quarta-feira, 8 de maio de 2019

A Batalha da Escuridão


Bruno Soares (2019). A Batalha da Escuridão. Vagos: Editorial Divergência.

É de sublinhar que Bruno Soares é um escritor com lata. No exíguo meio literário do fantástico português, privilegia-se uma certa erudição, atenção ao lado literário da ficção científica e rigor na criação do mundo ficcional. E, claro, uma boa história, que é condição essencial para uma boa leitura, os recursos estilísticos não são o cerne do prazer de ler. Nesta série coligida em edição única da Divergência, Bruno Soares segue um outro caminho, e oferece-nos uma história de pura aventura clássica. Provavelmente, atrairá a ira crítica de leitores e escritores. Confesso que foi essa a minha tentação, mas diverti-me demasiado com esta leitura para ter ânimo para a desancar.

Ler Batalha na Escuridão mostra-nos as suas muitas influências. A mais nítida é a FC militarista, com a sua história de crescimento de um jovem oficial de marinha espacial que se verá mergulhado em tragédias, batalhas e aventuras que o levam a evoluir até se tornar um exímio e respeitado comandante de guerra. A outra grande influência são as narrativas clássicas de guerra naval, hoje bastante esquecidas. Isso nota-se especialmente no mundo ficcional do livro, onde Bruno Soares dá a maior traulitada ao rigor científico que se exige à Ficção Científica. Toda a ação se passa num vasto sistema solar cheio de planetas habitáveis, e aqui é impossível não ver um aceno às luas de Mongo do clássico Flash Gordon. Outra muito óbvia influência é a história da II Guerra Mundial, espelhada neste universo com uma guerra entre um poder tenebroso com nomes que soam vagamente teutónicos, e um conjunto de aliados que terá de os vencer. A sublinhar essa vertente, grande parte das aventura giram à volta das caçadas de naves silenciosas numa zona contestadas entre planetas, óbvia metáfora para a batalha do Atlântico e submarinos nazis na II Guerra.

As influências são bem visíveis, a narrativa é rápida e descomplexada, todo o propósito do livro é entreter, divertir o leitor com uma boa história. As peripécias sucedem-se, sempre a um ritmo imparável. Creio que podemos perdoar a intencional falta de erudição deste livro. Recorda-nos algo que tem sido essencial no gosto pela Ficção Científica. Por vezes, precisamos de histórias simples e divertidas que regressem ao elementar neste género literário. A Batalha da Escuridão é uma dessas histórias.