quinta-feira, 31 de maio de 2012

Canto de Cisne

Em modo canto de cisne, a finalizar os trabalhos numa disciplina que vive os seus últimos dias. Em memória das explosões de cor, traço, pixel e criatividade que se viveram este ano na sala de aula. Image dump muito longo ao clicar no link: trabalhos de alunos EVT. E fica o comentário. Por detrás do mais espantoso gráfico ou aplicação digital está um lápis que riscou sobre o papel e registou os primeiros esboços.

50s Spaceship II



A ideia era a de recriar uma capa de revista pulp de FC. A nave correu bem. A composição... nem por isso.

Voto Secreto

Acabei de votar numas eleições para o sindicado de professores a que pertenço onde fizeram um pedido estranho. Após preencher o boletim de voto, colocar dentro destes envelopes que pediam a identificação por número de associado, nome e escola onde presta serviço. E atrás rubricar com assinatura.

Como disse? Assinar boletins de voto? Mas se o voto é secreto, ou pelo menos a tradição em democracia assim o estipula... os elementos da mesa presentes asseguraram-me que não era para associar pessoas a opções e que este processo tinha o objectivo de certificar que não haveria violações dos boletins. Mas este não é dos mais brilhantes processos de verificação de segurança. É um faux pas que surpreende, particularmente vindo de uma organização democrática de defesa de direitos laborais.

Nas vertentes escorregadias fascizantes apelidadas de progressistas que vivemos hoje este é um precedente que pode ser perigoso. Aposto que alguém nos corredores de poder é capaz de olhar para isto e pensar se não seria boa ideia adaptar a experiência para outro género de eleições. Talvez votar inscrevendo o número de cartão de cidadão ao lado da esoclha política. A ver se finalmente se percebe quem neste país é gente de bem que apoia aqueles que se sacrificam para fazer o que deve ser feito e a restante ralé que se atreve a pensar de forma diferente. Talvez mesmo oficializar o bipartidarismo...

Obviamente não preenchi nem assinei nada. Não que tenha medo de purgas pós eleitorais, mas por uma questão de princípio. O voto secreto é uma das bases elementares dos processos democráticos.

Arctica

Daniel Pecqueur, Bojan Kovačević, Pierre Schelle (2009). Arctica. Paris: Delcourt.

Uma série fortemente desapontadora. Se a ilustração futurista e a premissa de mistérios milenares encerrados sobre o gelo da antártida parecem prometedoras, a história resume-se a uma banal perseguição movida a um piloto, uma engenheira e a jovem rapariga que esteve congelada durante milénios por esbirros assalariados ao serviço de interesses secretos. Pelo menos o ilustrador desenha aeronaves futuristas de encher o olho. Mas não chegam para redimir esta série.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

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FC na Arc 1.2 e New Yorker

Uma boa semana para a ficção científica. A New Yorker lança na sua edição semanal um foco no género, com contribuições de William Gibson, Ray Bradbury, China Mièville, Ursula LeGuin e Margaret Atwood, entre outros. Uma verdadeira lista de alguns dos melhores autores do género. A New Yorker é um gigante do bom e elegante jornalismo, para onde já contribuíram alguns dos maiores escritores do século XX e pelo que se vai vendo do índice abordou o género com isenção e dignidade, sem aquelas visões de nariz torcido do género "vamos lá rir com as maluquices destes alucinados" que geralmente caracteriza os olhares ditos críticos do mainstream cultural sobre as literaturas de género. Literaturas e culturas, de facto.

Por coincidência esta semana também saiu o segundo número da Arc, a revista digital de ficção científica literária e ensaio produzida pelos editores da New Scientist. O tema promete - a condição pós-humana, e o alinhamento de ficção conta com Jeff Vandermeer, Paul McAuley e Frederik Pohl.

A Arc está disponível online e quanto à New Yorker... esta edição ainda não chegou a Lisboa. Há que esperar pacientemente.

E há que olhar paras as capas... na New Yorker Daniel Clowes desenha uma capa fantástica e bem humorada, com um astronauta pulp retro a invadir uma elegante soirée e a deixar os convivas apreensivos, com um perfeito ar de o que é isto, que coisa é esta, vibrante e colorida em contraste com o sóbrio cinzentismo bem pensante? Quanto à Arc, puro biomorfismo abstracto.

