domingo, 31 de março de 2019

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TRIGGER WARNING from Superflux on Vimeo.

Trigger Warning: Espaços urbanos, memes, a iminente guerra de ideias transformadas em armas. E isto: "we seek shelter in the warm comfort of the blue glow".

Momo Is Not Trying to Kill Children: Confesso que até estou surpreendido com o ressurgimento deste meme/hoax. São coisas que descarrilam depressa, e no ecossistema das ideias online, depressa ganham vida própria, há sempre quem acredite nisto e encontre formas de transformar estas coisas falsas em realidade. O autor do artigo acerta, de forma brilhante, no ciclo de perpetuação e viralização destes falsos perigos: "All of these challenges and trends follow the same formula: A local news station runs a piece overstating a dangerous teen trend. Concerned parents flock to social media to spread the word. Actual teenagers and anyone else who lives their life Extremely Online mock them for their naïveté. Brands and influencers hop on the trend, parodying it and exploiting it for their own gain. And trolls take advantage of those who believe it’s real, often by creating and posting content that seemingly confirms parents’ worst fears". 

A 20th Century Book That Foresaw Our Questions About AI: Uma crítica sustentada ao trabalho seminal de Norbert Wiener e o conceito de cibernética, que está na génese de muitas ideias estruturantes da sociedade digital contemporânea.

Study Finds Artists Become Famous through Their Friends, Not the Originality of Their Work: O que não é grande novidade. Não há por aí muitas biografias dos artistas solitários, que viviam em eremitério, não se dando com os seus contemporâneos. E é algo que quem, na vida, já teve ambições artísticas, já sentiu na pele. De tal forma que no frequentar de escolas artísticas, o mais importante são as amizades que se fazem, e não o que realmente se aprende em termos técnicos.

What if the foldable mobile phone had been released in the 1990s?: Isto está brilhante, e tão, tão certeiro. Não só pela forma como brinca com os telemóveis de ecrã dobrável, mas especialmente pela maneira como replica a estética dos telemóveis dos anos 90.

WILLIAM GIBSON, UM APOCALIPSE DOCE E LENTO – POR JOÃO BARREIROS: Por ocasião do iminente lançamento da primeira obra de Gibson traduzida para português, um artigo do decano da FC portuguesa sobre o autor. The Peripheral tem data de lançamento marcada para 15 de março, editada pela Saída de Emergência.

An “exhilarating” start for Dragon, but the hard tests are still to come: Talvez a mais forte implicação da CrewDragon: se for bem sucedida, será a primeira vez que uma empresa privada tem capacidade de colocar astronautas em órbita.


“Four F-117s Conducted Covert Air Strikes In Syria in 2017” Reputable Dutch “Scramble” Magazine Says: Era suposto estarem desativados, mas há indícios que os caças-bombardeiro F-117 ainda estarão a uso... provavelmente, em missões sensíveis. Um F-117 em voo é quase uma peça de arqueologia aeronáutica. Foi o primeiro avião com características stealth, capaz de ser invisível a radares e sistemas de deteção.

The shift to collaborative robots means the rise of robotics as a service: Um intrigante dado para a discussão sobre o futuro do emprego face à crescente importância da robótica e automação. O uso de cobots, robótica colaborativa, que trabalham em apoio aos trabalhadores humanos. Por si só, não há robots suficientemente autónomos para serem capazes de substituir por completo trabalhadores, exceto em nichos de tarefas muito rotináveis e bem definidas.

America's First Bookless Public Library Has Arrived Right On Schedule: Como também sou grande fã de dead tree media, fico com sentimentos mistos perante a ideia de uma biblioteca pública totalmente digital. Mas, como mostra Novak no seu sempre interessante Paleofuture, a acessibilidade eletrónica da informação bibliográfica é um velho sonho futurista.

How AI Will Rewire Us: Intrigante. A forma como estabelecemos relações com robots revela muito sobre a nossa capacidade de empatia e de interrelação com o outro. Com a robótica cada vez mais presente nas nossas vidas, é algo que deixa de ser curiosidade e se torna fundamental. Utilizar robots pode tornar-nos mais humanos, ou mais desumanos, e isso é gerível através da educação.

THE EU’S DIRTY WORK: VIOLENCE AND ABUSE AT EUROPE’S DOORSTEP IS KEEPING REFUGEES OUT: E, por falar em humanidade, ou falta dela, a realpolitik europeia de controlo de fronteiras, mantendo as hordes de refugiados fora das muralhas da fortaleza europa.

After Being Sold to a VC Firm, this $899 IoT Robot Will Soon Brick Itself: Ah, maravilhas da modernidade. A história do Jibo é um daqueles momentos que faz pensar no frenesi IoT, das múltiplas soluções inovadoras e revolucionárias propostas por milhares de startups. E o que acontece quando falham, são adquiridas por outras empresas interessadas na tecnologia mas não em manter os serviços, ou destroçadas por competidores? O objeto digital torna-se mais um resquício de futuros mortos. O mundo digital vende a ilusão de constante constância, mas a sua perenidade é, na realidade, muito baixa.

On Not Believing Leaving Neverland: Estrelas pop mortas e os sobreviventes dos seus abusos sexuais. A história de Michael Jackson é especialmente notável pela sua bizarria, pela aura de eterna infantilidade que cobre violação de crianças. É o lado freakshow que intriga neste caso sórdido.

To Boldly Go...: Também aproveitei o recente especial AXN para ver, rever, descobrir e redescobrir Star Trek clássico. Confesso-me um apreciador late bloomer da série, que é talvez das coisas mais subversivas que passa na televisão: debaixo dos dramas e aventuras, está uma ideologia de utopia pós-escassez, profundamente humanista, em que o lucro deixou de ser o motor da sociedade, e a humanidade se dedica às finalidades mais profundas. Elementos mais esbatidos nas séries mais recentes, mas que continuam no cerne do seu mundo ficcional. Mas na verdade, rever os antigos filmes também me deixou incrédulo com a sua óbvia falta de qualidade. Ver alguns é uma experiência verdadeiramente cringeworthy, e há que dar razão à Misato: os borgs são no fundo uns cybermen um pouco menos cuidados com a higiene.


Video Orientation: Chamem-me velho, mas continuo a preferir a orientação tornada enraizamento cultural por um século de cinema. Vídeo vertical? Blergh.


Automation: Last Week Tonight: A discussão sobre os impactos da automação, robótica e inteligência artificial na economia e sociedade já chegou ao programa do John Oliver... e diga-se que, eliminando as piadas e as referências políticas, consegue traçar um panorama sóbrio, sem pânicos, mas a mostrar que os impactos transformativos estão aí, e as sociedades terão de reagir. Como observa muito bem no segmento, aquilo que é constante é a inevitabilidade da automação.

Batman 80 Anos 2 - Peso Pesado: Na nova coleção da Levoir, o público português vai poder conhecer um dos arcos narrativos de sanidade mais duvidosa do Batman recente: aquele em que Bruce Wayne não se recorda de quem é, e é o comissário Gordon que veste o manto de cavaleiro das trevas, ou melhor, se enfia na armadura bat-mecha de um novo Batman. Soa a um cruzamento imoral entre Iron Man, Batman e todos os sub-géneros de mangá cyberpunk, e lê-se num fôlego.

I FLEW A HELICOPTER, AND THEN THE HELICOPTER FLEW ME: Já tinha falado disto no Bit2Geek, mas a este repórter do The Verge saiu-lhe a sorte grande: pode experimentar como é pilotar um helicóptero, com um mínimo de treino. Tudo graças ao sistema de controlo de voo semi-autónomo, concebido para aliviar a carga cognitiva dos pilotos.

Triton is the world’s most murderous malware, and it’s spreading: Ah, exatamente o que precisávamos. Mais um malware a cruzar a fronteira cinzenta entre cibercrime e guerra cibernética. Não é daqueles que afetam utilizadores comuns. Está desenhado para interferir com sistemas de segurança industrial, tendo como alvo tecnologias IIoT (Industrial Internet of Things, para quem se assusta com acrónimos techie).

