Rui Zink (2017). O Livro Sagrado da Factologia. Lisboa: Teodolito.
Um livro de ironias negras. Quando um escritor se vê raptado por um misterioso grupo, espera o pior. Degolado às mãos de terroristas, para gáudio de audiências online, talvez. Mas o ordálio é mitigado por uma misteriosa companhia feminina, não de infortúnio, mas de estímulo. Um incentivo dado pelo seus raptores, porque o espera um ordálio pior: ter de ouvir a filosofia do líder dos raptores, em entrevistas destinadas a que saia um livro sobre a ideologia do grupo.
Um grupo heterogéneo, composto por personagens caricatas, unidas pelo carisma do seu líder e a crença na factologia, uma nova ideologia baseada nas verdades puras e alheamento individual, porque a verdade de um não é necessariamente a verdade de outros. Uma óbvia ironia com os zelotas dos fundamentalismos e extremismos, e os seus ideais enviesados. Mas também ao caráter porreirista português, com a sua capacidade de empatia. Vítima e crítico de uma ideologia indiferente, o escritor acaba por se ligar aos seus raptores, e num alucinante volte-face final, acabará por se tornar o líder e profeta desta nova ideologia global. Ironia num tom literário muito leve, é o que nos espera nesta sagrada escritura.