terça-feira, 2 de setembro de 2025

O Crescente Submerso


Emilio Garro (sem data). O Mediterrâneo em Chamas: O Crescente Submerso. Estoril: Editorial Salesianas.

Confesso, são estas surpresas que me fazem gostar do vasculhar alfarrabistas em busca de obras surpreendentes. Não que este livro seja excecional, bem pelo contrário. É uma ficção histórica de pendor didático e moralista escrita para jovens leitores. O interessante é o momento histórico que retrata, a batalha de Lepanto, onde o poder naval otomano foi travado por uma armada de coligação italiana (ao tempo, os vários estados que vieram a formar a Itália) e espanhola.

Não podemos esperar uma forte e profunda abordagem a este momento histórico, estamos perante um livro para jovens de pendor cristão. Como tal, os otomanos são representados como bárbaros decadentes sedentos de sangue e poder, sempre prontos a sujeitar os cristãos às piores sevícias. Por outro lado, os nobres espanhóis e italianos que comandam as várias flotilhas que compuseram a armada católica são exemplos de piedade religiosa, coragem e sabedoria militar. 

O livro culmina numa empolgante descrição da batalha, embora se alicerçe numa história de aventuras onde dois rapazes e as suas famílias vivem peripécias ao ser capturados pelos otomanos. A sua libertação e luta contra o inimigo são o artifiício narrativo que quebra o lado didático e descritivo do livro. 

Este é um livro do seu tempo, obra para jovens onde a principal preocupação estava na abordage histórica sob um ponto de vista religioso. Uma pesquisa mostrou-me que o autor foi escritor italiano de romances didáticos para a juventude de meados do século XX, e é nessa perspetiva que fiz a leitura. Como curiosidade, ao abrir o livro deparei com o carimbo da biblioteca do Seminário de Santarém. Numa outra vida, este pequeno tomo certamente empolgou jovens seminaristas com a sua mistura de piedade e aventura.

 

domingo, 31 de agosto de 2025

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Jon Davis’s original artwork
: Mistério espacial. 

A Serpente no Sótão – Pedro Medina Ribeiro: Uma leitura que já comecei, e me parece ser deliciosamente gótica. 

10 livros para te dar que pensar neste verão: Vindo da Shifter, podem crer que são sugestões de leitura que obrigam mesmo a pensar. 

The Kinds Of Books You Want To Read Over And Over: Todos nós temos aqueles autores e livros favoritos, que relemos com gosto e sempre a encontrar algo de novo na obra. 

La Agencia Espacial Europea y Playmobil sacan un set con un astronauta y un rover que lo mola todo: O puto de nove anos dentro de mim está aos pulos, quer um destes. O puto de cinquenta anos que escreve aqui também quer! 

Woody Allen to publish his first novel: Confesso que o que me surpreende aqui é Woody Allen ainda estar vivo (hey, apesar da piada foleira, sou fã dele). Quanto ao livro, é descrito como "a portrait of an intellectual crippled by neurotic concerns about the futility and emptiness of life". Essencialmente, o tema de todos dos filmes do cineasta. 

These are our favorite cyber books on hacking, espionage, crypto, surveillance, and more: Leituras sobre o lado mais obscuro e fascinante do mundo digital.


YELLOW SUBMARINE (1968): Onde todos vivemos. 

As You Might Have Suspected, A Small Percentage Of People Are Ruining Social Media For Everyone: Os dados de investigação comprovam o que sentimos. O discurso online é monopolizado por uma minoria aguerrida, irritada com o mundo e mal resolvida, que transformou o discurso público saudável e moderado numa fossa séptica de extremismos. O problema, é que os ecos dos resmungos destes trolls se transmitem ao resto da sociedade. 

Study warns of ‘significant risks’ in using AI therapy chatbots: A questão de fundo é saber se queremos ser desumanos ao ponto de confiar a terapia dos males mentais e psicológicos, talvez do mais fragilizante que há, em algoritmos. 

Stellantis abandons hydrogen fuel cell development: Apesar do hype, esta tecnologia está a ficar em segundo plano face à eletrificação rodoviária. 

UE testa app de verificação de idade: Uma mostra que a UE não está apenas a legislar, mas também a desenvolver estruturas que permitam o controle e cumprimento das leis. Isto já vem tarde, dada a violência sexualizante e desinformação que grassam online, e a que as crianças estão a ser expostas sem quaisquer filtros. 

