domingo, 31 de maio de 2020

URL

Quando o Matte Painting publica, sabemos sempre que teremos excelentes surpresas. Os lançamentos de banda desenhada, e as ofertas de leitura digital, também o são. Olhamos para o futuro da educação, descobrimos que em setembro de 2019 a revista francesa Science et Vie publicou uma antevisão do que poderia ser uma pandemia global (ah, a ironia!), e analisa-se o impacto das tecnologias de rastreamento digital no combate à covid-19, mas também nas liberdades e privacidade europeias. No início de uma nova série a seguir, David Soares fala-nos da história e das histórias de Lisboa. Vivemos dias estranhos, convivemos com a ideia humilde que bastou uma criatura microscópica que se qualifica no nível inferior do que é um organismo vivo, para paralisar a nossa sociedade global. No entanto, resistimos.

Ficção Científica


Photo: Autor não creditado, mas é aquele horror gótico que adoro. 

2ª entrega de El Víbora para Supervivientes: O El Víbora foi à segunda dose? Muy bien!

MATTE PAINTING REVIEW: A Selection of Overlooked Films - Part Nine: Vale sempre a pena destacar quando o Matte Painting publica. O que este blogger descobre sobre o mundo dos efeitos especiais é sempre fascinante, traz-nos sempre trabalhos surpreendentes de pintura para cinema. Obras fabulosas, encontradas muitas vezes nos filmes mais anódinos, ou outros que todos conhecemos e ficamos surpreendidos por descobrir que as cenas que sempre pareceram simples filmagem foram, afinal, composição com pintura detalhada em fundo.

Chris Foss: Um dos grandes mestres da ilustração de ficção científica clássica.

Leituras digitais: Revistas periódicas: Mais uma colecção de leituras digitais de banda desenhada, desta vez em tom francófono, recolhidas por Pedro Cleto. Talvez a ironia destes tempos de recolhimento é que o teletrabalho não dá assim tanto tempo quanto se esperaria para leituras..


Dean Ellis: Ficção Científica old school.

Someone Is Making A Seinfeld Adventure Video Game: Um jogo sobre… nada? Aparentemente. E mais surpreendente é saber que a série continua popular. Embora o solipsismo dos personagens seja demasiado awkward para os dias de hoje.

Evento: Clube Online de Leitores de Marvila: Será que assim consigo lá dar um pulinho? É bom ver que a comunidade não perde o contacto.

Exhalation – Ted Chiang: É um dos meus autores de ficção científica favoritos, mas raramente o leio. Acumulo livros dele, mas sei que para ler, preciso de tempo mental. Chiang só escreve contos, mas tão densos e cheios de camadas de interpretação que é preciso ter a mente limpa para o ler.

Locke And Key/Sandman Crossover Prelude Previewed by Joe Hill: É daquelas notícias que me deixa com sentimentos mistos. Ambas as séries foram do melhor que se fez nos comics do fantástico. Mas os seus mundos ficcionais são muito diferentes, embora o universo Sandman seja suficientemente aberto para albergar estas derivações.

From the io9 Archives, 10 Pieces of Dystopian Fiction You Can Read Right Now: Hey, já que estamos em dias de catástrofe pandémica, porque não ir ler distopias? Afinal, a ficção, pior que a realidade é difícil.


The Winged Jinx: Difícil não ficar a sorrir com o contraste biplano/morte nas nuvens desta capa pulp.

DAVID BRIN's science fiction recommendations: Podemos aproximar-nos desta lista de duas formas. Como recomendação enciclopédica do melhor que a ficção científica tem para oferecer… mas os verdadeiros geeks vão verificar quais as leituras que já fizeram, e as que lhes faltam fazer. Hey, é mais forte que nós.

This is the weird horror novel that outsold Dracula in 1897: E, no entanto, mal sobreviveu ao teste do tempo. É curioso notar que os paralelos com o clássico de Stoker são muitos, e o artigo deixa escapar um. Drácula é em grande parte um romance sobre sexualidade reprimida, a dentada do vampiro é metáfora para algo mais. Mas o que dizer de criaturas insectóides que assumem forma humana e escravizam sexualmente as suas vítimas? Que algo de muito estranho se passava na mente vitoriana.



en-remolinos: Tomie - Junji Ito: Não se deixem enganar pela aura de inocência. Este é um dos maiores símbolos do horror japonês.

THE COLLECTION BY LIVRARIA LELLO: Uma interessante iniciativa da Lello, que disponibiliza livros gratuitos para leitura digital. O formato PDF é o menos indicado para isto (aparentemente, ePub não lhes cruza o radar), mas não deixa de ser uma iniciativa bem vinda.

Dylan Dog: Após um longo silêncio: Pedro Cleto apresenta um dos melhores lançamentos recentes de banda desenhada. Claro, como dylaniati que sou, sou suspeito na escolha.


The Sword Of Tomorrow: Pura estética Gernsback continuum.

Lançamentos: Roughneck, Criminal Três e New X-Men: Bem, ir à livraria não dá, porque estado de emergência, mas dá sempre para encomendar.

Tecnologia


Soviet Illustrations of Space Exploration: O futurismo soviético é fascinante, não só pelo lado utópico que era afirmado como um dos pilares união soviética, mas também por ser um dos raros escapes à realidade de uma tirania opressiva. 

Et si... un virus mortel s'échappait d'un laboratoire?: Soa familiar? A Science et Vie publicou isto na sua edição hors-serie de setembro de 2019... e em novembro, este cenário começou a tornar-se real em Wuhan. Agora, o cenário especulativo improvável é o nosso dia a dia, sem fim à vista... "Pour endiguer la propagation de l'épidémie, beaucoup d'États ferment les frontières, réduisent, voire interrompent le trafic aérien et naval, notamment vers et depuis les zones les plus touchées. Des consignes sont données pour éviter les grands rassemblements sportifs et culturels, certains pays ferment les écoles, par où la maladie circule, et cherchent à restreindre les déplacements de leurs citoyens -qui eux-mêmes limitent au maximum leurs sorties. Le secteur du tourisme sombre rapidement. Il enregistre la disparition de centaines, de milliers, puis de millions d'emplois, dans les compagnies de transport, les hôtels et les restaurants qui restent désespérément vides.

Cyborg prosthetics for limbs that don’t exist: O nosso corpo adapta-se e adota próteses mesmo quando não seriam necessárias. Há um nome para isto, plasticidade cerebral. Os objetos que usamos tornam-se, de facto, extensões do nosso corpo.

The US Army has a 3D printer for ultra-strong steel gear and weapons: A manufatura aditiva de alta precisão a chegar aos campos de batalha.

Rethinking education in the digital age: Vou só deixar isto aqui, para refletir agora que estamos todos em modo de transição digital acelerada em contexto de ensino remoto de emergência (não lhe chamem ensino à distância). Moodlando, classroomando, percebendo pelo uso as vantagens e desvantagens de sistemas, plataformas, descobrindo que formatos de ficheiro que sempre nos pareceram normais são prejudiciais ao acesso e leitura online, que é cada vez mais feita em dispositivos móveis e não no computador ou impresso em papel. E sentido que nada substitui os essenciais na educação, o contacto humano direto, o pegar gentilmente na mão do aluno e fazer show and tell, o enorme papel social da escola, tudo isso ausente em meios à distância. No entanto, esta transição digital forçada vai-nos despertar para o potencial de ferramentas e metodologias de trabalho, suspeito que quando regressarmos à normalidade, muitos de nós queiram manter muitas das ferramentas digitais que se agora são o único meio de contacto com os nossos alunos, porque em contexto normal podem enriquecer aprendizagens e facilitar o nosso trabalho de gestão. Só é pena que tenhamos sido forçados a descobrir sto pelas piores razões possíveis: "Educators and trainers in Europe today frequently use digital tools, but it remains unclear whether they are sufficiently able to employ them in pedagogically meaningful ways. Furthermore, the vast majority of teachers do not, or only sporadically, participate in professional development focused on digital education. Teachers may, moreover, not be sufficiently prepared and/or not be offered the structural contexts for focusing their teaching more strongly on the soft and citizen skills that are urgently necessary in the digital age. At the same time, new teaching technologies could offer opportunities for personalising learning contexts, thereby improving student motivation and retention. When introducing corresponding teaching technologies, issues such as discrimination by algorithms and data protection will need to be discussed and solutions for them implemented".

