quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Dylan Dog Granderistampa #73


Tito Faraci, et al (2018). Dylan Dog Granderistampa #73. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Il grande sonno: Uma aventura que mistura horror e humor num registo de fina ironia. Dylan é contratado por uma não muito bonita jovem funcionária pública, para saber do seu noivo, que desapareceu com as suas poupanças. Parece um caso típico de um escroque que se aproveita de uma mulher solitária, e de facto o noivo em fuga tem alguns problemas com um par de criminosos. Mas o horror oculta-se no tranquilo subúrbio onde vive a jovem. Antigo lugar de crenças e magias, alguns dos seus habitantes mantém vivo o culto a um ser demoníaco. Uma seita que se oculta sob a plácida aparência de vizinhos metediços de um tranquilo subúrbio. Dylan aqui anda mais como mero investigador, mas acaba por tropeçar no terror suburbano. E o noivo em fuga acabará por se revelar como um escroque cheio de boas intenções. Uma história divertida, que vive da ironia,

L’incubo dipinto: Dylan encontra-se no país de gales, a investigar mistérios relacionados com um pintor maldito, famoso pelos retratos que fazia a moribundos. Cruza-se com uma ex-amante, com a qual tem uma relação complicada. Entretanto, estranhas e sangrentas mortes ocorrem na vila. No final, o próprio Dylan se verá ameaçado de morte pela ex-amante, que se mostrará possuída pela Morte. Esta entidade tem um passatempo de vaidade macabra, possuindo o corpo de artistas para retratar o seu trabalho. É um argumento algo infantil, que não faz jus à personagem.


La decima vittima: Anda um serial killer à solta na cidade de Londres, e uma namorada de Dylan Dog é uma das suas vítimas. Todo o mistério gira à volta de um livro de contos de terror, cujas páginas contém a antevisão das mortes violentas. Com um pormenor sobrenatural: a leitura que cada vítima faz determina a morte da próxima vítima. O mistério inicia-se nos esforços falhados de um escritor que viria a ganhar sucesso como autor de romances cor de rosa, mas esse sucesso mostra-se ser uma instrumentalização de um sinistro livreiro, que se compraz em encontrar escritores falhados para lhes libertar os demónios, e provocar mortes em série. Uma aventura bem contada, que nos surpreende a cada novo evoluir da história.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

It’s Complicated


Fiquei surpreendido pelo tom crítico, límpido e certeiro, deste livro. Habitualmente, quando o assunto é tecnologia e adolescentes, e especialmente se for internet, redes sociais, tecnologias móveis, crianças e adolescentes, o tom é catastrofista. A invocação do perigo de crianças alienadas, presas aos seus dispositivos, presas fáceis de predadores ou viciadas nas recompensas emocionais das redes sociais é constante. E, muitas vezes, partilhada e discutida em tom alarmista nas redes sociais pelos seus utilizadores, o que para mim é uma daquelas finas ironias da vida digital.

Boyd segue outro caminho. Em vez de alarmismo perante perceções de fundamentos duvidosos, investigou e fez essa outra coisa rara quando se fala de crianças e adolescentes nestes contextos: escutou-os, analisando padrões de uso e comportamentos online face ao que pensavam. O que emerge, das entrevistas e análises da autora, é um padrão consistente de ideias que desmonta as visões catastrofistas, e também as otimistas, quando de fala de crianças e tecnologia.

Desmonta a ideia dos nativos digitais, apontando que usar tecnologias em si não implica fluência, sentido crítico ou verdadeira capacidade de apropriação da tecnologia. Cruza a perceção que temos dos adolescentes como viciados nos telemóveis demonstrando que de fato, mensagens e redes tornam-se cada vez mais os únicos espaços onde os jovens podem interagir livremente, sem mediação pela sobrecarga de atividades estruturadas na escola e extra-curriculares. Sempre ocupados com isto ou com aquilo, com o pouco tempo livre mediado pelos pais protetores, usam as redes para fazer aquilo que todos precisamos de fazer para crescer: interagir com os pares em ambientes livres.

Os padrões de uso são também interessantes. Os meios privilegiados são muito privados, que colocam os utilizadores em contato com grupos de amizades com diferentes níveis de proximidade, mas que têm em comum a localização geográfica. São os colegas e amigos com que se cruzam no seu dia a dia. Quando usam redes mais alargadas, fazem-no de forma consciente para gerir as perceções dos adultos. Traduzindo: ao colocarem mensagens numa rede como o facebook, sabem que vão ser lidos pelos pais, família ou professores, e ajustam a mensagem nesse sentido, enquanto as interações livres seguem via chat. O uso de imagem, ao contrário da ideia de exibicionismo perigoso propalada pelos media, é também feito com intenções claras, com restrições ao que é acessível a todos (bate certo: ao visitar o perfil dos meus alunos que me seguem no instagram, ele é invariavelmente definido como privado, só os que lhes pedirem amizade, e aceitarem, poderão ver o que publicam), enquanto que nalguns há uma intenção clara de criar imagens públicas.

Os contextos não estão isentos de problemas. O bullying e sexting são os mais notórios, mas a autora também aponta para estratificações sociais e étnicas (há um caso especialmente notável, de um miúdo de bairros sociais, que tem dois perfis: um público, de mauzão gangsta, que precisa para sobreviver no ambiente problemático onde vive, enquanto que em privado aprofunda o que realmente lhe interessa, interesses académicos). Boyd aponta para, na generalidade, uma gestão cuidada feita pelos adolescentes para evitar problemas na vida digital. Talvez os mais comuns sejam os da perceção que os adultos, que não partilham dos mesmos códigos culturais e sociais, têm do que os adolescentes publicam. Finalmente, nota que estes meios digitais são a forma que os adolescentes têm de fazer engajamento social e cívico.

Boyd traça um retrato positivo da interação entre adolescentes e tecnologias. O estudo começa nos tempos do MySpace e acaba nos do Facebook, mas a autora está mais interessada em falar de padrões de comportamento constantes do que formas de usar determinadas aplicações. É um relato sóbrio, alicerçado na realidade, que desmistifica mitos e conclui, ironicamente logo no prefácio, que the kids are allright, e que os adultos têm de ter a consciência de os guiar na fluência digital e apropriação tecnológica, deixando-os evoluir as suas próprias formas de estar sociais.