Tesla_play

Coisas que se aprendem com os alunos: os miúdos já brincam com miniaturas do Tesla Roadster, um daqueles brinquedos caros para adultos cuja redenção possível está em ser um veículo eléctrico. É um pormenor curioso e pouco significativo, mas mostra como a ideia de veículos que não usam o motor de combustão interna já se entranhou no inconsciente colectivo. No final de uma das aulas da manhã um aluno fez questão de me mostrar os carrinhos de brincar que trazia no bolso... e fiquei intrigado com a curiosa justaposição de ter nas mãos um Chevy Impala, ícone do metal automóvel puro, e um Tesla, símbolo do que poderá vir aí. Um destes dias ainda vem uma criança ter comigo para mostrar que anda a brincar com um Aptera em miniatura.

6000

Mensagem número 6000 deste blog. Bolas, é muita letra.

Iron Sky



Iron Sky ganhou um lugar na minha galeria de maus filmes favoritos. Partindo de um enredo absurdo e excelentes efeitos especiais, esta espirituosa produção finlandesa é um dos mais divertidos filmes que vi nos últimos tempos.

Este filme pega nas mitologias sobre ovnis nazis e leva-nos ao lado oculto da lua, onde uma expedição lançada por uma patética presidente norte americana (caricatura intencionalmente descarada de Sarah Palin) capaz de tudo para ganhar votos descobre uma base nazi oculta. Escondidos pelas crateras, os fieis descendentes de übermenschen sonham em regressar à terra e estabelecer o quarto reich, banhando o planeta na bonomia nacional-socialista após aniquilarem todos os indesejáveis. As ambições desmedidas e o poder computacional de um telemóvel colidem numa invasão atabalhoada da terra onde se descobrem os segredos da exploração espacial militar por parte de todo o mundo... menos da Finlândia, private joke do filme. Uma de muitas piadas elegantes que se entretecem na textura de Iron Sky. Para travar a invasão nazi restam apenas os actos heróicos de um afro-americano que foi cientificamente arianizado após captura na lua e uma fervorosa e inocente nazi. Argumento divertido mas pouco lógico, mas enfim, nazis na lua... não há aí muita lógica, apesar das afirmações contrárias dos fãs de haunebus, vrils e ciência oculta avançada nazi.

Se a história nos diverte e deixa a rir, ou a pelo menos sorrir, é nos efeitos especiais que este filme se distingue. Arranca com uma recriação quase perfeita de uma alunagem. E deslumbra-nos com visões muito bem conseguidas de uma hipotética tecnologia nazi. Para fãs de dieselpunk este filme será um deleite, com os seus discos voadores rústicos, zeppelins espaciais e a insana arma secreta nazi, uma amálgama octópode de engrenagens, correias metálicas, osciloscópios de ferro forjado e painéis de controlo cheios de alavancas e válvulas. Estilisticamente Iron Sky está muito bem conseguido, com uma estética muito própria de tons retro e dieselpunk. Nota-se que apesar do grande profissionalismo dos efeitos especiais -e e um filme destes vive necessária e assumidamente destes efeitos estes são de relativo baixo custo, realista mas sem atingir os níveis de hiper-realismo do cinema de grande orçamento. Mas este torna-se outro dos encantos deste curioso filme saído da gelada Finlândia.

Iron Sky é um filme despretensioso que não se leva a sério, algo assumido pela descontração dos actores. Vive dos efeitos especiais conseguidos com inspiradoras modelações em 3D e de uma estética própria, misturando tendências retro com a iconografia mítica da super-ciência nazi. Ficção científica pura, bem humorada e estilizada quase na perfeição, e muito melhor do que em boa parte das produções mais tradicionais no género.

(E como é que este filme me chegou às mãos? Enfim. Não sou apologista, mas as probabilidades deste filme estrear em portugal oscilam entre o remoto e o inexistente. E se estrear, ou passar nalgum festival acessível, podem crer que estou nas primeiras filas. Ver Iron Sky em ecrã gigante deve ser um mimo para os olhos.)

terça-feira, 29 de maio de 2012

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The Coming Robot Revolution

Yoseph Bar-Cohen, David Hanson (2011). The Coming Robot Revolution: Expectations and Fears About Emerging Intelligent, Humanlike Machines. Nova Iorque: Springer.