Finding value with AI automation: Aplicações industriais de IA, com um especial foco no processamento de linguagem. 

The Hyperpersonalized AI Slop Silo Machine Is Here: A exploração de michos culturais reduzidos através do lixo generativo. 

MacPaint art from the mid-80s still looks great today: Redescobrir as estéticas propiciadas pelas primeiras aplicações de edição de imagem. 

Sexting With Gemini: Apesar de terem implementado barreiras protetoras dos utilizadores mais jovens, é relativamente simples levar os chatbots a ter conversas muito pouco apropriadas com crianças e jovens. 

Google adds featured notebooks on selected topics to NotebookLM: Esta é uma das melhores, mas também mais discretas, ferramentas de IA que conheço. Esta estratégia da google ajuda a perceber como trabalha, e para que serve. 

YouTuber faces jail time for showing off Android-based gaming handhelds: Os italianos levam muito a sério os direitos de autor, e neste caso, o alvo é um influencer que mostra no seu canal aquelas consolas baratas chinesas que vêem carregadas de jogos clássicos. 

Delta Air Lines is using AI to set the maximum price you’re willing to pay: Inteligência Artificial, essa tecnologia ao serviço da humanidade… ou melhor, ao serviço do enriquecimento desmesurado dos capitalistas. 

Back from Shenzhen, China, where I’m manufacturing Poem/1: Uma visão muito pessoal do clima da indústria tecnológica chinesa. 

How to run an LLM on your laptop: Técnicas e aplicações para usar os LLMs em modo local sem depender dos interfaces das empresas.


Top-Notch, January 15th 1922: Aventuras navais. 

Death of a Fantastic Machine: A banalização da câmara trouxe consigo uma forte diminuição intelectual do discurso audiovisual. 

The enshittification of American hegemony: A lição económica aplicada à diplomacia, com os aliados ocidentais a ter de lidar com um governo americano que os destrata, sem que no entanto consigam sair da aliança. 

How Was the Wheel Invented?: Inventada não é o conceito correto, antes, uma evolução advinda das necessidades, que levou ao desenvolvimento da roda. 

Trump Kept Gold Club World Cup Trophy for Himself So FIFA Had to Give the Winners a Replica: Ok, isto é inesperado, em tantos anos de blog de certeza que esta é a primeira nota que deixo sobre futebol, um desporto cuja cultura me desagrada. Mas esta história do presidente que gosta tanto do brilho dourado do troféu original que fica com ele, enquanto os vencedores do torneio ficam com réplicas, é demasiado idiota e sintomática do estranho momento que vivemos para não a registar. 

Airbus está a punto de cerrar un nuevo pedido masivo en China, según SCMP. El momento no puede ser peor para Boeing: Duas notas curiosas - em primeiro lugar, o abalo global que isto provoca à Boeing. Mas é merecido, culpa do seu laxismo que se traduziu em indesculpáveis problemas e acidentes. A outra nota tem a ver com o muito badalado Comac, o avião chinês, que embora prometedor tem uma base industrial ainda em desenvolvimento. 

Desalinhamento: Há formas simplistas de interpretar dados, e as incómodas. 

The School Teacher Who Was Selling “Creepy” Art Made By His Students: Diga-se que o errado aqui não é as crianças e jovens a fazer ilustrações assustadoras, é o professor aproveitar-se financeiramente disso. 

A Nasty, Cynical, and Eerily Accurate Look at All-Too-Recent History: O preço da vida extremamente online, das bolhas de desinformação à explosão dos extremismos. 

Famed Antikythera Shipwreck Yields More Astonishing Discoveries: O clássico local arqueológico ainda nos reserva muitas boas surpresas. 

After a partly successful test flight, European firm eyes space station mission: Um dinamismo que precisamos, aqui na Europa. 

Colbert’s cancellation is a dark warning: Já chegámos ao ponto em que um apresentador de TV que critica o sicofantismo da empresa onde trabalha perante um poder notoriamente corrupto se vê despedido, num país ostensivamente democrático. Caros, o fascismo não começa com botas cardadas a marchar nas avenidas, começa com a capitulação das instituições. 

