Annalee Newitz (2021). Four Lost Cities: A Secret History. Nova Iorque: W.W. Norton.
O que é que dita o fim de uma cidade? Acontecimentos apocalípticos, decisões sociais, ou a combinação da erosão económica e ambiental? E o que é que o fim de grandes cidades do passado nos poderá ensinar sobre os desafios urbanos do futuro próximo, onde as alterações climáticas vão colocar sob pressão a nossa sociedade global fortemente urbanizada?
Em busca de indícios sobre estas questões, somos levados a quatro cidades icónicas do passado. Çatal Huyuk, considerada a primeira cidade da humanidade, que floresceu no dealbar da humanidade. A sua antiguidade não nos permite saber muito sobre os que a construíram e habitaram, mas percebe-se que o seu abandono não foi um colapso, antes um espalhar e gerar de novas comunidades. Já Pompeia, sabemos que pereceu num cataclismo, e ainda bem para nós, que temos nas suas ruínas o mais completo vislumbre sobre a vida da sociedade romana, com constantes novas e fascinantes descobertas. O cataclismo preservou a cidade para o futuro, mas no seu presente, os seus sobreviventes espalharam-se por outras cidades romanas.
Angkor é-nos mostrada como a cidade do impossível, uma comunidade urbana complexa nascida no meio da selva, mantida num ambiente pouco hospitaleiro a cidades graças a engenharia complexa e força de trabalho. Mostra-nos que quando os elementos se conseguem sobrepor à capacidade humana, segue-se o desmoronar do espaço sob pressão ambiental. E, no entanto, a cidade nunca foi totalmente abandonada, quando foi "descoberta" por exploradores franceses era habitada por comunidades de monges budistas, que mantinham os seus grandiosos templos a salvo da selva, e bem conhecida pelos habitantes da região.
O livro encerra com a enigmática Cahokia, uma cidade construída em moldes muito diferentes do que os que consideramos espaços urbanos. Ponto de fixação durante séculos das tribos índias da américa do norte, era uma comunidade fluída assente em pressupostos que hoje não são claros, talvez políticos, talvez religiosos, e foi eventualmente abandonada com a migração das tribos para outros territórios.
Newitz mergulha-nos a fundo na história destas quatro cidades, retratando-as com um olhar jornalístico assente em visitas, investigação e contributos dos arqueólogos que hoje estudam estes antigos centros urbanos. As ilações que tira são bastante óbvias - as cidades não são imutáveis nem eternas, dependem de complexos equilíbrios sociais, políticos e essencialmente ambientais. Quando o ambiente se torna demasiado inóspito, e quem vive e determina os espaços urbanos progressivamente incapaz de contrariar os seus efeitos, esse é o momento que marca a decadência de uma cidade. Algo que não é imediato, é um processo longo. Só Pompeia é uma excepção, graças ao raro cataclisma que a destruiu. Na verdade, as cidades desvanecem-se com suspiros, e raramente morrem com explosões. Uma conclusão clara para os dias de hoje, em que enfrentamos a curto prazo as questões ambientais advindas das alterações climatéricas.