terça-feira, 10 de setembro de 2024

Artificial Women


Julie Wosk (2024). Artificial Women: Sex Dolls, Robot Caregivers, and More Facsimile Females. Bloomington: Indiana University Press.

Uma visão sociológica da forma como interpretamos o feminino na tecnologia. O livro cruza a ficção científica literária, cinematográfica e televisiva com os correntes desenvolvimentos na robótica e Inteligência Artificial, analisando a perpetuação de esterótipos de género através das projeções ficcionais. 

A forma como entedemos e imaginamos os robots entrecruza-se com visões do feminino, especialmente em ideias de suavidade, subserviência e disponibilidade sexual. Algo que é muito visível no campo das bonecas sexuais, que agora são robotizadas e, graças à IA, apresentam simulacros de personalidade subserviente. Em menor grau, estes aspetos também estão presentes noutras vertentes, como a robótica aplicada aos cuidados sociais ou os assistentes digitais. Há razões sociais e culturais para que as Siri, Alexa e outos interfaces de IA tenham generalizado o uso de suaves vozes femininas, que este livro analisa muito bem.

A lente da ficção é uma forma interessante de analisar estas questões, uma vez que as obras ficcionais permitem olhar para modos, comportamentos e atitudes que, sob a capa ficcional, se tornam mais empáticas. Aí o livro vai bem a fundo, e mostra como as representações de seres artificiais (robots ou IAs espelham pressupostos e preconceitos, mas também como é possível desafiar a sua aparente inevitabilidade através da desconstrução, fazendo-nos olhar para os reversos da projeção de estereótipos.

Este ensaio está mais na ótica da cultura do que na tecnologia, mas isso não o torna menos pertinente. A tecnologia não vive isolada, não está isenta dos preconceitos de quem a desenvolve, e o seu cruzamento com as forças de marketing que a trazem aos mercados exacerbam estes aspetos.

domingo, 8 de setembro de 2024

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Kow Yokoyama provided art to the front and back cover to this 1987 guide to D&D by Yukihiro Kuroda: Fantástico clássico.

«Exophobia» — videojogo «retro sci-fi» português: Uma intrigante proposta de jogo digital criado por cá.

Japanese idol Momoka Tojo must post solo "good night" photos for 1 year after being seen with boyfriend: A cultura pop japonesa consegue ser assustadora, especialmente nesta vertente em que a pessoa que encarna o ídolo manufacturado pela editora, existe apenas para manter os fãs na ilusão da proximidade.

Five Graphic Novels People Need to Read, recommended by Ivanka Hahnenberger: Cinco livros da BD contemporânea francesa, editados em inglês.

The enduring legacy, and ongoing relevance of Kenneth Johnson’s “V”: Uma daquelas séries clássicas que, no seu melhor, era um mordaz comentário sobre o estado das coisas, disfarçado sob a premissa da invasão alienígena.

Jizo – Mato Mr Tan: Uma intrigante proposta de mangá editado por cá.

O silêncio da ficção científica: O João Campos (hey, só para deixar claro que tens aqui um leitor regular) faz um excelente complemento às observações do Luís Filipe Silva sobre a dificuldade, ou incapacidade, da literatura de FC vingar por cá. Eu só junto uma visão mais pessimista ao tema, recordando que somos um país com um histórico baixo nível de literacia (que nos últimos tempos tem vindo a melhorar), onde o livro é visto como algo que só serve se for útil, se lê porque tem de ser pela esmagadora maioria da população, mesmo aquela que tem formação superior e por isso teria natural tendência para ser mais culta. Noto isso particularmente na minha profissão, o que é muito deprimente, uma vez que transmissão cultura está no adn da docência. Num pais onde só se valoriza a cultura muito erudita, e isto por uma minoria, onde as iniciativas culturais mais massificadas que se atrevem a sair do pop comercial rareiam, é quase impossível que um género literário que já de si é de nicho consiga crescer. Eu disse, uma visão deprimente, e se vos soa a boomer rant, reparem que estou a resmungar essencialmente contra a minha geração, recordando desde os inúmeros colegas que tive no ensino superior cujos hábitos literários se resumiam aos resumos das matérias para exame aos que hoje tanho e raramente lhes vejo outro livro nas mãos que não o manual escolar.

