quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Quantum and Woody Vol. 1: Kiss Kiss, Klang Klang.


Daniel Kibblesmith, Kano (2018). Quantum and Woody Vol. 1: Kiss Kiss, Klang Klang. Valiant Entertainment.

Comédia e super-heróis nem sempre se dão bem. Para cada Deadpool ou Lobo há dezenas de títulos que ficam melhor esquecidos, e é de notar que o sucesso cómico destes se deve ao humor negro da violência visceral. Ou seja, não é exatamente o que apelidaria de humor erudito.

Misturando super-heróis com o género buddy story, Quantum and Woody é daqueles raros títulos que consegue fazer humor, e do bom, dentro do espartilho dos comics de super-heróis. A premissa assenta toda em situações de tensão com humor. Quantum e Woody são uma dupla de... bem, quase heróis, ou apenas wannabes, cujo poder tem uma limitação: têm de regularmente fazer tocar as braceletes que lhes conferem poderes, senão desfazem-se em átomos. Algo mais difícil do que parece, porque estes personagens são irmãos desavindos. Um é negro, atinado e responsável, leva tão a sério o heroísmo que tem um uniforme e nome de código. Outro é branco e irresponsável, não se dá ao trabalho de ocultar a sua identidade, e a relação com o seu irmão adotivo é sempre complicada. Misture-se organizações secretas que querem dominar o mundo, cientistas loucos e o destino do pai biológico de Woody, e a receita para uma boa aventura está lançada.

Que só ganha com o estilo narrativo da série. É aí que ganha vida, na forma como a equipe criativa a aborda. Flashbacks constantes, non-sequiturs brilhantes, jogos metaficcionais com os estereótipos dos comics. E uma cabra. Nesta série, uma cabra é um personagem muito importante.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Sara


Garth Ennis, Steve Epting (2019). Sara. TKO Studios.


A história da II guerra é uma clássica obsessão de Garth Ennis, que este argumentista explora em histórias geralmente duras, visualmente fiéis à época. Cruza rigor histórico com o tipo de aventuras sem compromisso que caracteriza a sua obra. Tem ainda um foco marcado nos underdogs, as histórias são sobre pessoas comuns apanhadas na máquina da guerra.

Sara não é diferente, leva-nos à frente russa nos tempos em que a Wermacht cilindrava o exército vermelho. Acompanhamos um grupo de franco-atiradoras russas, eximias na arte de eliminar um por um os soldados inimigos. As suas hipóteses de sobrevivência são reduzidas, ainda têm de enfrentar a incompetência dos superiores e a exigência de pureza ideológica. A situação chega ao ponto de ruptura quando têm de enfrentar um franco-atirador alemão, no meio de fortes ofensivas que ameaçam colapsar a Rússia.

Rigoroso ao nível histórico, quer no contexto quer no lado visual, Sara tem uma história que nos leva a olhar para elementos esquecidos da II guerra, como o papel das mulheres combatentes. Como é habitual no trabalho de Ennis, é uma excelente história.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Fanzine Orion #5


Quase nem ia dando por isto, se não por uma discreta partilha no grupo Trëma. Foi assim que fiquei a saber da existência do fanzine Orion, que nesta quinta edição conta com a contribuição do autor português de ficção científica Luís Filipe Silva.

O óbvio destaque da leitura deste fanzine vai para o conto A Queda de Europa, de Luís Filipe Silva. Uma história cinzenta e amarga, casualmente distópica, não daquelas distopias de ruína que agora encantam o público, mas a distopia do sufoco social. A europa de LFS unificou-se à custa do espartilhamento de culturas e indivíduos, sustentada por uma constante propaganda positiva. E a queda da Europa, da sua diversidade e liberdade que sentimos ao longo da leitura, é sublinhada pela indiferença ao embate anunciado da lua com Júpiter, após o choque com um asteróide. Um conto de FC discreto, mas sólido.

Outro conto interessante é Reabilitação, de Sofia Lobo. Novamente uma leve distopia, sobre formas de redenção de crime e influências políticas, muito sólido na forma como faz crescer a tensão até ao inesperado final. A oferta literária deste fanzine não se esgota nestes contos, há fragmentos e textos de José Cruz, que devem fazer todo o sentido na mente de quem os escreveu, mas nenhum na de quem lê.

As boas surpresas deste fanzine, para além de, finalmente, Luís Filipe Silva nos brindar com um texto inédito, estão na banda desenhada. Sem os espartilhos de títulos comerciais, os autores aqui atrevem-se a ser experimentais. Destaco a inocência, e elegância do traço, de Os Colecionadores por Maria Würm, um voo encantador sobre um detalhe da história de Portugal. Renato Abreu também surpreende pelo traço, quase abstrato, ao tentar traduzir um texto de José Cruz em algo coerente. Não consegue, claro, mas a leitura vale bem pelo tom marcado do desenho do ilustrador. Export Nightmare, de Yvan Guillo, é um mergulho de surrealismo pop visualmente avassalador. Curiosamente, faz contraste com Shadows de Bernardino Constantino, onde uma estética próxima da gravura nos mergulha num sonho negro. Regressando ao psicadelismo pop, mas visualmente mais cru, temos a violência das cores primárias de Dark Man, por Nicola Rettino.

Vale a pena descobrir este fanzine, publicado exclusivamente em formato digital. A edição mais recente está disponível aqui: Orion 5. É um site de e-revistas, o que se pode tornar irritante para quem prefere ler desligado da Internet, mas não é nada difícil encontrar extratores online que retirem o conteúdo do Yumpu para PDF.

domingo, 26 de janeiro de 2020

URL

Ficção Científica 


Death’s Last Patrol: Verdadeiramente pulp.


Why Authors Like Austen Became Canonical: Cheap Books: Não é particularmente novidade para bibliófilos, mas a publicação de livros a baixo custo, que quando surgiu foi criticada, provocou uma revolução de literacia. E, com isso, assegurou o não esquecimento de autores que hoje são incontornáveis.

Comic Art: 120 Years of Panels and Pages: Uma exposição na venerável biblioteca do congresso norte-americano, que nos mostra a longa história dos comics.


magictransistor:Max Ernst, Configuration, 1974: Cruzamento improvável entre modernismo clássico e ficção científica.

