sábado, 31 de agosto de 2013

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Far more than just knowledge

"EDUCATION EXTENDS human cognitive capacity. Learning is simply the cultivation of empathy. Education transmits far more than just knowledge." (p. 364)

Jyouji Hayashi (2010). The Ouroboros Wave. São Francisco: Haikasoru.

Torna-se enredado



Dissolving Our Perception Of Digital Reality With Fragments of RGB the virtual illusion of the real becomes tangled in the real, and the curse.

Dissolution de notre perception de la réalité numérique avec des fragments de RGB La illusion virtuel du réel devient empêtré dans le réel, et la malédiction.

Dissolvendo nossa percepção da realidade Digital com fragmentos de RGB a ilusão virtual do real torna-se enredado no real, e da maldição.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

con negro_bent


Comics


The Extinction Parade #02: Max Brooks está a divertir-se à grande. O World War Z cinematográfico pode não ter nada a ver com o livro original mas isso não impede o autor de se entreter com novas histórias de apocalipse zombie. O clima da Avatar Press levanta restrições a conteúdos escatológicos e violentos e Brooks deixa a imaginação à solta neste comic ilustrado por Raulo Cáceres. E ainda arranja tempo para mimar o leitor nesta glosa a Eisenstein: a tomada do palácio de inverno em S. Petersburgo recriada com zombies.


Federal Bureau of Physics #02: Espera lá, este novo título da Vertigo não se chamava Collider? Aposto que a mudança de nome deve ter tido alguma coisa a ver com disputas de propriedade intelectual. Mas adiante, até porque a nova designação assenta como uma luva neste comic de criatividade a alta velocidade. Conspirações e aplicações descontroladas da física teórica dão-lhe sal. A defesa do mundo dos micro-universos e bolhas de realidades paralelas em colapso acelerado está nas mãos dos físicos de intervenção do FBP.


Station To Station: Uma curta intrigante a pedir mais desenvolvimentos. Saída das páginas da Dark Horse Presents e condensada numa única edição, esta série joga muito bem com alguns elementos icónicos da ficção científica. Cientistas envolvidos em projectos secretos, acidentes de laboratório que libertam ameaças catastróficas sobre o planeta, universos paralelos e realidades que colapsam misturam-se nesta história de ritmo fragmentado - compreensível, porque colige os diferentes capítulos curtos publicados em série na Dark Horse Presents.


Think Tank #09: É difícil decidir o que é mais interessante neste comic: se o argumento de Matt Hawkins se a secção final onde todos os meses o argumentista mostra o que o inspirou para as tecnologias militarizadas e acções tácticas/estratégicas que escolheu focalizar nesse mês. Já se percebeu que as desventuras do cientista brilhante e descontraído são uma forma de Hawkins reflectir sobre a militarização extrema da tecnologia. Drones, vigilância pervasiva, guerra biológica, ciberesepaço militarizado, procedimentos de combate em ambiente contemporâneo e pressões geopolíticas são alguns dos temas que têm vindo a ser abordados de forma enganadoramente leve. O mundo ficcional de Think Tank é um recreio contido onde Hawkins põe a funcionar tecnologias já existentes, semi-secretas ou extrapolações que não devem andar muito longe da verdade. Este é um comic perigoso para o cérebro. Faz pensar.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

lima_bent


All You Need Is Kill


Hiroshi Sakurazaka (2009). All You Need Is Kill. São Francisco: Haikasoru.

Este romance do japonês Hiroshi Sakurazaka começa de forma insuspeita, como pura peça de ficção científica militar cheia de testosterona, armas futuristas e batalhas empolgantes. E quando o início da história termina... recomeça. E recomeça. E recomeça novamente. De carne para canhão o protagonista, jovem soldado a combater uma invasão alienígena, vê-se preso num laço temporal aparentemente infinito. Todas as manhãs acorda para a mesma rotina, todas as noites morre em combate. A chave para o mistério está numa aparentemente invulnerável super-soldado americana, que tem tendência para entrar em combate numa fulgurante armadura vermelha e que conhece o segredo dos laços temporais.