GREEK MYTHS HAVE SOME SCARY IDEAS ABOUT ROBOTS AND A.I.: Ou não. Aquilo que o livro de Adrienne Mayor mostra, analisando os mitos gregos, é que muitas das ideias que hoje torneiam a discussão e fascínio sobre robótica, automação e inteligência artificial são, de facto, milenares.

ji32k7au4a83 is a surprisingly bad password: O quê, já nada é sagrado? Aquilo que obviamente é uma excelente palavra-passe, combinando aleatoriamente números e carateres, afinal é insegura? Bem, de facto... esta combinação corresponde a uma palavra muito óbvia em teclados que utilizem o layout de Taiwan. É uma questão linguística.

Everything You Need to Know About Crew Dragon, SpaceX's Newest Human-Carrying Spaceship: Intrigado com a Crew Dragon, a cápsula espacial da SpaceX? O Jalopnik explica tudo, e muito bem, do que se sabe sobre esta astronave.


Inside an incredible "prop library" of vintage electronics and obsolete consumer tech:  Isto é um verdadeiro museu de dead media.

The Servant Economy: Não há melhor qualificativo para a chamada gig economy, que assenta na ultra-precarização dos trabalhadores.


NASA Captures First Air-to-Air Images of Supersonic Shockwave Interaction in Flight: Um novo método de captura e visualização permitiu obter estas imagens fascinantes, que mostram o que acontece quando uma aeronave ultrapassa a velocidade do som.

The AI-Art Gold Rush Is Here: Ian Bogost a ser direto. Por interessantes que sejam as experiências visuais criadas utilizando algoritmos de inteligência artificial, serão mesmo arte? Para lá do debate, há o lado venal, de promoção comercial da coisa, e é aí que reside grande parte do hype sobre as produções das IAs.

COIMBRA BD 2019 Até 10 de Março - Comunicado da GFloy: Qualquer coisa sobre o Coimbra BD, que tem um programa interessante, mas desculpem-me, não consigo dizer mais nada porque estou em modo OMG OMG OMG MAIS DOIS DYLAN DOG LANÇADOS EM PORTUGAL OMG! OMG! OMG! (yep, sou mesmo faboy do indagatore dell'incubo).

SpaceX’s Crew Dragon module has splashed down in the Atlantic Ocean: Uma semana e tanto para a exploração espacial, com o teste bem sucedido da Crew Dragon a terminar numa aterragem bem sucedida.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Winepunk - A Guerra das Pipas



Joana Neto Lima, A.M.P. Rodriguez, Rogério Ribeiro (ed.) et al (2019). Winepunk - A Guerra das Pipas. Calvão: Editorial Divergência.

Ainda recordo a sessão de apresentação desta antologia numa edição passada do Fórum Fantástico. Recordo especialmente as ilustrações que foram mostradas, que despertaram a atenção para o que me pareceu ser um bem arquitetado mundo ficcional, numa cronologia rigorosa que especulava, com muitos recortes de ficção científica, o que poderia ter acontecido se no dealbar da república portuguesa, a monarquia do norte se tivesse aguentado e desse origem a uma guerra civil. No entanto, durante muito tempo esta antologia parecia ter ficado na categoria de coisas interessantes anunciadas na literatura fantástica portuguesa que nunca vieram a acontecer. Tornou-se um daqueles objetos em que sempre que se falava nele, alguém se perguntava mas ainda não foi publicado, e se refletia na fugacidade deste tipo de projetos. Foi finalmente editado pela Divergência. Pelo resultado, valeu a pena a espera. Os contos são sólidos, com os autores participantes a dar o seu melhor. As ideias de base intrigam e despertam a imaginação. As ilustrações de Rui Alex recriam o estilo gráfico da ilustração popular de final de século, com um toque decididamente steampunk (oops, winepunk), sendo evocativas e visualmente interessantes. Não resisto a uma nota final quanto ao design gráfico do livro, muito bem conseguido exceto num pormenor. Ou estou a ficar pitosga, ou a decisão de escolher letras com um corpo pequeno e tom cinzento sobre páginas de fundo amarelado não é daquelas que facilite a legibilidade do livro. Ou então, é um convite subtil para o ir ler lá para fora, numa esplanada ao sol, bebendo uns cálices de vinho do porto enquanto se lê os contos.

A Companhia Zero: Cabe a Joel Puga o abrir das hostilidades (piada intencional) desta Guerra das Pipas. E fá-lo em grande estilo. O seu conto é interessante não só pela forma como nos transporta às trincheiras desesperadas, mas por tudo o que não nos conta e deixa intuir, levando a que o leitor construa uma visão mais alargada do mundo ficcional do que o diretamente expresso no conto. Contado como narrativa epistolar, o conto leva-nos a conhecer o desespero de um oficial monárquico subtilmente condenado à morte, por ter pais que se passaram para a república. Não terá de enfrentar um pelotão de fuzilamento, a sentença é mais maquiavélica: liderar um batalhão de estropiados, inadaptados e doentes mentais que são carne para canhão, soldados-tampão para as forças da monarquia. O seu uso no campo de batalha servirá para atrasar o invasor, e já agora, eliminar aos cofres monárquicos o peso de sustentar incapazes. Na sua única batalha, condenados à partida, terão de enfrentar inimigos que são claramente o resultado de experiências genéticas.

A Ira da Ferreirinha: Como habitual. Carlos Silva dá-nos um conto sólido, num misto de aventura e reflexão. Envolve a personagem histórica que foi D. Antónia Ferreira, nome incontornável quando se fala do vinho do porto, enquanto vai revelando pormenores sobre o milagre energético que sustenta a monarquia do norte neste mundo ficcional. Tudo é contado seguindo o ponto de vista de um homem despeitado, que para se vingar de ter sido desprezado pela Ferreirinha convence os republicanos a lançar um ataque aéreo com armas biológicas, que irá destruir a base do poder monárquico. Bom conto de Carlos Silva, que mistura um passo sólido no mundo ficcional Winepunk com elementos de história muito reais, referenciando a epidemia de filoxera que, no fina do século XIX, aniquilou a produção vitivinícula portuguesa.

In Vino Veritas: Na contribuição de João Ventura para a antologia, as videiras são instrumentalizadas como arma, graças à sabedoria de um indiano em dívida para com um dos nobres da monarquia do norte. Com as suas ministrações, o vinhedo de uma das plantações que alimenta a produção de energia sustentadora do regime aumenta, mas o sábio tem mais um truque para ensinar, com uma poção que torna as videiras numa terrível arma. Ventura conduz-nos ao longo da sua narrativa com passo ritmado, misturando intriga com aventura enquanto aprofunda as premissas do mundo ficcional winepunk.

Uma Conspiração Perigosa: Este sólido conto de João Rogaciano mergulha-nos nas intrigas conspiratórias das sociedades secretas. Nele, um agente da polícia secreta real infiltra-se num grupo de terroristas republicanos que conta com elementos ao mais alto nível do governo monárquico, e usa atentados à bomba para disfarçar os testes da sua arma secreta, uma máquina capaz de provocar terramotos.

Nunca Mais: Sem surpresas, o conto de João Barreiros é o que apresenta maior amplitude na antologia, quer em duração quer na ambição. E, novamente, sem surpresas, é uma barragem de fogo intensivo de ideias implacáveis. Sonhadores alimentados por vapores vínicos que sonham com tecnologias futuras, algo que é uma armadilha para exterminar a humanidade; criaturas bio-construídas, a genética manipulada e retalhada ao serviço das armas; todo um palco de decadência retrofuturista, naquele tom de detalhada ruína apocalíptica que Barreiros consegue fazer tão bem. Confesso que passei boa parte da leitura à espera do momento em que o Kraken iria destruir a cidade do Porto, mas o autor é malévolo, só nos mostra a cidade destruída num futuro do qual emanam tentáculos de conhecimento que irão modificar o passado. Este conto é Barreiros igual a si próprio, implacável, erudito e apocalíptico.

