L. Sprague de Camp (1977). Construtores de Continentes. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora.
Confesso que li muito pouco da obra deste nome clássico da FC pulp. Enontrei este Construtores de Continentes nos acasos de alfarrabistas, e não resisti a experimentar. Sem o saber, peguei num romance da sua série Viagens Interplanetárias (título original em português). O conceito de base desta especulação futurista é típico dos traumas e medos dos tempos mais perigosos da guerra fria - um futuro em que uma guerra mundial reduz uns destruídos Estados Unidos e União Soviética à condição de potências secundárias, e a liderança global recai sobre os países não afetados pela guerra nuclear, com o Brasil a tornar-se super-potência global num planeta que começa a expandir-se pelo espaço, a contactar com civilizações alienígenas e colonizar novos planetas.
Este é o conceito base, mas os romances seguem a muito clássica estratégia editorial do fix-up. Não são narrativas longas e estruturadas, mas sim um juntar de contos passados dentro deste espaço ficcional. Este foi um dos passos da evolução da FC enquanto género literário, boa parte dos grandes livros clássicos vive deste artifício em que os autores republicavam no formato livro os contos que já tinham publicado nos pulps. E não consigo indicar-vos melhor exemplo disto do que o soberbo Crónicas Marcianas de Ray Bradbury.
Regressando a este volume de de Camp, dá-nos duas histórias passadas neste universo lusófono. Na primeira, Moto-contínuo, um vigarista empreendedor em busca de riqueza fácil vai a um dos planetas habitados por extraterrestres tentar esquemas para enriquecer á custa dos nativos. Apesar dos contactos restringidos com humanos, por causa dos desníveis tecnológicos e sociais entre as culturas locais e a civilização intergaláctica terrestre, é possível a este vigarista enganar os habitantes de uma sociedade medievalista baseada na liderança de elites propondo múltiplos esquemas de enriquecimento certo para todos os envolvidos. O que o trama nas suas tramóias é o regresso de um dos nativos, que consegue sobreviver a uma missão impossível, e que é o noivo da nativa com que o humano se envolve. Nada de anormal na situação, nesta sociedade as mulheres são livres de trocar de companheiros, mas as regras da cultura exigem que haja uma luta entre os dois escolhidos das jovens. Algo que o bem mais fraco humano sabe que não conseguirá vencer, e só lhe resta largar os proventos e fugir.
Construtores de Continentes, o conto que dá nome ao livro, é uma narrativa de conspirações. Um jovem cientista vê-se, graças ao seu trabalho, envolvido numa conspiração criminosa. Este participa num projeto que irá fazer emergir um novo continente no atlântico sul, para combater a sobrepopulação. Um esquema de geoengenharia que desperta a atenção de uma espéice alienígena, que vê uma hipótese de estabelecer uma colónia na Terra explorando o mesmo tipo de artimanha legal que permitiu aos terrestres dominar um continente no seu planeta - encontrar forma de tomar posse das novas terras antes que as autoridades terrestres o façam. Esta é uma história de aventuras, cheia de tropelias e uma mal fadada paixão entre o cientista terrestre e uma jovem alienígena. Fiel ao espírito pulp, a alienigena vem de uma espécie humanóide ovípara, mas dotada de generosas glândulas mamárias que na sua cultura são visíveis através do vestuário. Faz zero sentido do ponto de vista biológico, mas excitava a imaginação dos leitores dos pulps.