Soa um pouco como uma mistura entre Groundhog Day e Starship Troopers com sabor a manga. E lê-se como tal. A narrativa cíclica do laço temporal explora um percurso de aprimoramento pessoal que transforma um jovem recruta num soldado veterano, percurso solitário devido à especificidade desta variante do eterno retorno. Já o cenário de invasão alienígena é o elemento mais interessante do universo ficcional. A humanidade está em guerra contra alienígenas, mas não os confronta directamente. Os responsáveis pela devastação de continentes são engenhos biomecânicos, mistura orgânica com nano-máquinas, que se deslocam em massas coordenadas por um servidor que, caso seja destruído, pode enviar mensagens ao passado para que possa reajustar a táctica de combate. A Terra está a ser terraformada ao gosto dos invasores do espaço e os humanos lutam com as máquinas-formiga que fazem a terraformação.

Mais uma boa surpresa trazida da terra do sol nascente pela Haikasoru. Pura ficção militarista, escrita com clareza e que se lê como um manga sem ilustrações.

Leituras

First surgery transmitted live via Google Glass: É uma utilização muito óbvia e sensata do Glass, desde que as questões de privacidade estejam devidamente salvaguardadas. A captura de vídeo ponto-de-vista promete ser controversa - é fácil, pode ser efectuada em qualquer local e sem que haja a percepção de que se está a ser filmado. A industria da pornografia, sempre precursora nestas coisas da tecnologia e dos media (antes do youtube, imaginem lá quem é que precisava de desenvolver tecnologias de streaming de video na internet) já está à procura de aplicações do Glass, o que não é fácil devido aos termos de utilização da Google. Mas esta ideia tem um potencial educacional enorme para aprendizagens que requeiram partilha de experiências, observação, acompanhamento de um especialista durante a demonstração. Em vez de grupos a acotovelarem-se numa sala ou a observarem à distância, ou visualização posterior de vídeos, pode-se assistir a uma acção efectuada em tempo real no ponto de vista de quem a efectua. Não admira que os cirurgiões tenham pegado nisto para desenvolver novas vertentes de aprendizagem que não são necessariamente novas, apenas um refinar interessante dos vídeos educativos e da observação directa.

This Gas-Powered Surfboard Can Hit 35 MPH Without a Single Wave:  Realidade a imitar a ficção? Esta espécie de prancha a jacto promete libertar os surfistas da necessidade de ondas. O g33k em mim não deixa de reparar que é um saudável passo em direcção ao futuro prometido na série Judge Dredd, onde podemos encontrar como um dos personagens recorrentes Chopper, o surfista dos céus que voa pela cidade montado na sua prancha de surf.

3D printing is easy with Windows 8.1: Quase dá vontade de instalar o windows 8. Quase. O que intriga é o destaque dado pela Microsoft a uma tecnologia prometedora mas ainda está distante do mercado de consumo que neste momento está numa fase de deslumbre misturada com busca de respostas às perguntas que levanta. A integração do processo de impressão tridimensional dentro do sistema operativo promete um futuro próximo onde ligar e utilizar uma impressora destas vai ser tão simples como ligar uma impressora clássica (pois, simples, mas quem lida com elas sabe a infinidade de coisas que pode - e corre, mal). Claro que na tecnologia o caminho das promessas à concretização está entulhado com imensos exemplos de tecnologias futuristas promissoras que hoje são dead media.

Researcher controls colleague’s motions in 1st human brain-to-brain interface: Esta coisa de vivermos na condição de presente futurista é um tédio. Somos constantemente bombardeados por descobertas e inovações, e ficamos com os neurónios calejados, incapazes de uma reacção que vá além do levantar do sobrolho perante notícias destas. Transmitir gravações de sinais cerebrais através da internet que vão condicionar o comportamento do recepetor? (Bocejo). Banal. Eu quero é o meu jetpack e a raygun para ir dar cabo do canastro aos marcianos na base lunar.

John Constantine


A visão de Jamie Delano, ilustrada por John Ridgway e Alfredo Alcala.


A anglicidade proletária por Grant Morrison e David Lloyd.


Neil Gaiman e Dave McKean a mostrar o personagem como londrino consumado.


O visceral Garth Ennis com o traço simples de Steve Dillon.


O visceral Garth Ennis com o traço de David Lloyd.


O visceral Garth Ennis com o traço simples de Steve Dillon.