Citações:

Social media plays a crucial role in the lives of networked teens. Although the specific technologies change, they collectively provide teens with a space to hang out and connect with friends. (p.14)

 engagement with social media is simply an everyday part of life, akin to watching television and using the phone 8p.16)

They take content out of context to interpret it through the lens of adults’ values and feel as though they have the right to shame youth because that content was available in the first place. In doing so, they ignore teens’ privacy while undermining their struggles to manage their identity. (p.53)

“When [adults] see [our photo albums] or when they see conversations on Facebook wall to wall, they think that it’s this huge breach of privacy. I just think it’s different.... I think privacy is more just you choosing what you want to keep to yourself.” Alicia is not giving up on privacy just because she chooses to share broadly. Instead, she believes that she can achieve privacy by choosing what not to share. (p. 63)

Teen “addiction” to social media is a new extension of typical human engagement. Their use of social media as their primary site of sociality is most often a byproduct of cultural dynamics that have nothing to do with technology, including parental restrictions and highly scheduled lives. Teens turn to, and are obsessed with, whichever environment allows them to connect to friends. Most teens aren’t addicted to social media; if anything, they’re addicted to each other. (p. 77)

Being “addicted” to information and people is part of the human condition: it arises from a healthy desire to be aware of surroundings and to connect to society. The more opportunities there are to access information and connect to people, the more people embrace those situations. Whereas the colloquial term news junkie refers to people who rabidly consume journalistic coverage, I’ve never met a parent who worried that their child read the newspaper too often. Parents sometimes tease their children for being “bookworms,” but they don’t fret about their mental health. But when teens spend hours surfing the web, jumping from website to website, this often prompts concern. Parents lament their own busy schedules and lack of free time but dismiss similar sentiments from their children. (p.88)

Information literacy is not simply about the structural means of access but also about the experience to know where to look, the skills to interpret what’s available, and the knowledge to put new pieces of information into context. In a world where information is easily available, strong personal networks and access to helpful people often matter more than access to the information itself. (p.156)

Being exposed to information or imagery through the internet and engaging with social media do not make someone a savvy interpreter of the meaning behind these artifacts. (p. 160)

Boyd, D. (2014). It’s Complicated : the social lives of networked teens. New Haven: Yale University Press.

domingo, 25 de novembro de 2018

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Acqua Alta, or Venice Underwater: Veneza semi-submersa, pelo efeito das marés que provocam cheias. Imagens românticas, mas que sublinham a fragilidade da cidade no contexto do aquecimento global.

Doin’ The Mash: Arquivar em coisas inúteis que não sabíamos que precisamos de saber. Uma história do Monster Mash, um daqueles vírus sonoros dos anos 50 que se tornou a canção icónica do halloween.


MiGs & Match: Abandoned Albanian Airbase Exposed: Um docinho quer para os amantes de urban exploration, quer para os de aviação. Praticamente toda uma frota aérea da força aérea albanesa, semi-abandonada na base de Kucove.

The Humanification of Pet Food Is Nearly Complete: Podemos ler este artigo de várias formas. Haverá quem lamente a decadência moral dos donos de animais de estimação, que antropomorfizam em excesso os seus queridos bichinhos. Ou quem perceba que estes produtos são uma resposta do mercado a um público específico, que cuida dos seus animais de estimação. Pessoalmente, sou dono orgulhoso e feliz de uma cadela algo destrambelhada. Compreendo a lógica biológica por detrás da minha ligação com o animal, também a chamo de bebé e outros epítetos antropomórficos igualmente infantilizantes. Mas não perco de vista o fato de, ser, essencialmente, um cão, uma espécie com o seu nível de inteligência e emoções, impossíveis de compreender ao seu nível mais profundo. Suspeito que o mesmo se passa com todos aqueles que, como eu, escolhem ter na sua vida um animal de estimação. Por muito que os antropormifizemos (hey, acho que bati um recorde pessoal de uso deste conceito), não perdemos a noção do que realmente são. E agora se me desculparem, vou só ali fazer muitas festas à minha pequenina, mas grande de tamanho, Alice. Sim, dei-lhe um nome humano, mas não fiquem desconsoladas (ou orgulhosas), Alices deste mundo. Quem me conhece sabe que gosto de meter referências literárias fantásticas em tudo o que posso, e este nome referencia... vá lá, sabem, está na ponta da língua. E sim, já tive (por breves momentos, mas essa é uma história deprimente que fica para outros dias) um gato. Chamei-lhe de Schrodinger.

The Myth of ‘Dumbing Down’: Ian Bogost a ser certeiro. Desmonta o mito da estupidificação dos meios populares de divulgação de informação. Recorda-nos que ao escrever sobre os temas nos quais somos especializados para outros públicos temos de pensar que as bases comuns de conhecimento, os dados adquiridos, que nos permitem ir diretamente ao assunto, não existem. Que o simplificar não significa estupidificar, antes pelo contrário, é necessário para transmitir a mensagem de forma eficaz: "The whole reason to reach people who don’t know what you know, as an expert, is so that they might know about it. Giving them reason to care, process, and understand is precisely the point".



The Magazine of the Institute of Contemporary Arts, 5: Cybernetic Serendipity (1968): Em 68, aconteceu uma exposição seminal nos domínios da arte digital, aliás, a primeira exposição de arte criada utilizando meios computacionais. O Monoskop.log, que se dedica à preservação digital da memória da filosofia da arte, arquivou agora uma edição especial da revista do Institute for Contemporary Arts dedicada à exposição. Leitura obrigatória, para os que se interessam pelas histórias da computação e da arte. É de notar, com amargura, que ainda hoje, mesmo entre os meios com maior nível de educação e formação, o conceito de arte digital continua a oscilar entre o difícil de digerir e o inaceitável.