Um resmungo (ou um lamento): Duas referências ao sobreiro mecânico numa só semana? Suspeito que se deva a qualquer bizarria dos feeds RSS do Tumblr, passo semanas sem ler nada e de repente surgem posts sucessivos em catadupa no meu Feedly. E, claro, subscrevo inteiramente esta visão de estagnação da cinematografia mais pop, mergulhanda no pântano de reboots e sequelas para que os estúdios espremam o máximo possível da Propriedade Intelectual que detém.

Logitech has an idea for a “forever mouse” that requires a subscription: Sonhos húmidos do capitalismo. E que tal nunca parar de pagar pelos objetos que compramos? Confesso que me falha a lógica de pagar para garantir o uso atualizado de um rato. É um rato, um mero dispositivo apontador nas coordenadas xy, que outras maravilhas podem ser despertas via software?

Instagram starts letting people create AI versions of themselves: Isto faz todo o sentido, para quem quer cortar custos de marketing. Em vez de ter pessoas reais a interagir com clientes ou interessados, usam-se avatares sustentados por LLMs. Claro, de fora fica o raciocínio, e quando um potencial cliente quer falar com uma entidade, será que aprecia ser despachado para algoritmos?

Catholic Priest Sues Grindr After He Gets Caught Using It: Duas notas - é um clássico, quanto mais moralistas, mais apanhados nestas coisas; e, o realmente importante nesta história (se o senhor padre gosta de pecar contra-natura e depois penitenciar-se, francamente isso é lá com ele), a forma displicente como estas empresas comercializam os dados supostamente privados dos seus utilizadores. É um modelo de negócio que está totalmente impedido por cá, razão pelo qual o RGPD é tão vilipendiado como empecilho ao desenvolvimento tecnológico.

The Gods of Logic: A visão erudita de Labatut sobre a nossa crença no deslumbramento com a Inteligência Artificial.

Meta’s future is AI, AI, and more AI: Bem, mas todo o modelo de negócio da Meta já assenta na IA, na captura de dados, gestão, e treino de mecanismos que otimizam a atenção dos seus utilizadores e, com isso, tornar mais eficaz o modelo publicitário que a sustenta. Este novo foco na IA generativa destina-se a automatizar a produção de conteúdos, ou seja, porta aberta ao AI Sludge.

Wix’s AI will now write whole blog posts for you: E quem é que é suposto ler? O objetivo é jogar com os algoritmos de pesquisa, mas na verdade, é outra forma de gerar lixo para entupir a internet.

5 reasons why Chromebooks are the perfect laptop for most people: Confesso que me tornei adepto do Chromebook para o dia a dia, consigo fazer praticamente tudo o que fazia em windows nele. Claro, a ligação extrema à Google é um pouco desconfortável, e ajuda que a esmagadora maioria do software que uso se tenha transferido para serviços cloud, e a virtualização linux permite correr aplicações locais. Não pus de parte o meu pc, mas para a rotina de dar aulas (de TIC, ainda por cima), bem como apresentações por aí fora e workshops, tem-se revelado muito adequado. É leve, barato e o meu tem uma bateria que ao fim de um ano de uso intensivo, continua a durar dez horas. É sempre giro estar a dar aula, os alunos toparem na projeção que o meu indicador de bateria está no mínimo, e começarem assustados a avisar-me que tenho de colocar o computador a carregar. Habituados como estão ao merdoso hardware insys do Escola Digital, cujas baterias duram pouco, ficam sempre surpreendidos quando aos 20% de bateria ainda me restam duas ou três horas de autonomia no Chromebook.

OnlyFans Stars Are Using AI to "Sext" With Their Desperate Simps: Sinceramente, não surpreende. O logro de utilizadores ingénuos é a base conceptual deste tipo de serviços. 

AI has a climate problem — but so does all of tech: Bem visto. Temos mesmo que olhar para este problema, exigindo serviços e tecnologias com maior eficiência energética, ou alimentados por renováveis.

Heeyo built an AI chatbot to be a billion kids’ interactive tutor and friend: Prestem atenção a este tipo de serviços. Eles vão definir a experiência de ser criança no futuro próximo. Aposto que o próximo pânico moral está aqui:  a seguir aos "colappso civilizacional porque os miúdos estão agarrados aos telemóveis", será o "colapso civilizacional porque os miúdos agarrados aos companheiros virtuais IA".

3 ways Google just supercharged your Chrome browser with AI - and they're surprisingly useful: E são-no, de facto. Sem tretas de IA Generativa, mas sim aplicar as capacidades dos LLMs e machine learning à gestão e acesso à informação.