O visceral Garth Ennis com o traço simples de Steve Dillon.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

xustiza_bent


Time so idly


Long ago, I once "felt a little compunction in reflecting that I spent time so idly".

"But another reflection would come to relieve me, whispering...

"You know that the soul is immortal: why then should you be such a niggard with a little time...

"... when you have the whole of eternity before you?"

Eddie Campbell e Sean Phillips, Hellblazer: Warped Notions.

Só para recordar que parar não significa perder tempo. O ócio, ao permitir pausas para pensar e descobrir coisas novas, pode ser mais produtivo do que o trabalho. E no caso dos labores rotineiros que desligam o cérebro é um bom método de limpeza neuronal.

Ficções

The Landline: A primeira contribuição de Bruce Sterling para a versão contemporânea da OMNI, que se estreou recentemente online, mostra bem até que ponto o Sterling-escritor de ficção científica está a ser esmagado pelo Sterling-guru da cultura tecnológica. O conto é uma leitura interessante naquela perspectiva de deslumbre futurista com uma cultura mediada por tecnologia que tornou o extraordinário banal em que Sterling se especializou. Como conto literário, é uma criatura estranha com algum toque experimental que mal se nota no meio de tanta reminiscência das tecnologias analógicas. Tem o seu quê de experiência de pensamento sobre uma realidade alternativa onde a internet se tivesse mantido um projecto puramente estatal, o ambientalismo tivesse triunfado sobre o capitalismo industrial e os protocolos de Kyoto. Mistura de hino à tecnologia analógica com experiência conceptual, lê-se por aquilo que é: uma ficcionalização dos discursos sobre impactos culturais da tecnologia com que Sterling nos tem tão bem brindado nos últimos tempos. De facto, termina precisamente da forma como o autor fala nas lendárias apresentações keynote do SXSW, com um comentário acutilante à efemeridade da cultura digital: "There is nothing physical or solid or lasting about this confession of mine. There’s not even a cardboard box! Go ahead, just wait a year, or two years, or maybe five years. Then try to find this, later. There will be no sign of this website, because it’s just made of pixels. No remains of the machine that you read it with, either.
Then try to find the other “readers” of this story, a story that you once saw on some screen. This isn’t a movie screen, where you’re all sitting in the dark together, breathing and laughing together. This is a digital screen, a private thing that’s the size of your desk, or the size of your lap, or the size of your hand."

Alone: Escrito por Marko Jankovic para a Nature Futures, este conto curto vai mais além da questão de como criar uma inteligência artificial consciente e pergunta-se como criar uma IA consciente que não se apercebe que é artificial? A resposta está na solidão.

Mantis Wives: O arrepiante hábito das Louva-A-Deus de devorar os machos da espécie visto como um constructo social. Neste conto sinistro Kij Jonhson imagina diversas formas elegantes e rituais do acto de devorar o insecto macho.

Only Connect: Em modo experimental, um conto de Greg Egan escrito como um rigoroso artigo científico. A quantidade de jargão técnico é tanta que só quando Egan deixa cair uma data no futuro é que percebemos que estamos a ler uma história e não um artigo real sobre como as interconexões quânticas possam ser o fundamento elementar do universo.

Cayos in the Stream: E se... nos anos 40, o intrépido e másculo Ernest Hemingway se tivesse dedicado a caçar submarinos alemães nas caraíbas? A bordo de uma escuna de pesca, com uma tripulação de corajosos civis e algumas armas escondidas, o escritor dá caça e danifica um submarino nazi. Uma curiosa história de histórias alternativas de Harry Turtledove, que só peca pelo insuflar de palavras que faz arrastar a narrativa.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

they rose into the sky

"Unmarked Stuka dive bombers and Shturmovik tank busters took off from their base in the Finnish north and thundered across the frozen wastes. One after another they rose into the sky in groups of four, eight, sixteen planes; they fell into precise formations and banked toward the northwest where the escort fighters waited high in the sky. Unpainted, silver-bodied P-51 Mustangs; Bf 109s in the Luftwaffe’s white-and-brown winter camo; and Macchi C.202 Folgores, their tails striped green, white, and red."  (p. 207)

Issui Ogawa (2007). The Lord Of The Sands Of Time. São Francisco: Haikasoru.