How to Write Consent in Romance Novels: É possível conciliar a ideia de respeito mútuo em relações com o romance clássico? Aparentemente, sim. Longe vão os tempos onde os romances cor de rosa eram fantasias masculinas onde as mulheres se derretiam, levadas pela força máscula dos heróis. Hoje chamamos a isso coerção, e ainda bem, quer dizer que os tempos e as atitudes evoluíram. Podemos ridicularizar o facto de hoje, o príncipe beijar a bela adormecida ser considerado como violação, mas se olharmos a coisa friamente, trata-se de um homem que entra numa caverna, vê uma mulher hirta, e a beija (aqui poder-se-ia falar dos contos de fadas, diluídos entre a bonomia dos irmãos Grimm e o impulso comercial da Disney, como histórias de aprendizagem de normas sociais e aviso de perigos). Rejeitar o passado porque não se coaduna com os pressupostos morais contemporâneos é estúpido, tal como o é insistir manter ideias que evoluem. Pessoalmente, não vou desatar a ler romances cor-de-rosa, mas fico contente por saber que o estilo, os escritores, as narrativas e personagens amadureceram. E sem exageros puritanos ao estilo #metoo.

Para além da Internet das Coisas: Nada como um conto curto do João Ventura para nos fazer sorrir, e pensar. Se puderem, procurem o livro Tudo isto Existe, uma delícia literária que colige vários dos contos deste discreto, mas muito interessante, autor.

Bram Stoker's reference materials for Dracula discovered at the London Library: Mesmo a tempo do halloween, as referências que Stoker utilizou para o seu clássico, em livros anotados esquecidos numa biblioteca londrina.

Bitcoin Mining Alone Could Raise Global Temperatures Above Critical Limit By 2033: Ah, que bom. Para além do caráter de especulação pura, ainda há isto. A mineração de bitcoin exige tanto consumo de energia que, se a criptomoeda for adotada com o ritmo a que normalmente adotamos novas tecnologias, poderá contribuir para uma subida irreversível da temperatura média global. Mas que se lixe o planeta, certo? O que interessa é ficar rico, e se se ficar mesmo rico, vai dar sempre para fugir para Marte, certo?



The First Car in the World Was Hilariously Bad and Awful and Brilliant: Grande, feio, a vapor... pensado para puxar canhões, e na verdade o primeiro exemplo de veículo motorizado. O fardier a vapeur de Cugnot deveria ser uma bela geringonça em andamento.

Roadside Picnic: Inspirado na obra homónima dos irmãos Strugatsky, o ilustrador Luís Melo criou esta curta metragem experimental, que teve estreia na edição de 2018 do Fórum Fantástico.

A ordem do tempo e a impermanência do real: Abriu o apetite para esta leitura. O livro de Rovelli anda a tentar-me, e com esta recensão, a curiosidade aguçou-se.

The Bitter Class Struggle Behind Our Definition of a Kilogram: Nunca me tinha apercebido que o estabelecimento de padrões métricos pudesse ser enquadrado em termos sociológicos, de luta de classes. Mas faz sentido. Ter uma medida padrão acaba com medidas arbitrárias, estabelecidas e definidas por quem está por cima nas relações de poder. Um metro é sempre um metro, ao contrário das unidades antigas que veio substituir, geridas ao sabor das vontades de quem as usava. A padronização não foi só uma necessidade para a então nascente era industrial, mas também uma medida de justiça social.

Proteger os planetas, e mais além!: Como é que se protegem os objetos celestes da contaminação de microorganismos terrestres, que poderão ir à boleia dos artefatos que lançamos para o espaço? A microbióloga Marta Cortesão explica, e muito bem, no Bit2Geek.

Does art have any relevance “in the Age of AI”?: Não um debate, antes notas soltas de um encontro de artistas que discutiu o impacto das tecnologias emergentes nas dimensões de expressão artística. Tl;dr: sim, a relevância continua, podemos cair no facilitismo de pensar que os algoritmos de IA desenvolvem arte, mas na verdade quando falamos de impacto da arte estamos a falar na forma como um artista organiza as suas perceções, pensamento e filosofia num objeto concreto, e com isso nos desafia estética e conceptualmente. As tecnologias per se não conseguem isso. O melhor algoritmo só reconhece dados, não extrai deles significado. E podem ser utilizados como mais um meio de expressão.


An artificial intelligence populated these photos with glitchy humanoid ghosts: Mesmo a tempo do Halloween (notem que há um desfasamento intencional entre eu recolher estes artigos e partilhá-los). Um algortimo de IA que tenta inserir representações humanas em fotografias, gerando verdadeiras fantasmagorias como resultados.

Livro "Introdução a Realidade Virtual e Aumentada": O trabalho do investigador brasileiro Romero Tori foi-me muito importante nos tempos em que andava mergulhado na tese de mestrado. Neste livro, reúne comunicações do mais recente evento científico brasileiro dedicado à investigação em RV e RA.

Researchers Created an 'AI Physicist' That Can Derive the Laws of Physics in Imaginary Universes: Isto é divertido. Desenvolver algortimos capazes de inferir, usando metodologias de investigação, o comportamento de objetos sujeitos às leis da física de universos simulados. Um método que dá um passo em direção ao uso de IA em apoio à investigação científica.

Myths of the Gig Economy, Corrected: Que surpresa. Parece que as pessoas preferem ter um emprego estável e carreira do que alinhar no modelo Uber.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

H-alt: Apocryphus #03 Femme Power


Ao longo das suas três edições, a Apocryphus tem revelado uma grande consistência. Desafia criadores a escrever e ilustrar histórias originais, sempre com um marcado critério de qualidade. Nota-se da parte do editor um esforço constante no sentido de criar mais um espaço de publicação de banda desenhada portuguesa, com edição criteriosa e cuidada. Este terceiro volume mantém o excelente nível a que já nos habituou. Recensão completa na H-alt | Apocryphus Vol. 3: Femme Power

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Disney Clássicos da Literatura Universal Vol. 5



Tito Faraci, et al (2018). Disney Clássicos da Literatura Universal Vol. 5. Lisboa: Goody.

Neste quinto volume da coleção, a Goody fecha-a com chave de ouro. Se a primeira história, uma vénia a Asterix, não se desvia muito do padrão, finaliza com uma homenagem à Balada do Mar Salgado. A obra seminal de Hugo Pratt é revista sob o traço de Giorgio Cavazzano, ilustrador que consegue a rara proeza de conferir um estilo expressivo e pessoal dentro dos padrões visões a que os desenhadores que trabalham para a Disney estão obrigados. Diga-se que Mickey dá um excelente Corto Maltese, e apesar do argumento simplificar muito a obra (como não poderia deixar de ser, é para crianças), não perde algumas das nuances morais que também estão presentes na obra original.