No, the Internet Is Not Good Again: Se nestes tempos de isolamento social a internet surgiu como uma infraestrutura essencial, e pareceu regressar às suas raízes de conexão entre comunidades, este reforço da sua importância não está isento de problemas. Especialmente no que respeita à segurança, com as grandes redes a ter de confiar em moderação por inteligência artificial (o trabalho dos moderadores é demasiado sensível para ser feito em teletrabalho), o crescimento explosivo de plataformas que até há pouco se limitavam a nichos - a Discord é um exemplo, a Zoom e todos os problemas que têm despertado, especialmente no sector da educação, que passou a depender fortemente de uma ferramenta que nunca foi pensada para as condicionantes do mundo educativo, um verdadeiro case study do que pode correr mal. A Internet tornou-se ainda mais importante, mas os trolls, os extremistas e os vendedores de banha da cobra cá continuam.

Robots Welcome to Take Over, as Pandemic Accelerates Automation: Não há aqui grande novidade, automatizar mais a economia torna-a mais resiliente aos efeitos de pandemias. Que, neste momento, são duplos. A mortandade a curto prazo, a depressão económica a médio. Mas com robots na equação, as engrenagens produtivas podem continuar. Resta saber qual o papel das pessoas. Serão abandonadas, como nos sonhos húmidos dos mais radicais neoliberais, ou assistiremos à expansão global de mecanismos do tipo rendimento básico universal para assegurar um mínimo de dignidade àqueles que estarão impossibilitados de encontrar trabalho numa economia robotizada?

Computational Thinking Education: Vai uma leitura? Uma obra sobre pensamento computacional, a estrutura conceptual que suporta as abordagens à programação, robótica, 3D e cultura Maker nas TIC na educação.

An Airbus MRTT Test Aircraft Has Carried Out The World’s First Ever Fully Automatic Refuelling Contacts: Mais uma atividade em que a robotização se afirma - sistemas de reabastecimento em voo. Que, diga-se, requer uma capacidade de precisão da parte dos pilotos e operadores que estes se devem sentir aliviados pela existência de um sistema que lhes facilita a vida.

At the limits of thought: Um ensaio provocador, que explora o limiar da combinação entre análise computacional e pensamento humano.

Smart Weapons Need to Be Smarter: Ou, na verdade, as armas inteligentes não o são, realmente. Os exemplos de aeronaves civis abatidas acidentalmente por sistemas militares mostram algumas vulnerabilidades de sistemas avançados que não levam em conta a complexidade do mundo civil. Com consequências fatais em caso de erro.

The Internet’s Titans Make a Power Grab: Depois de anos a fugir com o rabo à seringa no que toca à moderação de conteúdos, os gigantes da Internet decidiram adotar táticas mais musculadas para prevenir a disseminação de fake news durante a pandemia. O problema é que estas medidas têm tendência a ser uma faca de dois gumes, agudizada pelo uso de algoritmos pouco transparentes.

what the coronavirus mass quarantine can teach us about space travel: Essencialmente, que a esmagadora maioria de nós não aguentaria mais do que uns dias encafuado numa nave espacial, quanto mais meses a fio. Mas, também, o espaço não é para todos.

Consiguen por primera vez "remolcar" en órbita un viejo satélite de hace dos décadas para que vuelva a estar operativo: Um excelente passo para a economia espacial, este projeto que usou um satélite concebido para prolongar a vida útil de um outro satélite já em órbita.

How engineers are operating deep-space probes, Martian rovers, and satellites from their homes: Teletrabalho, em modo cósmico. As experiências dos operadores de rovers marcianos, agora forçados a gerir os sistemas de controlo a partir de casa.

What Drones can Learn From Ancient Flying Reptiles!: Analisar fósseis de dinossauros voadores pode ser uma mais valia para o desenvolvimento de drones. A engenharia pode ir buscar inspiração à paleontologia.

Tracking mobile devices to fight coronavirus: Uma leitura esclarecedora, especialmente por vir de onde vem, o EPRS é um serviço de apoio ao parlamento europeu que sintetiza tendências para apoio às decisões tomadas pelos eurodeputados. Mostra que o uso de rastreio das populações por meios digitais (em grande parte, dados anonimizados das operadoras de telecomunicações) já é o normal na maioria dos países da UE (Portugal parece ser uma rara excepção, mas… até quando?). Analisa estes sistemas face ao RGPD e diretiva europeia sobre privacidade individual, mas a conclusão é clara, se o rastreio dos indivíduos é uma arma de combate à pandemia, vai mesmo tornar-se uma norma. De tal forma que é equacionado qualificar estes meios como dispositivos médicos. Se ninguém coloca em causa a necessidade de combater a pandemia, não podemos deixar de questionar como poderemos proteger a sociedade assente na liberdade e privacidade individual que é um dos pilares do nosso modo de vida, das eventuais consequências e abusos deste alastrar de sistemas de vigilância pervasiva. É que ao em nome da saúde, podem seguir-se outros pretextos.

Modernidade


Awesome HD Video Filmed Aboard MiG-15UTI Flying Ultra-Low Over Mojave Desert (as Hydraulic Failure Kicks In): Só a imagem daquela máquina venerável a voar já é qualquer coisa de espantoso.

The Mystery of a Medieval Blue Ink Has Been Solved: Da ligação entre a flora do Alentejo profundo e a tinta que os monges medievais usavam para copiar os seus fólios.

The New Cringeworthy: É, de facto, um novo mundo de sensações. E já as senti. O passar na rua e não encontrar forma de me desviar de outros transeuntes. Ver pequenos grupos em gestos normais mas que nestes tempos pandémicos parecem fator de risco. O medo que invade, paralisado-nos, quando alguém perto de nós tosse ou espirra. A covid-19 é um jogo de aleatoriedade, nunca sabemos se a mais inocente interacção nos irá juntar ao número das contaminações. E sobre isto, o medo de nos sair o dado da mortalidade. Pequenos traumas que se avolumam, e nos levam a encarar o que era normal com um certo nojo.

For the First Time Ever, the Price of Oil is Now Negative: Nem sei que dizer sobre isto. Tem causas óbvias, a redução no consumo com o mundo quase parado a combater a covid-19, mas é inaudito. E inédito.

A Side Effect of the Covid-19 Pandemic? Reading Got a Lot Harder: Porque por detrás de tudo o que fazemos, está a estupefacção, a sensação traumática dos dias em que vivemos.

The War on Coffee: Um artigo para se ler enquanto se saboreia um café, e que analisa os sistemas de exploração por detrás daquela bebida sem a qual muitos de nós não conseguem meter o cérebro a funcionar, logo pela manhã.

Pequenas Histórias - ep. 1: "Filhos de Anúbis (freguesia da Misericórdia)": Suspeito que nesta série que inicia, David Soares nos irá mergulhar a fundo na história de Lisboa. Para primeiro, e fascinante, episódio, olha para os cães vadios, e a sua relação com a evolução social e política. Não resisto a duas piadas. É impossível contar histórias da história sem o efeito José Hermano Saraiva, e David Soares não lhe escapa. Já no que toca à competição das estantes (é uma piada destes temos covid-19, já repararam que os comentadores que agora intervém via Skype estão sempre à frente de estantes com livros?), David Soares é um deus. Imbatível.

Indians Aren’t Buying China’s Narrative: E não são só os indianos. Está cada vez mais claro que a China tem de ser responsabilizada pelas consequências devastadoras que a pandemia de Covid-19 está a ter a todos os níveis. De saúde, económicos, sociais, e pessoais. Neste momento não há ninguém no planeta que não tenha visto a sua vida prejudicada. E não caímos em teorias da conspiração, de eventuais armas biológicas ou guerras de domínio global. A verdade, tanto quanto apontam os estudos científicos, é mais simples. Este coronavirus saltou para a cadeia de transmissão humana a partir das condições tétricas dos wet markets chineses (só a mera existência desses hábitos de consumo é um crime ético). E já não é a primeira vez que isto acontece, a epidemia de SARS, que foi felizmente controlada por medicação antes de ter consequências pandémicas similares à covid-19, também surgiu nos mercados animais chineses. Junte-se a isto os esforços iniciais para manter a epidemia em segredo, o que atrasou os esforços para o seu combate. E o resultado está à vista. Milhões de infectados. Milhares de mortes. A economia global paralisada. Vidas em suspenso. Consequências imprevisíveis nas sociedades. O saber que não há vacinas ou medicação eficaz a curto prazo (e provavelmente nunca haverá, estamos a falar de um vírus, com mutações rápidas, note-se que a simples gripe não tem uma vacina totalmente eficaz), o que significa que viveremos anos de ciclos pandémicos antes do organismo humano desenvolver uma imunidade natural à covid-19. Que será sempre letal para os mais fracos. Já percebemos que não é negativismo ou alarmista falar de anos de restrições às deslocações, locais, regionais e internacionais, de manutenção de isolamento social, de fechamento das sociedades. É melhor nem pensar nas consequências com que as sociedades democráticas terão de sofrer, com o eventual crescer do populismo autoritarista, a alimentar-se do medo, do piorar das condições económicas e sociais. Por isso, sim, a China cometeu um crime contra a humanidade. Não é xenofobia afirmar isto, até porque sou europeu, pertenço a uma união onde um povo ainda vive com a vergonha do que os seus avós fizeram. Através de costumes revoltantes e inacção inicial, há um início para esta crise global.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Human


Diego Agrimbau, Lucas Varela (2019). Human. Europe Comics.