Os Engonços de Quionga: Na sua primeira contribuição para a antologia, Rhys Hughes recorda-nos gentilmente dos episódios esquecidos da I guerra mundial em África, com os combates entre portugueses e alemãs no norte de Moçambique. Mas a história não se passa nessa época, vai para um futuro após a queda da monarquia do norte, em que os ventos de guerra voltam a soprar na Europa. Os residentes na esquecida colónia de Quionga temem o regresso dos alemães, e viram-se para as estranhas invenções de um sábio luso-muçulmano que, utilizando as tecnologias aprimoradas na monarquia do norte, vai permitir a deslocação do território em direção a Portugal utilizando pernas mecânicas. Imaginem a jangada de pedra, mas em saltos de canguru com patas mecanizadas. Enquanto este pedaço de áfrica se escapa em direção à Europa, vai-se desagregando, e a Portugal só chegaram fragmentos. Um toque do surrealismo fantástico de Rhys Hughes no universo ficcional winepunk.

A Loja do Desejo Agridoce: Uma continuação do conto anterior do mesmo Rhys Hughes, que aqui nos mergulha num profundo irrealismo romântico, traçando o destino luso-tropicalista dos restos dos vestígios de Quionga. É um conto que tem pouco a ver com o mundo ficcional da antologia, embora lhe seja tangencial, e é-me difícil não ver nos nomes de alguns dos personagens um sorridente piscar de olhos a algumas figuras destacadas do nosso panorama literário de FC e fantástico. No fundo, o conto é uma transmutação da forma como o escritor nos vê, naquele estilo poético que lhe caracteriza a obra. E este é  um dos melhores títulos de contos que li nos últimos tempos.

Dicionário Ilustrado da Monarquia do Norte: AMP Rodriguez encerra a antologia numa imitação do estilo árido de biografia curta. Olhando para as histórias ficcionadas de mulheres reais no quadro do mundo ficcional Winpunk, alarga o espectro desta história que nunca existiu, dando-nos vislumbres sobre os acontecimentos pseudo-históricos que se desenrolaram nesta imaginária monarquia do norte.

domingo, 24 de março de 2019

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Kitbull | Pixar SparkShorts: Gato conhece cão e... bem, o melhor é mesmo ver esta curta. Daquelas que depois de a ver, só dá vontade de ir fazer muitas festas à minha grande cadela.

Cameras that understand: portrait mode and Google Lens: E por máquinas fotográficas que compreendem, o autor quer mesmo dizer isso. A ubiquidade da fotografia com smartphones tem como consequência o ser cada vez mais um artefato de software e não de hardware, com a perfeição visual a ser cada vez mais automatizada. E que uso será dado a esta combinação de fotografia e computação? Pensem no uso da lente como forma de externalizar a memória.

Playing Games with Life: Analisar o clássico SimCity, mostrando que a sua estrutura de jogo e as escolhas a que que os jogadores são levados partem, essencialmente, de pressupostos ideológicos e de ver o humano como elemento descartável de um sistema.

O Chef Punk: Não sendo grande apreciador de canais de culinária, nunca vi mais do que de raspão alguns dos programas de Anthony Bourdain. Mas não deixei de achar interessante a forma fora da caixa com que encarava as artes culinárias.

From Bismarck to Hitler, how German rulers rewrote history: Porque as fake news não nasceram com a internet. Apropriar-se da história, enviesar pontos de vista, criar falsos mitos, é uma técnica de legitimação de poder tão velha quanto a humanidade.

Germany Is Testing the Limits of Democracy: Quando a tolerância se torna um dos problemas da democracia. É paradoxal, mas num regime que defende a liberdade, existe a necessidade de criar limites quanto o exercer dessa liberdade ameaça a estrutura da democracia, como no caso dos extremismos ideológicos políticos ou religiosos. E se há país onde essa necessidade tem uma forte carga é na Alemanha, com a memória de um passado nazi que todos queremos que nunca mais se repita.

In Los Angeles, Climate-Change Gentrification Is Already Happening: Ou como o desastre global é o lucro de alguns. Num mundo que sente progressivamente os efeitos das alterações climáticas, uma forma de lhes responder é fugir para zonas onde os efeitos se fazem sentir em menor grau. O resultado? Quem tem dinheiro, muda-se e gentrifica comunidades. Bem vindos à era do capitalismo de desastre.

Are Robots Competing for Your Job?: Há que admirar o tom tranquilizante do título. E tem razão. Se, de facto, robótica, automação e inteligência artificial são forças transformativas rápidas, que estão a alterar os panoramas económicos e laborais, por outro lado as mudanças são mais graduais do que as visões de deslumbre/pânico dos futuristas. Há coisas que são notórias. Muitos empregos de hoje estão a ser adaptados para robótica e automação; a tecnologia ainda não está tão desenvolvida quando se imagina (mas lá chegará); o mundo laboral está a sofrer transformações profundas, e as suas consequências não são lineares. Este é um dos mais equilibrados artigos que li sobre este tema.

Here's What's Happening in the Undeclared War Between India and Pakistan: Caças Mirage e Mig.21 versus F-16, em combate dos céus de Cachemira? Parece um filme dos anos 80. Mas infelizmente é uma muito real tensão entre a Índia e o Paquistão, que espero que quando estas linhas forem publicadas não se tenha tornado algo realmente sério, e seja apenas uma nota de rodapé esquecida.

Ten big global challenges technology could solve: Dez desafios complexos, do tratamento para a senilidade ao retirar carbono da atmosfera, que a tecnologia poderá resolver.



Massive Russian Cargo Ship With a Drunk Captain Plows Right Into Korean Bridge: Pronto, eu sei, isto não é o tipo de tema erudito e intrigante que gosto de partilhar nestes URL, mas... conhecem a metáfora do não conseguir desviar os olhos de um descarrilamento a baixa velocidade? Isto é a mesma coisa, mas com barcos, pontes e um comandante de navio algo embriagado. Isto é o exato oposto de a coisa passou-se tão rápido que não houve tempo para reagir.

The Orville Season 2 Has Been All About the Characters, and the Show's Never Been Better: Sem dúvida. Recordo quando a série começou, ter visto os primeiros episódios e pensar que era uma patetice, uma comédia Seth McFarlane a gozar com Star Trek. Tipo Family Guy in Space. Mas depressa mostrou ser muito mais que isso, tornando-se uma das mais sólidas propostas de ficção científica televisiva. Consegue sê-lo fugindo àquela estética de exacerbar o dramatismo que caracteriza as séries de TV contemporâneas. E também não se esquece de manter fidelidade à FC, respeitando e muito o género. The Orville uma vénia quer a Star Trek, quer à FC clássica.


Skin in the game: do we need to take down nudes – or look at them harder?: Pois, isto realmente de ir ver mamocas penduradas nos museus na era do #metoo tem o seu quê de revolta cultural contra-contemporânea. Ou não, não podemos simplesmente descartar toda uma tradição artística por causa de excessos culturais (e note-se, considero o #metoo fundamental para evoluirmos em termos sociais, quebrando a objetificação do feminino, e o abuso de relações de poder para obter favores sexuais, são comportamentos cavernículas e está mais que na hora de nos livrarmos disso). O nu na arte é algo de profundamente humano, entre a sexualidade e o humanismo, e não está isento de dominância masculina, mas não é de descartar e esconder nos esconsos dos museus: the sheer variety of reasons for portraying the human body naked, and the complexity of the visual traditions artists were drawing on. E só porque sim, tomem lá mamocas. Pintadas por Ticiano, e se a vossa sensibilidade achar que isto é coisa de bolinha vermelha, ainda têm imenso que aprender...