Coleção finda, é de notar que se a Goody perdeu de todo o controle às suas edições Marvel (vai para meses que não chegam às bancas), tem sabido manter as da Disney. Questão de recursos humanos, falha de gestão, ou sinal que algo se passa com esta vertente da editora?

domingo, 18 de novembro de 2018

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I'm a Car: Bem, se os veículos autónomos ganharem personalidade...

Matters of Tolerance: São os pequenos pormenores que definem as grandes coisas. Fala-se aqui de tolerância, não no sentido social do termo, mas no lado técnico. Uma curta história do rigor na engenharia e fabricação, que tornou possível a maquinaria de precisão de que dependemos para o mundo contemporâneo, tecnologicamente avançado.

Algoritmo Mestre: É, de fato, one hell of a book. Daqueles que terei de reler, para compreender o que se passa atualmente nos domínios da IA.

The future of photography is code: Como é que se espreme mais das imagens digitais? Com os limites óticos atingidos, é no software que está a próxima fronteira técnica da fotografia.

Exploring the Future Beyond Cyberpunk’s Neon and Noir: O que é que há nos domínios da ficção científica que nos permita extrapolar e especular sobre futuros. Com a decrepitude óbvia do cyberpunk, há outros movimentos mais atuais, que nos podem orientar sobre como procurar formas de compreender a aceleração do momento presente.

WHY ARE SPACEX AND BOEING’S COMMERCIAL CREW PROGRAM SPACESUIT DESIGNS DIFFERENT?: Bem, porque se fossem iguais, como é que distinguiríamos os estilos da indústria aeroespacial tradicional das novas competidoras? E, pelo caminho, uma explicação sobre as cores garridas dos trajes dos astronautas. Para que servem? As cores não são escolhas estéticas, tem a ver com a segurança dos astronautas.

The Real Horror in The Haunting of Hill House: É uma vergonha. Ainda não consegui ler este livro, apesar de ser um daqueles que me recordo constantemente que tenho de colocar na lista de leituras. Já a adaptação televisiva está a causar espanto, parece que é mesmo arrepiante. Suspeito que terei de inventar tempo para ver...


19 Amazing Vintage Photos That Show How People Worked Before AutoCAD: Ah, então era assim que se fazia antes do 3D, AutoCAD, CATIA e Onshape? Eu, ainda me lembro de aprender a desenhar com tira-linhas, e da borrada que isso fazia nas folhas.

Who Gets to Go to Space?: Parece que, aparentemente, só os um percentistas. A exploração espacial está a passar de investimento institucional para recreio de bilionários. Nada de mal com isso, mas note-se que há uma diferença entre desenvolvimento sustentado e o interesse dos indivíduos. Sem dúvida que os players privados têm lugar na exploração espacial, mas não me parece boa ideia nortear algo que é tão decisivo para a humanidade apenas pelos desejos de alguns privilegiados.

Computational Propaganda Techniques: Um resumo muito bem feito, pelo EPRS, das técnicas computacionais de propaganda que desestabilizam os fluxos de informação, essenciais para o exercer de cidadania informada nas sociedades democráticas.

Vygotsky: Imaginação e Criatividade: Citações da obra de um psicólogo que, nos anos 30, se debruçou sobre o problema da aprendizagem e conhecimento, tal como Piaget. Intuiu as relações entre aprendizagem e relações sociais, e apontou para a necessidade de se desafiar as crianças com tarefas de aprendizagem que estão um pouco à frente do que aquilo que são capazes de fazer. Esse conceito, zona de desenvolvimento proximal, é talvez a mais certeira das ideias sobre pedagogia e educação vindas do século XX. É algo que vejo acontecer todos os dias na minha sala de aula, ou nas atividades de robótica que dinamizo. O mais incrível é que se tratava de um psicólogo a trabalhar nos confundios da União Soviética, nos anos 30 do século XX. Vygostky deixou-nos cedo, mas legou-nos talvez aquela que será, das teorias sobre pedagogia e aprendizagem, a que o tempo não se encarrega de fazer esquecer.

A Guide to Horror Master Dario Argento, Director of the Original Suspiria: Um daqueles apanhados que me dá vontade de parar tudo, ir às torrrentes e passar o resto do dia a ver e rever a obra de um dos mais surreais realizadores de cinema de terror italiano.

AI’s first pop album ushers in a new musical era: Não estaria a ser mmauzinho se dissesse que grande parte da música pop comercial pode perfeitamente ser feita por um algoritmo, e não tem de ser especialmente complexo. Não é nada de novo, música a metro sempre houve desde que intermediários se aperceberam que podiam enriquecer vendendo rodelinhas de vinil e, posteriormente, prateadas, aos montes. Estas colaborações entre músicos e IA vão mais longe, trata-se de usar algoritmos em conjunto com o trabalho do músico humano. São um bom exemplo do que é um sistema centauro, que mescla as capacidades das inteligências humana e artificial.

From Post-Truth To Post-Trust?: Deve estar para haver em Bruxelas alguma discussão sobre os problemas que as tecnologias digitais estão a trazer aos fluxos de informação que sustentam as democracias. Uma excelente análise ao conceito de "pós-verdade" e o problema que traz nos domínios da confiança.

The First Novel Written by AI Is Here—and It’s as Weird as You’d Expect It to Be: Mas não tremam, aspirantes a romancistas. Há uma diferença entre um programa capaz de interpretar dados e os mostrar usando análises estatísticas de palavras, e alguém que coloca os seus sentimentos e perceções em palavras. A IA apenas conjuga dados, não compreende o significado do que está a produzir.

Melpomene: Bagabone, Hem ‘I Die Now (1980): E já que falamos em romances escritos por IA, o sempre excecional Monoskop.log deixou um link para a primeira de todas as experiências de literatura recorrendo a IA, vinda dos longínquos anos 80 do século XX. Ou então, a coisa não passou de um elaborado embuste.

sábado, 17 de novembro de 2018

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Martin Mystère #359: Il custode delle sette vette



Alfredo Castelli, Paolo Ongaro (2018). Martin Mystère #359: Il custode delle sette vette. Milão: Sergio Bonelli Editore.