Pluralistic: Conspiratorialism and neoliberalism (19 Jul 2025): Vale sempre a pena ler Cory Doctorow, e neste artigo demonstra a desumanidade dos ideais que sustentam o neoliberalismo em que vivemos - o egoísmo como leitmotiv da vida social, a crença no homem forte e na elite, o descartar de todos os problemas sistémicos que na realidade determinam a vida das pessoas, tudo em nome de maximizar os lucros individuais (que geralmente só vão para um punhado de indivíduos) passado os custos desastrosos para a sociedade.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Nicole Shea: First Flight; Grounded; Sundowner.


Chris Claremont (1987). First Flight. Nova Iorque: ACE.

Reler o trabalho de Claremont nos X-Men recordou-me destes livros do mesmo autor, editados nos anos 80. É um artefacto típico da edição de FC de entretenimento da época, o princípio de uma trilogia onde acompanhamos as aventuras de uma personagem. Claremont mete-se na FC militarista, seguindo uma jovem aspirante a piloto na sua primeira missão espacial. E, claro, nada irá correr como esperado. O que supostamente seria uma missão de baixo risco aos limites do sistema solar, acaba por ser uma tremenda aventura com combates espaciais, vinganças tenazes e até um primeiro encontro com uma civilização alienígena. 

É um daqueles livros que durante uma boa porção nada parece acontecer, até explodir em ação frenética. Mostra bem as qualidades que fizeram de Claremont um argumentista marcante nos comics, a sua capacidade para crescendo de ação. Mas, também, mostra que ser bom a escrever comics não se traduz necessariamente em ser bom romancista. A narrativa é linear, e quem conhece o trabalho nos X-Men apanha durante a leitura muitos vícios linguísticos e narrativos. O livro diverte, de forma datada, mas não passa de um romance de qualidade média.


Chris Claremont (1991). Grounded. Nova Iorque: ACE.

Confesso que esta foi uma leitura penosa, mostrando que as qualidades de escrita num dado registo não se traduzem automaticamente para outro. Claremont era (e ainda é) um exímio argumentista de comics, mas em termos literários não se safa. Não é por acaso que só nos legou três livros. Este segundo mostra bem as suas falhas - uma narrativa cheia de enchimento, pouco interessante, incapacidade para dar dimensões às personagens, e uma história francamente desinteressante.

Na sequência das aventuras do primeiro livro, a piloto Shea vê-se relegada ao terreno, proibida de voar no espaço. Depressa perceberá que tal se deve a conspirações e riscos para a sua vida, numa teia complexa que procura abalar as relações entre humanos e a espécie de felinos alienígenas com que fizeram contacto e chega até a criar um atentado contra o presidente americano. Colocada na lendária base da área 51, Shea servirá de ligação a um grupo de alienígenas que auxilia no intercâmbio e transferências de tecnologia aeroespacial, testando novas aeronaves, e trabalhando diretamente com os dois filhos do milionário que conseguiu transformar a tecnologia de motores trans-lumínicos numa indústria que permite à humanidade ultrapassar os limites do sistema solar. Gerir estes dois herdeiros do império industrial tem os seus desafios. Um é um rapaz genial que procura validação constante mas na verdade está a trabalhar num intenso plano para assassinar o pai, que culminará numa tentativa de colisão com a estação orbital terrestre. A filha parece ser mais social e acessível, mas na verdade revela-se ser a génio do crime que montou a densa conspiração que dá o motivo ao primeiro livro da série, e se adensa agora com múltiplos atentados e ameaças diretas à vida de Shea.

O livro até tem umas ideias curiosas, como o navegar das dificuldades interculturais entre espécies e a ideia dos filhos do milionário serem clones mal sucedidos dele, mas isso não chega, toda a linha narrativa é bastante entediante.

(Uma nota: sendo um livro escrito nos anos 90, "milionário" é a epítome da riqueza. Hoje, seria "bilionário", e notem que isso não representa uma evolução e melhoria.)


Chris Claremont (1994). Sundowner. Nova Iorque: ACE.

Devo dizer que me sinto um tremendo masoquista por ter levado até ao fim a leitura desta trilogia. Há uma razão para Claremont não se ter tornado mais influente para além do seu trabalho como argumentista dos X-Men, e esta sua única trilogia mostra bem isso. Tal como nos outros dois volumes, só ganha ritmo perto do final do livro, com uma história que se arrasta, segundo caminhos paralelos menos interessantes. 

