quarta-feira, 29 de maio de 2019

Semillas de Ansiedad


Masaaki Nakayama (2009). Semillas de Ansiedad, Vol. 1. Barcelona: ECC Ediciones.

Estas Sementes de Ansiedade são um livro curioso. O grande tema é o horror, mas não aquele violento, forte ou escatológico. Não há aqui grandes narrativas de personagens assombradas ou monstros tenebrosos. As histórias são curtíssimas, duas a quatro pranchas e já está. E não são especialmente assustadoras, antes, tocam na inquietação com o banal.

Sabem, aqueles arrepios súbitos sem justificação? A estranha sensação quando acordamos no silêncio da noite com a intuição que algo não está bem? Ou passar por uma rua deserta, com a sensação de se ser observado. O pensamento que estamos a olhar para algo que mais ninguém vê. O arrepio quando estamos num edifício vazio. Sabemos que está tudo bem, que impera a normalidade, mas há algo dentro de nós, profundamente arreigado na nossa alma, que nos faz sentir que talvez não seja bem assim.

É esse o foco do horror neste mangá. Nakayama olhar para os temores fugazes, cruza com lendas urbanas, e uns polvilhos do rico mundo sobrenatural japonês. As histórias são curtas porque os temores são fugazes, centram-se precisamente naquelas emoções momentâneas que nos arrepiam. A nível gráfico, o traço não se afasta do estilo normal no mangá. O único cunho distintivo desta série é o ponto de vista pouco habitual do autor.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

História Breve da Lua


António Gedeão (1981). História Breve da Lua. Lisboa: Sá da Costa.

Uma forma deliciosa de se aprender sobre a Lua. O físico Rómulo de Carvalho unia muito bem os domínios da ciência e da arte, e este pequeno livro dramatizável é um excelente exemplo disso. Não é toda a história da Lua, mas são pequenas vinhetas que ensinam o leitor jovem, ou o espetador da peça, alguns conhecimentos sobre o nosso satélite.

Curiosamente, Gedeão (recordem-se, é o pseudónimo do cientista) começa a sua história com uma fábula de forte crítica social. Se ao olharmos para a Lua parecemos ver um camponês, é porque um homem pobre se viu, no esforço para sobreviver, forçado a trabalhar num dia de descanso. Foi, por isso, castigado pela divindade a tornar-se o velho na lua. Impossível não ler isto como uma fábula anti desigualdade, de crítica às regras impostas pelos donos do mundo. É sintomático que Gedeão se refira à divindade como grande senhor do mundo.

Terminada a fábula, Gedeão ensinar-nos alguns conhecimentos sobre a Lua. E fá-lo usando uma velha técnica didática: o diálogo entre vários personagens. Dois homens, um mais ignorante e outro mais curioso, falam com um astrónomo que, cheio de bonomia e paciência, lhes explica a realidade científica. Sendo uma peça, Gedeão vai deixando indicações para o que o cenário deve mostrar. No final, uma jovem assume o papel da lua, para que o astrónomo possa explicar as fases lunares.

Obra didática, é escrita num tom poético, cheio de bonomia e um claro amor à ciência. O livro é complementado por ilustrações que, nalguns apontamentos gráficos, conseguem sublinhar a beleza da descoberta científica.

domingo, 26 de maio de 2019

URL


Space Colonization Stanford Torus Type Station 1970's NASA Video: Pegando nos conceitos de colonização espacial de Gerard K. O'Neill, a NASA produziu nos anos 70 estas antevisões de colónias espaciais nos pontos Lagrange.

Cómo Tinder ha cambiado el mundo de salir a ligar por la noche: O intrigante neste texto não é o possível efeito detrimental das plataformas digitais nos costumes da vida noturna. É saber que clubes nocturnos estão a proibir dispositivos móveis, para combater o hábito dos grupos de noctívagos de estarem em grupo, consultando redes sociais nos  telemóveis e não nas habituais interações típicas de bares.

Copyright filters are automatically removing copies of the Mueller Report: Porque é que  a nova diretiva comunitária sobre direitos de autor vai ter um profundo impacto negativo na vida digital? Isto é o que já acontece com a forma como detentores de propriedade intelectual abusam dos seus direitos. Com filtros automatizados, não há apelo, apenas algo que é de facto censura, e o reclamar de conteúdo no domínio público por parte de empresas.

Tiamat’s Wrath raises the stakes as The Expanse nears the end: É, de facto, a série recupera a intensidade come este novo volume. E termina numa nota tão elevada que esperar mais um ano pelo próximo livro vai ser uma tortura.


Un futuro post-terrestre de ciencia (y) ficción: las colonias espaciales según la NASA en los 70 frente a los planetas habitables: De volta e meia, estes conceitos de habitats espaciais dos anos 70 regressam à tona. O conceito de Gerard K. O'Neill, de vivermos em gigantescas estações orbitais, ainda hoje nos parece fascinante. No entanto, não estamos mais próximos de os construir do que naquela época.

Preparing high schoolers for a tech-driven future: Essencialmente, investir na literacia tecnológica, que hoje já não passa pela mera aprendizagem de ferramentas de produtividade, mas por interação direta com fabricação digital, programação, pensamento computacional e inteligência artificial.

Untold History of AI: Algorithmic Bias Was Born in the 1980s: Um de uma série de artigos sobre a história do desenvolvimento da inteligência artificial. Neste, a história do uso de algoritmos para auxiliar procedimentos de contratação, que codificaram os enviesamentos dos gestores de recursos humanos.

Untold History of AI: The DARPA Dreamer Who Aimed for Cyborg Intelligence: Recordar J. R. Licklider, um dos primeiros proponentes da simbiose homem-máquina e do desenvolvimento de sistemas de comunicação computacionais.

Untold History of AI: Why Alan Turing Wanted AI Agents to Make Mistakes: Um ponto de vista intrigante. Um erro óbvio (para matemáticos) no artigo em que Turing propõe aquele que viria a ser conhecido como o teste de Turing, parece apontar para a intuição que a possibilidade de não conseguirmos distinguir entre um humano e uma IA passe pela forma como o engano é simulado.