The 100 Best Comics of the Decade: Uma lista discutível, como todas são, com livros que surpreendem, outros que não são assim tão bons, e a falta de outros. Mas não deixa de ser uma excelente, e extensa, lista de comics a descobrir.


Frank Frazetta’s Buck Rogers art: Frazetta não é dos nomes mais ligados à ilustração de ficção científica, mas deu uns toques, se bem que mais a puxar ao estilo da fantasia.

“Snow Crash”: Neal Stephenson’s Seminal Cyberpunk Novel Set for HBO Max Adapt Series: É, provavelmente, o melhor livro de Neal Stephenson. Não que os seguintes sejam maus, mas este foi dos poucos em que o autor não se esticou desnecessariamente e contou a história na medida certa. Os restantes são verdadeiros matacões multi-volumes. Não é piada: olhem para a genial, mas destruidora de pulsos, série que começou com Cryptonomicon e tem a mais recente iteração com Fall, Or Dodge In Hell. Adaptar um livro tão intenso de ideias como Snow Crash para televisão pode resultar muito bem, tal como Altered Carbon o foi, ou correr muito mal. Worst case scenario será ser algo similar à muito badalada e incrívelmente boring adaptação de Childhood's End de Arthur C. Clarke pelo SyFy. A ver vamos.

How reading has changed in the 2010s: A morte da leitura erudita tem sido muito anunciada, mas pouco praticada. No entanto, é inegável que, como em tudo o resto, a nossa sociedade hiperconectada e tecnológica está a ter impacto transformativo na literatura. Este artigo regista alguns, entre audiolivros, auto-publicação digital, o livro físico como objeto de desejo, a queda dos rendimentos literários ou novas formas de escrever usando a estética das redes sociais.


Philippe Druillet: O nome imbatível da BD francesa de ficção científica de recorte psicadélico.

FC portuguesa? Para onde vai?: Credo, o Candeias está a meter-se comigo? Se calhar tenho de rasgar as vestes, mostrar a musculação em pose 300 (quer Frank Miller quer Zack Snyder, é a mesma coisa), e dizer-lhe bring it on. Porque é uma das coisas que precisamos na FC portuguesa, discussão daquela a sério, com argumentos mas sem equimoses. E informal, para formalidades já bastam os académicos e os seus (bocejos) ditos profundamente banais sobre FC. O meu fatalismo face ao potencial da FC portuguesa é, talvez, efeito secundário da minha profissão. Onde confesso que desisti, não vale a pena falar de literatura de género (e arriscando-me a ser injusto e a ser expulso definitivamente da sala de professores, de qualquer tipo de livros) junto dos meus colegas. O que me irrita, porque uma das obrigações óbvias de um docente é ser culto, e não de formas superficiais. Abro exceção com os alunos, aí vale toda a pena. Confesso que nestas andanças, o que me surpreende é a resiliência do género por cá, apesar de tudo, ainda resiste. Nem sei como é que se formam públicos para a FC, mas eles existem, vindos do cinema, BD e gaming. São os que conseguem ultrapassar a barreira da superficialidade dos géneros mais visuais e comerciais. Mas depois da nossa escaramiça, Candeias, podemos partilhar uma (inserir aqui a bebida preferida): no fundo, o que interessa é que os leitores gostem.



Moebius: Da mestria.

Selva!!!: Quando for crescido quero ter esta capacidade crítica sobre livros. Não, não foi uma piada. A crítica de Pedro Moura ao recente (e fantástico) livro de Filipe Abranches expõe exatamente as sensações que tive durante a leitura.

REVIEW: Batman’s Grave #3 — “I Am Habitually Ripped To The Gills On Very Fine Cocaine, sir”: Ah, Warren Elllis à solta em Batman tem destas pérolas de detournement dos pressupostos dos comics. Oh my, Alfred, what a naughty butler you are.


70sscifiart:Michael Whelan’s “Lovecraft’s Nightmare” diptych: As imagens inesquecíveis da primeira edição de obras de Lovecraft que consegui apanhar. Porque houve um tempo em que não havia Internet, e tínhamos de esperar por vezes anos por livros, filmes ou músicas.

The Decade Disney Won: A empresa tornou-se detentora da esmagadora maioria da cultura pop cinematográfica. Notem: Leia (Star Wars) e Black Widow (universo Marvel) são, tecnicamente, princesas Disney.

Tecnologia


Diaphanorama (Projection Lantern) Paintings, 18th-19th Century: Multimédia do passado. Imagens que, quando projetadas, arrepiavam os nossos antepassados.

114 :: Please for the love of Blarg, Start a Blog: Precisamente. Um blog dá-nos independência das curadorias algorítmicas das redes sociais, não nos limita em temas, ou obriga a simplificar discursos. E, ao contrário das linhas de tempo nas redes sociais, o que é publicado fica publicado e acessível. Notem que fugir do imediatismo (e do lixo, estar em redes sociais é uma experiência que por vezes testa a fé na bondade humana) não implica desprezar as redes. Há quem as abandone, há quem as use em apoio ao principal (e que realmente interessa): participar do imenso discurso de liberdade de pontos de vista permitido pela publicação digital. Mas nisto sou suspeito, quem me tira os feeds rss corta, literalmente, o meu acesso primordial à informação.

The World Relies on China's Surveillance Technology: Até porque se há uma coisa que uma ditadura repressiva faz bem, é congeminar formas de manter os seus cidadãos sob vigilância pervasiva. Não admira que as empresas chinesas sejam imbatíveis nisso.

Virtual Reality Before There Was Virtual Reality: A história da tecnologia tem destas coisas, tecnologias interessantes que, passado o seu tempo, depressa ficaram esquecidas. É o caso da fotografia estereoscópica, vista através de visores. Foi popular nos anos 50 e vendiam-se series de slides que permitiam a qualquer um ver locais distantes ou exóticos. Soa familiar às nossas experiências contemporâneas com realidade virtual, não soa? Na verdade, a tradição de recriação virtual do real usando meios técnicos para criar ilusão de tridimensionalidade é bem antiga, e antecede a estereoscopia de que fala o artigo.

Pensamento computacional: Só mesmo a Fernanda Ledesma para se lembrar desta, ilustrar os conceitos essenciais do pensamento computacional com peças do robot Anprino. Faz sentido, porque antes de ser programado para andar, rabiscar ou piscar luzes, este robot começa por ser um monte de componentes. Só mobilizando decomposição, reconhecimento de padrões, abstração e algoritmos é que se transforma num robot.