Este livro é um catálogo de projectos e investigação em diversos domínios da robótica, pensado como uma introdução a este campo. É abrangente mas não muito detalhado, deixando no final de cada capítulo bibliografia que permite aprofundar mais os temas abordados. Fala-nos de robótica humanóide, robótica biomórfica, inteligência artificial, próteses robóticas, utilizações e implicações dos desenvolvimentos neste campo. O seu carácter introdutório torna este livro algo superficial, e isso sente-se particularmente na discussão das potencialidades e implicações do desenvolvimento da robótica com o autor a aflorar a utilização de robots para cuidados de crianças ou na terceira idade, problemáticas da substituição de humanos por robots como força de trabalho ou o curioso campo dos que substituem pessoas por máquinas realistas nas relações humanas.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O que é é... belo.


Não percebi se a Marta ficou chateada com as minhas ruminâncias sobre gaiolas douradas onde o problema retratado é a mania que as meninas só podem brincar com brinquedos de menina e os rapazes só podem brincar com brinquedos de rapazes. Para deitar mais uma acha na fogueira devo dizer que quando as crianças me chegam às mãos o mal já está feito e os estereótipos sociais bem embutidos nas mentes. Como pormenor posso referir que nas brincadeiras (sérias, mas chiu que se mostrar que a coisa é séria a malta fica com medo e depois já não alinha) que faço em 3D com as crianças há uma clara diferença de género. Num dos programas que uso, que simplifica a criação de objectos 3D (a exportar em DXF para rendering bonitinho ou VRML para mundos virtuais, e é melhor calar-me que este resmungo não era suposto ser geeky), os rapazes deleitam-se em criar elaboradíssimos robots, naves, carros ou tanques. Já as raparigas ficam-se por animais. Rara é aquela que se atreve a criar um objecto mecânico. Nestas coisas também poderia entrar pelo espelhar dos estereótipos nos desenhos.

A questão coloca-se. O que se passa? Depois de tantos anos de luta por igualdades mais que nunca reforçamos inconscientemente a velha separação de papeis enquanto apregoamos a necessidade de igualdade. Pior: a coisa é feita subliminarmente, a começar nas roupas e brinquedos infantis. Misture-se com boas doses de cultura pop hipersexualizada e fica a ideia que andamos realmente a criar rapazes machões dedicados ao equivalente do século XXI da masculinizada mecânica e raparigas super-giras que até podem ter profissões e independências mas lá no fundo não descuram a casa, a cozinha e as crianças enquanto se querem vistas com o visual de supermodelos com um toque de pornografia soft-core. Et plus ça change.

A imagem é um antigo anuncio da Lego, dos tempos em que se praticava uma maior liberdade criativa e educativa. Ou antes: onde as empresas não se sentiam tentadas a esmifrar mais uns cêntimos de lucro à custa da inventividade natural de cada um. Quando os legos eram simplesmente blocos que permitiam construir qualquer coisa e não caixas temáticas cheias de pecinhas que servem para construir... o que está estampado na caixa. Ou, entrando noutros campos, quando ainda se acreditava que um computador serviria para tudo aquilo que o utilizador quisesse fazer e não apenas para consumir os conteúdos que fabricantes e vendedores consideram adequados.

Confesso que adoro a imagem. Adoro o conceito e o texto deste anuncio. É o mesmo espírito que orienta o meu trabalho como professor e investigador. Dar às crianças ferramentas e espaço para construírem o que quiserem. E tem tudo a ver com a citação com que insisto em encerrar as comunicações sobre as coisas do 3D, VRML/X3D e crianças: “Children have many opportunities to interact with new technologies – in the form of video games, electronic storybooks, and “intelligent” stuffed animals. But rarely do children have the opportunity to create with new technologies”.  Mitchel Resnick disse isto, se não me engano aqui: Computer as Paintbrush: Technology, Play, and the Creative Society. Vão ler, vale a pena. É que nem tudo o que é importante aprender se mede nos exames.