(Trago desde a minha adolescência um gosto pela estética elegante dos aviões de combate. Não pela sua potência ou capacidade letal mas pelas linhas esguias a sublinhar o aerodinamismo. Com um fraquinho em particular pelos da época da II Guerra. E deparo com esta pérola de acumulação de nomes que aquece o coração e dispara a imaginação quase no final deste interessante romance de FC sobre viagens no tempo - mais similar aos saltos numa guerra que se processa na assincronicidade temporal de The Big Time do que à luta de um senhor Gallifreyano através da eternidade. Adorei o pormenor do Folgore. Só faltava o Dewoitine D.520 para ou um Fokker DXXI para ficar perfeito. Nesta minha exposição à amostra da Haikasoru tenho encarado katanas/IA de cerâmica nano-reforçada, cyborgs que viajam no espaço/tempo para salvar a humanidade da extinção, bio-máquinas de von neumann (esta nunca me tinha passado no radar), terraformadores vindos de universos paralelos que se estabelecem na Atlântida e combates até à morte entre Jesus e Siddharta com raios de plasma e ogivas atómicas, no que é um olhar intrigante aos debates de ecumenismo teológico. A FC japonesa rula!)

mosteiro_bent


Comics: The Nightly News, Pax Romana, Red Mass For Mars.


Jonathan Hickman (2007). The Nightly News. Berkeley: Image Comics.

Jonathan Hickman escreve Manhattan Projects e East of West, dois dos mais interessante comics actualmente publicados. The Nightly News foi a sua estreia na Image Comics e revelou-se uma série estrondosa. O tema é a manipulação dos media e Hickman escolhe uma aproximação violenta, com uma história onde uma seita manipulada por um político de estranhos escrúpulos assassina jornalistas para chamar a atenção sobre a manipulação dos media sujeitos às pressões políticas e económicas dos interesses dos grandes conglomerados empresariais. Enquanto se entretém a matar jornalistas com formas criativas de terrorismo urbano Hickman faz uma reflexão visceral sobre o poder dos media e as relações pouco transparentes entre interesses financeiros, grandes empresas que aglutinam canais de informação e poder político. Destaca-se também pelo forte estilismo experimentalista a fazer recordar Channel Zero de Brian Wood.


Jonathan Hickman (2009). Pax Romana. Berkeley: Image Comics.

Mais uma bomba conceptual saída da mente radicalizada de Jonathan Hickman. Imaginem a possibilidade de que a descoberta das viagens no tempo é dominada pelo Vaticano que faz uso dos seus enormes recursos para enviar ao passado uma força militar que altere a história para um percurso mais agradável à Santa Sé. Só que... o comandante nomeado, um especialista em estratégia americano que passou por todas as academias militares de prestígio do mundo ocidental, está-se nas tintas para o sonho húmido dos cardeais e usa as armas modernas para travar a queda do império romano, garantindo que o curso da história seja radicalmente alterado. Átila e os bárbaros são travados à força de balas, África unida e pacificada, Ásia e Américas cooptadas pelas potências romanas, e em 1421 os sucessores do imperador Constantino preparam-se para terraformar o planeta Marte. A história sai dos lábios do papa-genético, cujo ADN reúne o código genético do comandante militar original e o ADN dos papas sucessores, ao jovem geneticamente modificado imperador que irá herdar o trono romano. História alternativa, viagens no tempo, gedankenxperiment cheio de e ses intrigantes, e um estilismo gráfico que aposta mais na ilustração e no infografismo do que nos meios tradicionais de narrativa gráfica em banda desenhada.


Jonathan Hickman, Ryan Bodenheim (2010). Red Mass For Mars. Berkeley: Image Comics.

Num futuro próximo a humanidade está ameaçada por uma invasão alienígena. E pela devastação que um simples grupo de reconhecimento causou ao arrasar Nova Iorque o futuro parece comprometido. As probabilidades de sobrevivência parecem mínimas. Cabe ao homem mais rico do planeta, um mutante com capacidade de ver o futuro, organizar a defesa da humanidade. A estratégia é simples: coordenar um grupo dos mais poderosos heróis para penetrar no meio da frota inimiga e detonar um mini-buraco negro que irá engolir a ameaça alienígena numa singularidade. Após uma primeira tentativa frustrada, o destino da humanidade fica nas mão do aparentemente imortal e todo-poderoso Mars. Mas este herói, desgostoso com a humanidade, vive como um eremita na superfície marciana.