The NASA Decision Russia Didn’t Like: Pois, realmente é chato. Quando a SpaceX concretizar o primeiro voo tripulado da sua cápsula, os EUA deixam de estar dependentes dos russos para ir até à ISS. É capaz de fazer mossa no orçamento espacial russo.

sábado, 23 de março de 2019

sexta-feira, 22 de março de 2019

H-alt: Angola Janga


Ler Angola Janga é levar um tremendo murro no estômago. Algo que não surpreende. Este livro foi concebido para o ser, bem sei. Mas porque é que um discreto leitor português tem de se sentir incomodado com uma banda desenhada que olha para a história brasileira? É que não é só o Brasil que está em análise. Há muito do passado português, das histórias convenientemente esquecidas da colonização do Brasil, nesta obra. Recensão completa na H-alt: Angola Janga.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Romance de Amadis


Afonso Lopes Vieira (1998). Romance de Amadis. Lisboa: Ulmeiro.

Vou contabilizar este como o meu primeiro encontro com um romance de cavalaria medieval. E, de caminho, contar mais um livro Leiturtuga. Finalizada a leitura, confesso ter ficado curioso quanto à sua origem. Os prefácios desta edição da Ulmeiro, atribuem-na a um trovador português, provavelmente aquele que passou ao papel uma versão coerente de histórias dispersas sobre as aventuras do cavaleiro Amadis. Esta edição, organizada nos anos 20 do século XX, é em si uma versão reduzida, organizada pelo poeta Afonso Vieira como uma espécie de reivindicação nacionalista da autoria portuguesa da gesta. Para além de me levar a conhecer o texto, abriu o apetite para a edição em dois volumes que a Imaginauta se prepara para editar, que ao contrário desta, não faz cortes ao texto original.

Quanto às histórias em si, são narrativas de aventura medieva que descrevem as gestas de Amadis. Não são muito elaboradas, e nelas o herói sempre triunfa, embora não seja imune aos perigos. Talvez o maior seja o seu amor, correspondido, pela bela princesa Oriana. Uma paixão que encontrará vários obstáculos, desde mal-entendidos à vontade do seu pai em casá-la com um príncipe romano. É assim que termina esta edição, com um corajoso resgate em que Amadis e os seus amigos derrotam em alto mar os romanos, recuperando a princesa que ama.

Talvez o pormenor mais inesperado neste texto, para mim, foi a leveza com que fala de amores num sentido curiosamente pouco eufemístico. Dada a época em que foi escrito, esperava algo mais moralista. E se as referências à religião e temência à deus são constantes no texto, a moral faz pausas nas relações entre homens e mulheres. Prova disso é a própria origem de Amadis, abandonado quando bebé por ser filho fora do casamento, fruto dos amores entre uma princesa e um cavaleiro. Um elemento muito patente nas histórias de Amadis e Oriana. Quando este a salva das garras de um temível feiticeiro, há um momento em que repousam, cansados, num prado, e ela deita-se donzela mas levanta-se dona (se não perceberam esta, acho que nem com um desenho lá vão). Mais à frente, os dois enamorados vivem juntos num castelo. Esperava um moralismo mais convencional num texto vindo da época medieval.

domingo, 17 de março de 2019

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Images From Antarctica: É demasiado estranho eu ser tão fascinado pelas paisagens das vastidões geladas? Confesso que a visão de um glaciar me aquece o coração, enquanto que o olhar idílico da praia com coqueiros me deixa indiferente.

The Internet Was Built on the Free Labor of Open Source Developers. Is That Sustainable?:  É uma questão de resposta complexa. Por um lado, é lógico que o trabalho intenso de quem contribui para a comunidade seja compensado, e que os projetos sejam sustentáveis. Por outro, não podemos deixar o desenvolvimento das tecnologias de base da internet nas mãos dos ecossistemas fechados das empresas.

29 novelas gráficas de los últimos nueve años con las que reengancharte a leer cómics: Há aqui sugestões muito boas a seguir. Especialmente Junji Ito. É algo deprimente que o nosso mercado, apesar de estar a crescer, empalidece quando passamos a primeira fronteira...

Is a Tech-Based Social Credit Score a Good Idea?: Mas é preciso perguntar? Pior, o artigo da ReadWriteWeb defende a utilização de sistemas de vigilância para reunir dados, traçar perfis individuais e com isso criar punições ou incentivos. Uma ideia inqualificável no contexto das democracias liberais, vendida através do argumento da aceitabilidade social. Suspeito que das duas, uma: ou o autor do texto não conhece a história do século XX, ou conhece-a, mas tem um fétiche com camisas castanhas e botas cardadas.

Seis Livros Para Descobrir a Inteligência Artificial: A Inteligência Artificial está na ordem do dia. É uma tecnologia complexa, que já faz sentir os seus efeitos na sociedade contemporânea. Combinada com robótica e automação, tem o potencial de transformar o mundo em que vivemos. Quais serão os futuros possíveis? Que impactos terá no nosso futuro? Para ajudar à reflexão, sugerimos alguns livros que abordam as técnicas e problemáticas da Inteligência Artificial.

AIRBUS TO HALT PRODUCTION OF THE A380; GOODBYE TO AN ENGINEERING TRIUMPH: Não é o fim de uma era porque o A380 nunca chegou a ser assim tão marcante. Para a histórica, fica um daqueles momentos em que um triunfo tecnológico falha, não por questões inerentes à tecnologia e engenharia, mas por não funcionar do ponto de vista económico.


On a Remote Volcanic Island, American Soldiers are Worshipped like Gods: Recordar os cultos de carga. Quando os soldados americanos chegaram às ilhas remotas do pacífico sul durante a II Guerra, foram vistos como verdadeiros mensageiros dos deuses, trazendo consigo comida, medicamentos e utensílios. Quando partiram, os indígenas passaram a venerá-los como deuses, construindo elaborados mitos e rituais, aguardando por um regresso que nunca acontecerá.

The Secret History of Women in Coding: Se hoje temos de investir em iniciativas que tornem as profissões STEM mais acessíveis às mulheres, nem sempre foi assim. A história da computação mostra que nem sempre a programação foi exclusiva de um clube de salsichas. Este artigo celebra a enorme contribuição das mulheres para a informática, e olha para aquelas que hoje desafiam falsos estereótipos, envolvendo-se na cultura maker.

Academics Confirm Major Predictive Policing Algorithm is Fundamentally Flawed: Quando se fala do enviesamento algorítmico na inteligência artificial, o PredPol é o exemplo constante. Este software de predição de incidência de crime analisa, a partir dos dados disponibilizados, o histórico de incidência de crimes em áreas geográficas e recomenda a alocação de recursos com base nos padrões que deteta. Uma boa ideia no papel, mas que não leva em conta enviesamentos sociais, com crimes a serem reportados mais em zonas empobrecidas, ou, no caso americano, com questões étnicas à mistura. Pior, o algoritmo auto-reforça os enviesamentos. Detetando uma área com elevado nível de criminalidade, sugere o reforço de recursos, o que leva à deteção e reporte de mais crimes, o que.. leva ao reforço de recursos.

Vision system for autonomous vehicles watches not just where pedestrians walk, but how: Intrigante. Para melhorar os algoritmos de condução autónoma, este sistema treina-os não só a detetar transeuntes, como a analisar a forma como andam, para perceber que tipo de comportamento estão a ter. Um sistema para automóveis autónomos que tem imenso potencial em aplicações de vigilância.

Los países más automatizados con robots del mundo: España ocupa el puesto #11, por encima de la media: Portugal nem entra na lista. Podia refilar que, como sempre, estamos a perder o comboio. Mas suspeito que a realidade não seja bem essa, e que há setores da indústria por cá cada vez mais robotizados. No entanto, de acordo com o resumo do relatório que inspirou este artigo, em 2018, sales of Robot installations in all other Western European countries rose, except in Austria and Portugal.

Welcome to the cyber world: The real-world tech behind Alita: Battle Angel: Ao escrever esta nota, ainda não vi o filme, mas espero tê-lo já visto quando este post sair. Por isso, o único comentário que deixo é que a boa FC tem sempre raízes no real, por especulativa que seja (e por isso é que é errado considerar Star Wars como ficção científica).