Untold History of AI: Invisible Women Programmed America's First Electronic Computer: Nunca é demais observar o importante papel que as mulheres tiveram no desenvolvimento da computação. Não são só casos isolados, como o de Ada Lovelace (desenvolveu a primeira linguagem de programação para o engenho diferencial de Babbage) ou Grace Hopper (trabalhou nos primeiros computadores e ajudou a desenvolver a linguagem antecessora do Cobol). Neste artigo, mostra-se a importância das operadoras do ENIAC, que eram bem mais do que simples operadoras. Conheciam a máquina de trás para a frente, e eram quem de facto a programava.

EU votes to create gigantic biometrics database: Alguém deu conta disto? O parlamento europeu aprovou a interligação das diversas bases de dados biométricas dos diferentes países num sistema unificado. O curioso é a forma discreta como isto passou, até porque as implicações ao nível da privacidade são enormes.


THE ULTIMATE HISTORY OF CGI: Confesso que adoro isto, estes artefatos da história da computação gráfica. Apesar de antiquados, não estão datados, têm aquele ar refrescante de primeira experiência, momento eureka, desenvolvimento de algo novo.

The Instagram Aesthetic Is Over: E ainda bem. O Instagram é a rede social que ainda detém apelo sobre mim precisamente por nos obrigar a refletir sobre o poder da imagem. Simplificando, o Insta é interessante pela qualidade da fotografia. Mas basta olhar para as trends e hashtags populares para se perceber a banalização disto, de uniformização de estilos que se da primeira vez com que nos cruzámos com eles eram interessantes, depressa nos cansaram. A sobreexposição a iconografias tem esta consequência. São sintomas de falta de criatividade, de usar estéticas reduzidas ao elementar. Não é por acaso que os utilizadores do Insta são acusados de tirarem e partilharem o que, no essencial, são as mesmas imagens, fotos similares nas temáticas e estilos.

How Instagram Ruined the Great Outdoors: Instacatástrofe, parte II. Outro dos sintomas da falta de criatividade dos utilizadores desta rede social é a forma como se agregam a locais e temáticas. Uma estética de repetição contínua, de querer replicar o sucesso visual de outros, que está a ter consequências nefastas reais em locais físicos, invadidos por multidões de fotógrafos wannabes, àvidos de conseguirem aquela imagem em tudo igual a outra que viram na rede social.

Untold History of AI: How Amazon’s Mechanical Turkers Got Squeezed Inside the Machine: Tarefas simples para os humanos, complexas para as máquinas, atomizadas e distribuídas via internet. As legiões que trabalham para o Mechanical Turk são o ghost in the machine de muitos algoritmos, facilitando o trabalho de agregação e classificação de dados.

Microgravidade e combustão: como funciona o “Fogo” no Espaço?: João Ventura, cujos contos são encantadores (podem descobri-los no blog dele, e diversas publicações, sendo a mais recente o livro Tudo Isto Existe editado pela Divergência), fala-nos do fogo em microgravidade.


Philippe Starck, Kartell and Autodesk unveil "world's first production chair designed with artificial intelligence": Algumas notas sobre esta iniciativa. É um exemplo clássico do que se entende por sistemas-centauro, em que a decisão e intuição humana guia o sistema de inteligência artificial; e, como em muitos destes projetos pensados mais para o lado publicitário do que estético ou funcional, interessa mais pelo processo do que pelo resultado final, que tem um certo ar de é o que saiu quando Starck se fartou da brincadeira.

Algoritmos que aprenden a dibujar como los artistas mediante aprendizaje por refuerzo: As GAN têm tido um grande destaque ultimamente, mas não são a única técnica de inteligência artificial utilizada na investigação estética. O descodificar dos elementos desse algoritmo pessoal a que chamamos estilo visual de um artista torna-se possível usando técnicas de aprendizagem mecânica por reforço.


La inteligencia artificial puede revolucionar el mundo de la creación de vídeos, y este clip solidario de Beckham es un ejemplo: Deepfake ético? A mostrar que o potencial da tecnologia de criação de vídeos usando inteligência artificial vai muito mais além do distorcer do real. Pessoalmente, confesso que neste tipo de coisas, acho mais interessante o como foi feito do que o produto final.

Amazon's warehouse-worker tracking system can automatically fire people without a human supervisor's involvement: Bem vindos à distopia capitalista cyberpunk. Os sistemas da Amazon analisam a quantidade de pausas que um funcionário faz, e com base nessa estatística decidem terminar contratos. É um sistema profundamente desumano, e aliás, toda a gestão de armazéns da Amazon é infame pelo seu nível de desumanidade. Este é apenas mais um sintoma. É isto que realmente temo na inexorável marcha em direção a um mundo laboral cada vez mais automatizado. Não a substituição de humanos, mas a sua transformação em elementos descartáveis nos sistemas económicos.

The WHO’s new screen time limits aren’t really about screens: Certeiro. O problema na relação entre ecrãs e crianças não está verdadeiramente nos ecrãs, mas sim no sedentarismo, e na redução da diversidade de experiências que uma criança saudável tem de ter para se desenvolver. E é por aqui que a OMS decidiu ir, descartando os poucos dados científicos sobre as transformações cerebrais induzidas por ecrãs (bem, elas estão a ser medidas, mas isto é um McLuhanismo clássico, também as ouve na nossa relação com outros media), e fugindo à posição moralista da falta de qualidade dos conteúdos digitais. Na verdade, estes pânicos morais não são nenhuma novidade. Qualquer fã de comics recorda os tempos em que psicólogos denunciavam a banda desenhada por deformar a mente das crianças (não é uma piada, pesquisem sobre Wertheim e a Comics Code Alliance). E, quem nasceu nos tempos da disseminação da televisão (recordam-se? Dois canais e TVs a preto e branco?), lembra-se de ouvir que ver tv durante muito tempo fazia mal aos olhos, prejudicava o desenvolvimento, ou iria arruinar para sempre a moral e os bons costumes.

