quarta-feira, 20 de março de 2019

Romance de Amadis


Afonso Lopes Vieira (1998). Romance de Amadis. Lisboa: Ulmeiro.

Vou contabilizar este como o meu primeiro encontro com um romance de cavalaria medieval. E, de caminho, contar mais um livro Leiturtuga. Finalizada a leitura, confesso ter ficado curioso quanto à sua origem. Os prefácios desta edição da Ulmeiro, atribuem-na a um trovador português, provavelmente aquele que passou ao papel uma versão coerente de histórias dispersas sobre as aventuras do cavaleiro Amadis. Esta edição, organizada nos anos 20 do século XX, é em si uma versão reduzida, organizada pelo poeta Afonso Vieira como uma espécie de reivindicação nacionalista da autoria portuguesa da gesta. Para além de me levar a conhecer o texto, abriu o apetite para a edição em dois volumes que a Imaginauta se prepara para editar, que ao contrário desta, não faz cortes ao texto original.

Quanto às histórias em si, são narrativas de aventura medieva que descrevem as gestas de Amadis. Não são muito elaboradas, e nelas o herói sempre triunfa, embora não seja imune aos perigos. Talvez o maior seja o seu amor, correspondido, pela bela princesa Oriana. Uma paixão que encontrará vários obstáculos, desde mal-entendidos à vontade do seu pai em casá-la com um príncipe romano. É assim que termina esta edição, com um corajoso resgate em que Amadis e os seus amigos derrotam em alto mar os romanos, recuperando a princesa que ama.

Talvez o pormenor mais inesperado neste texto, para mim, foi a leveza com que fala de amores num sentido curiosamente pouco eufemístico. Dada a época em que foi escrito, esperava algo mais moralista. E se as referências à religião e temência à deus são constantes no texto, a moral faz pausas nas relações entre homens e mulheres. Prova disso é a própria origem de Amadis, abandonado quando bebé por ser filho fora do casamento, fruto dos amores entre uma princesa e um cavaleiro. Um elemento muito patente nas histórias de Amadis e Oriana. Quando este a salva das garras de um temível feiticeiro, há um momento em que repousam, cansados, num prado, e ela deita-se donzela mas levanta-se dona (se não perceberam esta, acho que nem com um desenho lá vão). Mais à frente, os dois enamorados vivem juntos num castelo. Esperava um moralismo mais convencional num texto vindo da época medieval.