Estamos num futuro longínquo, e uma cápsula espacial cai na Terra. Um planeta transformado, muito diferente daquela que, há meio milhão de anos atrás, era urbanizado. De dentro da cápsula saem androides, que eventualmente percebem que têm como missão reavivar um homem que os acompanhou. Um homem vindo do passado, cientista com um projeto bizarro. Ficar em suspensão de vida na órbita terrestre, e regressar à Terra num futuro longínquo. Chegado esse momento, procura a sua companheira de vida e de missão. Mas esta aterrou, por erro, algumas décadas antes. Dela só restam os seus robots, os registos que recolheu, e o cadáver. Enlouquecido, o homem embarca num grandioso projeto de restaurar a espécie humana, aparentemente extinta no futuro, recorrendo ao domínio violento e inseminação das criaturas antropóides que vivem no planeta, e que o homem julga serem macacos. O único travão será feito pelos robots, que se revoltam contra a crueldade do seu mestre. E que se apercebem que a humanidade não se extinguiu, realmente, apenas evoluiu, e tem de ser protegida deste homem vindo do passado

Um argumento quirky, suportado por um traço interessante. A Terra do futuro tem o seu quê de natural surreal, pintada numa paleta de laranjas que sublinha a diferença para com a noção que temos de algo natural. Uma história simples, sobre o melhor da humanidade,  sua sede de conhecimento e capacidade de evolução, mas também sobre o seu pior, sobre hubris e sentimentos de superioridade.

7 Dias, 7 Livros

Caí naqueles desafios de partilha em redes sociais... e dá sempre para pensar nos livros que realmente gostamos. 7 dias não seriam os suficientes, claro... e recordando que a relação com os livros não se limita ao impacto literário. 


Não sei se se recordam, mas houve um tempo em que não havia Internet para aproximar comunidades de interesses e práticas. Em que não era fácil conhecer e partilhar ideias com aqueles com quem se tinha gostos comuns fora do mainstream. Fazia-se, claro, mas com menos intensidade e normalização do que hoje. Arrisco-me a dizer que sem Internet não teríamos tido a maravilhosa explosão da cultura geek, porque a maior parte de nós estaria isolado e com pouco acesso a momentos comunitários. Imaginem a surpresa do primeiro embate, quando este na altura jovem apaixonado por ficção científica, essa coisa em que os professores que tinha concordavam - devia era deixar-me de ler essas coisas e agarrar-me aos manuais, que isso é que era importante para a vida (não era, nunca foi, e não é, e é uma das coisas que hoje, como professor, digo aos meus alunos, mente aberta e vontade de aprender é que é o fundamental), pegou pela primeira vez num livro de FC portuguesa. Por isso, e por ser o livro que é, refiro-o sempre como a obra seminal da literatura de ficção científica portuguesa, que é pequenina mas teima em existir. Digo isto sem querer menosprezar todos os outros livros e autores que por cá mantêm viva a chama do único género literário que se atreve, realmente, a olhar para lá do horizonte. E, graças à Internet, hoje tenho o privilégio de conhecer pessoalmente os autores deste romance único a quatro mãos. Eu sei que eles detestam esta capa do esquecido Henrique Cayatte, mas eu aí discordo, adoro o toque de astounding no meio do vazio azul.


Nem sei como é que a edição que tenho deste livro não se desfez (graphic novel da abril, do tempo em que nas bancas se encontrava grande banda desenhada, e não vale a pena ser nostálgico, depois de décadas de penúria hoje vivemos num tempo em que voltou a haver edições de grande banda desenhada por cá). Tantas foram as releituras. Nem tanto pela história, são Morrison que me perdoe mas nisso ele fez mais, e melhor. Foi pelos rendilhados. Arkham Asylum foi o meu primeiro embate com um estilo de BD que punha de lado o realismo, ou o boneco com piada, e enveredava decididamente pela experiência plástica mais próxima da pintura do que do desenho. O trabalho incrível de Dave McKean foi um deleite, e um abre olhos para o que se podia fazer numa prancha. Creio que não voltou a ir tão longe, apesar das brilhantes capas da série The Sandman. Está para sair em breve nova edição portuguesa, da Levoir, se não estou em erro. Vale a pena a descoberta.


Nunca emprestar um livro que nos for significativo. Mais vale dar, vai ter ao mesmo. Nem mesmo um aleph o traz de volta. Este foi o meu primeiro grande embate com Borges, depois de ter ficado espantado com um conto lido numa mediana antologia de ficção científica, que por entre histórias de naves espaciais e aventuras no espaço tinha a geografia imaginária de Tlon para me seduzir. E não houve volta atrás. De certa forma, ter tido um livro de Borges e dele só testar a memória é em si algo borgesiano.


Outro daqueles livros estranhamente resistentes, que sobreviveu a múltiplas leituras ávidas. Não só pelas viagens no tempo, como por tudo o resto. Essencialmente, aprendi com Wells que ficção científica não são meras histórias de aventuras a la Verne, ou gadgets gernsbackianos. Que podia ser interessante, divertida, e interventiva nos níveis sociais e políticos.


E para começar... não conheço melhor forma do que destacar o livro que descobri numa exposição na El Pep, no defunto Imaviz Underground. Fiquei de queixo caído com a mestria no desenho, o grafismo e o arrojo temático das pranchas de Cidade Suspensa, para mim uma das grandes obras da BD portuguesa contemporânea.


Quando li as primeiras vinhetas de Dylan Dog, fiquei agarrado. Culpa de Tiziano Sclavi, e tive de partir à descoberta deste livro delirante, negro, bem humorado e essencialmente estranho. Que, ao contrário do que se diz, não é bem uma origin story; talvez uma polinização cruzada na mente deste escritor.


Um dia na vida do senhor Bloom. Com aquela cena irritante de nunca ter (ainda) conseguido fazer um Bloom Day em Dublin (mas sem comer rins, que não gosto). E a memória do minúsculo jardim botânico de Gibraltar (no livro, parecia maior), com uma sorridente mamã a tirar selfies com a filha junto à estátua de Molly Bloom. Pequena estátua, como tudo no enclave, mas grande monólogo, como tudo no livro. Fiquei com a suspeita que as sorridentes selfies eram tiradas por quem nunca tinha lido os pensamentos de Molly Bloom, que de inocência infantil não têm nada.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Batalha no Espaço


Glenn Larson, Michael Resnick (1980). Batalha no Espaço: A "Galactica" Descobre o Planeta Terra. Lisboa: Europa-América.

Descansar um pouco o cérebro com uma viagem nostálgica. Galactica, tal como Espaço: 1999, foi dos primeiros contactos que me recordo com a ficção científica. Velhas séries, que, tirando alguns momentos e adereços, não envelheceram muito bem. Não deixam de ser marcos da vertente mais pop da FC.

Nesta novelização, a Galactica chega, finalmente, à mítica décima terceira colónia humana, a que ficou perdida. Mas não os espera uma civilização avançada. A humanidade terrestre está muito atrasada face às avançadas civilizações destruídas pelos Cylons, o que dá à Galactica uma missão adicional. Proteger a Terra, enquanto acelera subtilmente a ciência e tecnologia para os levar, futuramente, a terem capacidade de se defender contra a ameaça Cylon. Mas, à dificuldade de contactar cientistas terrestres, bem como a incompreensão da nossa cultura, junta-se ainda os esforços de um tripulante da Galactica que pretende ir ao passado para. alterar a história humana, dotando-os mais cedo de tecnologias avançadas.

Uma leitura algo nostálgica, mas nem por isso divertida. A FC televisiva clássica não era um primor de coerência ou argumentos bem pensados, e passada a livro essas falhas tornam-se ainda mais óbvias. Mas há que olhar para isto como o que é, um mero entretenimento que expandia a experiência televisiva para outros meios.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

H-alt: O Espírito do Escorpião


Qual a relação entre um discreto curandeiro e um político assassino? Aqui, vou cair num lugar comum. Têm de pegar neste fortíssimo Sorriso do Escorpião para perceber. Nele, os seus autores revêem a história recente da Europa de uma forma que não deixa os leitores indiferentes. Resenha completa na H-alt: O Espírito do Escorpião.

domingo, 24 de maio de 2020

URL

Trazemos uma boa dose de leituras, esta semana. Recordamos o trabalho de Alan Moore, descobrimos uma preciosiade de cinema exploitation. Partilhamos livros e contos de ficção científica e fantástico escritos por autores portugueses, bem como banda desenhada. Na tecnologia, exploramos os dilemas do ensino digital à distância em que milhares de alunos portugueses se estão a aventurar, por força da pandemia. Também procuramos leituras que mostram os riscos de aproveitamendo das propostas de rastreamento digital em nome da saúde pública. Visitamos virtualmente o Egipto, compreendemos o real papel social da escola, ou a necessidade de descobrir o hiperlocal no confinamento pandémico. Esperamos um futuro mais radioso. E não desesperamos, trabalhamos para isso.