How Queer Is Star Trek?: Bem, apesar de todos aqueles subtextos na relação muito especial entre Kirk e Spock na TOS (The Original Series, para os leitores não-trekkies), essencialmente não existiram quaisquer representações não normativas neste universo ficcional (as especulações sobre exatamente que tipo de relação Kirk e Spock poderiam ter foram arrumadas a um canto no recriar da série através dos novos filmes, que recontam as histórias originais, Spock tem namorada, e Kirk é um caçador de saias em série). Apesar de o grande trunfo da série foi atrever-se a imaginar um futuro progressista, livre de moralismos, pós-capitalista, pós-laboral, de progresso baseado no conhecimento e incentivo ao desenvolvimento pessoal. Mas uma coisa são as premissas, outra a sensibilidade dos argumentistas e espetadores. As séries mais recentes fizeram algumas aberturas ao tema, e só a atual (e awesome, IMHO, e nem sou muito trekkie) Star Trek Discovery se atreveu a colocar um casal gay na narrativa. E fê-lo da melhor forma possível, como parte no ambiente de fundo normal e não no centro das aventuras. Porque no fundo, é isto, a orientação sexual de cada um é algo normal, não é assim tão importante. Regressando à TOS, como indicador dos seus normativos comportamentais, é de notar que os uniformes da Starfleet eram fato completo para os homens, minissaia para as mulheres... que, aliás, eram uma espécie de regalo para os olhos no interior austero da primeira Enterprise.


The Girl Who Jumped Out of a Pie and Into a Gilded Age Morality Tale: Há sempre um ponto de partida para as tropes. A imagem de uma beldade levemente vestida, ou em total ausência de vestimentas, a saltar de dentro de um bolo no meio de uma festa teve a sua origem num infame jantar social da alta sociedade nova-iorquina da viragem do século XIX para o XX. O Atlas Obscura conta toda a história, e é um mergulho naqueles moralismos que ocultam o prazer dos vícios.

Sobre o Mito: “desde que se leia”: Nelson Zagalo faz um belíssimo takedown à ideia de que o que interessa é ler, não a qualidade do que se lê. O seu argumento é poderoso. Quanto mais complexos os textos, maior o desenvolvimento da nossa capacidade de compreensão e raciocínio. Este tipo de argumentos tem o risco de alienar as literaturas de género, muitas vezes menorizadas como pouco complexas e superficiais por quadrantes mais elitistas do pensamento cultural. Mas o argumento de Zagalo não vai por aí, nem poderia, apesar de observar que nos géneros literários, algumas estruturas narrativas são banais na sua utilização (mas isso, é tão verdade nas literaturas de género quanto nas mais mainstream). É uma visão crítica muito assertiva, num tempo em que, apesar dos eternos lamentos de quem está ligado aos livros, nunca se leu tanto. Especialmente porque mediamos uma cada vez maior parte da nossa experiência do real através de meios digitais que envolvem leitura intensiva. E aí, esta questão da ligação entre complexidade de leitura e desenvolvimento do pensamento crítico torna-se ainda mais pertinente. Na internet, os textos estão em pé de igualdade, quer sejam tretas dos anti-vaxers, flat earthers, conspiracionistas, adeptos das terapias alternativas ou extremistas, quer sejam textos sérios científicos, bloguistas ou jornalísticos. Ter os bullshit filters bem afinados (ah, como adoro esta expressão do Howard Rheingold) é uma condição de sobrevivência na vida digital.

Workers Love AirPods Because Employers Stole Their Walls: O uso de fones como arma de defesa em ambientes de trabalho abertos. Destaco isto: "In open offices, people commonly wander around with their headphones on all day, into bathrooms and kitchens, sometimes listening to nothing at all in order to avoid the constant distraction of compulsory social interaction".

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Do Anything Volume 1


Warren Ellis (2006). Do Anything Volume 1. Avatar Press.

Talvez o que me cativou em Warren Ellis seja esta sua acessibilidade aos leitores. Claro que é um dos mais interessantes argumentistas de comics na atualidade, com a sua marca de personagens unidimensionais exacerbados e uma intuição para o pulsar da hipermodernidade. Mas não se limita aos argumentos, tem-se exposto regularmente aos seus fãs, sendo um predecessor no uso da internet como meio de comunicação e aproximação pessoal do autor aos seus leitores. Algo que faz de forma experimental, afinando, refinando e mudando de plataformas. Orbital Operations, a sua newsletter semanal, é leitura obrigatória. Fala-nos de tecnologia, futurismo, música, cultura global e, claro, comics. Para lá da newsletter, vai publicando num blog (antecipou em dois anos a corrente tendência de fuga às redes sociais) e de vez enquanto edita, em coleções digitais, intervenções suas em painéis sobre banda desenhada ou futurismo.

Do Anything colige um conjunto de crónicas que Ellis escreveu para a Bleeding Cool. São perfeitos connect the dots, com Jack Kirby como ponto de partida, sobre a cultura visual da banda desenhada. E, vindo de quem vem, inclui bizarros voos especulativos e o tipo de frases contundentes que tanto admiramos no seu estilo literário.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

H-alt: Creepshow


Este é, talvez, o lançamento editorial mais intrigante e inesperado do ano. Quase quarenta anos depois da sua publicação original, Creepshow chega-nos em tradução portuguesa. A questão que fica no ar é um certo porquê. Qual é a lógica desta edição? Aposta na banda desenhada de terror, foco no mercado de nostalgia ou alguém ter achado giro trazer uma obra de culto menor, bem conhecida dos fãs do género, aos leitores portugueses? Tantos anos depois da sua publicação original, ainda será um livro criticamente relevante?