Pluralistic: The reverse-centaur apocalypse is upon us (02 Aug 2024): Cory Doctorow, como sempre hiper certeiro, a falar da forma como o software de gestão laboral se tornou uma ferramenta de hipervigilância opressiva, que inferniza a vida dos trabalhadores, reduzindo-os a meros utensílios a serem espremidos de acordo com a otimização trazida pelo algoritmo. 

Petição contra o abandono de jogos: É de recordar que os jogos também são património cultural, que deve ser preservado e não impossibilitado o seu acesso.

The Generative-AI Revolution May Be a Bubble: Rios de dinheiro investido em tecnologias que, tendo a sua utilidade, não são tão revolucionárias quanto isso, e todo o esforço de afinação de LLMs e modelos não se está a traduzir em modelos de negócio sustentáveis. Começam os indícios que o AI hype se começa a desvanecer, porque os investidores estão a perceber que vai ser difícil recuperar o dinheiro que meteram nestas empresas.

Adobe Illustrator's new generative vector fill is game-changing (even if you can't draw): Interessante, a capacidade de gerar vector graphics, e incorporado como elemento de uma ferramenta de desenho digital.

5 Ways That AI Is Actually Useful Right Now: Resumir informação, auto-transcrições ou usar o lado alucinatório da IA para ter ideias.

Reverse engineering the 59-pound printer onboard the Space Shuttle: Um projeto interessante, recuperar uma impressora de agulhas que operou nos vai-véns espaciais.

Mechanical Intelligence and Counterfeit Humanity: Recordar que apesar dos deslumbres e dos esforços técnicos, a computação não conseguirá atingir mais do que um pálido simulacro da experiência humana: "Computers can make perfect decisions if they have all the facts and know how to assess the tradeoffs between competing objectives. But in reality, the facts are never fully known; judgments always require evaluation of uncertainties. And it takes a whole human life, and a well-lived life at that, to acquire the values needed to make judgments about our own lives and those of other people."

Bringing The UMPCs Back With A Pi Zero: Antes da ubiquidade dos smartphones, haviam os PDAs e portáteis ultra-móveis. Estes projetos tentam ressuscitar estes equipamentos, partindo das capacidades dos Raspberry Pi.

Why I Hate Instagram Now: Bem vindo ao clube. Para mim, o Instagram já foi a rede onde eu ia procurar inspiração visual. Agora, raramente lá vou, a curadoria algorítmica focada exclusivamente no maximizar da publicidade arruinou a experiência de uso da app.

Restoration of Spanish Church Goes Ridiculously Wrong: Ah, Espanha e os maus restauros do património, esse tesouro de desastres absurdos.

America’s Mach 3+ fighter, Bill Sweetman investigates: Um projeto nunca construído de caça de combate capaz de velocidades equivalentes às de um Blackbird.

News Analysis: Threats Faced by US F-16 Fighter Aircraft in Ukraine from Russia: As ameaças que as aeronaves que os ucranianos estão a receber enfrentam.

Portugal com museus grátis 52 dias por ano: Bem, mas isso já acontecia, a novidade aqui é que em vez de se restringir aos domingos, esta medida pode ser usufruída em qualquer dia da semana. Se bem que, olhando para a lista inicial de museus, vejo lá uns que já eram gratuitos (O de Peniche, por exemplo), e outros, caso da Torre de Belém, que só com muita sorte se lá entra, é que mesmo de graça não se atura duas horas de espera na fila no meio de turistas.

The restaurant at the end of the world: A ementa do restaurante de luxo das remotas ilhas Svalbard.

COVID virus is widespread in Virginia animals: Recordar que não estamos livres do vírus, e num curioso toque evolucionista, o que nos foi transmitido por animais selvagens foi agora transmitido por nós a outros animais.

How Kids Learn: Not All Screen Time Is Equal: Como tudo na vida, o essencial é o equilíbrio. A corrente moda de histerismo sobre a epidemia de ecrãs nas crianças é um exacerbar de algumas preocupações legítimas, e que está a ser lidada da pior forma possível, com uma visão de que devemos proteger as crianças dos nefandos ecrãs, colocando-as numa redoma não-digital (esquecendo que as temos de preparar para funcionar em sociedades digitalizadas). As preocupações e reações espelham mais temores e angústias dos adultos do que a realidade dos efeitos sobre as crianças. Posto isto, é óbvio que não há nada de saudável em deixar que a criança consuma conteúdos em ecrãs de forma indiscriminada, sem controlos de tempo. 