Neste terceiro volume, as desventuras da piloto Nicole Shea concluem de forma que se pretendia espetacular. Destilando a leitura, todos os ingredientes estão lá. A personagem regressa ao espaço, reencontra velhos companheiros, e vai testar um novo tipo de nave que cruza tecnologia terrestre com alienígena. Nesse processo, descobre que o primeiro contacto com os felinos alienígenas foi mais profundo do que se julgava, tendo sido infetada com um vírus cognitivo que lhe transmite a memória cultural da civilização alienígena, e vê-se numa situação em que ela própria se parece estar a metamorfosear em alienígena, em espírito, mas não em corpo. O que a leva ao planeta-mãe dos aliados alienígenas para se submeter aos seus ritos de passagem. E aí, acaba por ser ver no centro de uma conspiração que visa abalar a recém criada aliança entre a Terra e a civilização alienígena.

Apesar disto tudo, o livro não funciona, com a história a tornar-se confusa enquanto as personagems seguem  desvios narrativos. Sente-se ali muito enchimento de chouriço, com cenas que se arrastam em descrições desnecessariamente longas (especialmente em momentos de ação, o que faz sentido, dado que espremer ao máximo uma dada cena faz parte das regras dos comics comerciais). 

Demorei anos a fazer esta leitura - devo ter dado com a referência a estes livros nos anúncios das Asimov que lia nos anos 90, e agora que a fiz, em modo algo nostálgico, percebo que não perdi nada por não a ter lido mais cedo. Pelo contrário, porque depois deste lodaçal literário, a imagem que tenho do seu autor como um dos grandes argumentistas dos comics do final do século XX fica bastante beliscada.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

A Serpente no Sotão


Pedro Medina Ribeiro (2025). A Serpente no Sotão. Lisboa: Saída de Emergência.

São uma excelente surpresa, estes contos góticos de Pedro Medina Ribeiro. Góticos no tom e estilo, não na atualidade. Este não é um livro- pastiche, a replicar velhas estéticas. A modernidade contemporânea está sempre à espreita nestas histórias. O classicismo está no tom literário e na forma elegante como recupera o velho estilo das histórias de assombrações, bizarrias sobrenaturais e outras que nos fazem temer o escuro.

Isto, mesmo nas histórias que se passam naquele passado novecentista que deu ao gótico literário o seu sabor a casas decrépitas, maldições misteriosas e dramáticas assombrações. É um estilo que Medina Ribeiro domina bem, e é um deleite de ler.

domingo, 24 de agosto de 2025

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Artist is Rich Shenfield
: Ecrãs futuristas. 

The Best Short Sci Fi Books, recommended by Karin Tidbeck: Tidbeck tem razão, ao recordar os bons velhos tempos de uma FC mais concisa, cujas histórias e conceitos não se espraiavam ao longo de vários volumes com números de páginas acima dos 500 ou 600. 

Local Grifters Discover Superman Is From Another Planet: Bem, mas a história de Kal El/Clark Kent sempre foi uma metáfora da imigração. Claro que no clima aguerrido e inquinado da discussão pública sobre imigração, contaminada pela propaganda violenta de extrema direita, esta metáfora clássica dos comics vai despertar ruídos. 

First Look At David Colton As The Post 9/11 Captain America (Spoilers): Um novo Capitão América, pensado para um novo milénio… ou apenas uma jogada da editora, que sabe que o clássico Steve Rogers está prestes a cair no domínio público. 

What Designers Can Learn from Magic Realism: As lições da literatura especulativa aplicadas ao design (com uma boa surpresa para os amantes de Saramago). 

Si no sabes qué leer este verano, la redacción de Xataka tiene unas cuantas ideas para pasar un verano entre páginas: Mas desenganem-se, não são leituras leves de praia. 

Dylan Dog & Martin Mystère + Tex Willer e Zagor: Este artigo recorda-me as saudades que tenho de ler Dylan Dog. Será que estas edições brasileiras estarão disponíveis por cá? 

The Hackaday Summer Reading List: No AI Involvement, Guaranteed: E preparem-se, parte desta lista são grandes clássicos da literatura dedicada à tecnologia. 

Classic Fantasy Books, recommended by Matthew Sangster: Não encontram aqui novidades, mas é mesmo por isso que são considerados clássicos - tornaram-se intemporais. 