É curioso notar como Martin Mystère é uma personagem antiquada. Vem-nos diretamente de um outro tempo, tem muito mais a ver com a aventura clássica de banda desenhada do que com a contemporânea. A estrutura narrativa do cavalheiro solteiro, de inclinações literárias, que vive aventuras misteriosas com um fiel companheiro é algo que caracterizou a literatura e BD de aventuras de outros tempos. Para salientar mais o caráter classicista, os mistérios que Mystère investiga têm muito a ver com os mitos da Atlântida, com os vestígios daquela que na mitografia de Castelli, o seu argumentista de sempre, era uma civilização passada de alta tecnologia que deixou inúmeros resquícios e vestígios. As tramas são sempre elaboradas fugas a um clímax final. Diria que Castelli mantém viva na Casa Bonelli a tradição narrativa dos clássicos Blake e Mortimer, ou outras parelhas clássicas de aventuras com o misterioso.

Este Il custode delle sette vette não foge ao esquema, narra as desventuras de um descendente indireto de Aleyster Crowley que, durante um trekking no sopé do K2, é visitado por uma misteriosa visão que lhe dá um artefato inusitado. Parte daí uma história que envolve os antepassados do descendente, indianos em busca de riqueza, e a descoberta de uma base perdida atlante, cheia de robots encarregues de encher uma nave espacial tipo arca de noé.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Clássicos da Literatura Universal Vol. 4



Fraçois Cortegianni, et al (2018). Dsney Clássicos da Literatura Universal Vol. 4. Lisboa: Goody.

Novamente, este volume da coleção não traz nada de especial, apenas republica histórias das revistas da linha disney. Nada contra, até são divertidas inspirações na literatura que intrigam as crianças, mas falta o cuidado gráfico e narrativo que permitira considerar estas histórias como verdadeiras adaptações de clássicos. Neste volume temos histórias que se inspiram em Mundo Perdido de Conan Doyle e La Morte d'Arthur. Este segundo foca-se numa tábua redonda que sacia os mais glutões. A vénia do argumentista Cortegianni às aventuras do Professor Challenger é até uma história bem divertida e conseguida, bastante fiel ao original.

domingo, 11 de novembro de 2018

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Seven Square Miles: A geografia, reduzida à abstração estética e pictórica. Em cada foto, sete milhas quadradas do nosso planeta.

MOMENTOS ESSENCIAIS DO CINEMA DE FICÇÃO CIENTÍFICA: Este texto do João Seixas quase me convence a gostar da série Planeta dos Macacos.

Rise of robots ‘could see workers enjoy four-day weeks’: Ou então serem reduzidos à pobreza extrema, inimpregabilidade e estatuto de humanos excedentários. Estas questões não são uma consequência do inexorável progresso da tecnologia. São escolhas sociais. Podemos adotar a robótica para avançar a agenda neoliberal de lucro fácil a todo o custo, onde qualquer coisa que não distribue riqueza para os bolsos dos um percentistas e seus acólitos é visto como uma heresia, ou podemos, realmente, libertar o ser humano, utilizando a robótica e automação para gerar a riqueza necessária para sustentar a nossa sociedade. O cenário mais negro da redução do humano a quase desperdício numa economia global automatizada, que beneficia uma reduzida elite, só é inevitável se deixarmos que as forças que realmente querem isso se sobreponham nas decisões políticas e económicas (e sempre o quiseram, ao longo da história, se não é a automação é o salário mínimo, horas de trabalho justo, fim de mão de  obra infantil ou esclavagista, droit de seigneur, etc., que isto de argumentos para tentar manter concentrações excessivas de riqueza nas mãos de uns poucos tem sido uma constante histórica).

Why we can’t quit the QWERTY keyboard: Tl;dr:? Porque nos habituámos ao interface que aprendemos a utilizar. De tal forma que é-nos quase impossível mudar, e mesmo que o tentemos, percebemos que temos dificuldades em manter fluidez de escrita.

How trade unions are addressing automation: De forma muito pouco interveniente, parece-me, pelo menos por cá.

The End of the World Is Both Festive and Musical in the Latest Anna and the Apocalypse Trailer: O Nuno Reis tinha razão, quando no Motelx me disse que este filme se ia tornar num clássico de culto. Pessoalmente não o apreciei, apesar do conceito divertido e alguns momentos bem conseguidos, não por ser quirky, mas por achar que tinha falhas técnicas. Mas claramente conquistou os fãs de cinema de terror.


Robots at Work and Play: Ah, parem o que estão a fazer e saboreiem uns momentos de pura tecnoluxúria. Robots, disseram?

Show Us Your Tsundoku!: Dizer a coisa em japonês sempre soa melhor do que "estantes da vergonha", "pilha dos livros esquecidos", ou "monte acumulado que um dia hei de ler"...

THE BOOKISH LIFE: Pois. I can relate. Adorar livros e leitura tem pouco de lógico, muito de sensorial. Divagamos entre livros e ideias, acumulamos páginas, com tempo valorizamos o clássico sobre o contemporâneo.

Don't Panic Over a Bumpy Airplane Landing: Quando o voo começa aos saltos ou na aterragem há sobressaltos, repitam em modo de mantra: os pilotos são treinados para estas situações.


Archaeologists in Pompeii Have Discovered an ‘Enchanted’ Shrine Covered in Gorgeously Preserved Frescoes: Mais fotos das descobertas arqueológicas em Pompeia e Herculano, que trazem à luz maravilhas pictóricas da arte romana.

Entrevistámos um polícia do Facebook em Portugal que impediu coisas horríveis na rede social: Uma leitura que é, de facto, angustiante, não só pelo que o entrevistado nos faz entrever, mas pelas péssimas condições de trabalho dadas a quem tem uma função tão desgastante. Pouco mais do que o salário mínimo para lidar com registos do pior que a humanidade tem, entre suicídios, pornografia violenta, pedofilia, assassinatos, decapitações... ninguém consegue estar exposto a isto e manter a sua sanidade mental. É esta a mão de obra de baixo custo que nos protege, como utilizadores das redes sociais, dos piores conteúdos possíveis.

BARBIE IS WOKE NOW THANKS TO HER NEW VLOG: Ser uma barbie girl no barbie world de hoje... é vestir um rig de motion capture e incorporar uma boneca virtual, extensão digital de um ícone. Hoje, já não chega ser um objeto tangível, é preciso incorporar no virtual.

What next for photography in the age of Instagram?: Confesso que é mesmo o que prefiro no Instagram. A gigantesca diversidade de pontos de vista, o trabalho fenomenal de fotógrafos, alguns profissionais, outros vernaculares. O lado instantâneo da fotografia digital via smartphone veio alterar radicalmente as questões levantadas por esta forma de arte.