No, the Olympics Ceremony Did Not Copy “The Last Supper”: Não resisto a recordar esta polémica pateta. Estas coisas só podiam vir dos moralistas. São tão maçadores. Sempre a pregar-nos os seus credos e apontar o dedo perorando sobre os nossos erros iníquos. Se os mandamos, como merecem, ir bugiar começam logo a esbracejar e a tartamudear que estão a ser silenciados e censurados, que não se pode e afins, que também têm direito à liberdade. Ao primeiro vislumbre de algo que não gostam cai o carmo e a trindade com tanto grito de heresia, porque é uma ofensa e não se pode, são atentados que deviam ser proibidos. Não há pachorra.

The de Havilland Comet at 75: From Troubled Jetliner to Military Icon: A história de uma aeronave pioneira.

Regístrate o paga la multa: España ya tiene una carretera de peaje donde no se puede pagar en la ventanilla: Os nossos vizinhos ibéricos a imitar um dos nossos piores exemplos.

España está lista para la energía solar flotante. Portugal ha demostrado que sale muy a cuenta aprovechar los embalses: Confesso que desconhecia isto, que a albufeira da barragem alentejana suportava um parque de painéis solares flutuantes.

sábado, 7 de setembro de 2024

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Horta da Literatura de Cordel


Mário Cesariny (2004). Horta da Literatura de Cordel. Lisboa: Assírio e Alvim.

Soltaram o poeta surrelista nos arquivos da Biblioteca Nacional, e este é o resultado: uma recolha de literaturas esquecidas, condenadas a ficarem nas estantes dos arquivos e ocasionalmente lidas por algum académico em trabalho de investigação. O livro recolhe exemplos das antigas literaturas populares, os panfletos que se produziam para entreter, intrigar, chocar ou informar o povo. É o que chamamos de literatura de cordel, palavras onde se confunde o mítico e o lugar comum, onde impera o crime e o castigo, ou o relato de eventos extraordinários.

O livro é uma manta de retalhos necessariamente incoerente, que devolve à luz relatos e poemas, histórias que se contavam, ditos que se diziam. Dá um segundo fôlego à voz esquecida do passado, não a voz do documento histórico e da grande literatura, mas a voz popular do dito e desdito. 

terça-feira, 3 de setembro de 2024

A Ronda da Noite


Patrick Modiano (1985). A Ronda da Noite. Rio de Janeiro: Rocco.

Um homem sem grandes escrúpulos, que se vê perante um dilema sem solução. O personagem deste livro é um viandante da vida, que se mantém à tona entre esquemas lucrativos e se envolve com uma organização de aparência legítima mas que se dedica à extorsão e venda de informação às autoridades. Com a ocupação alemã, este bas-fond de parasitas vê a oportunidade de enriquecer e tornar-se a classe dominante na França ocupada. E, entre os múltiplos esquemas de contrabando e outros crimes, decide inflitrar a Resistência.

É aí que entra o dilema do jovem criminoso. Consumado operacional do submundo, tem de infiltrar e denunciar uma célula da resistência. E, ao fazê-lo, acaba por se tornar um deles, e vítima da organização para a qual presta informações.

A obra desenrola-se através do olhar interior do agente duplo, numa sucessão impressionista de momentos decadentes que nos vão revelando a sua dupla traição. Um olhar sobre o parasitismo social e a sua relação com o poder, nos tempos da II Guerra.

domingo, 1 de setembro de 2024

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There are no mistakes in the spacetime continuum: Cenas cósmicas.

The best books on Warships: Leituras sobre a guerra naval.

Fórum Fantástico 2024: Cá está o cartaz do melhor encontro do ano (sou suspeito). Já marcaram na vossa agenda?

Five Books Whose Physics Broke My Head Open: Ficção Científica, parte dela clássica, que desafia a mente.

How Sci-Fi Movies Have Changed Since the 50s: Uma análise à evolução dos padrões temáticos dos filmes de ficção científica.

Laura Dern’s College Forced Her to Drop Out Over ‘Blue Velvet’ and Called Her ‘Insane’ for Giving Up Her Education; Now the School Teaches the Film: ‘Pisses Me Off’: Ironias da vida. Se bem que sendo justo, não é possível antever futuros.