What’s Brilliant About the New Superman Movie: Ainda não vi, mas irei ver, porque Krypto, ora pois claro! Mas as críticas estão a ser positivas, com um refrescar do universo cinematográfico da DC, que sempre se caracterizou pelo seu pomposo pendor grimdark. 

Gasp! Researchers Say There’s an Inaccuracy in Popular Teen Movies: Sabemos que a cultura pop não reflete a realidade adolescente, mas este estudo mostra o absurdo destas clivagens entre fantasia e realidade. 

The French Half Of Humanoids Has Been Placed Into Liquidation: Dias complicados para uma editora clássica. 


For Control Panel Saturday: Alienígenas surreais. 

La gente odia las reuniones. Así que están enviando a sus secretarios de IA para que tomen notas: Bem, há uma razão social para isto. A maior parte das reuniões que temos não são, realmente, reuniões. São encontros onde nos são fornecidas instruções, momentos que poderiam perfeitamente ter sido um email, e não de troca de experiências. Não admira que perante tanta reunião que se sente como inútil, cada vez mais haja a tendência de enviar um assistente de IA para tirar notas e resumir a reunião. Faz todo o sentido, e digo isto sem ironia. 

How a Canadian's AI hoax duped the media and propelled a 'band' to streaming success: Um intrigante desenvolvimento na história da banda virtual que ganhou fama no Spotify, aparentemente foi uma partida elaborada e não uma espécie de lança em áfrica por parte da indústria musical. Mas não deixa de mostrar as fragilidades da criação musical na era em que se conjugam o estrangulamento das plataformas com a possibilidade de automatizar todo o processo de criação musical com IA. 

Against "Brain Damage": O uso e abuso dos chatbots de IA causa danos ao cérebro? Bem, não é bem assim. O que os estudos que são interpretados pelos media como indicador de danos cerebrais realmente mostram é que quem depende muito destas ferramentas para produzir textos tem uma capacidade menor de se recordar do que produziu, o que faz sentido, dado que descarregou parte do trabalho intelectual no algoritmo. 

I’m not ignoring your message – I’m overwhelmed by the tyranny of being reachable: Compreendo muito bem isto. Há momentos dos meus dias em que uma nova notificação, email ou mensagem já faz exceder a minha carga cognitiva. E admito, abandonei a postura de disponibilidade e resposta imediata a mensagens. O que quer que esteja a fazer não tem de ser interrompido para dar vazão ao sentimento psicológico de ser capaz de respostas rápidas. Respondo quando é possível, quando me dá para isso. E se não responder, é porque no fundo, o assunto não merece desperdício da minha atenção. 

Grok is being antisemitic again and also the sky is blue: Isto é um case study sobre o pior que a IA generativa nos trás, sublinhando que o lixo que produz resulta das escolhas conscientes de quem controla este sistema. 

Architectural Dressage: Requalificação urbana auxiliada por enxames de robots, ou, como mover um bairro inteiro sem o demolir. 

3000-Year-Old Babylon Hymn Deciphered By AI: Confesso que perscrutar estes textos há muito esquecidos é para mim um dos usos mais fabulosos da IA. A tecnologia do futuro a redescobrir o nosso passado longínquo. 

