansei-me de o ler, apesar de lhe reconhecer a elegância literária. Nada de problemático com isto, é natural, a ficção popular é quase sempre formulaica e isso mão significa que seja má. Também confesso o meu choque perante este caso. Não era novidade, já há meses que nos fandom online se falava disto, e agora chegou ao grande público. Costumo ter alguma relutância em abordar as fímbrias das condenações públicas tipo metoo. É inaceitável que homens em posições de poder social ou cultural abusem disso para obter favores sexuais. Isso, é inegável, e a esmagadora maioria dos casos eram claramente justificados no seu desmascarar. Mas às vezes as coisas pareciam menos claras, e aqui recordo o caso de Warren Ellis, também apanhado nestas teias, que depois de ler os depoimentos sobre o que fez às suas vítimas, me pareceu mais um caso der alguém que aproveita a fama para seduzir mulheres e não de um abusador que coloca o sexo como condição para acesso a empregos ou visibilidade social e cultural. É também de notar a forma como Ellis abordou a questão e a eventual redenção, lidando com o problema em vez de confrontos e ameaças legais. Suspeito, no entanto, que este seja um dos poucos casos raros onde está mais em evidência a hipersensibilidade contemporânea face a um comportamento de sedução clássico do que abuso. No caso de Gaiman, é tudo muito claro, e sórdido. Os comportamentos descritos são de puro abuso, exercidos sobre jovens mulheres em situação de fragilidade financeira e emocional. Não está em questão o que andou a fazer (bdsm ou não bdsm, cada um com a sua cena), mas sim a forma como o fez, profundamente violentadora e desrespeitadora dos mais elementares princípios de humanidade. 

A Field Guide to Cinematic Wolf Men: Sou classicista, por isso, nada supera Lon Chaney.

Fantagraphics to Collect The Complete Hate by Peter Bagge in Paperback: Há alguns anos, esta notícia deixar-me-ia contente. Entretanto, revi estes comics recentemente, com a nova incursão de Peter Bagge. Prometia, ver a acidez do personagem aplicada ao contexto contemporâneo de guerras culturais e ascensão do extremismo conservador, mas na verdade, mostrou o quão datado Hate se tornou. Talvez porque rednecks falhados cervejolas meio fachos deixaram de ser caricatura e se tornaram força política.

Marzahn, Alemanha de Leste: Um olhar para a vida na Alemanha de Leste, com sentimento mas sem ostalgia.

The Best Sci Fi Novels of the Past Decade, recommended by Sylvia Bishop: São, de facto, obras tremendas. Cixin Liu e Vandermeer são marcos literários. Arkady Martine é um gosto de ler. E Martha Wells é das mais divertidas praticantes do género.

Check Out Some Of History’s Great Literary Forgers And Fraudsters: Num tempo onde se multiplicam as vigarices culturais geradas por IA, é curioso recordar outras vigarices literárias, de outros tempos. O problema não está na tecnologia, esta só facilita ou acelera as más intenções humanas.

Where Do Neil Gaiman Fans Go From Here?: É raro ler uma reação destas. Geralmente, quando um criador cai em desgraça, fala-se da sua total rejeição e ostracização, porque o seu trabalho fica indelevelmente marcado. Outros, mais raros, afirmam a pés juntos que se pode separar o indivíduo da sua criação, por execrável que este seja. Na verdade, não é uma questão linear. Para alguns, o descobrir os podres dos criadores que admiram pode ser um fator de profunda rejeição (e eu, se fosse uma jovem mulher, ficara imensamente enojado com o que veio a lume sobre Gaiman). Este artigo mostra uma posição firme. Esta fã não desvaloriza o que já leu do autor, e mantém o seu impacto, mas recusa-se a dar continuidade ao apoio. Uma rara posição de equilíbrio, num meio conhecido pela emotividade das reações.

Multipass: Um daqueles filmes cuja sensibilidade é vibrante e gritante, visualmente luxurioso, uma estética de FC que se afasta do realismo utópico ou dark da cinematografia americana.

Se não me falha a memória, o primeiro filme que vi de David Lynch: A minha memória de Lynch aconteceu nos tempos do secundário, quando tinha tardes livres e passava demasiado tempo a olhar para o televisor. E, num total acaso lynchiano, passou uma sitcom incrivelmente bizarra, On The Radio, que me fazia ir às lágrima de riso. Percebi que o seu criador era o mesmo Lynch do assombroso Elephant Man, ou o apaixonante Dune, cuja sensibilidade afastada da mediania da FC para sempre me seduziu. Ter visto Eraserhead foi um momento formativo na minha vida.


John Berkey, “Fire Sky”: Visões explosivas terminais.

El delicado equilibrio de la confianza entre humanos y máquinas: Uma lição clássica - confiar nos sistemas automatizados, mas manter sempre uma salvaguarda.