Red Mass For Mars lê-se mais como um rascunho de mundo ficcional do que uma obra completa. Hickman foi ambicioso no argumento e muito bem acompanhado no grafismo, mas chega-se ao final sem se perceber muito bem se o argumento pendia para ficção científica ou para o género dos super-herói, ou se era uma mescla entre géneros.

domingo, 25 de agosto de 2013

labrego_bent


Voyager: Attraverso Il Tempo; Hauteville House.


Pierre Boisserie, Éric Stalner (2012). Voyager: Attraverso Il Tempo. Editoriale Cosmo.

É uma série sobre conspirações, viagens no tempo e futurismo distópico mas que se desenrola como uma telenovela. No final desta segunda edição temos quatro volumes e a narrativa de fundo, a que realmente intriga, avançou a um passo que faz a comparação com caracóis parecer um insulto. Muita parra, pouca uva e muito menos sumo neste fumetti criado por franceses cuja regra principal parece ser o encher páginas.


Fred Duval et al (2002). Hauteville House. Paris: Delcourt.

Aventuras divertidas em modo steampunk são a promessa cumprida desta série. Num século XIX alternativo agentes republicanos franceses fazem da ilha de Guernsey a sua base para combater o império de Napoleão III. As suas aventuras levam-nos ao México, onde uma descoberta misteriosa numa pirâmide azteca coloca nas mãos imperiais uma criatura monstruosa, e ao pacífico sul em busca dos segredos do metal que possibilita a era de ouro tecnológica deste imaginário final do século XIX.

A juntar à aventura de estilo clássico, plena de batalhas, locais exóticos e reviravoltas narrativas, temos uma espantosa inventividade de engenhos a vapor. Couraçados, submarinos, dirigíveis, veículos terrestes. Todos os exageros do género que imagina um passado alternativo onde a estética metalúrgica a vapor impera são representados com uma assinalável elegância de traço. Hauteville House é uma leitura leve que mima os olhos do leitor com criações gráficas deliciosas.

Leituras

Big Bang Theory Gets a 3D Printer: Bazinga! Parece que finalmente a sitcom mais g33k do momento se apercebeu da impressão em 3D. Pena é que a cena em si tenha pouco do bom humor repleto de cultura g33k que caracteriza a série e muito do que parece ser propaganda da Stratasys ou da Makerbot. Todo aquele discurso sobre revolução na manufactura, acessibilidade de preço, e deslumbramento face à capacidade de imprimir objectos, parece algo saído da pena dos evangelistas da tecnologia. E claro, os personagens tinham que se recriar como bonecos impressos em 3D...

The Reality Show: Como é que os esquizofrénicos e os paranóicos expressam os males-estares de alma? Noutros tempos apontariam para as manigâncias de maléficas criaturas divinas ou encantamentos de criaturas de magia. Com a evolução tecnológica começaram a culpar as suas ilusões patológicas numa espécie de hiper-tecnologias de fantasia utilizadas por grupos obscuros para controle de percepção. Dos anos e demónios controladores a "estou a viver num reality show, quando é que conheço os argumentistas e a equipe de câmaras", sublinhado de uma forma que inverte o mcluhanismo do media ser a mensagem. Aqui a mensagem, a da ilusão paranóica de forças externas que controlam o indivíduo, é sempre a mesma mas os meios em que se manifesta mudam: "a desert nomad is more likely to believe that he is being buried alive in sand by a djinn, and an urban American that he has been implanted with a microchip and is being monitored by the CIA. ‘For an illness that is often characterised as a break with reality,’ they observe, ‘psychosis keeps remarkably up to date.’ Rather than being estranged from the culture around them, psychotic subjects can be seen as consumed by it: unable to establish the boundaries of the self, they are at the mercy of their often heightened sensitivity to social threats." O artigo conclui com uma intrigante reflexão sobre a tendência contemporânea da cultura popular que abandonou a linearidade lógica em troca da desconexão sequencial e multiplicidade de visões do real que dão a qualquer um uma aproximação do que é um estado de psicose. Cita obrigatoriamente Philip K. Dick e o filme Matrix, como não podia deixar de ser, mas o que eu não sabia era que Evelyn Waugh escreveu um livro baseado nas suas próprias experiências com ilusões paranóicas. (Waugh foi um brilhante e hilariante escritor britânico do século XX que se celebrizou pelo nostálgico Brideshead Revisited mas que tem na trilogia Sword of Honour, crónica das aventuras de um aristocrata vagamente incapaz na máquina militar britânica na II guerra, uma das mais bilhantes sátiras àquela aura de elegante anglicidade fleumática que permeia as percepções da aristocracia inglesa.)