 Primeiro, algum contexto. Creepshow é um filme de homenagem, congeminada por George Romero (esse mesmo, dos zombies) e Stephen King (o outro grande escritor de terror da Nova Inglaterra, apesar da fama popular que ultrapassa a de Lovecraft), aos comics de horror dos anos 50. Bandas desenhadas num estilo feito de histórias macabras com violência explícita, ironia, moralidade dúbia e uma estética grand guignol de cadáveres, assombrações e crimes hediondos que se comprazia no exagero. Um género alimentado por títulos hoje lendários. São especialmente marcantes os da EC Comics, cuja fórmula foi imitada por outros editores. Recensão completa na H-alt: Creepshow.

domingo, 19 de maio de 2019

URL


Giving Generative Art Its Due: Notas de uma exposição temática sobre arte algorítmica, que reúne trabalhos de artistas que utilizam algoritmos para criar expressão artística. Mete-se com inteligência artificial e programação, faz um panorama da história deste género artístico, e mostra aqueles que hoje o praticam. A mostrar que o computador pode, e é, um meio de expressão artística com reflexões estéticas profundas. Daquelas exposições que eu dava a alma para poder ver. Ir a Zurique não está nos meus planos de viagem, talvez o MAAT a traga cá.

How to Use Curves in Photoshop: Descobri de raspão, há alguns anos atrás, o que era isto das curvas e para que serviam, e nunca mais usei outra ferramenta para editar imagens. Normalmente, uma curva em S é o que se precisa para dar profundidade às fotos digitais. Este artigo explora exaustivamente a ferramenta curvas.

Most Tech Today Would be Frivolous to Ancient Scientists: As tecnologias antigas, um tema que me fascina cada vez mais. Sem entrar por vertentes de mistérios e ocultismos, apenas o saber científico, técnico e mecânico da antiguidade, que se perdeu ou do qual só nos restam vestígios por fontes terciárias.

A Soda Company’s Long Obsession With Outer Space: Recentemente, publicitários ligados à Pepsi lembraram-se de uma ideia idiota, que só iria aumentar a poluição espacial: criar uma constelação de microsatélites que funcionasse como um anúncio em órbita, visível da Terra. É o tipo de visão que se adequa a uma space opera cyberpunk. Felizmente, mentes mais inteligentes prevaleceram. No entanto, é curioso notar que tem havido uma relação entre a empresa que fabrica bebidas que sabem a coca cola mas não são coca cola, e o espaço. Esquemas para colocar anúncios em órbita já são antigos, e chegaram a desenvolver um sistema para se beber bebidas gaseificadas no espaço, que a NASA e os astronautas testaram, mas não aprovaram.

8 Silent Films Every Sci-Fi and Horror Fan Should See: Do Metropolis a Voyage dans la Lune, estão cá os suspeitos do costume. Incrivelmente, ainda não vi nem o Haxan nem o Aelita, embora quanto a este, tenha lido o livro. Descobri-o num alfarrabista, numa edição publicada por cá nos finais do Estado Novo. O censor devia ser bastante burro para deixar passar uma obra com claras referências à vontade revolucionária soviete.

Sabrina de Nick Dranso - Porto Editora: Suspeito que este seja um daqueles livros a não perder, daqueles que demonstra a maturidade dos comics enquanto género de exploração literária. Algo que os fãs já há muito sabem que o é, claro.


Found Art: Artwork on the Walls of Environments in Comic Books (Spaceship Art 1951): Uma ideia gira. E que tal começar à procura de vinhetas que contenham pinturas em comics retrofuturistas?

Dylan Dog regressa a Portugal em dose dupla: João Lameiras fala-nos dos dois volumes que trazem histórias deste personagem (fabuloso, incrível, adorável, IMHO de fã) da Bonelli aos leitores portugueses.


So in Albania, the Number of Abandoned Bunkers is Kind of a Problem: Isto é bunker architecture gone wild (conhecedores de Paul Virilio percebem a piada). Nos anos 60, Enver Hoxha encheu a Albânia de bunkers para combater possíveis invasões. Décadas depois, com a queda do regime, estes montes de cimento armado tornaram-se um problema de ecologia urbana.

The Hidden Shipping and Handling Behind That Black-Hole Picture: Ou, as complicações logísticas que se colocam quando o volume de dados ultrapassa largamente a capacidade das conexões de internet. Fascinante, a ideia que resultados de observações têm de esperar meses para sair de observatórios na Antártida em discos rígidos, com riscos de perda pelas mais variadas razões.

Behind Every Robot Is a Human: É o segredo das aparentes proezas da Inteligência Artificial. Os exércitos de humanos empregues a etiquetar imagens e sons, afinando os dados dos quais os algoritmos de IA que temos hoje dependem.


After the Fire: Photos From Inside Notre-Dame Cathedral: Que perda para o património cultural global.

Viajar, uma volição de posse: Passei a semana da páscoa em Barcelona, com este texto de Nelson Zagalo presente na mente. Traduz muito bem os sentimentos mistos que temos com as viagens. Por um lado, aprecio a possibilidade democratizadas para que muitos possam conhecer outros países e culturas. Por outro, há todos os problemas que a massificação do turismo provocam. A transformação dos centros das cidades históricas em verdadeiros parques temáticos, a expulsão de quem lá vive para que as habitações se transformem em alojamentos para turistas (o chamado efeito AirBnB), os magotes de gente que se arrasta de sítio pitoresco em sítio pitoresco, olhando entre o entediado e o embasbaco enquanto faz mais um visto na liste de locais que é suposto visitar. A pressão turística tornou-se num problema urbano. Não ajuda quando o comportamento das massas que visitam os locais não é o melhor. As selfies em Auschwitz são aquele exemplo supremo do desrespeito pela memória histórica, mas não é preciso ir até aí para se ver o desdém com que grande parte dos turistas trata os locais que, supostamente, está a admirar. É visível no seu olhar de tédio enquanto visitam os pontos de interesse. Aparentam felicidade apenas nos inúmeros negócios que afastam o comércio tradicional das cidades, felizes enquanto compram mais um souvenir em lojas que vendem todas o mesmo bricabraque, ou se embebedam em esplanadas de má comida e empregados insistentes. Os bandos de grupos turísticos a arrastar-se atrás de um guia, ou os bêbados que mal saem da sua terra decidem soltar o pior que têm dentro de si. Se por um lado aprecio a democratização das viagens, por outro percebe-se que a maior parte dos que viajam não têm condições mínimas para apreciar, ou sequer saberem comportar-se. Algo que a indústria do turismo sempre explorou, mas que explodiu nos últimos tempos, alimentada pelos voos low cost e as plataformas de busca de alojamento. Senti isso em Barcelona, nestes dias, sinto isso na minha própria Lisboa, em que há zonas onde cresci que hoje evito, por as sentir completamente descaracterizadas e hostis àqueles que não são turistas.