Mark Zuckerberg and the power of the media: Uma desmontagem excelente das lágrimas de crocodilo com que o dono da Meta justificou a sua viragem a favor da desinformação. Do absurdo de apontar o dedo a fatores externos, quando a Meta tem  um peso económico superior aos dos meios de comunicação, e nunca foi pressionada pelo governo americano para vigiar os discursos dos seus utilizadores. Especialmente gravoso, quando recordamos que a necessidade de moderação de conteúdos foi implementada na sequência de acontecimentos graves onde a partilha de desinformação e discursos de ódio foram fundamentais para acicatar a violência física.

CEO of Song-Generating AI App Says People "Don't Enjoy" Making Music With Instruments: Provavelmente o mais estúpido argumento a favor do uso de IA generativa - "It’s not really enjoyable to make music now," he said. "It takes a lot of time, it takes a lot of practice, you need to get really good at an instrument or really good at a piece of production software." Sim. Praticar dá trabalho. E é a diferença entre a mediocridade e ser-se capaz de exploração profunda das ideias.

Mastodon ya es lo opuesto a Meta y X, y ahora lo será aún más: adiós a su actual CEO, hola nueva entidad sin ánimo de lucro: Mais um passo a afirmar a independência das redes federadas, e a mostrar que seguem um caminho muito diferente das redes sociais tradicionais, focado em estar ao serviço das pessoas,  e não usá-las para espremer o máximo de lucro.

Internal documents reveal Commission fears over Microsoft dependency: Quando os discursos públicos não são seguidos por iniciativas concretas. Há uma relação direta entre isto - "“There are no known credible offerings from European providers,” reads an internal Commission document seen by Euractiv", e a dependência da Microsoft. Implementar soluções abertas dá trabalho, e é desagradável para grande parte dos utilizadores, que se sentem agastados pela necessidade de se familiarizarem com outros softwares, ao mesmo tempo que irritados pelo esforço mental trazido pela mudança (se isto vos parecer muito detalhado, sim, tenho essa experiência e traumas). A corrente evolução do mundo, quer da geopolítica quer da tecnlogia, torna claro que nós, europeus, temos mesmo de reduzir dependências externas. A cereja em cima do bolo? Perceber que o enorme manancial documental da Comissão Europeia se suporta numa empresa cujas práticas comerciais são abusivas, protegida por um contrato laxista. São apenas os documentos de gestão de topo da UE, às mãos de semear da MSFT.

DJI will no longer stop drones from flying over airports, wildfires, and the White House: Esta deve ser a versão drone do fim das políticas de moderação e inclusividade laboral das redes sociais. Realmente, qualquer mirone deveria ter o direito de voar o seu drone por onde quiser, em nome da liberdade de expressão. Mesmo que isso viole a privacidade de terceiros, ou coloque em risto operações de segurança pública.

OpenAI quietly revises policy doc to remove reference to ‘politically unbiased’ AI: E se ainda tinham dúvidas que os grandes jogadores da economia digital estão a soltar todos os travões, mais esta.

Asimov's Laws of Robotics Need an Update for AI: Bem, será que podiamos parar de discutir as leis de Asimov como uma espécie de verdade incontornável? É que são, na essência, artifícios literários para ajudar a escrever histórias. Há uma certa pobreza intelectual em basear-se nisto para discutir as muito complexas problemáticas trazidas pela IA, mas também pela robótica e automação.

Pixelfed, Instagram's decentralized competitor, is now on iOS and Android: Excelente. Finalmente a capacidade de fugir às gaiolas douradas progressivamente infectas da Meta, com a conveniência das plataformas móveis.

Donald Trump Has Mark Zuckerberg By the Balls: Uma curiosa análise da possibilidade de banimento do TikTok do mercado americano, visto como um enorme favor do governo à saúde da Meta.

Google is making AI in Gmail and Docs free — but raising the price of Workspace: Levar com IA generativa nos serviços, quer se queira, quer não.

More teens report using ChatGPT for schoolwork, despite the tech’s faults: Alunos a cabular e a fazer todos os esforços para não se esforçarem a estudar, é tão velho quanto a história da educação.

The Internet Is TikTok Now: O triunfo do deslizamento contínuo nas redes sociais, desenhado para agarrar os utilizadores o máximo de tempo possível.

TikTok, Temu and more face complaints alleging GDPR violations in EU: Fico curioso no que isto vai dar. É inevitável que os tribunais dêem razão aos NOYB, o que terá de ter consequências ao nível da ação da CE.

Google decides it won't comply with EU fact-checking law: Anda por aí uma aragem de impunidade capitalista. Se acham que vivemos muito bem num mundo hiperglobal e que ideias como "soberania digital" são arcaísmos, está aqui algo que mostra bem o erro do excesso de confiança na bonomia alheia.