Antonio Bernal - Hora T, Super Relatos Gráficos de Terror: E já que estamos em maré de visões anglicistas... as capas do ilustrador espanhol Antonio Bernal que dão dimensões monstruoso-psicadélicas a personagens clássicos dos comics britânicos como The Spider (um super-criminoso que com as suas armas tecnológicas tentava dominar o mundo) e Steel Claw (um agente secreto com uma mão de metal que lhe conferia o poder de invisibilidade, particularmente útil para roubos ou assassínios institucionais).

New Imagery of Asteroid Mission: Como seria uma missão destinada a salvar a Terra do impacto de um asteróide? Muito pouco a ver com o filme Armageddon. Neste um conceito de abordagem caso seja necessária uma missão para desviar um asteróide (e não explodir com bombas nucleares, o que é altamente contraproducente) a NASA deslumbra com uma design fiction altamente cinemática. E sem ter de recorrer a acidentes no espaço, cidades pulverizadas, perfuradoras orbitais ou astronautas heróicos que descolam sob o sol poente.

Letargia estival



sábado, 24 de agosto de 2013

mosteiro_bent


Entropic, static hum

"Our culture becomes an entropic, static hum of everybody trying to capture the slipping moment. Narrativity and goals are surrendered to a skewed notion of the real and the immediate; the Tweet; the status update. What we are doing at any given moment becomes all-important - wichs is behavioristically doomed. For this desperate approach to time is at once flawed and narcissistic. Which "now" is important: the now I just lived or the now I'm in right now?"

Douglas Rushkoff (2013). Present shock : when everything happens now. Nova Iorque: Penguin Books.

Tear yourself off


Confessem lá, quem é que nunca teve ganas de fazer isto? Dar um murro na mesa, mandar pessoas detestáveis a locais para definir os quais a metáfora mais bem educada de dar uma volta ao bilhar grande foi inventada, colocar uma ou duas bombas termonucleares bem colocadas e rebentar a coisa? Ilustração de Al Feldstein, apanhada num post do Boing Boing sobre a biografia desta lenda da golden age dos comics.


Leiam com atenção. Particularmente à volta do rolo de papel higiénico. É um sonho húmidos dos meninos bem conservadores neoliberais. Daqueles que se esmeram nas cores da gravatinha enquanto atravessam este vale de sombras e lágrimas pregando constantemente as virtudes do paraíso dos mercados, céu-nirvana financeiro ao qual tudo deve ser sacrificado. Tudo o que contrariar esse destino luminoso deveria ser consignado ao caixote de lixo da história. Uma provocação às mãos de Garth Ennis e Steve Dillon na série Royal Blood de Hellblazer.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

clérigos_bent


Time that knows no haste

“Yet if we made a mistake in our elimination procedures, the high-energy clouds generated within the reactor would eventually permeate the reactor walls and escape into the world.”
“I did not expect such strange reactive structures to emerge from this cyclical energy state.”
“Reactive structures—should we not call them life-forms?”
“Extremely primitive life-forms.”

Time that knows no haste flows over the waves as they roll in and roll back out, through night and into day and into night again.
Ah. Those many hundred billion days and nights.
How I long to return—
The peace and tranquility Asura had known there seemed painfully distant now.
Yet there was no way back to what had been, and in front of her stretched only another ten billion days and one hundred billion nights.

Ryu Mitsuse (2011). Ten Billion Days and One Hundred Billion Nights. São Francisco: Haikasoru Press.