Daily Life of Robots by Nicolas Bigot: Um ensaio fotográfico bastante banal, embora visualmente interessante, sobre o nosso futuro robótico. É banal por assumir que a robótica é fundamentalmente antropomórfica.

The Absurdity of the First Man Flag Controversy: Já fui ver o filme e é esplendoroso, um hino à ciência, tecnologia, engenharia, espírito de missão e equipa. Não doura a pílula, não mostra a exploração espacial como algo de heróico e glamoroso, antes, mostra como depende de enormes esforços colaborativos, é perigosa e violenta. A fotografia é excecional. Um hino à exploração espacial, curiosidade científica e humana, e excelente homenagem a Neil Armstrong. No entanto, com as culture wars americanas, o que se debate por lá é o filme não ser patriótico porque não tem uma cena do implantar da stars and stripes no solo lunar, de preferência com uma banda sonora épica. Enfim, idiotas serão idiotas.

How Fish and Chips Migrated to Great Britain: Espera, o so very british fish 'n'chips tem origem... portuguesa? Na parte do fish claro, como prato levado para inglaterra pelos judeus expulsos da península ibérica nos tempos do rei D. Manuel I.

100 Websites That Shaped the Internet as We Know It: Literalmente, cem websites. E se a sociedade como a conhecemos foi irremediavelmente transformada pelo hotmail, altavista, 4chan ou facebook, a inocência da internet perdeu-se quando se descobriu o goatse (acreditem, não vão descobrir o que isto foi).

“Factfulness” (2018), factos e comunicação: Recensão de Nelson Zagalo ao último livro de Hans Rosling.

Rethinking AI through the politics of 1968: Muitas observações acertadas por aqui, e eu sem tempo para as comentar. Mas, essencialmente, desmistifica a suposta sapiência da IA:

"They are playing Go better than grand masters and preparing to drive everyone's car, while the media panics about AI taking our jobs. But this AI is nothing like HAL. It's a form of pattern-finding based on mathematical minimisation; like a complex version of fitting a straight line to a set of points. These algorithms find the optimal solution when the input data is both plentiful and messy. Algorithms like backpropagation[3] can find patterns in data that were intractable to analytical description, such as recognising human faces seen at different angles, in shadows and with occlusions. The algorithms of AI crunch the correlations and the results often work uncannily well. 

But it's still computers doing what computers have been good at since the days of vacuum tubes; performing mathematical calculations more quickly than us. Thanks to algorithms like neural networks, this calculative power can learn to emulate us in ways we would never have guessed at. This learning can be applied to any context that is boiled down to a set of numbers, such that the features of each example are reduced to a row of digits between zero and one and are labelled by a target outcome. The datasets end up looking pretty much the same whether it's cancer scans or Netflix-viewing figures. 

There's nothing going on inside except maths; no self-awareness and no assimilation of embodied experience. These machines can develop their own unprogrammed behaviours but utterly lack an understanding of whether what they've learned makes sense. And yet, machine learning and AI are becoming the mechanisms of modern reasoning".

E, claro, os dados que alimentam os algoritmos representam problemas de enviesamento e desigualdade:

"The delphic accuracy of AI comes with built-in opacity because massively parallel calculations can't always be reversed to human reasoning, while at the same time it will happily regurgitate society's prejudices when trained on raw social data. It's also mathematically impossible to design an algorithm to be fair to all groups at the same time.

For example, if the reoffending base rates vary by ethnicity, a recidivism algorithm like COMPAS will predict different numbers of false positives and more black people will be unfairly refused bail[6]. The wider impact comes from the way the algorithms proliferate social categorisations such as 'troubled family' or 'student likely to underachieve', fractalising social binaries wherever they divide into 'is' and 'is not'. This isn't only a matter of data dividuals misrepresenting our authentic selves but of technologies of the self that, through repetition, produce subjects and act on them. And, as AI analysis starts overcode MRI scans to force psychosocial symptoms back into the brain, we will even see algorithms play a part in the becoming of our bodies".

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Dylan Dog: nel nome del figlio; Perderai la testa.


Alessandro Bilotta, Gianpiero Casertano (2018). Speciale Dylan Dog n. 32 : nel nome del figlio. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Da primeira vez que li uma aventura de Dylan Dog da série il Pianeta dei Morti, achei que era um one off. Na verdade, trata-se de um universo alternativo onde Alessandro Bilotta cria novas aventuras para um agora verdadeiro old boy. O cenário é pós-apocalíptico. Dylan não conseguiu impedir uma epidemia zombie por ser incapaz de exterminar o primeiro vetor da infeção, o seu assistente Groucho. No entanto, a coisa não é exatamente zombieland. A vida é até bastante normal, apesar dos constantes ataques de zombies, chegando ao ponto de já ninguém ligar aos massacres. Uma perspetiva curiosa, e um recontar do universo de Dylan Dog com velhos personagens revistos, e novos personagens. Nesta aventura, Dylan cruza-se com o fantasma/zombie do seu filho, fruto de uma relação que teve nos primeiros episódios desta série. É, essencialmente, uma aventura de desencontros e mergulhos no passado, onde o tempo literário é difuso, é difícil perceber se estamos no presente da narrativa, se no seu passado, ou se em sonhos.


Barbara Baraldi, Emiliano Tanzillo (2018). Dylan Dog #385: Perderai la testa. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Dylan vê-se envolvido numa aventura que está, decididamente, fora da sua zona de conforto. Paris será o palco de uma história de contornos sangrentos. A decapitação súbita e muito pública de mulheres que usam uma jóia amaldiçoada está ligada com a história do fim de Maria Antonieta, e um joalheiro que usou os diamantes ensanguentados da antiga rainha para criar jóias que apelam aos mais mórbidos. A filha desse joalheiro decidiu que a sua missão de vida era resgatar as jóias, e colocar um ponto final na maldição. É ajudada nisso por uma espécie de Groucho francês, tão absurdo e irritante quanto o companheiro de Dylan Dog. A forma como a jovem decide pedir ajuda a Dylan é que não é das mais recomendáveis: rapta-o em Londres e trá-lo para Paris.