AI Now 2019 Report (2019): Qual é o corrente estado da arte nos campos de investigação sobre inteligência artificial? Problemáticas, potenciais, vias de investigação, em análise num relatório sobre o estado da arte desta tecnologia em 2019.

Why Is Your Cellphone Not A More Useful Computer?: Porque… pois, pois é, porquê? Com smartphones e tablets tão poderosos, porque é que não são o principal meio de produtividade digital? Talvez por questões de interface, ou capacidade das aplicações. Mas não é impossível substituir o computador por dispositivos móveis em contextos de trabalho. As Capturas são um exemplo disso, escrevo-as no meu tablet.

Artificial Intelligence: Threat or Menace?: Um texto fabuloso de Charles Stross, sobre ficção científica, como usar o futurismo enquanto ferramenta de análise social, e sobre o potencial negativo de sistemas de Inteligência Artificial cada vez mais complexos e opacos, sendo a opacidade o problema. Poderemos confiar nas decisões tomadas por sistemas autónomos cujos critérios de decisão são invisíveis?

The Next Big Customer Experience From Jeff Bezos: A Blue Origin é a sua aposta sustentada no aumento do acesso ao espaço. Sem a visibilidade da Space X, mas com uma visão de desenvolvimento metódico, sustentado pelos bolsos fundos do patrão da Amazon.

Mall robot is programmed to detect when kids are about to bully it, and take evasive action: Sei do que falo, as crianças entre elas são terríveis e implacáveis (parte do trabalho de qualquer professor é ensinar a gerir e controlar estas pulsões). Não invejo a sorte deste robot.

Modernidade



*The good old fashioned Post-Anthropocene: Um belíssimo achado de Bruce Sterling.

What we get wrong about time: Concebemos o tempo como algo linear, embora para a Física seja algo muito mais fluido. A percepção linear que temos é ainda mais atraiçoada pela forma como formamos, e recuperamos, memórias.

Why Goldman Sachs Is Fighting Climate Change—And the UN Isn’t: O capitalismo vai salvar-nos do apocalipse ambiental? Enquanto governos se desmultiplicam em discursos de intenções vazias e conferências onde nada se decide, são os investidores que realmente estão a fazer ações concretas para travar as indústrias mais poluentes. Em parte é uma jogada de marketing, para limpar a imagem num contexto de opinião pública cada vez mais atenta aos problemas ambientais. Por outro, talvez haja algum reconhecimento de necessidade de sobrevivência. O caminho de industrialização cega e exploração de recursos trazido pelo capitalismo já se revelou insustentável em todas as vertentes, e já passamos o ponto de retrocesso nas alterações climáticas.

Keynes was wrong. Gen Z will have it worse.: O futuro não está nada brilhante. Se vivemos numa época de desenvolvimento tecnológico e social talvez incomparável ao nível global, as realidades do progressivo fosso de desigualdades, excessiva concentração de riqueza e aquecimento global estão a levar-nos a um futuro muito inferior ao nosso presente. Os sinais estão todos visíveis.

The Best Illusions of the Year Will Have You Further Questioning the Reality You Live In: As ilusões de ótica são mais do que imagens com piada, são uma janela para a forma como o cérebro processa informação visual.

Antarctica Is Stark, Beautiful, and Will Shrink Your Brain: Compreender os efeitos físicos e neurológicos do isolamento extremo em zonas remotas como a Antártida é importante para perceber como reage a fisiologia humana às viagens no espaço.

The jokes always saved us: humour in the time of Stalin: Quando a piada inócua podia significar anos de cadeia, ou pior. Mas o intrigante é perceber como, apesar dos riscos, o humor foi fundamental para se suportar os tempos mais repressivos.

History’s Greatest Sea Is Dying: O nosso mare nostrum, cercado pelo aquecimento global, poluição, exploração de gás natural, desleixo dos governos dos países que banha, e os jogos geopolíticos.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Diabolik: Settecento gocce di sangue; Un colpo dopo l'altro


Settecento gocce di sangue: Confesso, as aventuras de Diabolik nunca me cativaram. Mesmo tendo um lado giallo de elogio ao anti-herói, seguindo as aventuras de um implacável super criminoso. Nesta, Diabolik é envolvido numa trama engendrada por arqueólogos em busca de um artefacto muito valioso, para saber onde este está escondido são necessários alguns artefactos que Diabolik detém. A trama é convoluta, mas Diabolik está sempre vários passos à frente quer dos que o tentam enganar, quer da polícia, que sofre algumas baixas fatais na perseguição. Talvez o interessante nesta série seja o seu ar retro, quer no estilo gráfico quer no layout das pranchas. Se o desvio moral do giallo é interessante, não é personagem que me encante.


Un colpo dopo l'altro: Na vigilância a potenciais vítimas, Diabolik e a sua fiel companheira Eva deparam-se com uma conspiração ainda mais tentadora. Um músico com a carreira a decair vai tentar um golpe para enriquecer, fingindo ser raptado, com ajuda do seu produtor. Mas o dinheiro do suposto resgate não é o único que esperam meter no bolso, há ainda os proventos do tráfico de droga que fazem aproveitando-se da fama do músico. A tentação é demasiado grande para Diabolik, que irá puxar de todos os seus recursos para conseguir roubar este par de criminosos. Uma história empolgante, que termina numa perseguição em que Diabolik se verá num aparente beco sem saída, até mostrar que o seu Citroën boca de sapo tem tecnologia que o torna capaz de subir escadas.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Auberon


James S.A. Corey (2019). Auberon: An Expanse Novella. Nova Iorque: Orbit.

Para saciar o apetite até ao próximo volume da série The Expanse, temos uma nova novela curta. Auberon leva-nos até aos dilemas enfrentados por um governador laconiano, recém-nomeado para governar um dos muitos sistemas extra-solares agora dominados pelo império de Laconia após a sua vitória sobre as forças combinadas da Terra, Marte e belters, que lhe conferiu o domínio sobre toda a expansão humana. Auberon é um sistema curioso, onde a incompatibilidade entre biologias humana e alienígena não é agressiva, o que significa que no planeta podem coexistir formas de vida nativas com vida terrestres. Graças a isso, Auberon é un celeiro da humanidade, e é isso que lhe confere uma enorme importância estratégica.