Ficção Científica



Johnny Bruck, 1981, for Perry Rhodan #1051: A lendária série alemã de ficção científica sempre se pautou por um forte surrealismo.

Antes de aparecer Neil Gaiman e o seu Sandman , houve um outro autor inglês. De nome Alan Moore , quando apareceu a esc…: O Acho que Acho poderia ter mais cuidado com os títulos. Já o artigo merece a leitura, recorda a obra do argumentista que mais influência teve nos comics de sempre. Sem Alan Moore não haveria Watchmen, esse ícone do melhor do género que a DC Comics explora até ao tutano.


Flesh Gordon (1974) UNCENSORED TRAILER: Coisas que têm de ser vistas para se acreditar. Não confundir com The Original Flash Gordon, diziam. Bem, nada como voar pelo espaço numa nave em forma de pénis, salvando damas de peito generoso das garras de monstros lúbricos. Exploitation cinema, pois claro.

Ebook grátis!: Mais um contributo para a lista de leituras gratuitas de FC portuguesa. Ou melhor, uma recordação, que o projeto Improbabilidades está disponível há muito.


Chris Moore, “Alpha Centauri”: Ia lá com muito gosto, verificar se a paisagem é igual a esta.

Esfinge — Coelho Neto: Sugestões de leitura? O Projeto Adamastor, no seu esforço meritório de preservação digital da literatura fantástica, traz-nos uma nova proposta, um romance brasileiro com laivos de Frankenstein.

It’s Alive 2020: Mesmo à distância, um grupo de escritores portugueses de ficção científica e fantástico mantiveram a tradição de fazer uma maratona de escrita para comemorar a famosa dark and stormy night na Villa Diodati que deu origem a Frankenstein. Nuno Ferreira, um dos participantes, partilhou a sua contribuição, muito no domínio do fantástico.

A Gargalhada: Um conto muito curto, mas muito certeiro, de Jorge Candeias. É amargo, como os tempos que correm.


Stanislaw Fernandez: Sou só eu que vejo aqui uma piada fálica, ou algum de vós também tem uma mente perversa?

Diabolik: L'Uomo che non sapeva ridere: O criminoso ardiloso nunca foi das personagens de fumetti que me cativou (mas conheço quem o adore). No entanto, esta aventura parece intrigante, pelo olhar de humor que desfaz os pressupostos da série.

Surrealejos: o Portuguese Portal olha para este projeto que mistura tradição e fantasia, revendo a tradicional azulejaria sob um prisma surreal.


Bob Eggleton, “Gravity Well”: Como na canção dos Pixies, mas com campos gravitacionais.

Los mejores libros gratis en formato eBook disponibles para leer en esta cuarentena: Vai mais uma lista de leituras gratuitas para quem está em casa sem nada que fazer? (Bem, a malta do teletrabalho, oi os professores a aprender a ensinar através de e-learning, invejam-vos esse tempo livre. Eu mal tenho tempo para ler os artigos que partilho aqui, em dias divididos entre implementação de plataformas digitais de ensino à distância, apoio aos meus colegas, e preparação de recursos digitais para os meus alunos. Esta lista é interessante não pelos livros que sugere, mas por listar repositórios de literatura livre em castelhano. Quando tiver tempo, vou explorar, gostaria de conhecer melhor a ficção científica espanhola.

Making the Future Fashionable as Hell Takes a Lot of Work: Da complexidade de criar visões de moda futurista, tarefa que para além de difícil, geralmente envelhece mal. Os vestuários futuristas dos filmes geralmente oscilam entre o kitsch e o ridículo, com raras excepções.

Leituras digitais em português: À procura de banda desenhada para ler? Ficam aqui boas sugestões de excelentes criadores portugueses.

The Profound Influence of Moebius on Cyberpunk Art and Aesthetics: Se procuramos inspirações, que sejam dos melhores. Se bem que o estilo de Moebius tenha pouco a ver com o grimdark digital do cyberpunk.



Chris Foss: Dos clássicos.

JH Williams III Was Only Alan Moore's Fourth Choice to Draw Promethea: E, no entanto, o seu traço distinto é um dos elementos que torna Promethea uma das melhores obras de Alan Moore. Mas agora não consigo deixar de pensar como P. Craig Russell daria a volta às visões mooeranas. Eu sei que estamos em crise, mas uma edição portuguesa desta série seria uma excelente adição às bibliotecas.

Milo Manara Draws Women Very Differently In Recent Weeks: Regressamos ao trabalho de Manara, e às suas partilhas de imagens que valorizam o papel das mulheres no combate à covid-19. Não consigo deixar de reparar que, mesmo longe do registo sensual que lhe é habitual, Manara consegue tornar até o varrer as ruas um ato elegante.



Art by Charles Moll. Fun fact: Eando Binder was the pen name of…: Adam Link, robot, era um personagem de FC clássica que explorava a questão dos robots inteligentes. Pensem tipo I, Robot de Asimov, mas muito mais chato.

Seven Tales of Mystery: O Portal de FC portuguesa destaca um livro fora da caixa da literatura portuguesa, com um forte toque de fantástico. Um daqueles que nunca consegui encontrar.

Kickpunch's Disney comics/horror movie mashups: Brilhantes, e hilariantes, colisões entre a estética Disney e os posters de filmes de terror clássico. Difícil de escolher qual o melhor.

Tecnologia


Wally Wood: Um dos grandes ilustradores de comics de ficção científica.

Why Telephone Companies Once Discouraged People From Chatting: Plus ça change… Se hoje discutimos o alheamento social trazido pelos ecrãs, a questão não é nova. Como se observa nesta história em que descobrimos que no auge do telefone, havia anúncios e campanhas das companhias a desencorajar o falar ao telefone, para combater o alheamento entre as pessoas.

Academics Are Advancing Digital Construction Technology—With Help From Robots: Um interessante estudo de caso, olhando para o esforço de investigação na interligação de manufatura aditiva, robótica e arquitectura. Este projeto desenvolve metodologias de fabricação digital em arquitectura.

Tele-escola em Portugal com regras pouco recomendáveis: Um típico artigo de treinador de bancada, escrito por quem compreende tecnologia mas não percebe da sua aplicação na educação. Mas não deixa de levantar pontos muito importantes, que fazem parte da reflexão feita nas escolas que estão a implementar LMS (learning management system) como uma das respostas à suspensão das atividades letivas não presenciais em situação de pandemia. O exemplo que aponta é indicador de que plataforma foi escolhida na escola em questão, e se a regra parece ridícula, na verdade é uma forma de simplificar a gestão de utilizadores. Claro que aqui a melhor solução seria a geração automatizada de emails para os alunos no domínio da escola, mas talvez esta não disponha das condições para o fazer. O que aponta sobre o Zoom passa completamente ao lado do verdadeiro problema do uso de vídeo conferência com menores. Os problemas de segurança, neste contexto, são triviais (eu sei, IT guys, é uma afirmação chocante). A principal problemática destes sistemas está no potencial uso abusivo de imagem de menores na Internet. Nada garante que um dos intervenientes na aula virtual não esteja a fazer screenshots das caras dos colegas para depois usar em ações de cyberbullying, por exemplo. Junte-se a isso que formas de expor imagem de menores na Internet vai diretamente contra os normativos da CNPD sobre este assunto (e há consequências legais para isso). Apontar que nem todas as famílias terão condições para que os seus filhos usem estes sistemas é óbvio, e na verdade os planos de ação das escolas contemplam estas situações. Mas vá, se fosse meu aluno, o autor deste artigo merecia um 4 pelas questões que levanta, mesmo que passem ao lado dos reais problemas, e opine (com todo o direito de o fazer) sem ter uma noção do panorama global. Este artigo também é sintomático das pressões a que escolas e professores irão estar sujeitos quando a fase do pânico e medo da covid-19 passar, e se instalar a do tédio e desgaste do isolamento social. Iremos ser questionados sobre o que fazemos, como e porquê, pelos pais e encarregados de educação. Alguns irão fazê-lo com espírito de ajuda e colaboração para melhorar. Infelizmente, serão uma minoria. Outros, especialmente aqueles que por fazerem comentários em redes sociais se julgam experts em informática educacional, vão levantar irritantes entraves. Os que considero perigosos são aqueles que têm interesses financeiros no assunto, por trabalharem em consultoria ou em empresas ligadas a algumas das plataformas LMS usadas pelas escolas, e que irão questionar porque razão foi escolhida uma que no ponto de vista deles não garante qualidade e segurança, quando uma solução que conhecem bem (e até conseguem descontos ou condições vantajosas) estava ao dispor. Sim, isso irá acontecer. Para aqueles professores ligados à tecnologia que nos dias iniciais da pandemia tiveram de gerir os seus medos pessoais, terminar atividades letivas em modo de crise, e ainda estudar sistemas LMS para melhor aconselhar as escolas em que trabalham a implementar soluções adequadas ao seu contexto, fica o conselho. Não esqueçam os argumentos fortes que condicionaram as escolhas feitas. Vão precisar deles.