E, no entanto, adoro a sensação de saltar para um avião (apesar do inferno dos aeroportos, com as suas zonas de segurança que tratam todos como suspeitos e a normalização consumista de zonas de esperam que são pouco mais do que centros comerciais caros) e sair numa cidade estrangeira. Tenho perfeita consciência que não são os três ou quatro dias que a minha bolsa consegue alcançar, que me farão ficar a conhecer com profundidade a terra, a sua cultura e habitantes. Não se consegue isso seguindo atentamente as palavras dos guias turísticos. Mas não resisto ao apelo de calcorrear ruas de outras cidades, sentir um pouco o seu pulsar. Não perco tempo a riscar locais de interesse numa lista, prefiro ser comedido nas visitas a museus e outros locais. Até porque é um pouco difícil apreciar Boticelli na National Gallery por entre os ecrãs dos telemóveis dos turistas a tirar selfies frente a quadros que não vêem, parar para recordar La Dolce Vita enquanto se é empurrado pelas multidões na Fonte de Trevi, ou apreciar Bosch num MNAA cujos bilhetes são um assalto à carteira de um lisboeta. Tenho as minhas regras, ser discreto, respeitador de gentes e culturas de que estou a ter um vislumbre. Não fecho os olhos ao paradoxo das viagens, da pegada ecológica do voo ao descaracterizar dos tipicismos locais. Mas desde que me recordo, que olho para mapas e fico com curiosidade sobre como serão na realidade aqueles pontos com nomes. A minha profissão não me dá grandes oportunidades de viajar, as poucas que consigo fazer são-no com o esforço de professor de salário congelado. De cada lugar que visitei, ficam-me as memórias das ruas que percorri, dos recantos que vislumbrei. E, claro, dos livros e livrarias, que me são irresistíveis em viagem.

Sim, de facto, o impulso de viajar foi dominado por uma indústria que explora com destreza o nosso gosto pelas deambulações, nivelando tudo ao nível mais básico, provocando danos no nosso tecido cultural. Pessoalmente, tento aproveitar a acessibilidade das viagens e não contribuir para o resto. Mas isso sou eu. Claramente, as massas que enchem os bares e as lojas de souvenirs não pensam assim.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Lisboa Oculta: A Tourist Guide

Ainda não falei deste novo projeto a muitas mãos, saído da comunidade portuguesa de fãs e bloggers para dar mais projeção à FC e fantástico nacionais no mundo, e ainda não será hoje. Para já, fica o registo da recensão em inglês do delicioso anti-guia turístico da Imaginauta, publicado no Portuguese Portal of Fantasy and Science Fiction: Lisboa Oculta: A Tourist Guide.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Revividos


Ralph Barby (2011). Revividos. Santa Úrsula: 23 Escalones.

Tudo começa num jantar elegante, num palacete de Viena. Um grupo elegante, mas cheio de tensões interiores, como não podia deixar de ser numa história destas. Casais desavindos, mulheres atraentes, e um homem honrado que se tornará o inevitável herói. Um passeio de avião que se torna um pesadelo, quando são forçados a aterrar num descampado. E aí, o horror começa. As personagens dão por si num local fora do tempo, onde mãos cadavéricas saem de areais e decapitam os homens. Uma bruxa sensual faz a sua aparição, revelando um genocídio esquecido e um deus sanguinário que exige cabeças para fazer regressar os seus seguidores à vida. Ou então, tudo não passa de uma alucinação, induzida pela hipnose de uma governanta louca, perdida em mitos esquecidos.

Não resisti a este livro quando o vi numa visita à Gigamesh. Isto é horror pulp espanhol clássico. Não é especialmente complexo, nem é esse o objetivo. Este livro serve para chocar e intrigar o leitor, numa leitura que se quer rápida e divertida. Isso nota-se na forma como está estruturado, em capítulos curtos que acabam sempre com revelações que deixam o leitor em suspense, e curioso por saber como continua a história. Este é um tipo de literatura de terror clássica pouco sofisticada, assumidamente pulp e a metro, para livros de bolso descartáveis. O formato desta reedição que replica o original parece-me similar ao das nossas coleções clássicas Vampiro e Argonauta. Revividos foi publicado originalmente em 1973, escrito por Ralph Barby, pseudónimo do escritor Rafael Barbarán Rodriguez.

domingo, 12 de maio de 2019

URL


Phantom Living: Ibiza’s ‘Instant City’, 1971: Onde diabos é que o We Are The Mutants vai descobrir estas coisas? Uma visita a um alojamento temporário criado para um congresso de arquitetos com nome cinzentão, mas pelos vistos a puxar muito ao psicadelismo.

Dylan Dog, O Velho que Lê e Até que a Morte Vos Separe - G.Floy: É bom ver que a comunidade de leitores portugueses se está a render a Dylan Dog. Da recensão, saliento que o leitor apreciou muito A Pequena Biblioteca de Babel, aquela que também considero uma das pérolas de Sclavi. É, de resto, no texto da recensão, o único momento em que se percebe que quem a escreveu realmente leu os livros. O texto passa muito tempo a explicar-se sobre a tardia descoberta de Dylan Dog e nada diz em termos críticos sobre as obras. Enfim. Pelo menos, não é mais um site aspirante a críticas literárias que divide os seus textos em foto da capa do livro -> sinopse (decalcada do site da editora) -> opinião (geralmente com o nível crítico de um aluno do ensino básico).