Auberon também é um sistema de corrupção endémica, e os espartanos valores laconianos vão sofrer no choque com a cultura de normalização corruptiva daqueles que têm de governar, sem os alienar. Se os planos de batalha raramente sobrevivem ao contacto com o inimigo, algo similar acontece às purezas ideológicas em contacto com outras formas de entender os sistemas do mundo. Mais em modo de intriga palaciana do que aventura no grande universo de Expanse, com os acontecimentos da linha narrativa principal como cenário, mas uma daquelas histórias que, por fugir ao centro narrativo da série, lhe confere profundidade por desenvolver os seus aspetos periféricos.

domingo, 19 de janeiro de 2020

URL

Ficção Científica


Davis Meltzer: Confesso que não consigo perceber o que se passa aqui.

Review: Junji Ito Adapts “No Longer Human” into a Masterpiece of Existential Horror: Perdoem-me, mas sou fanboy, e tudo o que Ito toca é sinónimo de horror absoluto. Mais um livro que precisa de um lugar na minha biblioteca.

How William Gibson Keeps His Science Fiction Real: Um perfil impressionante de um autor de ficção científica cujo futurismo impressiona por ser uma lente distorcida sobre a bizarria do nosso mundo contemporâneo, de futuros que já existem mas não estão uniformemente distribuídos.


Hiroshi Manabe, early 70s: robots psicadélicos.

Dylan Dog/Batman #0 Gets a Wide Release With Added Stories Ahead Of 2020 Series: Bem, preciso de ir a Itália… mas como a Maker Faire é só em Outubro, se calhar é melhor ver se a loja online da Bonelli envia para Portugal. Porque um crossover entre dois dos meus personagens favoritos é imperdível. E nestas coisas, o pessoal do fumetti costuma ser mais cuidadoso com qualidade do que o dos comics.

Grant Morrison Roasts the Current State Of DC Comics – as Well as Bendis, King, Snyder, Azzarello and Himself in Green Lantern: Blackstars: É sempre interessante quando os criadores de comics olham para os estereótipos do género com bom humor.


Chesley Bonestell: Porque é um dos grandes mestres da ilustração de Ficção Científica.

Now That’s What I Call a  Bedtime Story: F*cked Up Fairytales of Yore: As histórias fofas de contos de fada e fábulas clássicas que contamos às crianças (e que são uma das principais fontes de receita dos estúdios Disney), são, na verdade, versões muito diluídas de narrativas pensadas para educar crianças aterrorizando-as. As versões originais dos tranquilos contos de fadas surpreendem pela sua violência, por vezes extrema. Havia uma razão para isso: proteger as crianças num mundo visto como inclemente.

List of popular books people started reading and then abandoned: Quem nunca? Recordo há uns anos ter atentado nas sábias palavras de um escritor mexicano que observou que se as primeiras cinquenta páginas de um livro não o captam, então não vale a pena ler mais. Porque há muitos livros e pouco tempo. Se bem que, por vezes, para ficar a conhecer melhor um campo ou para perceber porque é que um autor é mau, temos mesmo de levar o martírio até ao fim.

Tecnologia


Great Images Found in "Popular Mechanics", 1942: Podemos sempre contar com o blog deste livreiro especializado em livros raros para encontrar pérolas gráficas.

Robôs Inteligentes e Inteligência Artificial: a propósito de algumas reflexões éticas: Dos melhores artigos publicados no Bit2Geek recentemente. O primeiro de um conjunto de reflexões sobre inteligencia artificial.

3D Printing Can Keep Aging Air Force Aircraft Flying: Já se falou nisto no Bit2Geek, unidades de manutenção militar que usam impressão 3D para resolver problemas com falta de peças sobresselentes. Imprimir permite obter peças para as quais já não há linha de produção, ou preço excessivo devido à sua escassez. Os desafios estão nos materiais, que têm de ser capazes de aguentar os rigores do voo militar.

The Drums of Cyberwar: O combate invisível. Com as infraestruturas conectadas à internet e o alastrar da Internet das Coisas, aumentam os pontos de vulnerabilidade para hackers militares (ou paramilitares) atacarem alvos que, até há pouco tempo, necessitavam de ação militar direta, como bombardeamento ou sabotagem, para serem colocados fora de ação. Alvos como hospitais, centros de comunicação, centrais elétricas, enfim, todas as infraestruturas essenciais para a socieade contemporânea.

Best Screenplay Goes to the Algorithms: Não há aqui grandes surpresas. Os algoritmos de geração de texto também podem ser uma ferramenta de criação artística, nas mãos de escritores que não têm medo da computação e gostam de experimentar novas formas literárias.

Loes Bogers, Letizia Chiappini (eds.): The Critical Makers Reader: (Un)learning Technology (2019): Já está no eReader para leitura urgente. Desde que se iniciaram as Maker Faire em Portugal que me apercebi do potencial educacional da cultura maker para transformar a educação. Não como o caminho a seguir, a educação completa é feita de muitas vertentes de atuação, mas como mais uma enorme mais valia para as crianças e jovens. Aprender profundamente fazendo, mexendo diretamente com tecnologias complexas, não apenas o modelo instrucionista de ouvir o professor, estudar, fazer exercícios teóricos e despejar conhecimento de curto prazo.

Facebook sells off Oculus Medium to Adobe: O interesse na realidade virtual funciona em ondas, e claramente após um pico recente, está a decair. O que me interessou foi a aplicação de criação em si, que vai passar a fazer parte da Adobe.

Behind the One-Way Mirror: A Deep Dive Into the Technology of Corporate Surveillance: É uma leitura longa. Mas essencial para se conhecer os meios tecnológicos que estão por detrás do rastreamento automatizado de dados pessoais, que ultrapassa em muito o seu lado visível nas redes sociais. Sem lamentos, porque não é enfiando a cabeça na areia que se combatem estes desafios, mas a apontar estratégias de defesa contra estas imensas redes invisíveis que nos rastreiam das formas mais inusitadas. A EFF aborda com profundidade as diferentes técnicas que nos rastreiam os dados, permitindo às entidades envolvidas traçar perfis e localizar pessoas, quer no online quer no offline.