When school is online, the digital divide grows greater: É uma questão complicada. Com as escolas fechadas como medida de combate à pandemia, como assegurar a equidade no acesso à educação? Mover para o online não é uma panaceia, aprofunda desigualdades que são mais profundas do que a dicotomia entre quem tem acesso a tecnologias e quem não tem. Há outras problemáticas. Haverá alunos que em casa terão o acompanhamento e a disciplina para seguir atividades em ambientes à distância. Mas muitos não serão capazes disso. Mesmo nas melhores condições, e-learning é exigente e requer uma forte auto-disciplina e grande motivação para se levar até ao fim as tarefas. Isto é verdade na educação de adultos, onde as taxas de desistência são elevadas. Imaginem com crianças, ou adolescentes, que não são conhecidos pelas suas características psicológicas de resiliência e auto-disciplina no estudo (o que é normal, faz parte do crescer enquanto pessoa). Por outro lado, simplesmente não fazer nada também não é solução. Neste momento de crise, a solução mista de plataformas de e-learning, tele-escola e envio de tarefas por correio é uma reação necessária que mantém uma ligação entre escola, crianças e famílias. Alguns irão aproveitar a oportunidade, outros, não. É essa a verdade mais incómoda para professores que estejam a olhar a sério para os sistemas de aprendizagem à distância. O perceber que seremos incapazes de ajudar aqueles alunos que mais precisariam de ajuda, porque não estamos ao pé deles para os aconselhar (ou ralhar, mostrando-lhes que não estão no bom caminho). Longe da sala de aula, apenas podemos fornecer conteúdos e acompanhamento. O controlo sobre as aprendizagens é totalmente perdido. E isso vai contra alguns pilares essenciais da educação, que não, não é isso que estão a pensar. Isso do debitar matéria e estudar marrando para exames já passou, felizmente, há algum tempo.

Artists Explore A.I., With Some Deep Unease: Talvez a arte seja o único contexto em que os algoritmos black box sejam menos preocupantes. Ter obras estéticas geradas por algoritmos cujos sistemas de decisão não conseguimos prever ou controlar é interessante, e o mundo da arte já ultrapassou o deslumbre com a geração de imagens por GAN, procurando formas de questionamento profundo desta tecnologia.

We need mass surveillance to fight covid-19—but it doesn’t have to be creepy: As tecnologias de rastreamento digitais que já existem - o quê, pensavam que o vosso telemóvel é totalmente anónimo, podem ser usadas como arma de combate à pandemia. Mas podem muito facilmente ser apropriadas para outros fins. Se nas nossas democracias ocidentais estáveis isso nos parece improvável, basta olhar para exemplos como a Rússia de Putin, a Turquia de Erdogan, ou outros países onde autocratas se apropriaram dos processos democráticos. Na Europa, temos um quadro legal forte que impede abusos de dados pessoais, mas é de notar que no panorama global, somos a excepção e não a regra. É com base nessas protecções que se podem conceber sistemas de rastreamento eficazes mas que não destruam as liberdades individuais. Senão, não será difícil imaginar um futuro de hipervigilância ao estilo chinês. Porque já não é futuro, é mesmo a realidade na China.

TOUCH FACE, LIGHTS CHASE, SIRENS RACE: Que ideia tão gira, pensei quando o Maurício Martins da Makers In Little Lisbon partilhou este projeto de programação por blocos, base adafruit e impressão 3D. Um wearable DIY concebido para combater aquele gesto automático de levar as mãos à cara, nascido da criatividade de um dos mais destacados Makers portugueses, que despertou a atenção do Hackaday.

We Mapped How the Coronavirus Is Driving New Surveillance Programs Around the World: Os dados pessoais são uma das armas eficazes de combate à pandemia, mas a sua agregação, a criação de sistemas de vigilância a partir do mar de informação disponibilizada pelos nossos dispositivos, pode ser apropriada para usos que fogem muito do legítimo combate à pandemia. A perfilação de indivíduos com base no rastreio dos seus movimentos pode dizer a quem analisa os padrões muito sobre a personalidade de cada um. Em sociedades autoritárias, o risco de aproveitamento para esmagar potenciais dissidências é real (e, no caso chinês, foi ao contrário, os sistemas avançados de vigilância para esmagar qualquer traço de desobediência ao regime mostraram-se úteis para combater a pandemia). Para quem vive numa democracia ocidental estável, isto pode parecer um perigo remoto, mas lembrem-se que em tempos de crise, estamos a uma eleição do potencial risco de ascensão ao poder de políticos populistas e amantes do autoritarismo. Na União Europeia, um dos bastiões da legitimidade democrática, há o caso de um país assim, a Hungria. Sabermos que este tipo de sistemas são úteis e necessários a médio prazo para combater esta pandemia global que não se resolve em meses. Temos de estar atentos, e erguer quadros legais, para evitar que estas ferramentas sejam instrumentalizadas por aqueles para quem conceitos como democracia e liberdades individuais são um anátema.

Digital hoarders: “Our terabytes are put to use for the betterment of mankind”: Recordam-se daquela vez que foram um site que usavam durante algum tempo, mas descobriram que ficou offline? Ou aquele vídeo ou artigo que tinham nos vossos links, desapareceu sem deixar rasto? A Internet vive num contínuo agora, e o que passa nem sempre fica guardado. Sites desaparecem, páginas são apagadas, recursos perdem-se. Mas há quem trabalhe contra isso, encontrando formas de preservação do digital.

The digital future is now: Se há algo de bom na pandemia, é a forma como fomos obrigados a deixar de arrastar os pés e a usar a sério a panóplia de ferramentas digitais que temos ao nosso dispor. A digitalização da sociedade, uma tendência de longo prazo que já estava a acontecer, deixou de ser apenas ao nível da infraestrutura (automação industrial, robotização, desmaterialização de serviços) e entrou no dia a dia, com o teletrabalho, escola à distância, e redes digitais para manter contacto social. Estas tecnologias já cá estavam, mas eram usadas de forma anémica. Agora mergulhamos à pressão nisto, e suspeito que quando acalmar a pandemia, muitos não quererão regressar ao modo normal de fazer as coisas. Se calhar, grande parte dos empregos não requer mesmo a presença física de funcionários em edifícios de escritórios. Se calhar, a escola não precisa de ser um modelo de encafuar milhares de crianças dentro de um edifício durante nove horas, pode ser um misto de atividades presenciais e à distância. Se nada há de melhor do que tomar um café (ou uma cervejinha, ou sendo snob, um aperol spritz) com um amigo, mas isso não quer dizer que as relações mediadas pelas redes não sejam menos significativas. Se calhar, o comércio electrónico pode ser tão útil à mercearia do bairro como à multinacional. Vamos ter de evoluir novos comportamentos, metodologias de uso, consensos e quadros legais. Porque há coisas que depois de percebermos o seu potencial, não queremos voltar atrás.

Indie Game Explores Utopias: Adoro interconexão entre arte e tecnologia, e ainda mais se há mundos virtuais para explorar, recantos de polígonos e pixeis criados para desafiar a percepção. Este é um jogo a descobrir, suspeito.

Bluetooth tracking and COVID-19: A tech primer: Rastrear movimentos individuais usando tecnologias móveis já se percebeu que será uma ferramenta de combate à pandemia. Como fazê-lo, sem criar sistemas que coloquem em causa as liberdades e garantias individuais? Este artigo lista o potencial do humilde Bluetooth como, provavelmente, a tecnologia que permite um rastreio eficaz mas anónimo, por não depender de geolocalização (com o correspondente risco de perfilagem e padronização de todos os movimentos de um indivíduo). Também lista as suas falhas, especialmente fraquezas de segurança.

Modernidade

European globes of the 17–18th centuries: Fascinante uso de digitalização 3D e preservação digital do património cultural e histórico. O British Museum disponibiliza cópias virtuais de alguns dos melhores exemplares da sua coleção de globos terrestres. E em 3D, para se poder percepcionar melhor como são estes artefactos. 