Soviet Visuals: A página da rede social azul dedicada ao estilo retro soviético partilhou ilustrações para uma edição russa de Fahrenheit 451 de Ray Bradbury. São deslumbrantes, capturam na perfeição o modernismo futurista do livro. Tal como Truffaut o fez no seu filme homónimo, mas aqui, a visão é mais elegante, mais longe do frio modernismo neo-brutalista do filme francês. O pormenor surpreendente é descobrir que Bradbury, e este livro que é um hino à literatura, liberdade individual, e das obras mais anti-totalitárias da literatura do século XX, teve uma tradução russa nos tempos do decididamente nada democrático regime soviético.

The Bad Hustle Porn Narrative: Ou, porque é que a narrativa da eterna corrida, do dar sempre o seu melhor, tem custos. Mas Ellis também nos aconselha a procurar outros caminhos: "You, reader, do not have to do it like me. There are more ways of doing art and work than there are flowers under the sun. Pick the one that works for you. Live well and make great things in the method that suits you best. You don’t have to ruin yourself trying to fit into the stated processes of idiots like me who write on the internet to break up their days". Certo, caro Warren Ellis. Mas se temos algo a dizer, se a nossa mente está constantemente em ebulição, e ainda temos os desafios de um emprego exigente a tempo inteiro, conjugados com outros desafios porque, confesso, a vida seria menos interessante sem impressoras 3D nem robots, não há outra hipótese. É carregar na cafeína, teína ou outra substância aditiva de propriedades acelerantes à escolha, fazer o que sentimos que temos a fazer, e esperar que a fatura posterior não seja demasiado pesada.

Gerar monstros (ou será arte?) com Inteligência Artificial para pensar o futuro para lá do sonho: A versão completa do meu primeiro artigo para o Sapo 24, onde por limitação de palavras tive de deixar de parte as reflexões sobre o impacto contemporâneo da Inteligência Artificial, as questões que desperta na Arte, e o completo desconhecimento dos professores e sistema educativo sobre estas questões.

A Brief History of Mars Missions: Uma listagem histórica das missões a Marte.


STRATOLAUNCH AIRCRAFT MAKES 1ST FLIGHT: Quase nem dava por esta, apesar das imagens deste avião gigante andarem por vários feeds. Talvez porque seja um projeto conhecido por quem se interessa por aeronáutica e espaço. Confesso que pensava que já voava. Mas não, o primeiro voo foi esta semana. Tornou-se o maior avião do mundo a voar (pronto, os Antonov AN-225 foram destronados). Mais interessante do que isso, é ter sido concebido e construído pela Scaled Composites. Explica o design pouco convencional da aeronave, que servirá para lançar foguetões a partir da estratoesfera.

TELEVOX: THE PAST’S ROBOT OF THE FUTURE: Talvez a mais divertida novidade desta visita ao Televox, um robot criado em 1927 pela Westinghouse, é que ao contrário do que as fotos retro-futuristas fazem parecer, aquilo era um mecanismo com silhuetas em cartão. E só isso, já era o suficiente para colocar quem o via a sonhar com o futuro.

Digital Terror! How Charlie Adlard Saw Cyberspace in 1993, Via Marvel Unlimited: Que pérola, vinda dos comics dos anos 90. Muito cyberbunk, com toque psicadélico.



Star Wars: The Rise of Skywalker – Teaser: Bem, quanto a isso de ser o fim da saga, tal como anunciado no trailer, vai ser preciso esperar para ver se o filme terá sucesso. Se for um flop, como a recente história do jovem Han Solo, que levou a Disney a perceber que, se calhar, estava a exagerar na forma como decidiu ordenhar o universo Star Wars, termina. Se não, certamente que haverão muitos mais filmes a continuar a saga. Quanto ao filme em si, há que esperar pelo natal para o ver. E eu, que tenho em Star Wars um dos meus prazeres culposos, irei a arrastar-me para o cinema, murmurando star wars não é ficção científica, star wars não é ficção científica, mas sentindo que é impossível ceder à tentação infantil, de aventura e sense of wonder destes filmes. Mas Star Wars não é ficção científica.

O Nosso Futuro, Visto Do Ano De 1996: O futurismo envelhece mal. Deslumbramo-nos com as correntes visões sobre o que nos esperará no futuro próximo. Mas, quando olhamos para as antevisões do passado, parecem-nos algo absurdas. O futuro dos nossos antecessores não se desenrolou da forma esperadas. E isso é um aviso para nós. As formas como imaginamos que a nossa contemporaneidade evolua, não serão aquelas como realmente irá evoluir.

HOW SILICON VALLEY TURNED YOUR BURRITO INTO A CAPITALIST NIGHTMARE: Por cá, talvez não seja tão gravoso, uma vez que não há tanto a tradição de mandar vir comida dos restaurantes. Por outro lado, tornou-se habitual ver nas ruas, às portas de zonas de restauração, magotes de aspirantes a entregadores da Uber Eats, Glovo e outras empresas que lucram à custa da hiper-precarização, explorando nichos de mercados de baixa rentabilidade.

Tracking Phones, Google Is a Dragnet for the Police: Ou, quando o histórico de localizações se torna algo mais sinistro do que a partilha de informações para alimentar as IA da Google. É de notar que os dados privados não são partilhados pela Google com as forças policiais. O que lhes é entregue são dados agregados que lhes permitem traçar padrões de movimento que depois ajudam a indiciar suspeitos. O problema é que este processo não é sempre fiável.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

A Batalha da Escuridão


Bruno Soares (2019). A Batalha da Escuridão. Vagos: Editorial Divergência.