An Epidemic of AI Misinformation: Um problema que não é específico à inteligência artificial, mas à tecnologia em geral. Os anúncios de novas descobertas são geralmente demasiado otimistas, prometem mais do que as tecnologias realmente são capazes de fazer. 

nefertiti bust joins digital age after secret 3D scans are finally revealed: Na verdade, digitalizações do busto de Nefertiti são fáceis de encontrar online (tenho uma no escritório, que não resisti a imprimir depois de ajudar o Lab Aberto a contribuir para o busto gigante de Nefertiti, criado a partir de uma rede de impressores 3D que contribuíram com peças para um puzzle gigante no Fab15). Traçam a sua origem a este ato de hactivismo nunca bem explicado (lamento, mas kinects e scanners 3D não são equipamentos discretos). Independentemente da origem do scan (provavelmente hackeado ao museu), a batalha foi real, entre um museu que se recusava a libertar os ficheiros para não perder potenciais vendas de reproduções na loja, e ativistas que apontavam para a necessidade de libertar um património cultural global. Agora, os ficheiros de alta qualidade estão legalmente disponíveis. Sabem o que isso quer dizer, não sabem? Hora de carregar filamento na impressora…

British Airways posts top ten predictions for the use of 3D printing in planes: mas não fiquem à espera de predições game changer tipo "aviões totalmente impressos em 3D", antes é o uso de tecnologias de manufatura aditiva em áreas que vão de peças específicas a acessórios de cabina.

Instagram influencer sentenced to 14 years for violent plot to steal domain name: Isto parece completamente bizarro, até nos lembrarmos que ter o URL certo pode ser uma mina de ouro.

Model stealing, rewarding hacking and poisoning attacks: a taxonomy of machine learning's failure modes: Depois de nos rirmos com a forma com a inteligência artificial falha no processamento de informação (varia entre o acidental e a batota intencional), o lado que nos obriga a pensar. Notem o efeito catastrófico se estes modelos com problemas são aplicados a decisões no mundo real. Se calhar, muitos dos algoritmos de IA que andam por aí têm este tipo de problemáticas.

Twitter is funding research into a decentralized version of its platform: Tipo, o mastodon? Face aos problemas que o discurso radical tem levantado nesta rede social, a resposta do Twitter é inventar a roda e começar a investigar aquilo que em essência é o fediverso?

Modernidade


World’s oldest hunting scene shows half-human, half-animal figures—and a sophisticated imagination: Absolutamente fascinante. Estes traços nas cavernas esquecidas são os únicos vestígios de um riquíssimo imaginário humano, para sempre perdido na noite dos tempos. 

On His Holiness’s Service: Como arquiteto. Um perfil de Miguel  ngelo, o grande mestre do renascimento que nos legou a cúpula do Vaticano e a capela sistina. 

Umberto Eco on the Elusive Concept of Ugliness: Se a beleza está no olhar de quem contempla, o feio puxa pelo visceral. Um ensaio estonteante de Eco, parte de um livro póstumo de ensaios a ser em breve publicado.

Why nation-states are good: Alvo contínuo do otimismo destrambelhado silicon valley ou de forças mais obscuras, o estado-nação e os seus serviços sociais são na verdade a garantia de infraestrutura que permite a globalização. O que deveria ser óbvio. Tentem lá globalizar e atingir os níveis de prosperidade estratoesféricos sem: vias de comunicação para mover bens e produtos, sistemas de saúde para manter a população viva e produtiva, meios de segurança para garantir que os fluxos de comércio não são assaltados pelo crime, ou educação para formar técnicos, investigadores, criadores e profissionais de todas as áreas.

CAFÉ NICOLA «A fachada de Norte Júnior (1929) e os interiores de Raul Tojal (1935) : E, no entanto, quantos lisboetas hoje visitam este espaço? O paradoxo do turismo garante que, se calhar, preferimos evitar estes marcos devido à sobrelotação com turistas.

Greed is dead: Greed is good, dizia Gordon Gecko nessa condenação do capitalismo selvagem que é o filme Wall Street. Na verdade, sociedades construídas nas premissas do homem económico colapsariam facilmente. Cooperação, não competição desenfreada, é o que garante sociedades e lhes dá prosperidade. A teoria económica está finalmente a perceber esse dado óbvio. O mundo financeiro não.

JOSÉ CORREIA GUEDES: "HÁ PESSOAS QUE, DEPOIS DE VENCEREM O MEDO DE ANDAR DE AVIÃO, PASSAM PARA O EXTREMO OPOSTO E TORNAM-SE VIAJANTES COMPULSIVOS": Uma entrevista fascinante a um antigo piloto da TAP, que vale pelas histórias mirabolantes que conta. Como ser sequestrado por um adolescente em pleno ar, mas acabar por defendê-lo em tribunal.

Why the Laws of Physics Are Inevitable: Ou como, na natureza, tudo parece encaixar.


sábado, 18 de janeiro de 2020

Lost+Found






The Institute


Stephen King (2019). The Institute. Nova Iorque: Scribner.

Um ex-polícia, à procura de um novo rumo na vida, decide por impulso não entrar num avião e vai de carro até Nova Iorque. É assim que se descobre numa cidadezinha esquecida do interior do Sul norte-americano, onde arranja emprego como guarda noturno durante uns meses.

Um miúdo com excecionais dotes intelectuais percebe que, de vez em quando, tem a capacidade de mover objetos sem lhes tocar. Nada que desperte a sua imensa curiosidade, até ser raptado por uma organização sombria que o leva para uma instituição de pesquisa peculiar. Lá, conhece outras crianças que revelam capacidades sobrenaturais. Capacidades essas que são afinadas pelos cientistas à força de injeções e torturas. O seu objetivo é o de despertar as capacidades latentes das crianças. E quando o conseguem, levam-nas para outro local na instituição, onde os seus poderes mentais são usados para eliminar pessoas aparentemente comuns. O problema é que o uso intensivo destas capacidades depressa reduz as crianças a menos que vegetais, e quando se tornam completamente inúteis, são assassinadas.