Grão-Duque – Vol. 1 a 3 – Yann e Hugault: Uma série cujo maior mérito é o esplendoroso traço de Hugault, que transmite a elegância das aeronaves para as suas vinhetas de uma forma apaixonante.

Do brat summer ao bratwashing: o que significa ser brat quando tudo é brat?: Confesso que nestas summer trends, o som frio da inspiradora do brat me passa ao lado, estou mais apaixonado pelo pop indie lgbtq de malta como as The Last Dinner Party (soa a um apaixonante cruzamento entre Jane Austen e os Smiths) ou o pop imparável de Chappell Roan.

Junji Ito’s terrifying Uzumaki hits Adult Swim in September: Bem, quando o mainstream descobrir isto, vai haver escândalo. Piadas à parte, a longevidade do estilo de Ito é marcante, a sua forma de encarar o terror perdura.

The Best Victorian Fantasy Novels, recommended by Kirstin Jeffrey Johnson: Cinco livros que estão na origem do género literário fantástico, tal como hoje o entendemos.


“Barbarian Zork,” 1982: Medievalismos digitais.

Merlyn Mind Looks to Simplify the Teaching Process Through Responsible AI Use: Quando se fala de IA na educação, são este tipo de produtos que prometem libertar o professor e autonomizar a instrução dos alunos com chatbots os que mais me assustam, por perpetuarem o modelo instrucionista de aprendizagem. Fui ler o artigo, e por entre imenso blah blah tecnicista fiquei sem perceber o que é que o produto realmente faz, o que uma sensação muito apropriada a estas questões da IA generativa.

AI trained on AI garbage spits out AI garbage: A sério que isto é uma dúvida? O clássico garbage in, garbage out. Andamos a perder o controlo à IA, não naquele sentido especulativo de super inteligências digitais, mas na rapacidade das empresas que estão apostadas na IA generativa enquanto modelo de negócio, e que contorna as limitações da disponibilidade de dados entrando em modo ourobouros.

The Moral Economy of Tech: O texto é antigo, mas está mais atual que nunca na era do cruzamento de techbros entre IA e economia digital da atenção.

Russian military faces potential smartphone ban: Os malefícios do telemóvel, ou melhor, a indisciplina dos soldados russos que partilham livremente as suas localizações no espaço virtual, um mimo para as operações de defesa ucraniana.

Button Stealer is the weird internet hobby you never knew you needed: Colecionar botões de sites. Eis um passatempo definitivamente nefelibata.

The best AI image generators of 2024: Tested and reviewed: Ferramentas de IA generativa para geração de imagem.

NASA Should Ditch the Spin: Já todos percebemos que algo não está nada bem com a Starliner, e embora não se possa dizer que a sua tripulação esteja presa na ISS, o prolongamento inaudito da sua missão mostra que a NASA não confia na nave para os trazer em segurança para a Terra.

Suiza lleva años coqueteando con el Open Source: finalmente obligará a todos los organismos a hacer un cambio definitivo: Não estou muito otimista face à sustentabilidade desta medida, que é de saudar. Há as óbvias pressões externas, vindas de empresas que deixam de ter o lucro fácil do lock-in a plataformas proprietárias. Mas o pior obstáculo virá do interior, do atrito dos utilizadores que vão colocar todo o tipo de objeções e obstáculos, e alegar que com o open source não vão conseguir fazer o seu trabalho. Não subestimem o poder de legiões de burocratas enfurecidos porque lhes tiraram o Windows e o word e o excel.

Meet Stability AI's Stable Video 4D, a nuanced take on AI video generation: Confesso que não consegui perceber muito nem exatamente o que é que este modelo faz, pareceu-me ser uma variante das NeRF. Bem, há que experimentar…

Siete estupendos usos que puedes darle a Meta AI en WhatsApp (y por qué este asistente se diferencia de cualquier otro): O interessante no artigo não é a descrição de uma ferramenta que a Meta dificilmente vai disponibilizar na UE (por pura pirraça, para nos fazer pensar que essa coisa de ter leis que impedem a rapacidade destas empresas é uma coisa má), mas sim nos padrões de uso de IA que identifica.

Unos supermercados japoneses están monitorizando las sonrisas de los empleados con la IA. Quieren que el cliente quede totalmente satisfecho: Alguém disse uso abusivo da Inteligência Artificial?