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Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes

David Soares (2012). Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes. S. Pedro do Estoril: Saída de Emergência.

Uma das vertentes que se destaca na notável obra de David Soares é a sua erudição, expressa nos inúmeros detalhes dos enredos dos seus livros. Com este Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes o autor partilha conosco alguma da sua erudição. Obscuros factos históricos, mistificações que se tornaram lugar-comum, observações sobre iconografia ocultista, estranhezas da história da ciência ou facetas menos conhecidas de personagens históricas são o que podemos encontrar neste livro. Mais do que o compêndio que anuncia no título, este é um gabinete de curiosidades que nos dá um vislumbre das ideias que fermentam na mente deste autor e que são vertidas no seu corpus narrativo peculiar e marcante.

Fluxo

 Paisagem automóvel...

... e amontoado de iniciativas culturais.

domingo, 27 de maio de 2012

3D Alpha @ IPCE


Estive presente na conferência Investigação, Práticas e Contextos em Educação que decorreu em Leiria nos dias 25 e 26 de maio. Abrangente e multidisciplinar, permitiu divulgar uma grande quantidade de trabalhos, análises e experiências realizadas no domínio educativo, das quais as TIC na generalidade foram um aspecto focado. As actas do congresso estão disponíveis aqui: Livro de Atas IPCE.

O 3D Alpha participou com um poster e comunicação. O cartaz relativo ao 3D Alpha esteve patente em lugar de destaque, à entrada da sala que reunia os posters.

A diversidade de partilhas foi enorme, e gostaria de partilhar algumas que se distinguem pela sua relevância e interesse. Isto não é um demérito para as restantes, apenas uma observação sobre a diversidade de focos e a relevância de interesses investigativos.

Nelson Jorge apresentou o trabalho ainda em alfa da equipe a que pertence na comunicação Realidade Aumentada em Educação: projecto de e-Learning aplicado na área da saúde. Despertou logo a atenção pela demonstração de aplicações web based de realidade aumentada. Quanto ao projecto em si, distingue-se pelas vertentes de tecnologia móvel e integração com plataformas de e-learning. Foi interessante ficar a saber que as primeiras experiências utilizam o 123D da Autodesk e o Blender para criação de objectos virtuais acoplados a apps web based para visualização. O VRML/X3D poderiam ser aqui umas boas achegas a esta ideia, mas a sua integração com plataformas móveis (iOS e android) ainda está incipiente. É mais uma ideia para aguardar até que o WebGL e o HTML5 se dêem bem com VRML/X3D e sistemas operativos para tablets e smartphones.

Nas sessões plenárias destacam-se as comunicações Inclusão: diferenças festejadas e silenciadas na escola e Net Generation: novas tecnologias, novas aprendizagens. Na primeira, Maura Lopes da Unisinos transformou o que parecia à partida uma observação sobre escola inclusiva e necessidades educativas especiais numa pertinente reflexão sobre o poder das terminologias em diluir a gravidade das situações. A utilização de palavras menos chocantes ou ofensivas para descrever situações problemáticas contém o risco de diminuir a sua gravidade, embora chamar-lhes nomes suaves não as faça desaparecer... fiquei particularmente surpreendido com a prática estatística brasileira de contabilizar os sem abrigo como habitantes das ruas. Parece daqueles exemplos de descarrilamento do politicamente correcto. Se vagabundo é obviamente pejorativo, sem abrigo descreve a exclusão social. Habitante das ruas faz pensar em gente que se sente feliz por viver debaixo de arcadas, talvez numa liberdade de bom selvagem de Rousseau, retrato que não corresponde de todo à dura realidade da pobreza extrema.

João Matos partilhou intrigantes reflexões sobre o como aprendemos, influência das tecnologias na aprendizagem, diferenças geracionais apreciáveis nas formas de agir e apreender o mundo, evolução conceptual da tecnologia e necessidade de repensar espaços e currículos para novas gerações que pensam de forma diferente. É importante reflectir sobre estes assuntos. Se quisermos uma escola como local de acumulação de conhecimentos, as coisas estão bem como estão e assim continuarão com avaliação por exames concebidos precisamente para medir aprendizagens específicas, mas se o quisermos fazer de forma eficaz e abrangente há que saber adaptar o monolitismo compartimentalizado do sistema de ensino à necessidade contemporânea de flexibilidade e visão holística. Ou posto de outra forma: saber coisas faz jeito, mas o que interessa mesmo é o que se faz com o que se sabe.

