quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Atomic Empire


Thierry Smolderen, Alexandre Clérisse (2018). Atomic Empire. San Diego: IDW.

Este livro é, acima de tudo, uma homenagem muito bem feita à era dourada da Ficção Científica. Sem nostalgias ou lamentos de porque é que hoje não é assim, apenas com uma história mirabolante apoiada numa estética espantosa. E sim, a homenagem é à FC Campbelliana, da space opera clássica.

Os delírios de um cientista que, desde criança, acredita estar em contacto com um homem do futuro longínquo, talvez sejam mais que delírios. Quando é descoberto, é forçado a frequentar um psiquiatra que se aproveita das suas sessões para ganhar notoriedade. Mas a atenção que o cientista acaba por atrair talvez não seja a melhor. Cai nas boas graças de um industrial obcecado com o futuro, que organiza think tanks pouco convencionais onde os participantes são hipnotizados. Explora a ligação do cientista ao futuro, como forma de vislumbrar novas tecnologias e armamento, e fica tão longe fascinado com as visões que as tenta recriar em elaborados falsos cenários, em que os participantes se julgam transportados para bases orbitais ou planetas alienígenas. Entretanto, no futuro, o homem que foi o grande pacificador de um império em guerra descobre a verdade sobre o pior inimigo da ordem social.

Se a história pega em elementos da FC clássica com algum sentido crítico - as ligações entre a ideia de progresso dos anos 50 e a indústria militarizada da guerra fria, é no visual que este livro se revela imperdível. O trabalho de ilustração é espantoso. A estética vai buscar as iconografias futuristas dos anos 40 e 50. As inspirações estão entre a estética do fabuloso (e infelizmente pouco conhecido) filme Things to Come, onde Alexander Korda deu vida com um visual potente ao futurismo de H. G. Wells, a iconografia atom age, o design industrial futurista dos anos 50, ou as curvas da arquitectura googie. A ilustração deste livro é uma verdadeira tese que explora a iconografia futurista dos anos 40 e 50, aquele visual Gernsback continuum que William Gibson invocou no conto com o mesmo nome.