OopsGPT: Certeiro - "This is really the core dynamic of the AI boom: A tech company releases a dazzling product, and the public finds errors. The company claims to incorporate that feedback into the next dazzling product, which upon its release a few months later exhibits similar flaws. The cycle repeats. At some point, awe will need to give way to evidence." O real objetivo da OpenAI com isto não é ter um produto viável, mas sim alarmar a competição, faz tudo parte do jogo.

The day the internet turned off: No rescaldo do Cloudstrike, a BBC recorda outros apagões, que nos mostram quão frágil é a rede de que dependemos.

Max Space reinvents expandable habitats with a 17th-century twist, launching in 2026: Uma tecnologia discreta, mas que se tem mantido em órbita, e que tem aqui um novo salto.

Investors Are Suddenly Getting Very Concerned That AI Isn't Making Any Serious Money: Estará a aproximar-se o fim da moda da IA generativa? Desenvolver a tecnologia, treinar os algoritmos e disponibilizar os serviços tem sido um enorme sorvedouro de dinheiro, que é geralmente justificado como uma corrida para garantir o esptear de uma lança em áfrica. No entanto, os investidores começam a perguntar-se quando, se é que, irão ver algum retorno sobre o dinheiro que estão a despejar. 

Murder At Horror Mansion: Robots salvadores?

Why Is It So Easy to Buy a Human Skull Online?: Um olhar para o comércio macabro em restos humanos.

Can Memes Really Win Elections?: Duas notas, uma sobre a forma como sempre rápida cultura digital se adaptou à mudança de candidatos, mas também esta ideia, por vezes muito ausente das análises deslumbradas sobre o impacto das redes sociais/memes/cultura digital no mundo real: “keep in mind that the ‘extremely online’ population doesn’t necessarily represent the demographics or worldview of the rest of the country”.

Imago Mundi, the Oldest Map of the World: Como os antigos Sumérios viam o mundo que os rodeava.

El rover Perseverance ha encontrado la roca que lleva años buscando en Marte: tiene marcas de posible vida microbiana: Fascinante, mas há que ser cauteloso. Estes indícios tanto podem ser de antiga vida microbiana, como de outra origem.

The Global Temperature Just Went Bump: Recordar a seriedade do aquecimento global.   

When the US Left Afghanistan, This Filmmaker Entered: Nem imagino a coragem necessária para ir filmar entre os talibãs, documentando a sua passagem de combatentes a dominadores.

Cuando una ubicación da error en el teléfono, siempre acabas en el mismo sitio. Se llama Isla Null, y es una boya: Existe um ponto zero nos mapas (como não poderia deixar de ser num sistema de coordenadadas), onde o paralelo do equador se cruza com o meridiano de greenwich no oceano atlântico. Esse ponto está marcado com uma bóia de navegação.

The Paris Olympics Opening Ceremony Was an Art-Filled Extravaganza: Não vi as cerimónias de abertura dos Jogos Olímpicos (teria de ligar a tv para isso), mas estou a divertir-me com a polémica à volta das suas supostas heresias, especialmente a da confusão da invoação do panteão olímpico com a última ceia. É sempre bom ver direitrolls e conservadores rebarbados a dar pateadas mas mostrar a sua ignorância enquanto alardeiam as suas visões de estreito âmbito. Mas confesso que eu também não atingiria o substrato da alegoria confundida com a última ceia, apesar de saber distinguir uma atena parthenos de uma nike, e que não é nada boa ideia ir para a cama com jovens aprendizes de feitiçaria na Tessália, querem tornar-nos pássaros mas o feitiço corre mal e tornamo-nos burros, o que até é uma metáfora muito adequada para todos os que clamam como virgens ofendidas perante o suposto insulto. Mas qualquer polémica que nos recorde que existem mitologias mais interessantes do que os entediantes mitos judaico-cristãos, é uma boa polémica.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

A Memória e o Vazio


Lívia Borges (2024). A Memória e o Vazio. Vagos: Editorial Divergência.

Lívia Borges já nos havia mostrado as suas capacidades enquanto escritora de ficção científica com o romance distópico Futuro. Este A Memória e o Vazio solidifica essa capacidade, com uma história sólida e bem estruturada, passada entre os homens e as estrelas.

No futuro que este livro nos mostra, a humanidade encontra-se à beira de uma crise energética. O hidrogénio explorado no espaço de que o planeta depende para as suas necessidades está a esgotar-se, e a principal empresa de extração prepara uma missão arriscadas: sair do sistema solar e procurar extrair hidrogénio nas fronteiras de um buraco negro.