Nestas guerras da net generation há sempre o extremismo de dois campos, um que afirma as novas formas de pensar como uma espécie de super-poder inato às gerações recentes e outro que apregoa a iminente catástrofe da extinção às mãos de uma geração estupidificada. A realidade é normalmente mais flexível e menos homogénea. Mas nestas coisas penso como os rostos gravosos que reflectem sobre o assunto sorririam se se alterasse o argumento. Imaginem que hoje ouviriam alguém falar sobre o desastre de uma nova geração que só sabe rodar o volante e carregar no acelerador e que não sabe nem liga importância ao aparelhar de um cavalo, atrelar de uma junta ou guiar uma carroça. Absurdo, certo? Olhando para quase cem anos de utilização do automóvel sabemos como as necessidades sociais mudaram. É o normal fluxo histórico.


Ainda sobre esta comunicação, registei dois pormenores divertidos: o perguntar o que é aprender aplicado ao ser humano, aos animais e... robótica numa referência explícita aos desafios da inteligência artificial onde é tão difícil replicar aquilo que para um humano parece simples; e a necessidade que o orador sentiu de explicar aos presentes o que era uma máquina de escrever mecânica. Estas infiltrações de puro futurismo...


Na minha opinião pessoal o painel mais interessante foi aquele em que participei pela consonância de temáticas abordadas  relativas a arte, tic e educação. Luís Noivo e Paulo Ferreira apresentaram o Projecto Go! de utilização de GPS e georeferenciação em contextos interdisciplinares. Já conhecia este trabalho e foi interessante ver a evolução que fizeram para o intrigante campo da geoarte (percursos traçados com GPS que formam imagens sobrepostos sobre os mapas). Fernando Rodrigues reflectiu sobre os desafios da hipermodernidade, estética, imagem mediada pela tecnologia e alterações de comportamento geracionais potenciadas pela tecnologia na comunicação Aprender a Olhar na Era da Técnica.

Apresentei uma panorâmica do 3D Alpha nas vertentes de animação 3D e criação de mundos virtuais em VRML/X3D, enfatizado o carácter criativo do projecto, a utilização destas tecnologias por crianças, a possibilidade de trabalhos interdisciplinares que permitam transferência de aprendizagens entre diferentes áreas, aprendizagens efectivas com esta vertente de utilização das tic... e umas divagações sobre McLuhan, nova estética, 8 bit, virtualidades e hábitos de consumo mediático. A hora marcada para a minha apresentação já implicava noite a aprofundar-se no final de um dia longo.

Balanço final: estas coisas não funcionam na base do build it and they will come. Há que fazer trabalho de formiguinha e divulgar, divulgar, divulgar. Vai-se conquistando interesse e gerando novas ideias. O interesse foi assinalável, com alguns pedidos de especificação das tecnologias e métodos de trabalho. E coisas como a que reproduzo na última imagem, a que dou valor por ter sido observada por pessoas que não me conhecem de todo. 3D... foi a do 3D Alpha.

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Leiria




A deambular pela cidade seccionada pelo rio Liz.

sábado, 26 de maio de 2012

Acidentes

A modelar um terreno no Bryce. Ao rodar... a minha mente perversa pensou noutra coisa que não em colinas para enquadrar naves espaciais numa cena 3D. E não, não num rato mickey. Ai. Lixívia nos neurónios a ver se esta pareidolia começa a ser mais inocente.

Don't Panic

Porque ontem, 25 de maio, foi o Dia da Toalha e também o Geek Pride Day... é giro entrar na Fnac em Leiria e ver o Hitchikers Guide To The Galaxy em destaque. Há quem esteja atento a estas coisas, até mesmo no hinterland português. E lembrem-se, don't panic.

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sexta-feira, 25 de maio de 2012

glitch

Um glitch no scoop.it. Identidades pessoais na era do social digital...?