How Infectious Disease Defined the American Bathroom: Como é que o coronavírus irá modificar a nossa sociedade? Ainda não sabemos, apenas sabemos que a sua virulência e tempo necessário para encontrar curas e vacinas (um cálculo complicado pelo potencial de mutação) nos vai obrigar a rever alguns pressupostos sobre a forma como nos organizamos. E, olhando para o passado, temos algumas pistas. Algo que para nós é hoje banal, a casa de banho, nem sempre o foi. Em grande parte, foi adotada nas casas, entranhando-se como elemento arquitectónico fundamental, como resposta a problemas de salubridade e epidemias, que com higiene adequada seriam evitados. Impossível não pensar em que comportamentos que hoje nos parecem excessivos ou impossíveis serão, no futuro próximo, tão normalizados que já nem repararemos neles. É também de observar que a arquitectura e o urbanismo têm muito que repensar se não conseguirmos minimizar a covid-19 em tempo útil.

Trabajo "diseñando la personalidad" de una inteligencia artificial: Poderão as Inteligências Artificiais ter personalidade? Bem, se não as simularem, é para nós mais complicado interagir com algoritmos. Como mostra muito bem o artigo, um pequeno pormenor como o tom de voz no algoritmo do GPS é na verdade algo muito bem pensado para ser suave e não intrusivo, mas também não passar despercebido. É intrigante pensar que o desenvolvimento da personalidade de um algoritmo é um processo similar ao da criação de uma personagem literária.

Education was never schools' sole focus. The coronavirus pandemic has proved it: Ok, sendo professor, sou suspeito, mas é mesmo isto. Agora que milhões de crianças portuguesas estão em casa com atividades à distância, sobrecarregando as famílias, usando metodologias de EaD que requerem uma auto-disciplina que até para adultos é difícil, muitas vezes (mais do que julgávamos ser possível) sem meios técnicos ou acesso à Internet para poder participar do esforço digital da escola, todos sentimos isso. E mais. Cá, como lá, também há o problema das crianças para quem a escola é a única refeição a que têm acesso, ou todas as questões de apoio social e acompanhamento familiar: "Cancel schools, and look: who is there for children with protection orders? Who is feeding the vulnerable? Who is writing mass bereavement policies to explain to year 4 why their teacher isn’t coming back? Who is (virtually) sitting with the sobbing kid whose GCSEs have been cancelled?". A escola nunca foi apenas um lugar para aprender matérias, passar em exames, e ter um espaço para as famílias trabalhadoras deixarem os seus filhos durante a jornada de trabalho. É um dos pilares que estruturam a nossa sociedade, não só pelo papel de formação das gerações futuras, mas pelo apoio que presta às comunidades em que está inserida. Algo tão essencial mas normal que tem sido esquecido e descurado, especialmente pelas políticas austeritárias. Mas quando o impossível bate à porta, sob a forma de pandemia, é que percebemos o preço mortífero a pagar. Eu ainda juntaria mais um problema. Sabendo que a pandemia está para durar, com é que se faz regressar a escola à necessária atividade presencial mantendo o que temos hoje? Como é que se garante isolamento social no modelo 25 a 29 alunos por turma, fechados numa sala com um professor? A própria arquitectura dos espaços escolares tem de ser repensada. Um exemplo, dos enormes desafios que adaptar a nossa sociedade à covid-19 nos traz.

The Post-Pandemic Urban Future Is Already Here: A pandemia de Covid-19 trará impactos a longo prazo, e a arquitectura não lhe é imune. Sabendo que o distanciamento social é uma das medidas mais eficazes de combate ao contágio, os espaços urbanos sobrepovoados, os interiores onde se confinam muitas pessoas, terão de ser repensados. Olho para o exemplo da escola. A curto prazo, e mesmo a médio, o modelo em que 30 pessoas estão horas num mesmo espaço não é aconselhável em termos de saúde pública.

Portraits of Isolation in the Arctic: O isolamento social pesa, certo? Notem que há zonas remotas do planeta em que isolamento social é a regra, não a exceção.

Marcel-Roland, Comment on vivra dans un quart de siècle (1928): Em 1955, as refeições seriam pílulas nutritivas, trabalhar-se-ia em casa com máquinas de esteganografia, ouvir-se-iam músicas de todo o mundo em aparelhos, ou nos momentos de lazer a sala de estar ligava-se a outros lugares através de meios de visão à distância. É sempre interessante ler textos retrofuturistas, percebemos que se as visões tecnológicas nos parecem inocentes, algumas vezes patetas, as tendências de comportamento e usos que damos hoje às tecnologias, essas ideias já lá estavam no seu cerne.

New model looks at what might happen if SARS-CoV-2 is here to stay: Essencialmente, aponta para que a própria natureza deste vírus signifique que fique connosco durante tempo indeterminado. Vamos ter de aprender a viver com ele, desenvolver terapias, tornar mais forte o sistema de saúde pública.

Secção Cascais - Semana 3#: Destaco este artigo porque, para nómadas inquietos como eu, o isolamento social da pandemia obrigou à redescoberta do hiperlocal. Confinados ao bairro, à vila, evitando ativamente deslocações que eram banais, descobrimos os cantos que estão mesmo ao nosso lado. Eu, regressei às voltas nocturnas pelo perímetro urbano e caminhos rurais próximos para manter a cadela em boa forma física, enquanto aguardo condições para poder regressar aos passeios pelas praias isoladas do oeste.

What Italy’s ‘Patient One’ Teaches Us: Essencialmente, que as marcas psicológicas da pandemia nos vão moldar, como pessoas e como sociedade.

Tour 5,000 years of Egypt’s heritage: Visitar o Antigo Egipto… em 3D.

sábado, 23 de maio de 2020

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Nicnevin and the Bloody Queen


Helen Mullane, Matthew Dow Smith, Dominic Reardon (2020). Nicnevin and the Bloody Queen. Los Angeles: Humanoids

Uma jovem adolescente enfrenta um dos seus piores pesadelos:deixar Londres e ir de férias para a antiga casa da família, na Inglaterra rural. Mas depressa se vê envolvida nas raízes misteriosas do folclore celta, e descobre que é descendente de mulheres capazes de manter uma conexão entre a realidade e o mundo dos mitos célticos. Pars complicar, a vila é abalada por misteriosos assassínios que são aparentemente mortes rituais, destinadas a invocar forças do passado pré-romano. Uma curiosa mistura de fantástico que bebe a sua inspiração às raízes mitológicas britânicas anteriores aos romanos, com a clássica história de maturação na adolescência.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Aldebaran


Luiz Eduardo de Oliveira (2009). The Catastrophe. Canterbury: Cinebook.

Dois episódios da popular saga de BD francesa de ficção científica, escrita e desenhada pelo autor brasileiro Luiz Oliveira. Num futuro próximo, os colonos de um planeta habitável no sistema solar de Aldebaran perderam o contacto com a Terra. Mantém uma vida algo rudimentar, com pouca tecnologia, e em equilíbrio com um planeta suave, cuja vida alienígena não é incompatível com os humanos. No entanto, este está longe de ser um paraíso idílicos.

O governo aparenta ser uma teocracia repressiva, que mal se sente nas fimbrias da colónia, onde começa a aventura. E estranhos acontecimentos, cujo conhecimento é reprimido pelo governo, parecem ameaçar a estabilidade da colónia, com uma série de catástrofes naturais que talvez não o sejam.

Com este pano de fundo, uma clássica história de aventura e crescimento, quando dois jovens se vêem forçados a abandonar a vila que sempre foi o seu mundo, destruída por um dos misteriosos desastres que fazem intuir que há algo misterioso no planeta.

O traço de Leo é luminoso. A sua iconografia entre o futurista e o rústico, aliado à omnipresença de paisagens alienígenas tropicais, dá a este livro um sedutor toque de FC tropicalista, muito distante do habitual frio futurismo.


Luiz Eduardo de Oliveira (2009). The Group. Canterbury: Cinebook.

Nestas duas aventuras, aprofundam-se os mistérios e também a sociedade isolada que evolui na colónia separada da Terra. A liderança colonial é nominalmente democrática, mas a influência de extremistas religiosos é cada vez mais forte. A população não os suporta, especialmente as mulheres, que são vistas pelos extremistas como fábrica de bebés para assegurar o crescimento da colónia. Mas o seu poder estrangula cada vez mais as liberdades.