A história é divertida, dentro do esperado na série, mas o que se destaca mais é o trabalho gráfico do ilustrador Emiliano Tanzillo. Expressivo e elegante, exímio a retratar o encanto de Paris.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

H-alt: Jardim dos Espectros


Há aqueles raros livros que funcionam tal e qual como saem da mente, e do traço, dos seus criadores. Este Jardim dos Espectros é uma dessas exceções. Fiquei surpreendido com a idade do autor, o trabalho que mostra neste livro revela uma maturidade narrativa e gráfica muito elevada. Recensão completa na H-alt: Jardim dos Espectros.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Robótica e Trabalho: O Futuro Hoje


António Moniz (2018). Robótica e Trabalho: O Futuro Hoje. Lisboa: Glaciar.

O intrigante neste livro é propor-se a fazer um estudo sobre os impactos da robótica na economia portuguesa. Algo que consegue, de forma difusa, num misto de escassez de dados disponíveis e tendência muito recente da introdução de tecnologias de robótica na indústria e serviços por cá. Mas deixa bem claro que está a acontecer, especialmente ao nível de médias e grandes empresas das áreas industriais. É curioso descobrir que os trabalhadores da AutoEuropa reivindicam a sua substituição por robots nalgumas tarefas que trazem danos para a saúde, ou a experiência de pequenas e médias empresas na área metalúrgica, que vêem na robótica um fator decisivo para serem competitivas ao nível global.

Como introdução ao campo da robótica, este livro é muito interessante, especialmente por não ter sido escrito por engenheiros e roboticistas. O autor-coordenador e seus colaboradores são economistas, esta é uma obra sobre tecnologia firmemente ancorada nas ciências sociais. Olham para a tecnologia na perspetiva do impacto económico, dividindo com rigor os campos da automação e da robótica. Socorrem-se dos dados hard, cheios de tabelas cheias de números, que os economistas tanto gostam, e que mostram, mesmo por cá, uma tendência crescente da adoção de robots na economia.

Resta refletir sobre o seu potencial disruptivo no mundo do trabalho. Aqui, o livro mantém-se num sóbrio meio termo entre as visões utopistas e as apocalípticas. Não escondem o fato que a adoção de robots tem impactos diretos na substituição de postos de trabalho, mas apontam para o fato destas máquinas não serem verdadeiramente autónomas, obrigando a recriar postos de trabalho ou a criar novas ocupações. Apontam casos em que trabalhadores substituídos ganham novas funções trabalhando em conjunto com robots, ou novas profissões decorrentes da necessidade de técnicos para lidar com máquinas. É uma visão fluída, longe de alarmismos, que reconhece que a robótica traz impactos ao mundo laboral, mas não numa perspetiva de extermínio de postos de trabalho. Alerta para a apatia dos sindicatos e organizações laborais nestas questões.

Talvez o maior mérito deste livro é ser, tanto quanto sei, o primeiro livro de autores portugueses que aborda estas questões.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Amadora BD 2018


Esta foi a edição em que me perguntei porque raios me dei ao trabalho de pedir acreditação para fotografar o festival sem os assistentes me chatearem, se não há nada de interessante para fotografar. E, também, assinar uma declaração de consentimento no âmbito do RGPD criada pela câmara da Amadora que está mal construída e viola o RGPD.

Já vinha preparado. Os comentários à pobreza franciscana do festival nas redes sociais colocaram-me de sobreaviso. Bem, algum, porque também conheço bem a predisposição dos fãs de BD portugueses para o zurzir no Amadora BD. É uma espécie de desporto do fandom. Mas dou-lhes razão. Ao entrar nos pavilhões do festival, imperava a desolação. A um sábado à tarde, creio que estariam presentes mais pessoas ligadas à organização do que visitantes. Mergulhar nas exposições não me deu muito para ver.


O destaque ao Brasil é um tema deveras contemporâneo, dado o recente contexto de eleições fraturantes no país, e de facto foi uma exposição com sumo, que nos trouxe o trabalho de autores brasileiros contemporâneos. Boa exposição, mas não sei se se justifica como de charneira. Recorde-se que graças à Polvo, parte desses autores já são editados em Portugal, e têm tido mostras em edições anteriores do festival. Esta exposição pouco trazia de novo.

A outra exposição de charneira, dedicada ao autor em destaque, vencedor dos prémios Amadora BD no ano passado, só a consigo definir com um credo!. Não que Sousa Lobo seja um mau desenhador. Aliás, a sua obra é muito pictórica, com um forte sentido plástico. Mas representa um lado muito experimental da banda desenhada que, se deve ter lugar na edição e apreciação crítica, não é muito esplendorosa. Isso estava patente numa exposição fria, austera, um tipo de exposição que vou alegremente ver ao CCB ou ao MAAT, mas que no contexto do Amadora BD, se traduz por um grande vazio. Se calhar estou a ser reducionista e a rejeitar Sousa Lobo por ser demasiado cerebral. Mas, de fato, foi a outra exposição de charneira, que não atraía de forma alguma a atenção. Para rematar, o piso um tinha uma retrospetiva de desenhadores premiados em festivais de banda desenhada europeus.


Os espaços amplos do piso inferior estavam um pouco mais animados, pelas apresentações de livros a decorrer. Já as exposições mantinham o ar desertificado. Destaco, por deprimente afinidade profissional, a dedicada aos cartoons de Álvaro.


As pranchas com o espantoso traço de Luís Louro para o seu mais recente livro.


A mise-en-scene da exposição dedicada a Salazr e Maria, recente edição da Polvo de um autor francês que nos descobriu pelas memórias da sua ama portuguesa.

Ainda neste piso, destacaria algumas excelentes surpresas gráficas no concurso de banda desenhada para alunos do secundário, havia por lá pranchas extraordinárias de miúdos com imenso talento. A exposição antológica de Artur Correia tinha também muito a descobrir, e refletir sobre a história da banda desenhada e ilustração infantil em Portugal.