TikTok goes dark in the US: Quando lerem isto, já o assunto estará resolvido, quer com um banimento efetivo, quer com a sua suspensão (há um hiato de tempo entre eu escrever e publicar, isso é uma escolha, estes URL são memorialização e não novidade). Tem sido interessante assistir a este debacle. Em parte, porque a reação dos responsáveis da empresa tem oscilado entre o patético e o birrento, talvez por se acharem acima de leis e não acreditarem que um estado irá mesmo dar o passo de os banir (para ser justo, é exatamente assim que os Musks e os Zuckerbergs se comportam). Mas o interessante tem acontecido nos prováveis últimos dias do TikTok americano, com muitos criadores a fazer vídeos de despedida. Ao vê-los, apercebi-me de um padrão, e de uma razão que torna esta rede interessante (apesar das suas imensas problemáticas). Estes criadores, cujos vídeos sugeridos me interessaram e passei a ser seguidor, têm em comum o não serem profissionais. E nas suas despedidas, sublinharam como a app lhes permitiu algo que achavam impensável - um espaço para partilhar as suas visões, pensamentos e opiniões, que acabou por ter um impacto inesperado. Não irão conseguir replicar esse espírito noutras redes. Talvez a mais se aproxima seja o Instagram com os seus reels, e todos sabemos como isso não passa de uma incessante promoção algorítmica de empresas e influencers de profunda vacuidade. E essa é uma das características interessantes do TikTok, a sua aparente não comercialidade. É um padrão que noto nos vídeos que vão aparecendo. Rareiam as promoções empresariais, simplesmente não pegam, e o que se vê mais são pessoas anónimas a partilhar o que fazem. Jovens criadores a experimentar com vídeo, arte generativa e touch designer. Programadores a mostrar como fazem arte generativa. Músicos a mostrar as suas canções. Jovens entusiasmados a falar dos livros que leem (as editoras tentaram replicar isto, sem sucesso, ninguém lhes liga). Gente que fala de teoria da cor (sim, assim tão específico), livros, discos, temas da atualidade. E muitos a falar mesmo muito bem, acima do nível jornalístico e ensaístico mainstream. Malta anónima, mas que vale a pena ouvir. Sei que há diferentes TikToks, o seu espantoso algoritmo implica que cada utilizador tem o seu. E posso dizer-vos que o meu tem sido enriquecedor e inspirador (eu sei, não é isto que se diz do TikTok, e francamente não é o que eu esperava encontrar quando aderi). Se os americanos ficarem de fora desta rede, confesso que vou ter saudades. Do Dan of Innsmouth (obviamente, a falar de terror e Lovecraft) e o seu sorriso. Do Joey Contino, incansável transmissor de OSINT sobre a guerra na Ucrânia e constantemente assolado por bots russos. Da Bimbo University, uma rapariga gira que enquanto se maquilhava nos falava de desigualdades sociais, predação económica capitalista e da importância de lutar contra as injustiças. Do GeoHussar (só o nome já indica bagagem intelectual), cujas análises geopolítica muito bem informadas estão muito acima do discurso jornalístico. Da Courtney Novak e o seu projeto de ler pelo menos um livro de cada país do planeta, e falar-nos sobre eles. Da acutilância da Privacy Tips Naomi, sempre a ensinar como usar as redes e a vida digital protegendo os nossos dados. Do Salem "best technician that ever lived" Techspersts, com quem aprendo a compreender as entranhas dos computadores. Do The Color Nerd e as suas irritações com as calinadas na teoria da cor. Ainda juntaria o Veritasium (os seus vídeos sobre ciência são do melhor que conheço). São vozes que ficam de facto de parte. Mesmo as que se transferem para outras plataformas sabem que ficam para trás do lixo digital dos influencers, das promoções e do marketing. Este provável fim do TikTok americano fez-me perceber isso, que apesar de todas as problemáticas, esta é uma das raras plataformas digitais que realmente dá voz a quem tem algo a dizer. De certa forma, desempenhando o papel da blogoesfera nos seus tempos de auge. Resta-me observar que por cá, não temos muitos criadores à altura. Destaco o André Martins, o professor universitário que conseguiu a improbabilidade de apaixonar os portugueses pelo latim e a Roma antiga com os seus vídeos, o didático Marco Neves a falar da nossa língua, a dramática Mariana com o seu gosto musical. E pouco mais, o resto são publicações de guerrilha ideológica, piadas parvas ou o lado mais sujo, os influencers que vivem de polémicas e parvoíces, a explorar os mais néscios. Edit: A realidade tem coisas incríveis, e no próprio dia em que escrevi isto, o banimento do TikTok foi suspenso. E o como foi suspenso, é uma lição de propaganda pura, com a empresa a bajular Trump por ter suspenso temporariamente a execução. 