Terraforming Fantasies: Os artistas a debater o antropoceno, com o discurso artístico cada vez mais atento ao impacto da tecnologia na sociedade.

Why We Should Think Twice About Colonizing Space: Uma razão fascinante para pensar a colonização do espaço. Se a humanidade se espalhar pelas estrelas, irá ter consequências evolutivas. A adaptação a habitats orbitais ou a planetas irá trazer transformações físicas e culturais. O resultado? Não uma humanidade diversa mas fundamentalmente homogénea, mas uma diversidade de humanidades que poderão perder a ligação entre si. Intrigante.

Os Nossos Robots, e Nós: Registo da visita à provocadora exposição Hello, Robot, no MAAT. Por entre as maquinarias da arqueologia industrial da antiga central elétrica a carvão, podemos encontrar os mais variados tipos de robots. Com a exposição Hello Robot: Design Between Human and Machine, somos desafiados a descobrir o estado da arte desta tecnologia. Mas, também, a refletir sobre os seus impactos sociais e culturais. Este evento convida-nos a descobrir projetos artísticos e máquinas com que já interagimos no nosso dia a dia. Recorda-nos que o futuro sonhado pela Ficção Científica já é o novo normal dos dias de hoje.

Paradoxo e Refúgio dos Super-heróis: Dou por mim a concordar com este artigo. Também me tornei fã de super-heróis na adolescência, mas honestamente nunca abandonei esse gosto. Mas não tenho quaisquer ilusões sobre a superficialidade do género, e os poucos comics que vou seguindo são aqueles que me despertam a curiosidade pela formas inventivas como os argumentistas dão a volta ao que Zagalo identifica e muito bem como a principal característica do género: a imutabilidade, perenidade dos seus personagens. Para mim, os comics de super-heróis são um divertimento para relaxar o cérebro (e admirar a técnica quando o argumento e/ou a ilustração são bons). Mais intrigante é o paralelo histórico que Zagalo traça entre as épocas em que o género super-heróis teve o interesse do público. Ganharam tração na época conturbada entre e pós II Guerra, e voltaram a despertar o interesse nesta época contemporânea cheia de incertezas. A razão está na imutabilidade fundamental dos personagens, que interpretados com símbolos de estabilidade num mundo instável.


Atomic Alchemy: Photographs of Nuclear Landscapes in the American West: Arqueologia atómica, um toque do que Paul Virilio chamava de bunker architecture, os traços radioativos dos primórdios da era do átomo.

Is the Insect Apocalypse Really Upon Us?: Tem sido apontado como um dos sinais do iminente apocalipse ecológico, no entanto a ciência por detrás destas afirmações não está assim tão bem sustentada como deveria.

Do We Write Differently on a Screen?: Há aqui uma tremenda nostalgia pelos bons velhos tempos do manuscrito e datilografia. E se bem que há razão naquilo que o autor aponta, os ecrãs trazem consigo dispersão na diversidade de janelas, não me é difícil imaginar este texto escrito no futuro. Por um envelhecido escritor da geração millenial, a falar com nostalgia dos bons velhos tempos que passava a editar textos no processador, enquanto dava uns saltos às redes sociais e feeds em modo multitarefa, enquanto expressa as suas reservas sobre as consequências do tipo de media ainda por inventar que os miúdos desse tempo futuro utilizarão para escrever.

What AI Fails To Understand – For Now: Essencialmente, o significado dos dados com que lida. As ferramentas de IA mais avançadas são, essencialmente, estatística aplicada a reconhecimento de padrões. Surpreendem-nos pelo que conseguem atingir, e estão a tornar-se um dos pilares da vida digital, mas não são seres pensantes, com intuição e experiência. Nem é suposto. A visão de IA como ser artificial é, de certa forma, distrativa sobre os seus reais potenciais e aplicações.

How The Internet Can Harm Us, And What Can We Do About It?: É sempre interessante ler estes micro-briefins do EPRS, que se dedica a coligir pesquisas para dar aos eurodeputados, e estes serem capazes de tomar decisões informadas. Pelo que se tem notado, boa parte deles deve enviar as mensagens do EPRS para o caixote de lixo. Neste, traçam-se alguns dos perigos individuais e sociais que a internet nos traz, e formas de atuar para os minorar. Se são daqueles que começam logo a rolar os olhos quando lêem a expressão "perigos da internet" (eu também já fui assim), lembrem-se, já se percebeu que a net não é inocente, que não são só coisas boas. Defender a liberdade digital também passa por reconhecer as suas áreas problemáticas, e construir estratégias para lidar com elas. Senão, fica fácil impor às populações medidas fascistas tipo artigo 13 como se fossem coisa boa, porque o uso cego do argumento perigos da internet abre a porta a muita medida restritiva das liberdades.

INFOPORN: 100 YEARS OF SCI-FI, EXPLORED: Usar IA para analisar o corpus literário de Ficção Científica para detetar padrões e similaridades temáticas entre obras, construir estruturas de recomendação e estabelecer padrões temáticos é talvez a coisa mais science fiction condition que um data scientist pode fazer.

Apresentação da colecção Batman 80 Anos: Texto de João Lameiras sobre Batman, a personagem, e as escolhas para a próxima coleção temática de comics da Levoir.

RELIVE THE DOT MATRIX GLORY DAYS WITH YOUR 3D PRINTER: Outra forma de desenho computacional. Tirar o extrusor a uma impressora 3D, colocar uma caneta e programá-la para desenhar.

The Rise of Computational Propaganda: Um registo da importância crescente dos bots programados para disseminar propaganda nas redes sociais.

NÃO ESTAMOS SÓS: Fiquei surpreendido quando este blog torreense me apareceu nos feeds. Já nem me lembrava que o seguia, e francamente não me recordo do porquê de o seguir (talvez, alguns posts antigos sobre a arquitetura de Torres Vedras). Por curiosidade, fui ler o post, e por pouco ia-me engasgando com gargalhadas, mas depois lembrei-me de algo importante. Um post num blog a registar uma troca de comentários num blog parece algo pateta... até que me lembrei que a verdadeira força da internet está aqui: unir pessoas com interesses muito específicos, que de outra forma dificilmente se cruzariam. Mesmo que sejam fãs de poesia levemente awkward.

Watch and See: The Medium Really Is the Message: Um estudo encontra uma interessante ligação entre as biografias de pessoas que deixaram marca no mundo ao longo das épocas, e os meios de comunicação dominante da época. Uma interessante visão sobre um dos conceitos chave de McLuhan, a ideia que as transformações sociais e culturais resultantes da utilização de novos meios de comunicação são mais fortes do que o que realmente é disseminado por esses meios.

EXCERPT: ‘AI AESTHETICS’ BY LEV MANOVICH: Excerto do mais recente livro de Lev Manovich, com algumas visões interessantes sobre arte e inteligência artificial, especialmente na forma como já hoje determina a nossa cultura visual: "Today AI gives us the option to automate our aesthetic choices (via recommendation engines), assists in certain areas of aesthetic production such as consumer photography, and automates other cultural experiences (for example, automatically selecting ads we see online)". 

sexta-feira, 15 de março de 2019

Excalibur: O Anel Mágico



Jorge Magalhães, Augusto Trigo (1989). Excalibur: O Anel Mágico. Lisboa: Meribérica/Liber,

Um achado curioso naquelas lojas pop-up tipo alfarrabista que podemos encontrar nas principais estações de metro. A história, com argumento de Jorge Magalhães, não é especialmente interessante, tem algumas incongruências e uma linha narrativa pouco coerente. Acompanhamos as aventuras de um escudeiro do Rei Artur que, após a queda de Camelot, vagueia pelo mundo. Nesta, um apelo de Lancelot leva-o de regresso à Bretanha, onde é capturado por um feiticeiro, protegido por uma mulher que é mais do que o que afirma ser, e ainda há um misterioso cavaleiro negro cujo papel não é claro. A história não tem uma conclusão, mas também não parece ser parte de uma série.