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 A brincar no Vivaty Studio. Formas em revolução, deformações e alguma edição directa dos polígonos.

Uma exportaçãozinha em DXF, importação no Bryce com aplicação de novos materiais... o inevitável (e inútil) vanity render.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A Postos...


Cartaz pronto, impresso em vinil tamanho A0. Amanhã por Leiria assumo o manto de evangelizador do VRML/X3D na Conferência Internacional de Investigação, Práticas e Contextos em Educação.

O cartaz alusivo, destacando alguns dos muitos trabalhos desenvolvidos por alunos do Agrupamento de Escolas Venda do Pinheiro com tecnologias 3D, vai estar patente durante os dois dias da conferência. E amanhã, pelas 21:30, o 3D Alpha será apresentado em painel temático.

50's spaceship



As velhas capas de revistas de FC pulp são uma interminável fonte de inspiração.

Piranese

Milo Manara (2004). Piranese: Prison Planet. Rockville: Heavy Metal.
Apesar de admirar a forma como Manara desenha o corpo feminino (tanto que consegue dizer com tão pouca linha), confesso que não sou grande fã da obra deste seminal autor de banda desenhada embora abra excepção para a surreal colaboração com Fellini que é o delicioso Viagem a Tulum. Este Piranese é também um objecto estranho. Tem um toque da sensualidade habitual no autor, conjugado com uma certa revulsão na representação da forma masculina. É uma obra de ficção científica, um pouco desconexa, mas socorre-se da tradição renascentista. Manara a desenhar naves espaciais e paisagens alienígenas... bem, já vi pior. Mas Manara a desenhar robots e altos dignatários é uma lição de história de arte, a pegar nos clássicos do renascimento e a inspirar-se claramente na prematura robótica de Leonardo da Vinci para os seus andróides. A narrativa não prima pela lógica, cheia de volteios inexplicáveis. Mas goste-se ou não da obra de Milo Manara, uma coisa é inegável: o seu traço é magistral, com uma economia de linha que se traduz numa grande riqueza gráfica. Piranese não é das suas melhores obras, mas é um curioso desvio de um autor europeu para os campos da ficção científica.

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Voodoo

Porquê ir lendo a Voodoo? O comic não é grande coisa mas tem uma das heroínas mais jeitosas do alinhamento da DC-52. Se bem que a Batwoman não lhe fica muito atrás. Pequenas manifestações do adolescente que reside dentro de mim...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

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Conto do Vento


É sempre um prazer ver esta curta metragem portuguesa de animação digital. Já a tinha visto no Motelx e revi-a ontem numa edição do Short Cuts que contou com a presença dos criadores, que falaram um bocadinho sobre o processo de concepção deste filme único.
Conto do Vento parte de uma narrativa que foca a dicotomia entre saber e superstição num passado que nos parece intemporal. Seria mais um desenho animado que conta uma história simpática senão pela estética marcada, muito pessoal e vastamente diferente do que é normal neste tipo de animação. O personagem principal, expresso por imagem e movimento de câmara, é o vento. Dar-lhe carácter obrigou a um repensar da iconografia fílmica, expressa por um vai-vém rodopiante da câmara e de imagens que se mesclam com partículas. Tem um carácter ao mesmo tempo etéreo, do sussurro ao sopro sibilante, e matérico, com uma fortíssima texturização fluída da imagem.
Ouvir os criadores a falar deste filme deu insights preciosos sobre o software utilizado, o processo de criação e o tempo que demoraram na concepção da obra. Sendo uma curta de animação 3D, é um triunfo estético. O pormenor mais interessante de Conto do Vento é a forma como não se verga à estética do digital. É um produto avançado em que se sente que apesar do papel essencial a tecnologia fica em segundo plano, sujeita à estética e às necessidades do contar da história. Um dos criadores referiu especificamente que não estavam interessados numa imagem limpinha, à pixar, sublinhando esta sujeição do software perante o conceito e sentido estético dos criadores. É uma lufada de ar fresco num género onde grande parte do que é criado parece ser uma prova de conceito das capacidades cada vez mais avançadas da modelação 3D, rigging, motion capture e rendering. 
E é uma boa história. Já tinha dito isto?

terça-feira, 22 de maio de 2012

The Rape Of Nanking

Iris Chang (1998). The Rape Of Nanking. Ringwood: Penguin.