Chegado ao fim da visita, a sensação foi de ter visto muito pouco. Este foi de facto o Amadora BD menos ambicioso de que me recordo. Não frequento o festival pelos programas paralelos de apresentação de livros e sessões de autógrafos, nada contra, apenas não é a minha cena. As exposições que visitei tinham muito pouco sumo, estavam abaixo do nível esperado do festival. Aliás, sejamos honestos, há bastante tempo que o festival se tem revelado bastante medíocre, embora tenha sempre pontos de interesse. Este ano, o único ponto de interesse foi ter-me abastecido de leituras de BD de autores portugueses e brasileiros (com exceção para Mizuki, e imensa pena por ter deixado ums Breccia muito apetecíveis na Dr. Kartoon, mas a combinação salário merdoso de professor mais propinas da pós-graduação obrigam-me a ser ainda mais cuidadoso este ano). Para ser honesto, as livrarias foram o maior ponto de interesse do festival, este ano.

Poderia ser uma questão menor, mas o Amadora BD não é organizado por amadores (embora pareça). Tem um orçamento substancial, a máquina organizativa de uma Câmara Municipal por detrás, e a projeção de ser o mais internacional dos festivais portugueses. No ambiente cultural português, o Amadora BD é o elefante na sala, mas nos últimos anos tem estado tão acomodado ao estatuto de too big to fail que se reduz, cada vez mais, à insignificância.

domingo, 4 de novembro de 2018

URL



The Expanse Is Back With a Quick, Tantalizing Look at Its Fourth Season: Oh yeah! A melhor série de FC da atualidade sobreviveu ao desinteresse do SyFy channel e mantém-se em continuidade. Está na hora de ir à descoberta do que está para lá do portal no sistema solar (spoilers: terá o seu quê de western, com monstros e artefatos alienígenas). Aqui há dias li de relance o porquê do canal ter largado o seu melhor produto: o contrato não incluía os direitos de streaming, que são agora a componente mais lucrativa do modelo financeiro televisivo.

TWENTY FIVE OF OUR ALL-TIME FAVORITE BOOKS: Uma lista menos interessante do que esperava. Alguns dos clássicos do cyberpunk, entre Sterling, Stephenson e Gibson, algum comentário mais profundo sobre tecnologia, mas o resto é mercados, mercados, mercados. Foi por isto que deixei de lera a Wired em revista, quando o deslumbre superficial pelo hype passou a ser a sua imagem de marca.

Puppy Cuteness Is Perfectly Timed to Manipulate Humans: A fofura dos cachorros como estratégia de sobrevivência, garantindo uma ligação com humanos que lhes permita sobreviver. Como dog person que sou, diria que funcionou.


The first woman Doctor Who to be commemorated with a limited-edition Barbie: Ok, esta não estava a imaginar. Claramente, a produção de Doctor Who anda à procura de outros públicos-alvo. À data em que escrevo estas linhas, a nova temporada acabou de estrear e ainda não vi o primeiro episódio com a nova Doctor, mas os zunzuns que ouvi nas redes dão esperança na série.


BruceS: Functionally Automatic?

Godmother of intelligences: Frankenstein enquanto metáfora, especialmente acutilante na era da robótica e inteligência artificial.



Celebrate NASA’s 60th birthday with these vintage photos from space: Nunca me canso de ver fotos vintage da Terra vista da Lua.

Looking back at Google+: Agora que a Google decidiu declarar defunta a rede social que ninguém usa, diria que acho que passei mais tempo a ler este artigo sobre a história da g+ (que sabe a elegia) do que realmente a usar a rede social...

Rascunhos na Voz Online – Rogério Ribeiro (Fórum Fantástico): Nesta edição, o convidado é o sensei do Fórum Fantástico.

Isto se calhar só lá vai com um empurrãozinho - Grupo LeiTugas: Nada má esta ideia do Jorge Candeias. Eu até alinho, resta saber se invento tempo para isso.

The Autocracy App: Por vezes penso que damos demasiada importância ao papel das redes sociais. Afinal, há vida para lá das apps. Depois lembro-me que vivemos numa realidade mediada por ecrãs (como anteriormente o era pelo ecrã de televisão ou página de jornal) e o quanto as redes sociais se tornaram espaços de discussão e partilha de informação. E, também, como parecem refletir o pior do ser humano, com enviesamentos, exposição pública de ódios, xenofobias, misoginias... creio que o que verdadeiramente nos entristece nas redes sociais é perceber o quão imperfeita é a humanidade. Os resmungos usam a tecnologia são mero bode expiatório para sentimentos de profunda descrença face ao ser humano.

Instagram now uses machine learning to detect bullying within photos: Boa ideia? Má ideia? Por um lado, isto cabe no tipo de filtros de conteúdos que a infame proposta de lei europeia de direitos de autor online quer implementar, embora diria que aqui os propósitos são mais nobres. Por outro lado, ajuda a detetar automaticamente casos graves de bullying. O problema aqui é que me parece que a única coisa que faz é detetar e bloquear conteúdo. Resolve o problema da imagem do Instagram enquanto rede social segura, mas não o problema mais grave do bullying.

sábado, 3 de novembro de 2018

Lost+Found







Voltas e voltas. Acompanhar alunos ao Andakatu, atividade que os colocou em contato com arqueólogos que recriam as técnicas e instrumentos da pré-história, sair do IEUL  e passar pela zona desolada que um dia foi a Feira da Ladra, encontrar cosplayers no Festival Bang!, dar um salto à praia em Óbidos com o outono a anunciar-se pesado, e dias cinzentos de chuva na sala de espera do Hospital Beatriz Ângelo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Clássicos da Literatura Universal Vol. 3


Fausto Vitaliano, et al (2018). Clássicos da Literatura Universal Vol. 3. Lisboa: Goody.

O primeiro volume desta coleção foi interessante, uma verdadeira homenagem à literatura. Já este, nem por isso. Claramente recicla conteúdos das revistas, e a ligação aos livros que homenageia é bastante ténue. Se a primeira história remete para Don Quixote, a segunda nem se percebe por onde é que anda, com laivos de in darkest africa e She de Ridder Haggard. Note-se que não vem mal nenhum ao mundo com estas visões literárias muito diluídas com personagens Disney. Como professor, até sei o quão importante são para despertar a curiosidade dos jovens leitores. Depois de lerem estes divertimentos, ficam despertos para as referências. Fiquei foi algo desiludido no âmbito da coleção, que prometia edições mais cuidadas, tal como no primeiro volume, e não a simples transposição de histórias num formado mal adaptado ao da edição. Literalmente, o tamanho da prancha da BD Disney no meio da página em formato comic. Podemos sempre imaginar que aquelas largas tiras brancas, de espaço que sobra, são tipo as tiras negras dos filmes em cinerama.