Entretanto, os mistérios do planeta vão-se revelando. Há uma criatura que, de forma recorrente, assume formas sólidas a partir da água e envia mensagens de rádio para o espaço. Uma dessas mensagens coloca em alerta uma nave terrestre, que vê o seu destino final alterado para ir em direção à colónia perdida. Mas a estranha criatura ainda reserva mais um segredo. Parece ser consciente, e embora não contacte com humanos, é capaz de escolher alguns para lhes conferir uma aparente imortalidade.


Luiz Eduardo de Oliveira (2009). The Creature. Canterbury: Cinebook.

A conclusão da saga acaba por saber a pouco. A colónia volta a estar ligada à Terra, a elite governamental ditatorial é derrubada graças às ações da misteriosa criatura que, claro, confere imortalidade aos personagens principais desta história. O resto é um wrap up da saga, ficando de fora a resposta à questão sobre os mistérios do planeta.

Estes estão guardados para outra nova saga, Betelgeuse. Aqui, a história parece recomeçar. A colónia neste planeta é constituída pelos sobreviventes da tripulação da nave colonial, que avariou na sua órbita. Os futuros colonos morreram em hibernação. Na superfície, os sobreviventes dividem-se em dois campos rivais, e adaptam-se a um ecossistema alienígena, que também tem os seus mistérios. A relação com aldebaran é feita quando se descobre que a misteriosa criatura aldebaraniana envia regularmente mensagens para o espaço, e Betelgeuse é um dos seus alvos. Uma expedição é organizada para investigar isto, bem como perceber o que terá acontecido à nave colonial cujo contacto foi perdido.

domingo, 17 de maio de 2020

URL

Sobrevivemos a mais uma semana de lockdowns e profuda disrupção dos nossos modos de vida. Para suavizar o tédio, trazemo-vos imensas leituras gratuitas de banda desenhada: a lendária El Víbora regressou com um número especial, a Seita disponibilizou o primeiro volume da série The Lisbon Studio, e os três primeiros números do BDLP podem ser lidos online. As ofertas de leitura digital não se ficam por aqui. É curioso que o trabalho de Junji Ito tenha surgido várias vezes (sou fã incondicional, mas foi um acaso), e a mestria do traço de Milo Manara rende uma profunda homenagem às heroínas italianas do combate ao coronavírus. Analisam-se as expetativas sobre o aspeto dos robots e a resiliência da internet nos tempos de pandemia. Descobrimos que os cosmonautas russos têm uma tradição cinéfila antes das missões. Terminamos com um murro no estômago emocional. Mas apesar da ansiedade dos dias que vivemos, não deixamos de acreditar n futuro. Para a semana regressaremos com novas seleções de leitura. Encontramo-nos aqui, no próximo sábado?

Ficção Científica


Photo: O autor não está creditado, mas são excertos de Tomie por Junji Ito, um dos grandes mangá de terror.

El Vibora para Supervivientes: O lendário comic espanhol, ícone da contra-cultura, faz um regresso fugaz nestes tempos de pandemia com um número único, gratuito. Está on-line para todos lerem.


The Tower: Filipe Abranches, editor da nova revista de BD Umbra e que publicou recentemente o intrigante Selva!!!, partilhou nas redes sociais esboços de um novo projeto. Pelo estilo, vai ter o seu quê de sci-fi. Cá estaremos para apreciar em futura leitura.

Dylan Dog – O Imenso Adeus – Marcheselli, Sclavi e Ambrosini: O Rascunhos fala-nos de uma das melhores histórias do detetive dos pesadelos, agora editada em português.


Vincent Di Fate: FC old school.

TLS Series Vol 1 - CIDADES: Uma boa notícia vinda da editora A Seita. Disponibilizaram o primeiro volume, já esgotado, da série The Lisbon Studio, que reúne o trabalho de alguns dos melhores autores de banda desenhada portuguesa.


Cover art by Fred Hinck, 1978, for Lost Worlds, Unknown…: Sempre houve uma certa ligação estética entre surrealismo e ficção científica.

Mystery Machine: Da origem de Scooby-Doo, esse bizarro e campy desenho animado com muito pouco de terror. É curioso notar que surgiu para contrariar uma tendência de desenhos animados violentos, que iam para o ar para satisfazer a vontade dos emissores televisivos. A estratégia é clássica: baixar o nível para facilitar a publicidade. É curioso que um desenho animado com um personagem nitidamente stoner, e uma equipa de amigos que viaja numa carrinha psicadélica a desvendar misteriosas assombrações seja mais apropriado a crianças, por comparação ao que os estúdios tinham de fazer antes.


Behind the iron curtain, the final frontier: Soviet space art – in pictures: Uma galeria de espantosas imagens que nos mostram a estética da Ficção Científica soviética.

ghostCRASH: Uma intrigante experiência, em que vídeos de acidentes automóveis foram manipulados para eliminar metade dos intervenientes. O resultado são imagens fantasmagóricas em que, subitamente, veículos na estrada desfazem-se como se esmagados por forças invisíveis.

Resources for free e-books and entertainment stuffs: Se for daqueles que está em casa sem dilúvios de emails em teletrabalho, a implementar learning management systems para a escola, ou a vigiar impressoras 3D que imprimem suportes de viseiras, cá ficam mais umas sugestões para leitura eletrónica.

Ficções 72: Mais propostas de leitura de ficção científica e fantástico, desta vez em português.


*Milo Manara pin-up girls fighting coronavirus.“Milo Manara has…: Não é muito habitual ver Milo Manara a desenhar mulheres vestidas. Mas… efeitos secundários da pandemia de Covid-19. Esta série de desenhos do grande mestre da BD italiana celebra as heroínas dos dias de hoje - as caixeiras de supermercado, as médicas e enfermeiras, as operadoras de limpeza, as entregadoras… enfim, aquelas que não podem ficar em casa, porque delas todos dependemos.

27 libros imprescindibles que el equipo de Xataka recomienda para leer y regalar: Listas de livros? Nunca são suficientes, é das melhores formas para descobrir potenciais novas leituras, ou pelo menos encontrar quem partilha os nossos gostos. Estas sugestões são ótimas, há ali muito livro interessante a descobrir.


Cover artwork by Junji Ito: Do grande mestre do horror japonês.

How Cheap Paper Influenced Jean Grey's Iconic Phoenix Costume: Da influência dos meios sobre a estética. Uma das mais icónicas personagens Marvel foi redesenhada com um uniforme de cores garridas, mas na versão concebida pelos ilustradores este era branco. Porquê a alteração? A baixa qualidade do papel onde os comics eram impressos. No branco, notar-se-iam as manchas de cor da página impressa atrás.


I wonder if Hello Kitty has ever heard of Harlan Ellison: A piada é hilariante, para conhecedores da Ficção Científica.

Gideon Falls – Vol.1 – Lemire, Sorrentino e Stewart: Uma das mais inquietantes séries de terror da Image chegou aos leitores portugueses.

Architecture in science fiction: Visões de arquitetura futurista, que causariam apoplexias em arquitetos dedicados a explorar o futuro da arquitectura.

Apaixonei-me por um Cowboy do Espaço: Outra série que estou a perder por completo, culpa da minha falta de tempo. O artigo foca-se nalguns aspectos que ainda não vi referenciados, como a inspiração no manga Lone Wolf and Cub, todo o ambiente de estética Western no espaço, e até uma banda sonora que sublinha isso ao ir beber inspiração a Ennio Morricone.


thebristolboard: Classic cover by Neal Adams from The Phantom..: Um dos personagens sobrenaturais mais interessantes da DC, mas raramente bem explorado. Phantom Stranger é um anjo que, após a revolta luciferiana, não foi capaz de escolher entre o céu ou o inferno. Nem anjo caído nem servente divino, está condenado a vaguear pela Terra.

BDLP: À procura de leituras para ajudar a passar confinamentos ou isolamentos sociais? O fanzine BDLP, que publica autores portugueses e angolanos, disponibilizou as suas três primeiras edições no Issuu.

Tecnologia


*Historical computer humor: Esta imagem fez-me recordar os tempos em que não se aconselhava a levar disquetes em viagens de metro, por medo que os campos eletromagnéticos gerados pelos carris apagassem os dados nelas contidos. 

Las expectativas sociales de cómo queremos que se diseñen los robots: O design de um robot não é apenas uma questão técnica ou utilitária. Também estão envolvidos aspetos sociais, relacionados com a nossa percepção sobre a robótica. O trabalho de desenvolvimento em robots de aspeto humanóide não acontece por razões técnicas (é até uma dss menos eficientes formas), mas pela nossa vontade em criar um simulacro de vida à nossa imagem. 

Touch And Go: Habituados como estamos ao dualismo android/iOS, esquecemos que poderiam haver alternativas. Esta história recorda o WebOS, que evoluiu do Palm OS, um dos pioneiros da computação móvel. Porque é que não pegou? O problema foi mais de gestão do que de potencial tecnológico. 