É de sublinhar que Bruno Soares é um escritor com lata. No exíguo meio literário do fantástico português, privilegia-se uma certa erudição, atenção ao lado literário da ficção científica e rigor na criação do mundo ficcional. E, claro, uma boa história, que é condição essencial para uma boa leitura, os recursos estilísticos não são o cerne do prazer de ler. Nesta série coligida em edição única da Divergência, Bruno Soares segue um outro caminho, e oferece-nos uma história de pura aventura clássica. Provavelmente, atrairá a ira crítica de leitores e escritores. Confesso que foi essa a minha tentação, mas diverti-me demasiado com esta leitura para ter ânimo para a desancar.

Ler Batalha na Escuridão mostra-nos as suas muitas influências. A mais nítida é a FC militarista, com a sua história de crescimento de um jovem oficial de marinha espacial que se verá mergulhado em tragédias, batalhas e aventuras que o levam a evoluir até se tornar um exímio e respeitado comandante de guerra. A outra grande influência são as narrativas clássicas de guerra naval, hoje bastante esquecidas. Isso nota-se especialmente no mundo ficcional do livro, onde Bruno Soares dá a maior traulitada ao rigor científico que se exige à Ficção Científica. Toda a ação se passa num vasto sistema solar cheio de planetas habitáveis, e aqui é impossível não ver um aceno às luas de Mongo do clássico Flash Gordon. Outra muito óbvia influência é a história da II Guerra Mundial, espelhada neste universo com uma guerra entre um poder tenebroso com nomes que soam vagamente teutónicos, e um conjunto de aliados que terá de os vencer. A sublinhar essa vertente, grande parte das aventura giram à volta das caçadas de naves silenciosas numa zona contestadas entre planetas, óbvia metáfora para a batalha do Atlântico e submarinos nazis na II Guerra.

As influências são bem visíveis, a narrativa é rápida e descomplexada, todo o propósito do livro é entreter, divertir o leitor com uma boa história. As peripécias sucedem-se, sempre a um ritmo imparável. Creio que podemos perdoar a intencional falta de erudição deste livro. Recorda-nos algo que tem sido essencial no gosto pela Ficção Científica. Por vezes, precisamos de histórias simples e divertidas que regressem ao elementar neste género literário. A Batalha da Escuridão é uma dessas histórias.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Charlotte Sometimes


Fábio Fernandes (2013). Charlotte Sometimes. Draco.

A memória de uma canção, um sonho que talvez não seja o sonho do sonhador, um percurso irreal por vislumbres de memória que são premonições de uma morte iminente, ou de uma morte que já aconteceu. Fábio Fernandes é uma interessante voz da literatura fantástica brasileira, e neste conto leva-nos a um fantástico moderno e urbano, com uma sensibilidade global.

domingo, 5 de maio de 2019

URL


Working together as a “virtual telescope,” observatories around the world produce first direct images of a black hole: É a imagem da semana, ponto. É tão awesome poder viver numa era em que a ciência e tecnologia nos maravilham regularmente com novos conhecimentos, novas ideias. Pela primeira vez, conseguiu-se captar imagens diretas de um buraco negro. Foi tornado possível graças ao trabalho do Event Horizon Telescope, que conseguiu perscrutar o buraco negro supermassivo no cerne da galáxia Messier 87. A ler, ao som dos Muse e Supermassive Black Hole.

Tomorrow's Telephone and The Leisure Society That Never Arrived: É sempre divertido ler estas recordações dos futurismos do passado. Estamos a viver no futuro deles, e não se parece, e não se parece nada com o que eles imaginaram. Leisure society? Digamos antes era da precarização, em que trabalhamos mais, e a visão da automação nos enche de horror precisamente porque tememos a visão de um futuro sem trabalho.

Scientists Discover Exotic New Patterns of Synchronization: As matemáticas complexas que encontram padrões sistemáticos nos fenómenos que nos parecem totalmente aleatórios.


Happy 27th birthday to Windows 3.1: Ah, memórias. Recordo o meu primeiro computador, que arrancava para um ecrã negro a pedir um prompt, e escrever win para arrancar o Windows 3.1.

Shostakovich, My Grandfather, and the Chimes of Novorossiysk: Uma história deliciosa sobre a amizade improvável entre um grande compositor e um autarca nos tempos repressivos da União Soviética, unidos pelo amor à música. Um dos maiores compositores do século XX, Shostakovich sempre teve uma relação incómoda com o poder soviético (o que, nos tempos estalinistas, era potencialmente fatal). O autarca, para além do amor à música e ser responsável por uma encomenda de peça curta para colocar num monumento à II Guerra, também acabou por ter uma relação complexa com as cúpulas. Uma história de duas pessoas entre a música e a história dos grandes movimentos tectónicos do século XX, com champanhe à mistura.

Researchers Find New Victim of 'Triton' Malware, Which Can Physically Damage Critical Infrastructure: Quando o software pode causar danos físicos. Quando falamos de ciberataques, pensamos em danos intangíveis, mas quando o ataque tem como alvo controladores de elementos físicos, as consequências podem ser ainda mais críticas.


50 años desde la publicación del primer RFC: Li sobre isto no livro Where Wizards Stay Up Late: The Origins of the Internet, de Katie Hafner e Mathew Lyon. O que me surpreendeu na sua origem foi a informalidade daquilo que se viria a tornar um padrão no desenvolvimento de tecnologia. Este é. verdadeiramente, um artefacto da origem da internet.

Little Hours From An Old Life: Warren Ellis recorda duas das suas influências formativas, as séries Cosmos de Carl Sagan e Connections de James Burke. Também sou daqueles que tem na série de Sagan (e, posteriormente, no livro) uma das referências formativas no pensamento, na forma de encarar o mundo. Já Connections descobri mais tarde, como uma coluna imperdível na revista Scientific American. Ficava sempre surpreendido pela erudição, e pelas ligações inesperadas que Burke fazia entre cientistas e investigações.