Estas duas histórias cruzam-se de forma sangrenta, quando o miúdo consegue o impossível: fugir da instituição, e após vaguear pelos comboios, chega à vila isolada onde o ex-polícia é o único que acredita na sua estranha história. Que, por detrás, tem uma vasta conspiração de agências secretas que, tendo descoberto o potencial paranormal latente nalguns indivíduos a partir de pesquisas nazis, conjugam esforços um pouco por todo o mundo, onde há vários institutos similares que concentram crianças com poderes estranhos. Usadas como arma para salvar o mundo, eliminando pessoas que outros com poderes de precognição apontam como potenciais causadores de problemas em futuros prováveis.

Personagens sólidas, uma premissa muito interessante, e aquela prosa que escorre tão bem, típica de Stephen King. E, no entanto, o livro não agarra. Grande parte sente-se como um longo encher de chouriços, com King a detalhar a história  mais para encher páginas do que para a avançar. Só lá para três quartos do livro é que este ganha velocidade, e colapsa num final muito bem conseguido.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Saturn 3


Steve Gallagher (1980). Saturn 3. Londres: Severn House-

É destas histórias que são feitos os filmes de ficção científica de série B. No caso deste livro, o comentário é literal. A vida pacata num centro isolado de pesquisas numa das luas de Saturno é quebrada pela chegada de um estranho. O centro de pesquisa é habitado por um astronauta envelhecido e pela sua colega, uma jovem nascida no espaço, tendo-se tornado amantes. A chegada de um terceiro elemento, que assume à partida uma atração pela jovem, vai desafiar a vida tranquila do casal. Mas o elemento verdadeiramente disruptivo é um robot, trazido pelo estranho para ser testado naquela remota estação. Um robot poderoso, cujos processadores incluem tecido cerebral humano. Ao ser treinado, apanha a atração sexual do seu treinador, e desenvolve uma atração pela jovem cientista que se irá traduzir num acumular de catástrofes. O final é curioso, com a consciência do amante a acabar por tomar conta da mente artificial do robot, e uma certa insinuação que a história poderia continuar em tom de ciber paixão.

A história é uma variação do tema super-robot quase extermina humanos, embora tenha alguns pormenores curiosos. Leitura divertida e inconsequente, e uma capa daquelas tão más que até se tornam boas.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Tomb of Dracula: Day of Blood, Night of Redemption


Marv Wolfman, Gene Colan (2019). Tomb of Dracula: Day of Blood, Night of Redemption. Nova Iorque: Marvel Comics.

Dracula de Marv Wolfman e Gene Colan é um dos comics clássicos de terror da Marvel dos anos 70, e eram uma leitura divertida. Drácula, caçado pelos descendentes de Van Helsing, e um personagem afro que se viria a tornar o caçador de vampiros cego Blade. Na primeira aparição, encarna a iconografia do groovy black man dos anos 70,muito diferente da personagem negra em que se viria a tornar. A série terminou com a morte de Drácula, empalado pelo descendente pouco corajoso de Van Helsing e os seus companheiros de luta. Que se desmobilizam e seguem vidas normais. Mas, anos depois, o rei dos vampiros regressa. Ressuscitado por um cientista que bisca a fórmula para a imortalidade, o vampiro está à solta na América, e os antigos caçadores têm de reunir para voltar a conter uma ameaça que está mais poderosa.

Apesar do tom trágico da história, este revivalismo de um clássico acaba por não funcionar. O tom está sempre no máximo das emoções, e talvez seja isso que acabe por tornar a história cansativa. Este regresso não acrescenta nada à série original, que vale por ser um comic de época.

H-alt: H-alt #09


Acho que é melhor ir direto ao assunto, em vez de encher o texto de rodeios. Até agora, este foi o melhor número da H-alt que já li. É habitual nas edições desta revista coligir material que vai do aceitável ao excelente. O que é normal, dado o papel desta revista como canal de publicação para novos autores, grande parte dos quais ainda têm algum caminho a percorrer para afinar estéticas, técnicas gráficas e narrativas. É essa uma das grandes forças da H-alt, e temos de saber ler a revista percebendo que aquilo que nos possa parecer menos bem conseguido, são passos necessários para a evolução estética dos futuros criadores. Recensão completa na H-alt: Revista H-alt #09.

domingo, 12 de janeiro de 2020

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Ficção Cientifica


Robert McCall’s “The Space Mural – A Cosmic View”: É preciso explicar?

Best science fiction and fantasy books of 2019: Todos estes livros não passaram pelo meu radar. Isso é inqualificável. Está na hora de resoluções de ano novo, e claramente a minha tem de ser voltar a ler mais ficção científica. Nos últimos tempos tenho privilegiado a não ficção, e a banda desenhada (até porque, por cá, estamos a viver um excelente momento neste género, com uma oferta crescente de vários géneros - com comics, manga e fumetti em destaque, e muita produção de autores portugueses, especialmente novos criadores e projetos).


It’s time for the long-awaited fifth installment in my…: Os céus estão cheios de astronautas mortos, restando os seus ossos dentro dos fatos espaciais.

Leiturtugas da semana #43: Foi há praticamente um ano que, num meet inesperado de praticamente metade da blogoesfera de crítica literária dedicada FC em português (ou seja, três bloggers), o Jorge Candeias lançou esta ideia, para fomentar a leitura crítica de FC portuguesa. O primeiro ano está a chegar ao fim, e a maior parte dos participantes cumpriu o objetivo de leituras em português. Deu também um ponto de encontro e descoberta de projetos de blogs portugueses.


STAR WARS art by Ralph McQuarrie: A visão clássica da Guerra nas Estrelas original.

FC portuguesa? Mas para quê?: É possível tal coisa como Ficção científica portuguesa? E qual a sua relevância? São estas as questões que Jorge Candeias coloca nesta sua exploração do reduzido nicho literário que é a FC portuguesa.


Syd Mead: Concept art do filme Blade Runner? 'nuff said!


Concept art by Milo Manara for an aborted remake of the 1968 sci-fi movie, BARBARELLA: Milo Manara a conceber o estilo visual de um remake do clássico Barbarella? Vai para a lista de filmes que nunca foram feitos, mas deixam os cinéfilos a sonhar.

