Trindade Coelho (2023). Os Meus Amores. Porto: Book Cover.
Vou fazer uma confissão horrível. Ler este livro fez-me pensar naqueles paineis de azulejos que encontramos nas estações clássicas de caminho de ferro, um pouco pelo país fora. Sabem do que estou a falar, daquela azulejaria figurativa que tem como tema os costumes e tradições locais, e que na prática preserva uma iconografia idealizada e bucólica do que era a vida campestre noutros tempos. Foi essa a estética que senti ao longo desta leitura.
O livro compõe-se de histórias soltas, sem ligação entre si, mas todas com um tema comum - a visão idealizada e bucólica da vida no interior, nas aldeias do país profundo. Ficaram de parte quaisquer considerações históricas ou sociais da pobreza extrema e atraso de desenvolvimento nestas áreas que só no final do século XX começámos a mitigar. Mas isso não retira mérito ao livro. Nem toda a literatura que se foca nos modos e viveres tradicionais tem de ser uma visão crítica acutilante.
Pleno de bucolismo e um sentimentalismo muito ao gosto do século XIX, estes contos originalmente editados em 1891 romantizam as vidas do povo das aldeias. São um produto do seu tempo, das sensibilidades de um autor que saiu desse substrato para entrar, via educação e serviço público, num tipo de classe social geralmente inacessível ao povo pobre.