A inspiração nos mitos arturianos e no clássico Príncipe Valente é óbvia, e é aqui que as coisas se tornam interessantes. O estilo gráfico do ilustrador  Augusto Trigo é fantástico. Clássico, nitidamente inspirado em Hal Foster, e com vinhetas de cair o queixo. Uma pérola visual da BD portuguesa dos anos 80, dos tempos em que a Meribérica-Líber imperava. Confesso que não tenho qualquer memória de infância, na altura em que foi editado, ainda era bastante pequeno...

quarta-feira, 13 de março de 2019

The Ghost of Gaudi


El Torres,  Jesús Alonso Iglesias (2017).  The Ghost of Gaudi. Lion Forge.

Percebe-se logo nas primeiras vinhetas que a história de caça a um assassino em série é uma mera desculpa para o verdadeiro propósito dos autores: mostrar-nos, num traço colorido e elogioso, o impacto da arquitetura de Gaudi na cidade de Barcelona. Os autores são claramente apaixonados pelo trabalho do arquiteto catalão, isso nota-se na forma como a sua obra é retratada ao longo do livro. E, pelo meio, uma história de policial procedimental pura, com a caça a um assassino que mata, com requintes ocultistas, aqueles que considera estarem a desonrar a herança de Gaudi. O fantasma do arquiteto surge neste livro em duas vertentes, como um elemento narrativo da história policial, mas essencialmente como a força benévola que nos legou uma iconografia arquitetónica única. Por divertida que seja a história, é este lado de homenagem a uma figura da história da arte global o que subsiste quando viramos a última página e terminamos a leitura.

domingo, 10 de março de 2019

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Dublin Apocalypse goes online: Um mimo visual, este medievo livro do apocalipse irlandês. E, pergunta que suspeito que uma pesquisa google me responderia, mas agora não tenho tempo para isso: está o nosso Apocalipse de Lorvão digitalizado e disponível online? Lorvão é um local muito interessante. Edit: sim, existe, em JPG ou TIFF na página da Torre do Tombo.

Mediocratopia: 1: Venkatesh Rao nem sempre é uma leitura fácil. Ok, é verdade. Raramente é uma leitura fácil. Mas de vez em quando sai-se com um conceito daqueles que nos faz parar para pensar. Se acharem que a ideia de mediacratopia é tipo uma crítica à mediocridade, leiam e pensem novamente; "Mediocrity is the courage to be ordinary". Rao vê a coisa de outro ponto de vista, a mediocridade como uma vontade de ser, apenas normal, enquanto o sucesso e excelência é algo que é perseguido por sociopatas, capazes de pôr tudo de lado para prosseguirem com os seus objetivos. Ou colocando a questão noutra perspetiva: porque é que no mundo laboral se está a instalar a ideia que para ser ser bom trabalhador, é preciso ir além do esperado, trabalhar mais horas? Qual é o mal de, simplesmente, cumprir o horário desempenhando as suas funções?

The Millennial Era of Climate Politics Has Arrived: E já não era sem tempo. Porque são estas as gerações que terão de viver com a merda que os nossos antecessores, que ainda estão ativos na vida política, fizeram com o constante ignorar das questões ambientais e subordinação ao capitalismo selvagem. A geração que tem hoje 50-60-70 anos e toma decisões políticas irá estar confortavelmente sepultada quando os padrões climáticos se desregularem por completo, a subida do nível das águas do mar alagar as cidades costeiras, as crises financeiras constantes se tornarem o novo normal ou a ideia de ganhar dinheiro a trabalhar para ter uma vida estável for uma distante memória do passado. Não somos nós que seremos capazes de enfrentar estes desafios, por fundamentalmente, as suas piores consequência estão-nos distantes.

Germany just deleted Facebook: Não no sentido de eliminar ou impedir o acesso. Mas de uma forma mais eficaz: à luz do RGPD, o modelo de negócio da rede social implica violações constantes à privacidade e dados pessoais.

Why Is Medicine So Expensive?: O artigo elenca inúmeras razões, mas todas se destilam numa - ganância. Se é legítimo defender a sustentabilidade da indústria, que tem de custear o desenvolvimento e testes de medicamenstos (embora nem aqui a coisa seja linear, há muitos que vêm da investigação desenvolvida nas universidades), por outro lado é imoral abusar da propriedade intelectual para cobrar preços elevados, garantindo que muitos pacientes não terão hipótese de tratamento, ou que os sistemas públicos ficam onerados com dívida excessiva.

Is Facebook unethical by design?: TL;DR: Pois. pois é. Essencialmente, a rede social encoraja-nos a participar para agregar dados que lhes servem para afinar algoritmos de venda de publicidade. Não há almoços gratuitos na economia digital.

What Amazon Infiltrating America's School System Might Look Like: A Amazon decidiu juntar-se aos movimento de programação no ensino básico. E parece estar a fazê-lo com a habitual arrogância deste tipo de empresas, quando se dedica a projetos deste género. Ignorando por completo a experiência dos profissionais no terreno, muitos dos quais já colocaram de pé os seus programas conciliando pedagogia e tecnologia. Criam programas estanques, pensados para aplicação uniforme por professores que têm como função pouco mais do que debitar a cartilha. E aqui ainda se juntam algumas motivações obscuras: o que é que a Amazon quer com isto, e uma vez que estes programas são estruturados à volta de dados, que garantias de privacidade serão dadas às crianças.

Tipos de treta: Há que admirar esta tipologia do Que Treta!. Há as tretas estúpidas, mas inócuas, porque quem acredita nelas não tem poder para as impor à restante sociedade. As parvoíces tipo reiki e astrologia caem neste campo. Depois, as tretas estúpidas, mas perigosas, porque envolvem relações de poder, ou seja, há entre os seus defensores gente que domina, ou legisla, com capacidade de impor restrições à liberdade. Aqui caem as questões de género e as xenofobias, entre outras. Finalmente, as tretas estúpidas, mas institucionais, comportamentos tão arreigados na mentalidade e cultura que mesmo sabendo que são treta, parecem impossíveis de erradicar. Caem aqui tretas como o sopapo pedagógico ou a tourada, e é daquelas coisas que nos deixam boquiabertos, ver a forma como uma sociedade pacífica que proíbe a violência fecha os olhos a estas questões, só porque "são cultura".

Viagem ao país do fumetti: I can relate. Não tenho a fortuna de ser transferido para Roma a trabalho, mas se há boa razão para inventar desculpas para ir a Itália é precisamente a cultura e acessibilidade do fumetti. Eu sei, compras online e tal, mas há aquele encanto de passar numa banca e vê-la recheada de banda desenhada, ou entrar numa loja poeirenta com prateleiras a abarrotar de fumetti. Cá por mim, já ando à caça de nova oportunidade para lá voar.


O SIGNIFICADO DE MONSTRESS – POR NUNO FERREIRA: Pessoalmente, creio que o grande ponto forte de Monstress é o traço admirável de Sana Takeda. No entanto, as nuances do texto remisturam de forma progressista as estruturas da fantasia.

Our age of anxiety: Desculpem lá o eu parecer critpo-comuna ou revolucionário caviar (caviar não, que nem gosto, mais tea, earl grey, hot, se faz favor). Grande parte do nosso mal estar político e social é consequência direta do vendaval neoliberal que tomou conta das instituições. Antes de lamentarem a perda de sentido moral que se diz ser o que alimenta os populismos, lembrem-se: o que é que leva as pessoas a alinhar por esta cartilha? Se o que vemos são as soluções políticas tradicionais a regredirem ativamente o nível de vida, segurança laboral e serviços sociais em nome de um sacrossanto mercado que agudiza as desigualdades na distribuição de riqueza, qual é o espanto quando as massas decidem seguir aqueles que apregoam uma cartilha anti-estas forças?