Emerson, AI, and The Force: Este texto sobre IA  e educação foi das primeiras coisas que li, esta manhã, e esbarrei logo com esta visão - "I was influenced by a strain of techno-utopian thinking that was widespread in the mid-1990s, when the Internet was first becoming available to a mass audience. In those days, a lot of people, myself included, assumed that making all the world’s knowledge available to everyone would unlock vast stores of pent-up human potential. That promise actually did come true to some degree. It’s unquestionably the case that anyone with an Internet connection can now learn things that they could not have had access to before. But as we now know, many people would rather watch TikTok videos eight hours a day. And many who do use the Internet to “do research” and “educate” themselves are “learning” how Ivermectin cures COVID, the sky is full of chemtrails spewed out by specially equipped planes, and vaccinations plant microchips in your body". É uma visão de que partilho, como também veterano de um tempo em que se achava que a capacidade da internet em dar voz a todos, quer na web 2.0 (ainda se lembram desse conceito?) quer nos primórdios das redes sociais, iriam gerar o desabrochar cultural, ético e político. Agora percebemos o erro, a elite tecno-cognoscente que éramos assentava numa cultura positivista que não é de todo partilhada pelo resto da humanidade. É algo que sinto intensamente hoje, ao atravessar os pantanais online pejados de desinformação, discurso do ódio, acintosidade e banalidade elevada a ruído permanente. Os trolls, afinal, não eram uma minoria que rosnava debaixo das pontes. Bem pelo contrário. No que toca aos correntes deslumbramentos sobre IA (generativa) e educação, outra área tecnológica onde o excessivo otimismo se cruza com a preguiça mental da generalidade das pessoas e o desastre cultural daí advindo começa a tornar-se demasiado evidente, isto é das coisas mais sãs que li e me fizeram refletir, recentemente: "if AI-driven education does nothing more than make students even more reliant on AI, then it’s not education at all. It’s just a vocational education program teaching them how to be of service to AIs. The euphemism for this role is “prompt engineer” which seems to be a way of suggesting that people who feed inputs to AIs are achieving something that should be valorized to the same degree as designing airplanes and building bridges." Note-se que Stephenson não é educador ou expert em IA, é um escritor (excelente, apesar de achar que aos seus últimos livros lhes fazia bem um emagrecimento) de Ficção Científica, muito cerebral e analítico no que toca aos sistemas que regem o mundo. Sistemas de ideias, de economia, de ciência e tecnologia. Só vos posso recomentar ler Cryptonomicon, que consegue transformar em aventuras a colisão de temas como criptografia, II guerra mundial e a noção de finanças descentralizadas (bem antes de se falar de bitcoins ou outras moedas virtuais). Ou, para os mais mainstream entre vós, o lendário Snowcrash, o romance clássico sobre realidade virtual que nos legou o conceito de metaverso. Vale a pena ler Neal Stephenson a falar de educação e IA? Um pormenor cativante deste texto, que sintetiza uma palestra, é que não está cheio de certezas, prognósticos e receitas. Só por isso, merece a leitura. Note-se, também, que não sou negacionista da IA. Não tenho problemas em usar as ferramentas sempre que tal se justifique. 

Scientists Are Sneaking Passages Into Research Papers Designed to Trick AI Reviewers: E estamos nisto. Os investigadores automatizam a produção de artigos a metro para revistas científicas (porque as métricas da sua carreira dependem muito da cadência com que produzem artigos), os meios de publicação automatizam a revisão dos artigos. É um erro pensar que este é um problema da IA. Na verdade, este problema da ciência a metro e martelo para encher revistas e amplificar currículos (o chamado publish or perish) já é antigo, advém das inconsistências da academia enquanto sistema económico, gera má ciência, e estas patetices com IA apenas vêm mostrar o quão nu já ia o rei. 

Andy Cohen on How He Uses AI: ‘It’s an Incredible Tool. But It’s Going to Make Idiots’: Já com alguns anos de IA Generativa a invadir a nossa sociedade, já se percebeu isto, são ferramentas fantásticas mas a maioria dos seus utilizadores está apenas a querer desenrascar-se de tarefas com um mínimo de esforço possível. A ironia desta entrevista é que quem manifesta este ponto de vista, da IA como meio de acentuar estupidificação de massas, ganha a vida a produzir reality shows para televisão. Ou seja, alguém que enriquece explorando o mercado da estupidificação das massas. 

AI Will Never Be Your Kid’s ‘Friend’: Ou, as consequências emocionais de não aprender a lidar com os outros, porque se está habituado à invariabilidade positiva de interações com chatbots especialmente concebidos para nos cativar. Podemos olhar para as consequências destas implementações da IA da forma como o António Rodrigues (CCEMS) aponta como amplificadoras de características do carácter humano, como a tendência para evitar esforços (especialmente intelectuais, neste caso, emocionais). Há aqui outra dimensão, a da rapacidade capitalista que visa maximizar o lucro individual, socializando o lidar com as consequências desastrosas de aplicações de tecnologia. Uns beneficiam, a sociedade paga os custos de resolver os problemas causados pelos que lucraram. 

Long Live RSS!: Não é uma tecnologia amada pelos media, porque quem lê em rss, não visita o site, e não gera métricas para publicidade. Mas para quem quer gerir múltiplas fontes de informação, é a melhor tecnologia que existe. Já o disse, e volto a dizer, usar agregador de rss é a melhor ferramenta de que disponho para me manter informado, atualizado e a refletir. 