Uma surpresa nos finalistas do prémio livro do ano Bertrand: Esperem, um prémio literário generalista do mainstream cultural português elegeu um livro de ficção científica como livro do ano? A minh'alma está parva... até ver que se trata de Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, uma obra já tão clássica que os que normalmente desdenham a FC lhe prestam atenção.


How to Disappear Completely: Tive uma passagem rápida pelo Festival Contacto, e por isso pouco tempo para aproveitar o evento. Mas fiquei fascinado pela exposição da fotógrafa Fátima Abreu Ferreira. Uma série de fotos onde a realidade se dissolve em abstração.

Dutch F-16 Hit By Own Bullet During Mission At The Firing Range: Acho que só há um comentário possível a isto... faster than a speeding bullet? Confesso que não sabia que era possível a um caça ultrapassar em voo as próprias balas que dispara.

Teens 'not damaged by screen time', study finds: Esperem, então, em que é que ficamos? Qualquer psicólogo pop escreve livros e artigos a apontar que os ecrãs são o novo grande mal da juventude. O que não falta por aí são artigos com estudos a referir os efeitos catastróficos dos telemóveis e tablets e computadores em tudo o que diz respeito aos jovens, da postura física à fibra moral. Só que... talvez não seja bem assim. Talvez the kids will be allright, e o que para nós parece uma intrusão, porque não crescemos com estas tecnologias, seja o novo normal. Tudo o que este novo estudo vindo de Oxford faz é analisar a literatura, e não encontrar uma correlação entre a observação e as visões catastrofistas veículadas pelos media. E para quem lida com estes temas, isto não é novidade. Há um livro muito interessante, It's Complicated de Danah Boyd, que analisa estas questões a partir de entrevistas etnográficas com adolescentes. E deparou com o mesmo padrão, de integração, normalização, e equilíbrio entre vida e tecnologia que este estudo também observa.


Is MacPaint the Most Underrated form of Outsider Art?: Pessoalmente, sou mais uma windows person do que mac guy, mas devo dizer que é fascinante perceber que numa era de perfeição digital e gráficos de alta resolução, a estética low rez daquele que foi o primeiro programa de edição de imagem digital, ainda continua a ser explorada.

Air Force moving closer to AI piloted jets as SkyBorg takes to the skies: Espera, SkyBorg, disseram? Sabendo que é um protótipo de drone de combate com inteligência artificial, isto soa algo arrepiante, como a ideia de um certo filme influente sobre robots exterminadores implacáveis.

The first research book written by an AI could lead to on-demand papers: E antes que comecem a enregelar, temendo que até a ciência não está imune à automação, reparem que esta IA, o que fez, foi um dos trabalhos mais tediosos e onde é fácil a um investigador perder referências: uma revisão de literatura.

El texto de Carl Sagan en el que 20 años atrás anticipaba el debate sobre redes sociales y fake news: E, sincronismos, por cá vivemos no rescaldo de mais um questionável debate televisivo que colocou charlatães das medicinas alternativas a debater com médicos e cientistas (espreitem o SciMed para ver o fallout e ver como a coisa correu mal). Como se o rigor da ciência estivesse ao mesmo nível das mezinhas e patetices esotéricas. Mas talvez o texto de Sagan não seja assim tão presciente. Talvez a vontade de acreditar no falso, na reza em vez da terapia, na mezinha em vez do medicamento, na acupunctura em vez da cirurgia, seja algo que está demasiado arreigado na nossa consciência coletiva.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Sapo 24: Em cima, tal como em baixo


Os robots estão a chegar a todo o lado. Já nos habituámos à sua presença no nosso dia-a-dia, entre máquinas industriais, veículos autónomos, drones, ou brinquedos educativos, citando alguns dos usos mais visíveis destas tecnologias. E a exploração espacial usa extensivamente robótica para levar a ciência humana ao sistema solar, com os seus mais famosos rovers na superfície marciana. Mas não vamos tão longe. Neste artigo, olhamos para dois projetos projetos de robótica com localizações geográficas muito específicas. Um, incentivado pela DARPA, olha para os mundos subterrâneos. Outro, da NASA, leva pequenos robots para a Estação Espacial Internacional. O meu novo artigo para o Sapo 24, no âmbito da parceria com o Bit2Geek, pode ser lido aqui: Em cima, tal como em baixo: robots no espaço e debaixo da terra.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

H-alt: Revista H-alt#7


Já da H-alt não esperamos sofisticação, mas sim talento cru. Este novo número da revista/fanzine mantém, como habitual, o que esperamos dela. Um grande conjunto de histórias que nos parecem incompletas ou a precisar de melhor desenvolvimento, mas a mostrar a grande promessa dos seus autores. Resenha completa na H-alt: Revista H-alt #7.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Detective Comics #1000


(2019). Detective Comics #1000. Nova Iorque: DC Comics.

Este, tinha de o ter em papel. Bem sei que a Action Comics #1000 era a grande edição comemorativa dos heróis mais longevos da DC, mas por muito que Superman me divirta, não sou especialmente fã. Prefiro o humanismo distorcido do Cavaleiro das Trevas. a sua eterna luta contra inimigos externos, e a tragédia dentro de si. Algo que as histórias desta edição número mil da Detective Comics, que se estreou há oitenta anos com as aventuras do Homem-Morcego, sublinham bem. São homenagens escritas e ilustradas por alguns dos maiores argumentistas e ilustradores, clássicos e contemporâneos, dos comics. Cada história foca a visão destes autores sobre a personagem, puxando muito pelo seu lado fortemente icónico. Bruce Wayne, o mordomo Alfred e todas as outras personagens que ramificaram do Batman inicial são aqui bem homenageadas, numa edição cuidadosamente estruturada para se tornar um clássico. A Kingpin Books tinha as várias capas variantes, e não optei pela principal. Escolhi a que representa o Batman dos anos 60, desenhada por Jim Steranko, um daqueles ilustradores clássicos cujo traço admiro.