Quando falamos nas atrocidades cometidas na segunda grande guerra normalmente ficamo-nos pelo holocausto. Talvez por eurocentrismo, talvez porque o horror ao nosso lado nos pareça mais chocante, talvez pelo carácter mecanizado da carnificina em nome de ideais absurdos. Mas a segunda guerra foi mundial. Não se passou só na europa. Noutros locais do planeta a mortandade industrializada já se tinha iniciado antes da data historicamente acordada para início da II guerra. E com as operações militares vieram os excessos e as tentativas de genocídio. É o caso da invasão japonesa da China, que deu azo a histórias de horror de arrepiar a espinha.

Para a história ficaram as pouco faladas atrocidades de Nanquim como um dos piores exemplos de genocídio sistemático levado a cabo pelas tropas nipónicas sob a população chinesa. Este livro olha com atenção para esse triste momento na história moderna. Lê-se como um bestiário medieval ou um livro do apocalipse moderno: uma infindável litania de atrocidades violentas, carnificina, barbárie em estado puro. Nanquim ficou para a história como um verdadeiro catálogo de atrocidades. Tudo o que se puderem lembrar - violações em massa, execuções sumárias, degolamentos em via pública, tortura sádica, experiências químicas em prisioneiros, foi cometido contra a população indígena de Nanquim. Se o holocausto europeu foi uma tarefa mecanizada e burocrática, o genocídio chinês foi coisa bárbara e sanguinolenta.

Resta pensar o porquê. Vemos o Japão como uma terra dócil, de cultura elegante e peculiar. Há uma dissonância cognitiva entre a selvajaria nipónica na II guerra e a poesia às amendoeiras em flor. Por outro lado, conhecedores da cultura pop japonesa sabem que há uma sub-corrente tenebrosa no carácter simpático da nação. Mas isto é o presente. No passado recente, os japoneses foram sujeitos às tiranias ideológicas de um violento fascismo militarista, que semeou as raízes para a barbárie em combate.

Parte deste livro olha para o relativo desconhecimento de Nanquim e das atrocidades nipónicas. Olhamos para o horror do nazismo, discutimos os excessos soviéticos, falamos da controvérsia da política do bombardeamento de terror aliada. Os crimes japoneses ficam-se como nota de rodapé. Em parte isso deve-se às pressões geopolíticas da guerra fria, que mantiveram o Japão ocupado relativamente intocado se comparado ao ano zero alemão. Essa manutenção do status quo é ainda hoje responsável por uma forte corrente revisionista que suprime sistematicamente referências aos crimes de guerra cometidos por forças japonesas.

The Rape of Nanking é um livro aterrador. Não só pelo catálogo de horrores, ou pela distorção política das memórias. Deixa a sensação que a história se repete. Ficamos chocados com as atrocidades da segunda guerra, mas na memória recente temos os genocídios ruandês ou jugo-eslavo para nos recordar que se a história nos dá lições, elas depressa são esquecidas por uma desumana humanidade.

Pelo café

De manhã, com o café, para acordar:
- ouvir a inefável ministra oremos pela chuva Cristas a falar sobre a avaliação da Troika nos próximos dias. Tudo corre bem, de acordo com o previsto, os acordos estão a ser cumpridos, todos os quadradinhos estão riscados. Ainda bem. O país pode estar a decair e a população a empobrecer à velocidade da luz, mas todos os vistos estão certinhos dentro dos quadradinhos. Isso sim, é importante.
- ouvir um comentador económico na RTP a dizer que suspeita que uma das razões do crescimento do desemprego está na contracção do estado. Conclusão lógica: há muita gente a viver à conta do estado. Curioso ter dito isto na estação pública de televisão, que se paga regiamente com fundos públicos, onde certamente recebe vencimento saído... dos cofres do estado, rodeado de material pago pelo estado num edifício construído com dinheiros públicos rodeado de jornalistas principescamente pagos por verbas saídas do orçamento de estado. Pois, se calhar tem razão.

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