Romance scams cost more money than any other type of consumer fraud, says the Federal Trade Commission: Uma boa leitura para o dia de s. valentim, que é quando escrevo estas linhas. As vigarices que apelam ao coração (ou, sendo mais rigoroso, a uma parte muito específica da anatomia masculina) (não, não é o cérebro) são aquelas que mais danos financeiros causam. Recorda uma reportagem muito badalada que passou recentemente num canal televisivo, que confesso que tive paciência para ver pouco mais do que um excerto. Porque a reportagem centrou-se nos sentimentos das vítimas, que claramente eram ingénuas e com pouco que fazer na vida, e esqueceu-se do mais importante: o roubo de identidade e suas consequências, que vão muito além de histórias patetas tipo telenovela.


NASA is saying goodbye to its Opportunity rover on Mars after eight months of radio silence: Farewell, little one. Diga-se que para máquina concebida para durar quatro meses na superfície marciana, ter chegado aos quinze anos é ir verdadeiramente above and beyond.


Opportunity Rover: O XKCD fez um dos melhores tributos a este pequeno e fantástico rover.

3Doodler wants you to draw directly onto your iPhone with its new app: Deixa-me ver se percebi. A ideia genial desta empresa é ter uma app para desenhar sobre um ecrã de telemóvel ou tablet com um extrusor a alta temperatura e filamento quente. O que é que poderá correr mal...?

Undefeated, ISIS Is Back in Iraq: Aparentemente, as notícias sobre a derrota do estado islâmico foram prematuras. Porque, como o artigo observa muito bem, a estratégia é de longo prazo, e o ser detentor de território não é o mais importante. O que estes zelotas querem é provocar o caos, e isso consegue-se misturando-se entre as populações, levando os oponentes a cometer erros, e explorando os seus pontos fracos.


Smartphone society: Os nossos dispositivos móveis, e nós próprios. Sem moralismos saudosistas de bons velhos tempos mais analógicos. Duas notas, estas fotos documentam a forma como os utilizamos para externalizar memórias de experiências, e como se tornaram uma extensão dos nossos cérebros.

sábado, 9 de março de 2019

quinta-feira, 7 de março de 2019

Dylan Dog: Graphic Horror Novel; Il Terrore


Ratigher, Paolo Bacilieri (2017). Dylan Dog #369: Graphic Horror Novel. Milão: Sergio Bonelli Editore.

As pessoas relacionadas com um criador bem sucedido de banda desenhada começam a morrer em assassinatos sangrentos. As mortes violentas espelham o que o artista desenhou nas suas novelas gráficas. Este decide pedir ajuda a Dylan Dog, que acabará por descobrir o segredo do seu sucesso: vendeu a alma a um demónio, em troca da fama e dinheiro. E o demónio aprecia sacrifícios temperados com requintes macabros.

Esta história é contada de uma forma curiosa. Um homem sem memória vai desenhado, e recordando, nas paredes de uma casa de banho. Entre alucinações e rasgos de lucidez, vai reconstruindo a memória do que lhe sucedeu. A narrativa segue um estilo giallo, mas a solução fácil de invocar um demónio para resolver o mistério banaliza o que até é uma interessante aventura do Old Boy.


Gabriella Contu, Giampiero Casertano (2017). Dylan Dog #370: Il Terrore. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Há algum tempo atrás, um jovem estudante americano de origem etíope foi notícia pelas piores razões. Professores demasiado zelosos acharam que um projeto de ciências deste aluno era uma bomba, e agiram em conformidade. Não o era, tratava-se apenas de um aluno curioso e capaz, mas o preconceito americano com qualquer um que esteja ligado ao islamismo, nem que seja por afinidade de língua ou cor de pele, levou a melhor.

Esse caso parece ter sido a inspiração para esta aventura de Dylan Dog. Nela, a cidade de Londres é palco de uma caça ao homem. A polícia, os militares e grunhos de extrema direita estão a dar caça a um suspeito de ser bombista suicida. A cidade paralisa, entre o medo, as ações policiais excessivas, e o sensacionalismo dos media. Mas tudo não passa de um equívoco, lançado por um professor pouco competente que ao ver um dos seus alunos entrar na escola com um aparelho estranho, se assusta e pensa estar perante um bombista porque este é filho de imigrantes. O aparelho não tem nada de perigoso, o verdadeiro perigo nesta história está na facilidade com que os preconceitos se acendem. Uma aventura com uma temática pertinente.

terça-feira, 5 de março de 2019

Wolverine: Weapon X


Barry Windsor-Smith (2007). Wolverine: Weapon X. Nova Iorque: Marvel Comics.

Como é que Wolverine se tornou de mutante com poderes de cura rápida a uma arma assassina, com garras e esqueleto de adamantium? É neste episódio da origem do personagem que Barry Windsor-Smith se foca, de forma visceral. Logan é reduzido aos seus instintos primários e animalescos no decurso das experiências que o transformam em Arma X. Windsor-Smith foge ao seu registo minucioso para entrar num campo visual expressivo, de figuras marcadas e cores violentas, diálogos entrecortados pelas vinhetas, que deve algo à estética de Frank Miller em Ronin, embora não funcione tão bem. Apesar disso, esta é uma das histórias clássicas da personagem dos anos 90, quando a sua popularidade começou a disparar.

domingo, 3 de março de 2019

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AI Artist Robbie Barrat And Painter Ronan Barrot Collaborate On “Infinite Skulls”: Um projeto artístico muito intrigante. Um investigador em inteligência artificial, conhecido pela forma como consegue explorar criatividade com GANs, junta-se a um pintor que tem como hábito pintar caveiras quando quer limpar pincéis no final das suas obras. O resultado é uma forma interessante de rever a produção artística, utilizando uma IA treinada num banco de dados de obras específicas de um único autor. Há alguns pontos curiosos no projeto, especialmente na forma como o artista que usa meios tradicionais reviu os seus preconceitos face ao digital, percebendo que a geração de imagens por inteligência artificial não é tocar num botão e já está, depende muito de um processo de escolha e reflexão por parte de quem treina a IA.

Estive a Ler: A Máquina de Fazer Espanhóis: Aproveitei a resenha no Notícias de Zallar para ver se valia a pena dar uma oportunidade a Valter Hugo Mãe. Pelos vistos, o que vale a pena é não perder tempo a ler mais este exemplo da intelectualidade vácua das letras portuguesas. Que é, honestamente, o que me leva a não pegar nestes autores. Tudo neles é tão imbuído de sentimento e importância, de reflexão e almejar sempre os píncaros, que me parecem pouco mais do que exercícios de estilo.

Apocalypse Is Now a Chronic Condition: Ou, colocando a questão noutros termos - abusar de ansiolíticos é forma de suportar a condição humana contemporânea. O artigo coloca a questão de forma elegante: como é que conseguimos suportar a banalidade do dia a dia, o pagar as contas, ir para o emprego, usar transportes, enquanto ao mesmo tempo sabemos que temos o futuro próximo irremediavelmente comprometido pelo capitalismo selvagem e alterações climáticas? Não por acaso, as distopias tornaram-se o género pop mais consumido.

Latest Windows 10 build puts desktop apps in a 3D world: Uma boa notícia para aqueles que sempre quiseram trabalhar no Word usando realidade virtual. Por outro lado, isto parece-me tão anos 90, essa outra época em que se acreditava que a realidade virtual iria ser o futuro... uma ideia recorrente nos seus ciclos de entusiasmo e inevitável falhanço. A menos, claro, para quem gosta meeeesmo de usar aqueles dispositivos clunky para aceder a recursos digitais.

After #MeToo, whole industries have been blacklisted by insurers for sexual harassment liability coverage: A indústria dos seguros não é à partida algo em que se pense quando falamos de progresso social. Até nos apercebermos que numa sociedade litigiosa, os atropelos têm custos, e que parte deles são suportados por seguros. O resultado: as seguradoras recusam-se a fazer apólices a empresas que tenham culturas nocivas ou personalidades conhecidas pelos seus comportamentos danosos. Notem que a lógica do negócio dos seguros não é salvaguardar em caso de catástrofe, é evitar situações catastróficas para não perder dinheiro. A mensagem é clara: se há malta na empresa que gosta de assédio sexual, não há apólices, porque a seguradora não está para perder dinheiro com isso. É uma forma algo enviesada de progressismo...