Google disponibiliza relatório de mobilidade para o Covid-19: Aqueles registos de localização dos dispositivos móveis servem para muita coisa, e podem ser agregados em padrões de comportamento. Estamos em estado de emergência, e por isso não pensamos no pesadelo para a privacidade individual, um dos pilares da democracia, representam as propostas de monitorização da covid-19 através dos padrões de deslocação dos utilizadores de telemóvel. Algo que pode ser usado para muito mais. Do invocar razões sanitárias, que todos compreendemos, a eventuais suspensões mais permanentes de liberdades, com estas tecnologias fica muito fácil. E países com lideranças mais autoritárias podem aproveitar esta brecha para consolidar o seu poder.

Art Transfer by Google lets you apply famous artists’ styles to your own photos: O que vale é que a Google Arts and Culture é relativamente ignorada, senão teríamos as redes sociais cheias de selfies no estilo visual de artistas marcantes. Mas não deixa de ser um interessante uso de algoritmos de transferência de estilos.

Soooo… We Were Trying To Cut Down Our Screen Time Before This Happened. How’s It Going?: Uma das ironias dos tempos covid-19 é que um dos mais recorrentes pânicos morais contemporâneos, o tempo de ecrã, foi completamente abandonado. O sururu sobre os malefícios das redes sociais, visões negativas sobre partilha online, efeitos detrimentais dos ecrãs sobre o desenvolvimento das crianças, caíram muito depressa face ao isolamento social, e à tecnologia como elemento de interconexão, de fio de ligação entre pessoas num tempo em que o distanciamento social é regra.

Why does it suddenly feel like 1999 on the internet?: No seu âmago, a Internet é um meio de partilha de ideias e construção de comunidades de interesse. Algo que ficou esquecido com o grande investimento na net como meio de consumo, entre vídeo, redes sociais e canais digitais. Mas que, devido às medidas de isolamento social impostas pelo combate à pandemia de Covid-19, regressou em força nestes dias em que quem está em casa, tem na rede o seu elo de ligação com os que lhe são próximos.

Accelerating data-driven discoveries: Essencialmente, usar novas formas de organizar bases de dados para conseguir visões mais profundas do que as conseguidas pelas bases de dados relacionais.

A.I. Art Valuation Is the Market’s Holy Grail. Here Are 7 Reasons Why It’s Harder Than It Sounds: Por outras palavras, conseguir-se-á usar algoritmos de Inteligência Artificial para antever gostos estéticos e preferências de colecionadores?

White Supremacy’s Gateway to the American Mind: Devemos o crescimento da visibilidade do extremismo e racismo, paradoxalmente, ao melhor que a Internet nos trouxe. A capacidade de interconectar pessoas com interesses similares mas geograficamente distantes é um dos grandes benefícios da rede, mas tem a desvantagem de facilitar a vida àqueles cujos ideais são tóxicos. Neste artigo, o serviço de auto-publicação digital da Amazon, que é bem visto pelos autores pela sua simplicidade e forma como permite chegar aos leitores (em Portugal, o caso de Bruno Martins Soares é um excelente exemplo disso) é analisado como vetor de publicação de livros racistas que, em contexto tradicional de edição, nem como samizdat se safavam. Novamente, algo de muito bom no mundo digital, instrumentalizado por aqueles cujos ideais são plenamente tóxicos.

Lockdown was supposed to be an introvert’s paradise. It’s not.: De facto, não. Quem me conhece na vida real sabe até que ponto consigo ser bicho do mato (bem, há fronteiras que não passo, como o eremitismo estilita) (hey, a covid-19 propaga-se por contacto social? Então estou praticamente imune), mas é impossível ser-se anti-social em tempos de isolamento social. Nem é pelos introvertidos, para quem esta situação não é especialmente difícil de um ponto de vista psicológico, é a sensação que temos que a pessoa do outro lado precisa de nós. Pessoalmente, até dou por mim a atender telefonemas ou a concluir mensagens de email com termos do tipo "um abraço" (normalmente neste tipo de comunicação vou sempre direto ao que precisa de ser falado e não desperdiço teclado com palavras sociais, mas hey, estes tempos estão difíceis e não faz mal ser um pouco simpático. Mas só um pouco, não entremos em exageros).

Why the coronavirus lockdown is making the internet stronger than ever: Se à escala local possamos sentir alguma degradação dos serviços de rede, na verdade à escala global a internet tem aguentado bem a pressão adicional advinda da migração para a vida digital causada pela pandemia.

Smartphone video makes super accurate 3D face models: Um algoritmo que deixa os amantes de fotogrametria a salivar, ansiosos pelo momento em que alguma app o faça chegar aos telemóveis. Onde já há apps que capturam o real (por aqui, somos heavy users da Display.land), mas estas funcionam combinando fotos e dados dos sensores dos dispositivos. Este algoritmo segue outro caminho, combinando o processo de extrapolação e concatenação de indicadores de volumetria da fotogrametria com inteligência artificial para extrapolar com mais rigor um modelo 3D a partir de vídeo.

Your Internet Is Working. Thank These Cold War-Era Pioneers Who Designed It to Handle Almost Anything: A ideia da Internet ter sido criada como forma de manter comunicações em caso de guerra nuclear é uma simplificação de uma história muito mais complexa. Mas é impossível não notar a ironia de, nestes tempos de apocalipse pandémico (pronto, têm razão, exagerei na metáfora), a robustez dos protocolos tem mantido a funcionar aquela rede que se tem mostrado ser uma infraestrutura essencial para o mundo contemporâneo.

Modernidade


Aerial Photog José “Fuji” Ramos Eases Pain From “Top Gun: Maverick” Delay with Stunning Photos: Um mimo para amantes da aviação, estas fotos de cair o queixo das aeronaves dos esquadrões de treino de combate americanas. 

500-year-old manuscript contains earliest known use of the “F-word”: Tropelias da etimologia. Sim, essa palavra. Registada por um monge enclausurado na Escócia, durante uma pandemia. I can relate. Aliás, quem nunca? 

What do we hear when we dream?: Nota para aqueles como eu que têm tendência a acordar como melodias reais ou imaginárias ouvidas nos sonhos. Se os sonhos não incluírem elementos auditivos, isso pode ser um sintoma de psicose. 

We are wayfinders: Uma das capacidades que nos é tão essencial, a percepção espacial, aqui analisada como elemento estrutural da evolução humana. 

What Will the World Be Like After Coronavirus? Four Possible Futures: As crises são também oportunidades para avaliar sociedades. O que está mal, o que se faz bem, o que se poderia melhorar. E se a pandemia de Covid-19 nos está a ensinar algo, é a fragilidade de um sistema global que julgávamos resiliente; que o fosso das desigualdades tem consequências fatais; que investimentos públicos em saúde e educação podem ser, literalmente, a diferença entre salvar vidas ou o colapso social com mortos esquecidos nas ruas; a eficiência do just in time trava se há um grão na engrenagem; a capacidade das comunidades para criar redes de entreajuda; o potencial da fabricação digital distribuída para suprir necessidades que os sistemas clássicos não conseguem. Que nova sociedade emergirá desta crise? 

How To Maintain (Or Renew) Your Relationship With Shakespeare: Read Him: Compreender melhor um autor lendo a sua obra? Bem, diria que esse conselho não se esgota em Shakespeare. 

Gun Lovers Are Claiming a Huge ‘I Told You So’ Moment With the Coronavirus Outbreak: O que dizer de uma sociedade em que, face à iminente pandemia, o primeiro impulso é ir comprar armas? 

Many Skin Scratches And An Interesting Low-Viz Art Appear On One Of The Oldest Flying F-22 Raptors: Aparentemente, a tinta especial que ajuda o F-22 a ser invisível aos radares é tão cara que, nas situações operacionais, só as aeronaves na linha da frente são mantidas com as camadas de tinta em boas condições. 

I was bored, so I watched the movie that astronauts must view before launch: Juntar esta à lista de coisas que não sabíamos que existiam mas que agora que sabemos, estamos um pouco mais ricos. Há uma tradição obrigatória dos cosmonautas russos (e astronautas à boleia na Soyuz), ver um antigo filme de ação soviético. 

An Unimaginable Toll: Normalmente tento manter a selecção de leituras sobre o impacto da Covid-19 otimista, ou escapar-lhe por completo. É o assunto que está na mente de todos, e precisamos de leituras que nos distraiam um pouco do foco único, que nos recordem a diversidade cultural, que houve um passado e haverá um futuro depois disto. Nesta, abro exceção. Porque nos fala do tremendo custo emocional que as análises estatísticas disfarçam, da morte que nos atinge como um murro no estômago. E, especialmente, na obrigatoriedade de solidão na morte que a pandemia nos trouxe.