Reports indicate a massive uptick in AI-generated CSAM throughout the internet: Há aqui dois elementos preocupantes. Gerar pornografia infantil não é inócuo, o argumento por vezes utilizado que pode ajudar pedófilos a lidar com a sua doença é falso, porque a exposição ao tipo de material que os estimula vai agravar a sua condição. E, também, a questão da origem dos dados que treinam os modelos geradores. Se um dado modelo gera pornografia infantil virtual, significa que no seu treino foram usadas imagens reais. É abuso, em toda a linha. 

The AI Industry Is Radicalizing: É capitalismo elementar, o explorar qualquer nicho que prometa lucro, mesmo que as consequências sociais disso sejam devastadoras. 

Everything tech giants will hate about the EU’s new AI rules: Claro que este regulamento europeu é considerado um empecilho, ao procurar implementar proteção dos cidadãos, e proteção da propriedade intelectual. Tudo coisas que não interessam às plataformas de IA.

How Journalism Is Using AI: A visão dos jornalistas sobre usos da IA, de forma clara, crítica, sem deslumbres nem receios infundados.

Attention is All You Need: Há aqui muito que refletir nesta nota. Primeiro, o papel da literacia, do ler e escrever, como pilar essencial da nossa sociedade democrática liberal. Saber ler e escrever, implica também saber estruturar argumentos e procurar meios de reflexão. Algo que está em contradição com a corrente popularidade da cultura online baseada em vídeo, um regresso à oralidade, ao imediatismo e às reações emocionais irrefletidas. Ajuda, e muito, a perceber porque é que sentimos que a realidade e o tecido social se tornaram tão acintosos, com tanta prevalência de desinformação, discurso do ódio e banalidade, um discurso acentuado por uma cultura que se transmite em vídeos curtos nas redes. E agora, o segundo elemento, a adoção dos chatbots, tantas vezes visto como um atalho para criar a ilusão de profundidade, esvaziando a cultura de literacia confundindo o produto com o processo e conteúdos.


Peter Mullen: Mistérios do antigo Egipto. 

The Nuclear Club Might Soon Double: Entre os resquícios da guerra fria e a nova desordem mundial em que parecemos estar a cair. Este segundo quartil do século XXI parece ser a era das regressões, da perda de direitos, dos retrocessos nos progressos sociais. E o espectro da proliferação nuclear num mundo em desordem, onde o que vale é a ameaça do pau mais rijo e comprido, está de volta. Os riscos disto são bem conhecidos, as consequências de deslizes, apocalípticas. 

Mais barcos no rio Tejo, menos camiões nas estradas: está a nascer o Terminal Fluvial da Castanheira do Ribatejo: Uma proposta intrigante, que volta a tirar partido do Tejo enquanto via de transporte fluvial. 

La "portugalización" de Ciudad de México ha encendido las calles: los nómadas digitales ya no son bienvenidos: Portugalização? Sim, leram bem. Lisboa tornou-se um exemplo global do que não fazer para assegurar uma economia urbana sustentável. A política neoliberal de atrair expats com vistos gold, incentivar a airbnbização e turistificação, ou dar benefícios fiscais à especulação imobiliária tem as consequências à vista: uma crise impensável na habitação, com a impossibilidade dos lisboetas viverem na sua cidade. Lá fora, apontam o nosso desastre como exemplo do que está errado em políticas urbanas. 

In historic feat, Ukraine's 3rd Brigade captures Russian troops using only drones and robots, military says - "For the first time in history: Russian soldiers surrendered to the 3rd Assault Brigade's ground drones," the statement read.: Sinais de modernidade na guerra. 

Damn You All to Hell!: Como criança dos anos 80, percebo este ponto de vista. Vemos a displicência com que a proliferação nuclear começa a alastrar, e ficamos incrédulos, como é possível abordar tão levianamente uma tecnologia militar cujo uso pode levar à nossa extinção. Em parte, o alheamento contemporâneo deve-se à falta de cultura mediática, com a iconografia pop que explorou as consequências das bombas atómicas a ter saído de cena. 

What a Nuclear Explosion Looks Like: A terrível beleza dos cogumelos atómicos. 

A Teoria dos Jogos e o jogo da guerra no quotidiano: Um olhar para a teoria dos jogos, e a forma como define as decisões geopolíticas.

sábado, 23 de agosto de 2025