Comics


100 Bullets Brother Lono #03: Se o argumento de Azzarello se mantém fiel ao que esperamos do autor, estou cada vez mais espantado com a capacidade cinemática de Risso. O estilismo experimental que tornou Spaceman por vezes difícil de engolir fica em segundo plano nesta série. Em compensação, temos arrojados planos que transformam a humilde vinheta em espaço verdadeiramente cinematográfico. Confesso que olho para este exemplo e o meu cérebro constrói um movimento de câmara. Bravo, Eduardo Risso.


Bela Lugosi's Tales From The Grave #04: A Monsterverse é uma editora relativamente minúscula com alguns pastiches divertidos (Flesh and Blood sendo o exemplo mais interessante do seu acervo) e uma tendência para editar antologias que seguem a tradição de um anfitrião aterrorizante a apresentar contos de horror que normalmente primam pela mediocridade gráfica e narrativa. Mas desta vez apanhamos uma boa surpresa: o lendário Bill Sienkiewicz a ilustrar no seu estilo inimitável uma pequena história que, francamente, não é nada por aí além. Safa apenas por ter tido direito ao lápis expressionista desta lenda viva dos comics.


I Love Trouble #06: Este comic distinguiu-se por uma visão bem humorada sob uma premissa muito desgastada, a da jovem com poderes cooptada por agências institucionais de secretivas intenções nefastas. Arrancou com um grafismo invejável que tem vindo a decair ao longo da série mas que ainda surpreende com algumas referências oblíquas bem aplicadas.


Como esta  referência à Action Comics #01, a lendária e iconográfica primeira capa e aparição do Superhomem. Bem jogado, definitivamente bem jogado.


Numbercruncher #02: Da Titan Comics, esta reimpressão da série de Simon Spurrier continua a surpreender pela inventividade. Na visão científica quântico-relativística do universo a realidade é traduzida por algoritmos e elaboradas equações e deus é um contabilista ominisciente. Os caminhos da redenção podem ser reduzidos a equações e os anjos meros assistentes de contabilidade. By the numbers, meus caros, esta série intriga by the numbers. Da mesma editora está a sair A1 The Weirding Willowsum curioso pastiche da ficção fantástica do século XIX que mistura o Dr. Moreau com a bruxa de Oz, Mowgli, criatura de Frankenstein e coelhos falantes.

Leituras

Teaching spelling and grammar is still vital in a technology-driven classroom: ou como fundamentalmente não é boa ideia automatizar na tecnologia competências cognitvas elementares, como um conhecimento razoável do funcionamento da língua, cálculo ou a capacidade de representação espacial mental que nos permite ler um mapa. Por outro lado, o back to basics tão acarinhado pelos segmentos mais conservadores é apenas uma forma confortável de enfrentar o futuro através do espelho retrovisor.

Go your own way: assino por baixo neste texto de Steve Wheeler. Porque aprender não é só um acumular conhecimentos funcionais para futuros desempenhos economicamente metrificáveis. É desenvolver-se como ser humano. E esse caminho é necessariamente solitário, um pouco anárquico e rizomático, mas somos humanos, não máquinas programáveis. (O obscurantismo intencional dos filósofos po-mo franceses pode ser irritante e questionável, mas conceitos como rizomático são certeiros).

Picturing Ray Bradbury: para comemorar o aniversário deste grande nome da literatura fantástica a TOR reuniu uma pequena galeria de ilustrações inspiradas na obra do autor. Algumas são bem conhecidas como capas de livros. Pessoalmente fiquei boquiaberto com a ilustração para o conto The Veldt, uma perfeita visualização dos sonhos conceptuais de realidade virtual.

Audi e Realidade Aumentada: quer dizer que para poder experimentar esta app de realidade aumentada tenho de comprar um Audi? Mas certo, a ideia faz todo o sentido. A RA é particularmente útil em situações de aprendizagem procedimental.

"The remains of a computer that held files leaked by Edward Snowden to the Guardian and destroyed at the behest of the UK government.": fora de contexto, esta é uma banal imagem de hardware vandalizado. Dentro de contexto, uma poderosa iconografia da escalada descendente das democracias ocidentais face ao poder do panopticon digital empunhado por burocratas de tendências fascizantes.