A PDA From An ESP32: Confesso que não esperaria estas capacidades de uma ESP32.

Opting Out of Gmail's Gemini AI Summaries Is a Mess. Here's How to Do It, We Think: Táticas de defesa contra o dilúvio de IA generativa manhosa que nos estão a impor.

The Toyota Prius Transformed the Auto Industry: Um olhar para o veículo que lançou a classe dos híbridos e abriu caminho aos elétricos.

Bluesky's 2024 moderation report shows how quickly harmful content grew as new users flocked in: Sem grande surpresa. Com o serviço a crescer em fama, começam a chegar os trolls. Nisso o mastodon é mais eficaz, um troll depressa é isolado e extirpado das principais instâncias.


It's Full of Stars: Urbanismos inconvenientes.

The Preposterous History of Propaganda Art: Para uns, absurdo, para outros, nostalgia de outros tempos, a propaganda tem a sua linguagem visual própria.

All In The Same Boat: As sempre interessantes Leituras da Semana do João Campos alertaram-me para este excelente desmontar do mito da anti-regulação, geralmente muito afirmado por aqueles que têm a ganhar com a retirada de proteções sociais, laborais ou ambientais:  word with many definitions. Somebody using it can mean “the act of bringing to light something that wasn’t previously known” or it can mean “combining or reconfiguring already known things in novel and unique ways that create valuable new effects.” But sometimes when people use the word, they mean “ignoring a rule that was there for what might be very good reasons, in order to gain an advantage by doing things that other people aren’t permitted to do.”"

A Wider War Has Already Started in Europe: De facto. Não é uma guerra no sentido convencional (exceto para os ucranianos) mas há muitos pontos soltos que, se conectados, nos mostram que estamos perante uma ameaça grave, uma guerra híbrida que visa desestabilizar a União Europeia.

Bruselas pisa el freno ante el regreso de Trump: pausará las investigaciones sobre Big Tech estadounidenses, según FT: Leio isto e fico estarrecido. Estamos em 1938, novamente? Assistimos ao regressar dos autoritarismos, e a reação europeia é... calar-se para não ser inconveniente?

Andy Warhol Made "Nudes": Confesso alguma curiosidade pruriente, mais porque é um lado da obra de Warhol que raramente é discutida.

America Just Kinda, Sorta Banned Cigarettes: Por cá, fez-se algo similar, com as leis que diminuem a quantidade de açúcar nos pacotes de café e bens alimentares processados.

morning computer future forms: Maravilhas do design retrofuturista.

Reasons for pessimism in Europe: Não está fácil. Nós, europeus, já percebemos que os ventos frios da história voltaram a assolar. Não podemos contar com o nosso mais forte aliado, temos de lidar com o patético, mas violento imperialismo russo, e com o mais preocupante, porque bem medido e sustentado, crescimento do projeto hegemónico chinês. Junte-se a isso o regresso em força dos extremismos conservadores e as guerras surdas que ameaçam a nossa estabilidade democrática. Não podemos ficar complacentes face a estas forças, sob pena de declínio e irrelevância.

The End of the DEI Era: Podemos concordar ou não com a extensão das medidas inclusivas, mas é inegável que são necessárias para combater desigualdades. Este erodir começa nos EUA, mas depressa alastrará à Europa, este tipo de ideário contamina. E há muitos felizes e contentes com esta regressão: "A recent Financial Times story cited an unnamed “top banker” who felt “liberated” and excited at the prospect of no longer having to self-censor. “We can say ‘retard’ and ‘pussy’ without the fear of getting cancelled,” the banker said. “It’s a new dawn.”". Tenho vários nomes para esta gente, entre mal educados a burgessos, e não deveria ser a sua tacanhez a caracterizar a nossa sociedade.

Cory Arcangel on World of Awe: The Traveler’s Journal (Chapter 1: Forever): Recordar projetos clássicos de arte digital, preservados online.

España y Portugal han demostrado cómo se lidera la transición energética: 82% de electricidad limpia en 2024: De forma metódica, estamos a dar passos fortes nos domínios da transição energética. Os jornalistas portugueses preferem dar voz aos boomers que se irritam por ver painéis solares nas planícies alentejanas do que a analisar a real transição energética que se faz por cá.

Donald Trump appears to have launched a meme coin: É sempre bom ver que as prioridades do presidente americano são enriquecer com vigarices. Claro, já se sabia.

Tiene 69 años, es el astronauta más longevo de la NASA y sigue haciendo las mejores fotos tomadas desde el espacio: As preciosas capturas de Din Pettit.

Los políticos ya saben cuál es el coste electoral de construir vivienda pública para bajar el precio: perder elecciones: É um contra-senso. Quem aprova medidas para mitigar algo que está a tornar-se catastrófico, o custo da habitação, acaba castigado nas urnas. Às vezes fica difícil manter a fé na humanidade.