Scribes Who Actually Wrote Down the Epic of Gilgamesh?: A história deste poema épico, obra maior de uma civilização perdida. Fascinante pela obra literária em si, por ao lê-la, se encontrar o substrato narrativo dos mitos bíblicos (o mais notório é o do Dilúvio), mas especialmente fascinante pelo sentimento de perda. Nunca saberemos a real extensão do poema, ou a sua versão mais canónica. E até os arqueológos se terem interessado pelas ruínas do antigo crescente fértil, esta obra maior da literatura mundial não passava de riscos incompreensíveis em tabuinhas de barro. Durante milénios, esta narrativa esteve perdida, apesar de ter influenciado parte dos mitos que formam o substrato cultural global. Curiosamente, foram descobertos indícios que um escriba compôs uma versão estruturada de um poema que na sua época, conheceu inúmeras versões (até porque servia para ensinar escribas a escrever). Sin-leqi-unninn não nos soa tão familiar como Homero, mas editou a primeira versão aparentemente completa do poema.


Chris Moore: Muito interessante.

“Charlie’s Angels” Go “Love Boat:” the Greatest Turkey to Ever Set Sail: A colisão de mediocridade aqui é estrondosa. Um crossover de dois clássicos da cultura popular, que quando os revemos percebemos até que ponto tinham argumentos patetas, maus atores e um sexismo que hoje seria inaceitável. Isto é foleiro ao cubo.

Tecnologia 



How to fight lies, tricks,and chaos online: Como perceber se o conteúdo que vemos online é verdadeiro ou falso? Estas pistas de literacia digital ajudam. São técnicas para afinar o que Howard Rheingold apelidou há décadas atrás de bullshit filters. 

Monopolios invisibles: así es como Texas Instruments sigue vendiendo calculadoras gráficas obsoletas a precio de oro: Nunca se perguntaram porque é que na era em que os smartphones mais básicos têm um enorme poder computacional, um modelo específico de calculadoras ainda se vende como pão quente? A resposta está nos mercados cativos. À volta das calculadoras gráficas da Texas Instruments construiu-se parte dos programas escolares de matemática, especialmente ao nível do secundário, tornando a compra deste tipo de máquinas essencial. Claro, há alternativas em apps para telemóveis, mas não só estes são desencorajados em sala de aula (a esmagadora maioria dos professores até gostaria de proibir o seu uso tout court), como quem se atrever a não usar calculadoras esbarra noutra barreira, a dos exames. Parte das rigorosas normas de provas e exames nacionais versa sobre a listagem de modelos de máquina de calcular de uso autorizado em exame. Aluno que não trouxer um desses modelos não é impedido de fazer exame, mas a sua máquina não conforme a norma é de uso proibido. Com isto, algumas empresas conseguem manter um lucrativo negócio a vender tecnologia obsoleta a preço inflacionado, usando o rigor dos exames e a estagnação de metodologias de ensino para manter mercados cativos. E porque é que ninguém repara nisto? Normalmente, porque se aceita estas imposições como um processo normal na educação, que é transiente para a maior parte das pessoas. Só quem trabalha neste mundo é que se apercebe do perpetuar destas situações. Aliás, o mundo da educação é propício a este tipo de monopólios discretos. Ainda hoje temos de viver com as consequências do currículo Microsoft na disciplina de TIC que, e isto não é exagero, foi criado com base na gama de produtos da empresa e serviu de base ao ensino de milhares de crianças em Portugal. Isso, felizmente, mudou.

Archivists Are Trying to Make Sure a ‘Pirate Bay of Science’ Never Goes Down: Apercebi-me do estranho modelo de negócio da publicação científica quando estava a fazer a tese de mestrado. Consultava a bibliografia de cada artigo que lia para sustentar as premissas do meu trabalho de investigação, mas não raras as vezes esbarrava contra a necessidade de pagar, e não tão pouco quanto isso, para poder ver mais que o abstract de artigos. A razão disto tem a ver com editoras que recebem o trabalho de cientistas, enviam para análise por painéis de avaliadores voluntários, e cobram pelo acesso ao registo de investigação feita na esmagadora maioria por instituições públicas. É o modelo de negócio perfeito, na carreira investigativa e universitária publicar e rever é um requerimento, o que significa que estas editoras basicamente vendem material que não tiveram custos a produzir nem a avaliar. E por preços proibitivos. Tem havido movimentos para mudar isso (a publicação em Open Access é um deles, mas abriu espaço a práticas predatórias), mas pirataria tem sido a mais bem sucedida. Se na tese de mestrado tive de me restringir ao open access ou pesquisas muito cuidadas no Google (muitos dos artigos em acesso pago tinham versões nas páginas pessoais dos investigadores), na pós-graduação que terminei recentemente fiz uso liberal do Libgen sempre que se justificava. A questão de fundo é esta: não deveria a ciência produzida com financiamento público estar disponível livremente a todos, e não enclausurada por detrás de paywalls? (notem, se estão a usar a b-on, é o dinheiro dos impostos que está a pagar isso.)

The Mobile Dead Zone on Airplanes: Porque é que é difícil ter um bom sinal de rede móvel nos aviões, aterrados e no aeroporto? Em parte, pela blindagem electromagnética da fuselagem, em parte por os grandes espaços abertos dos aeroportos não se ajustam à tecnologia de células da rede móvel.

Teens aren't addicted to their phones - but we like to think they are: Tema comum nas nove reuniões de conselho de turma de quintos anos que tive durante o mês passado (lecciono 18 turmas): colegas a queixarem-se da praga dos telemóveis nas mãos dos meninos, porque passam os intervalos a jogar naquilo. Tento desmontar o mito, porque 1, nada mais natural para meninos de dez anos que estão na nova escola, com novos dispositivos oferecidos pelos pais (efeito novidade) e acesso wifi; 2, é verdade que nas primeiras semanas de escola os miúdos passam intervalos agarrados aos telemóveis, mas a minha experiência fez-me notar que se dissipa à medida que as novas amizades se vão aprofundando e vão encontrando novos pontos de interesse. Ainda há o argumento 3, francamente qual é o problema de se distrairem dez minutos a jogar depois de mais uma secante aula instrucionista de ver o professor a debitar matéria e ruminar exercícios, mas esse argumento torna-me persona non grata na sala de professores. Não que não haja problemáticas associadas a estes dispositivos nas mãos de crianças (segurança, o gerir a atenção face aos algoritmos de maximização de visualização, ou exposição a conteúdos falsos ou violentos, e a ideia confortável de remover o telemóvel do espaço escolar apenas mostra incapacidade e até que ponto os profissionais da educação se demitem de ajudar os seus alunos a enfrentar o mundo real - até porque em grande parte os professores desconhecem profundamente esta tecnologia). Mas os pânicos assentes em estudos algo duvidosos que asseguram que os telemóveis viciam os jovens são falsos. Assentam em evidências de circunstância, e raramente tentam encontrar padrões de uso que realmente comprovem padrões massificados de adição. E muitas vezes, o que face ao telemóvel é visto como vício perigoso, é tido como perfeitamente natural e até considerado positivo com outros comportamentos. Como leitura, por exemplo: "The most common survey includes several questions that could merely indicate high levels of phone use without it necessarily being a pathological medical condition. Questions include whether people use their phone for longer than they had intended, whether it had caused them to miss some planned schoolwork, or if they had been told by others they were using it too much. Can this really identify addiction? Substitute “phone” for “book” and you can imagine a keen reader answering yes to many of these questions, but we don’t tend to despair about reading addicts".