Para isso, escolhe uma equipe de mineiros espaciais muito veteranos, que já se encontravam aposentados. Em parte, porque são os técnicos mais experientes, contando com muitas missões de captura de hidrogénio bem sucedidas, mas a principal razão prende-se com o cientista da equipa ser filho do investigador que começou a gizar a ciência da captura de hidrogénio na órbita de buracos negros.

A equipa é experiente, mas tem um longo historial entre si, e muitas tensões, especialmente entre o comandante e o cientista. Fantasmas do passado e atritos traumáticos, que se tornam prementes numa missão que durará anos no espaço profundo.

Apesar dos problemas, a equipe é coesa, e a missão um sucesso. Resta regressar, hibernar para tornar mais suportável a longa viagem. E aqui o livro termina de forma ambígua, com a intervenção de uma outra personagem, a IA que controla a nave. Mais não conto, têm mesmo de ler, e afianço-vos que o final do livro é mesmo inesperado e ambíguo.

Romance de ficção científica sólido, dentro do campo da Hard SF, A Memória e o Vazio é uma excelente proposta no reduzido panorama da Ficção Científica portuguesa.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Comics: Les légendes Marvel N°02; Les icônes Marvel N°06 : Deadpool


Les légendes Marvel N°02

Um conjunto algo desconexo de histórias, praticamente todas saídas dos anos 90. Não são momentos de origem nem primeiras aparições (exceção feita para Rocket Racoon, num início de carreira desenhado de forma delirante por um Mike Mignola a afastar-se dos comics convencionais em direção ao seu estilo pessoal), mas sim algumas histórias de charneira, entre o julgamento de Magneto (um dos arcos narrativos influentes dos X-Men de Claremont, que mudou a personagem) ou uma das mais violentas histórias de Daredevil por Frank Miller, onde o herói nem sequer veste o uniforme enquanto faz desabar os criminosos de uma cidadezinha das berças americanas. Há aqui blasts from the past, entre Balder e Beyonder, numa daquelas edições de entretenimento clássico francesas que nos estão a chegar às bancas portuguesas.


 Les icônes Marvel N°06 : Deadpool

Confesso que a combinação de humor supostamente sem limites e hiperviolência estilizada de Deadpool não me seduzem. É tudo uma tão óbvia tentativa forçada de ser metaficcional, um persnagem que parece servir apenas para procurar arrancar gargalhadas. O público não pensa como eu (e não vem daí mal ao mundo) e aprecia imenso o personagem, especialmente na versão cinematográfica. Eu só apontaria que quando a hipérbole histriónica está constantemente ligada no máximo, o resultado é essencialmente monótono.

domingo, 25 de agosto de 2024

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The Messiah of the Cylinder: Futurismos ou terrores?

What Stories The Literary World Tells About Itself: Lendas e mitos do mundo literário.

Quando as máquinas aprendem: o conto “A Máquina Pensante” de 1939: No seu caminho de memorialização crítica, o Sci-Fi Tropical fala-nos dos primeiros contos a focar a ideia de máquinas capazes de pensar.

The Rise and Fall of the Marvel Cinematic Universe: E não deixa saudades. A estratégia de saturação, de rebuscar a velha propriedade intelectual, foi fulgurante até se ter tornado cansativa. A fórmula está agora esgotada.

Bizarrices: Bueno Excellente: Confesso que por vezes me pergunto como é que deixam Garth Ennis escrever comics de super-heróis. Ainda bem que o fazem, senão não teríamos The Boys.

Seven Bedside-Table Books for When You Can’t Sleep: Notem que não são necessariamente leituras chatas.

Stephen King's shameless self-promotion on NY Times' "best books" list amuses and outrages: Ah, a famosa e discutível lista dos cem melhores livros do século XXI do vetusto jornal. Claro que apimenta discussões e pequenos escândalos literários.

Science Fiction and the Interstellar Imagination: Recordar que a FC não pretende ser oracular, mas sempre se atreveu a ser especulativa, e é aí que reside a sua força.

15 Minutes into the Future: Near Future Science Fiction: Uma análise ao futurismo de futuro próximo de Willam Gibson.

Lost On Venus: Dos velhos tempos em que não sabíamos como realmente era o planeta.

Robots will head to the depths to scan the Titanic: Intrigante, este projeto de digitalização do lendário naufrágio.

The Flattening Machine: As plataformas digitais vivem da amplificação do ruído, e há uma relação entre o tom exacerbado e a fugacidade do hype.