Glitch Studies Manifesto: todo o manifesto é um epolgante apelo às armas, mas gosto particularmente do ponto quatro: Employ bends and breaks as metaphors for différance. Use the glitch as an exoskeleton for progress. Find catharsis in disintegration, ruptures and cracks; manipulate, bend and break any medium towards the point where it becomes something new; create glitch art. E no ponto dois algo que é mais do que relativo a uma prática específica artística, é um lema de vida: Dispute the operating templates of creative practice. Fight genres, interfaces and expectations! Refuse to stay locked into one medium or between contradictions like real vs. virtual, obsolete vs. up-to-date, open vs. proprietary or digital vs. analog. 

Eu sou Chelsea Manning: um teste rápido para verificar o enviesamento dos meios de comunicação. Se a notícia for sobre o processo em tribunal de Bradley Manning, a tendência é conservadora. Se for sobre o processo de Chelsea Manning, a tendência é progressista.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

When killing activists, never shoot for the head, always aim for the heart.









Jonathan Hickman a disparar granadas mentais em The Nightly News.

s. vicente de fora_bent


Gravel

Quando Warren Ellis se dedica à fantasia mágica surge algo como Gravel: um mago de combate, treinado pelos SAS para missões secretas, tão eficaz com uma arma de fogo como com um encantamento. Individualista, rude, violento e de origens proletárias, os pontapés que levou na vida tornaram-no céptico e paranóico. Sabe que faz parte de um clube de elites que vêem com maus olhos o poder de alguém que consideram socialmente inferior mas recusa a submissão do status-quo perante os seus superiores. Conceitos de bem e mal  resumem-se a difusas tonalidades de cinzento. Esta é uma espécie de inversão total do popular Harry Potter, com um lado negro e visceral que está em contraste directo com a popularidade da fantasia envolvendo magos adolescentes em mundos ficcionais luminosos onde as tradições são simpáticas âncoras morais e a dualidade bem/mal está perfeitamente definida.


Warren Ellis (2005). Gravel Vol. 1: Bloody Liars. Rantoul: Avatar Press.

Regressado de uma missão sangrenta no Afeganistão, Gravel descobre que foi indevidamente substituído no círculo de magos conhecido como sete menores: sete indivíduos de grande poder com autorização para intervir no mundo real. Ao insulto da expulsão indevida junta-se a ameaça de um manuscrito secreto, dividido entre os sete magos, cujo poder oculto ameaça a estrutura da realidade. Sem outra escolha, o mago de combate elimina sistematicamente os magos restantes, um por um, sem piedade por um grupo elitista que nunca viu com bons olhos a sua integração.


Warren Ellis (2009). Gravel Vol. 2: The Major Seven. Rantoul: Avatar Press.

Depois dos sete menores chega-se aos sete maiores. Após eliminar os magos menores Gravel é contactado pelo líder dos elusivos sete magos maiores, entidades poderosas, invulneráveis nos seus locais de poder, que vigiam a Inglaterra mas que não se imiscuem nos assuntos terrestres. Após a morte misteriosa de um dos seus elementos, há uma vaga no grupo... e Gravel é induzido contra a sua vontade. Como mais novo elemento e o único que detém street smarts Gravel é encarregue de tentar descobrir quem eliminou o elemento assassinado e reconstituir os sete magos menores. Nada ingénuo e desconfiado, Gravel encontra forma de eliminar com extremo prejuízo os supostamente invulneráveis magos e encontra um grupo de inadaptados com poderes mágicos capaz de assegurar um novo grupo interventivo.


Warren Ellis (2006). Gravel Vol. 3: The Last King of England. Rantoul: Avatar Press.

Tendo eliminado os sete magos maiores, Gravel encontra-se na pouco invejável posição de ser o maior dos magos em Inglaterra. Inevitavelmente atrai a atenção de um departamento secreto do governo britânico que o coloca no rasto de um assassino em série com poderes mágicos cuja derrota final custa a Gravel os seus arquivos e os jovens magos que recrutou para o grupo dos sete menores. No final, a caça ao assassino é revelada como uma conspiração elaborada levada a cabo pelos agentes secretos que, defensores do status-quo instituído, não toleram que um filho da classe proletária se torne o mago supremo da aristocrática Inglaterra.