This is how Facebook’s AI looks for bad stuff: Redes neurais treinadas para detecção e classificação de formas em imagens e vídeos, treinadas com um misto de etiquetagem e vídeos violentos dos arquivos internos da polícia londrina, é o sistema que a rede social usa para automatizar a detecção, análise e eliminação de conteúdos violentos.

How Boston Dynamics Is Redefining Robot Agility: O nome desta empresa é sinónimo da bleeding edge da robótica. Os seus vários robots e a tecnologia desenvolvida, em destaque neste artigo da IEEE Spectrum.

Cards Against Humanity writers are battling an AI to keep their jobs, and you can watch: Esta empresa é conhecida pela fina ironia dos seus jogos de cartas. E, também, por usar os esquemas publicitários black friday para criticar o capitalismo selvagem. Este ano, decidiram colocar uma equipa de escritores humanos a competir com uma IA na construção de textos ao gosto dos fãs da CAH. Ganha quem vender mais.

The fall and rise of a spyware empire: Recordar a Hacking Team, a empresa italiana reconhecida como capaz de desenvolver sofisticadas ferramentas de ataque informático, e a sua queda devido a associações com regimes políticos criminosos.

Robot Gift Guide 2019: Fãs e regulares leitores das Capturas, estamos próximos do natal, e se me quiserem recompensar pelo trabalho de vos trazer semanalmente leituras intrigantes, não vão mais longe. Este vosso escriba contentar-se-ia com um Aibo. Brincadeiras à parte, este guia very high tech tem alguns robots que desconhecia.

Modernidade


Take Picture: Um tesouro esquecido num obscuro site de partilha de fotos da Estónia. O trabalho de um fotógrafo amador, que trabalha como contínuo no World Trade Center durante a noite, e aproveitava para fotografar os espaços destes edifícios. E, com isto, criou inadvertidamente um registo do que era a vida naqueles edifícios. O banal, por vezes, pode ser sublime. O artigo conclui com uma frase inspiradora: "Take picture now of what we have". Porque os momentos não se repetem.

My 27-Hour Vacation in Singapore’s Changi Airport: Quando um aeroporto se transforma numa ecosfera controlada. Um espaço irreal de serviços e natureza decorativa, naquela que é a leitura mais ballardiana dos últimos tempos.

Britain’s Secret War With Russia: Sem grande poderio económico, e com menos capacidade militar do que aquela que alardeia, a Rússia não deixa de exercer a sua influência global, e safa-se com muitas coisas que noutros contextos levariam à guerra - como efetuar ataques químicos em cidades europeias, ou anexar território a países soberanos. Parte do sucesso russo explica-se pela disposição em ignorar todas as regras. Outra parte é a sua enorme capacidade de desinformação, saturando os media globais com notícias falsas.

How To Steal A Soviet Helicopter: Uma aventura divertida dos tempos da Guerra Fria, com as estratégias do exército americano para capturar um helicóptero Mi24 Hind soviético, abandonado pelos libios no Chade.

Os grafitos do Mosteiro da Batalha e o escopro de um erudito desalinhado e rebelde: No nosso gosto pela imagem de suposta pureza estética dos monumentos do passado, surpreende a descoberta do gosto humano em deixar a sua marca, mesmo que esta não passe de rabiscos nas paredes. Cinco séculos depois, o que seria vandalismo é um fio que nos liga à humanidade do passado.




sábado, 11 de janeiro de 2020

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Atomic Empire


Thierry Smolderen, Alexandre Clérisse (2018). Atomic Empire. San Diego: IDW.

Este livro é, acima de tudo, uma homenagem muito bem feita à era dourada da Ficção Científica. Sem nostalgias ou lamentos de porque é que hoje não é assim, apenas com uma história mirabolante apoiada numa estética espantosa. E sim, a homenagem é à FC Campbelliana, da space opera clássica.

Os delírios de um cientista que, desde criança, acredita estar em contacto com um homem do futuro longínquo, talvez sejam mais que delírios. Quando é descoberto, é forçado a frequentar um psiquiatra que se aproveita das suas sessões para ganhar notoriedade. Mas a atenção que o cientista acaba por atrair talvez não seja a melhor. Cai nas boas graças de um industrial obcecado com o futuro, que organiza think tanks pouco convencionais onde os participantes são hipnotizados. Explora a ligação do cientista ao futuro, como forma de vislumbrar novas tecnologias e armamento, e fica tão longe fascinado com as visões que as tenta recriar em elaborados falsos cenários, em que os participantes se julgam transportados para bases orbitais ou planetas alienígenas. Entretanto, no futuro, o homem que foi o grande pacificador de um império em guerra descobre a verdade sobre o pior inimigo da ordem social.

Se a história pega em elementos da FC clássica com algum sentido crítico - as ligações entre a ideia de progresso dos anos 50 e a indústria militarizada da guerra fria, é no visual que este livro se revela imperdível. O trabalho de ilustração é espantoso. A estética vai buscar as iconografias futuristas dos anos 40 e 50. As inspirações estão entre a estética do fabuloso (e infelizmente pouco conhecido) filme Things to Come, onde Alexander Korda deu vida com um visual potente ao futurismo de H. G. Wells, a iconografia atom age, o design industrial futurista dos anos 50, ou as curvas da arquitectura googie. A ilustração deste livro é uma verdadeira tese que explora a iconografia futurista dos anos 40 e 50, aquele visual Gernsback continuum que William Gibson invocou no conto com o mesmo nome.