The US Navy deploys 3D printers at “world’s largest” international naval drills: Já repararam como a impressão 3D se normalizou, de tal forma que já praticamente não é notícia?

Byju’s, once valued at $22 billion, faces insolvency proceedings: Bem, lá vai a Tinker,  uma das melhores apps/serviço que conheço para ensinar crianças a programar, andar em bolandas. Quando a Byju prometia marcar o mercado da EdTech, a app ganhou novas dimensões, mas agora que a empresa está em processo de falência, das duas uma, ou é vendida, ou desaparece.

A short history of AI, and what it is (and isn’t): Desmontar os mitos sobre a IA.

La industria de España se está trasladando de las ciudades tradicionales a la España Vaciada. El motivo: las renovables: Uma tendência interessante, deslocalizar indústrias de zonas urbanas para o interior, por causa do acesso a energias renováveis. Será que por cá este modelo também daria frutos?

How to play DOOM on your fleshlight: Tendo em conta o tipo de gadget que é, a forma de jogar DOOM nele conjura imagens mentais em que prefiro não pensar.

This Free App Lets You Emulate Windows on Your iPhone: Porquê? E porque não?

Making Art With Maxwell’s Equations: O eletromagnetismo como pincel.

What happened to the metaverse?: Para surpresa de ninguém que conheça o campo, regressou à hibernação. Já é a terceira vez que isto acontece, de repente a realidade virtual torna-se um tema quente, prometendo finalmente tornar-se uma tecnologia de consumo generalizado, e depois de alguns meses febris, regressa à sua condição de nicho.

Andrej Karpathy cofundó OpenAI y fue director de IA en Tesla: ahora quiere transformar la educación con profesores de IA: Ah, mais um a querer revolucionar a educação com bright new gadgets. Isto, depois de retirada a capa brilhante do uso de IA, é na verdade o perpetuar do mais básico modelo educativo, o instrucionismo, a visão de que aprender é absorver conteúdos e resolver exercícios de forma repetitiva e sequencial. É uma base, mas não é a forma mais profunda de aprender.

Peugeot com ChatGPT em toda a gama: Confesso, sou daqueles que fala com o seu carro. Especialmente no final de longas viagens, gosto de lhe dar palmadas amigáveis no tablier e agradecer a aventura. Mas nunca esperaria que ele me respondesse. Piadas à parte, isto não é de todo inútil, como quem já precisou de aceder rapidamente a sistemas de navegação enquanto conduz sabe.

Whoops! The Internet Broke: O incidente Crowdstrike mostra os perigos da dependência em sistemas quasi-monopolistas.

CrowdStrike outage Blue Screen of Death photos from around the world: A memória visual do dia dos BSODs provocados por uns meros 48kb que iniciaram uma cascata de catástrofe digital.

Elon Musk Is Winning: Apesar de todo o esforço em transformar o antigo twitter num esgoto de fachos, a rede social não perdeu a sua importância. Talvez porque não seja uma verdadeira rede social, e sim uma forma rápida de comunicação onde instituições e políticos conseguem transmitir mensagens rápidas, sabendo que as coortes de jornalistas estão atentos aos fluxos.

The CrowdStrike Failure Was a Warning: Recordar que colocar elementos chave da infraestrutura digital nas mãos de pequenos grupos tem riscos.

The Shadow on the Wall: Sustos imperialistas.

No solo se trata de Boeing: la industria europea de la aviación también está en apuros por los inconvenientes de Airbus: Muitas encomendas, dificuldades nas cadeias de produção, e oportunidades para outras empresas ganharem quota de mercado.

ASSINATURA DE CONTRATO DE AQUISIÇÃO DOS DHC-515 [M2518 - 62/2024]: Discretamente, vemos o estado a adquirir meios próprios de combate a incêndios, colocando-os sob alçada da Força Aérea. Não são boas notícias para o ecossistema empresarial que cresceu à volta do combate aéreo aos fogos.

Llevamos años fascinados con LUCA, "el ancestro común" de todos los seres vivos. Lo que no sabíamos es que fuera tan antiguo: A busca pelo momento de origem da diversidade da vida.

Meet Vivian Maier, the Reclusive Nanny Who Secretly Became One of the Best Street Photographers of the 20th Century: O poder do impulso criativo, da necessidade de criar pela força do sentimento interior, sem busca de palcos ou luzes da ribalta.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024