Ellsworth Kelly US Stamps: Isto dá vontade de arranjar pen pals do lado de lá do atlântico norte, só para ver se se recebe umas cartinhas com estes selos, que comemoram a obra do pinto abstrato Ellsworth Kelly. E são deslumbrantes.

Fool Britannia: A inacreditável estupidez do Brexit, visto sob as perspetivas da cultura britânica do excecionalismo (desde o império vitoriano à darkest hour da II Guerra), do substrato inglês (a região que verdadeiramente votou a favor do brexit foi a inglaterra, não o restante reino unido) e das personagens tóxicas, incompetentes ou criminosas que tomaram conta da vida política.

A Brief History of the U.S.S. Enterprise's Pre-Kirk Voyages: Menos do que seria de esperar, mas suspeito que há aqui filão para algumas séries ou filmes, mesmo com retconns à mistura. Estas histórias ocultam o verdadeiro apelo de Star Trek enquanto conceito: não é só a aventura, é a visão de um futuro verdadeiramente progressista em termos económicos, sociais, políticos e culturais.

NOTES ON THE RUN: PUT ON YOUR TINFOIL HAT BECAUSE HERE WE GO…: O que é que se passa na cabeça de um divulgador de ciência quando lhe fazem perguntas sobre alienígenas e sua propensão para capturar vacas/a alunagem foi filmada em estúdios/inserir teoria da conspiração aqui? Este artigo dá uma boa ideia disso. O que irrita, no fundo, não são as teorias bizarras, mas a crença cega dos seus defensores, para quem as provas em contrário apenas reforçam as suas teorias. É dunning-krugerismo all the way down.

The Unpredictable Rise of China: Sabemos que estamos no século chinês, com a China a reclamar o seu lugar como potência económica e militar. Mas até que ponto esta é uma posição realmente sustentável, com um rápido expansionismo inflacionado? Este artigo coloca água na fervura daqueles que tremem perante o gigante chinês. E atreve-se a perguntar até quando o partido comunista, que se aguenta no poder através da hipervigilância mediada por tecnologia e repressão pura, será visto como ideologicamente legítimo pelos chineses?


the ten dimensional maze: A fronteira entre o foleiro e o divinal é ténue, nestas ilustrações. Pessoalmente, intrigam-me sempre estas incursões algo ingénuas nos domínios da arte digital, vindas de um tempo em que o digital era ainda demasiado novo e cru, e não como hoje, banalizado na manipulação digital do photoshop ou no hiperrealismo do 3D.

Before It Conquered the World, Facebook Conquered Harvard: É inescapável, a rede social azulinha fez quinze anos. Na Atlantic, Alexis Madrigal recorda os seus primeiros dias, e como desde o início o site era inexplicavelmente aditivo. De site dedicado aos frat boys and girls das universidades americana de elite, tornou-se uma força tecnológica e cultural que transformou o mundo. Para muitos, o facebook é sinónimo de internet, e a forma como medeia as interações culturais oscila entre o positivo e o tóxico.

Google hired microworkers to train its controversial Project Maven AI: Não tinha prestado muita atenção a esta notícia, quando surgiu. Afinal, o que revoltou os funcionários da google foi a empresa que até há pouco tinha como lema don't be evil participar num programa de treino de IA para reconhecimento facial avançado de imagens de drones. Ou seja, tornar mais eficaz e automatizada a estratégia de assassínio via drone.

Capitalism’s New Clothes: O novo livro de Shoshana Zuboff sobre capitalismo e hipervigilância parece ser a leitura obrigatória do momento. Cavear lector: a análise de Evgeni Morozov é longa e detalhada, e critica-a por inconsistências ideológicas.

Time, Motion, and Awe in Regards to Moving Pictures: Não é fácil para nós, habituados à banalização da imagem em movimento, perceber o impacto visual e psicológico que tiveram os primeiros filmes. Especialmente pela possibilidade de ver ao contrário, inverter o sentido do tempo. Por outro lado, sempre que um novo media nos deslumbra - pensem a primeira vez que viram um filme em 3D estereoscópico, ou mergulharam em realidade virtual, sentiram algo similar àqueles que, há mais de cem anos trás, viram tudo o que conheciam graças à sua perceção desafiado pelas imagens projetadas na tela.

A LITTLE DIGITAL PIRACY BOOSTS THE BOTTOM LINE: A questão da pirataria não é linear. Se os detentores de propriedade intelectual nos querem fazer crer que qualquer download é matá-los à fome, na realidade as coisas têm nuances. Há a partilha como forma de gerar interesse, garantindo que o produto seja selecionado como conteúdo em canais. Esta investigação mostra outro efeito, sobre preços e acessibilidade. E há ainda outra vertente, pouco falada: pirataria como forma de conhecer/aceder a conteúdos indisponíveis, raros, com pouco interesse comercial ou de nicho.

OPERATION BACKFIRE: WITNESS TO THE ROCKET AGE: No fim da II Guerra, americanos e russos apressaram-se a agarrar os mentores e técnicos da construção de mísseis, foguetões, aviões a jato e outros projetos. E os restantes aliados? No caso britânico, restou-lhes capturar alguns soldados capazes de disparar mísseis V2. Documentaram o processo, e é algo que hoje nos parece extremamente primitivo. Há que sorrir perante as descrições de soldados a fumar enquanto despejam combustível para os depósitos dos mísseis. No entanto, apesar do aspeto rudimentar, foi assim que se começaram a desenvolver as modernas técnicas aeroespaciais de lançamento de foguetões.

Money Machines An Interview with an Anonymous Algorithmic Trader: O trading algorítmico explicado por quem o utiliza. Versão resumida: a Inteligência Artificial vai ter um impacto enorme nos serviços financeiros. Aliás, já o está a ter, com a adoção progressiva de sistemas de decisão de operações de bolsa automatizados.

HERÓIS INESQUECÍVEIS (61) - FLASH GORDON: O Blogue de BD recorda-nos um dos grandes heróis da era de ouro da BD. Recorda algumas das suas edições portuguesas, e dá-nos algumas curiosidades. Como, por exemplo, descobrir que nos tempos do antigo regime o personagem teve o nome adaptado para o mais lusitano Roldão o Temerário.

Google pays more in EU fines than it does in taxes: O que não significa que a Google esteja a pagar multas assim tão altíssimas. É mais o resultado da engenharia financeira de trocar fluxos de lucros entre países para obter a chamada competitividade fiscal, ou seja, formas de pagar o mínimo dos mínimos em impostos. Algo que é prática comum na economia contemporânea, e uma das raízes dos problemas que sentimos, hoje. Quando entidades fazem lucros milionários mas não contribuem para o bem comum, todos perdemos.

Dozens of Cities Have Secretly Experimented With Predictive Policing Software: É um dos usos mais polémicos da inteligência artificial. O policiamento preditivo parece uma boa ideia, como forma de apoio à decisão e permitindo aos agentes de segurança alocar recursos de forma eficaz. O problema está na forma como o faz. Baseia-se na recolha de dados de crimes cometidos, cruzados com áreas geográficas. Mas se essa recolha de dados for enviesada, o uso destes sistemas aumenta o risco de perpetuação de estereótipos, preconceitos e zonas de pobreza.

Are Cyborgs Already Here? An Intro to the Debate and Why It Matters:  Apesar de não andar aí ninguém pelas ruas com óbvios implantes tecnológicos, é de observar que são poucos, hoje em dia, que não dependem de algum recurso tecnológico para o seu dia a dia. Algo que tanto pode ir do avançado implante médico, à já banalizada externalização da memória para dispositivos móveis ligados à internet. Aliás, no que toca a esta última, diria que são poucos os que escapam ao we are borg, you will be assimilated.