Maria Cecília Correia, Maria Keil (2016). Histórias da Minha Rua. Lisboa: A Bela e o Monstro Edições
Um mergulho em literatura infantil de meados do século XX, que é tudo o que poderíamos esperar dela: algo datada, pensada para encantar gerações de crianças que são agora nossas avós, se ainda estiverem vivas. São sensibilidades de outros tempos, que do nosso epocalismo vemos como mais simples, mas não o eram, tinham as suas agruras e complexidades, tal como nós. A sensibilidade dos contos é bucólica e maternal, muito onírica, com histórias ligadas a flores e animais imaginários. Mas também com alguma sublimação da realidade do Portugal da época, com a pobreza urbana a ser tocada nalguns dos contos.
Confesso que o livro me passaria despercebido, senão por um pormenor. Editado numa coleção recente de fac-similes, reproduz a edição original da década de 50 (se não estou em erro). O livro é ilustrado pela pintora Maria Keil, amiga da autora, e foi isso que me despertou para o livro, pelo mergulho num estilo visual que representa o modernismo português, arrojado no uso das cores, elegante no seu vanguardismo, mas também algo conservador, sendo mais decorativista do que estética revolucionária. O modernismo de Maria Keil encaixa deliciosamente nestas histórias, com ilustrações encantadoras, que do nosso ponto de vista dos dias de hoje representam uma marca de época.