segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Almanaque Steampunk 2019


(2019). Almanaque Steampunk 2019. Barcarena: Editorial Divergência.

Dizem que o Steampunk está morto enquanto movimento. Pessoalmente, não concordo. Não tem o fulgor que tinha há alguns anos atrás, quando quase se tornou mainstream, mas é isso que agora o transforma num movimento. Agora longe das luzes da ribalta, é praticado pelos seus fãs mais dedicados. O Steampunk esteve em risco de se esvaziar como mero exercício de estilo estético. É mantido vivo por quem realmente acredita nele, e é isso que lhe confere interesse.

Quantas edições já tem o Almanaque Steampunk? Já algumas. Tornou-se um ritual anual, a sua edição a tempo do Fórum Fantástico. E continua, mostrando que é um projeto com raízes e continuidade. Suspeito que dentro de um ano estarei a ler o Almanaque 2020.

O Almanaque mantém-se fiel ao seu espírito meta-ficcional, com a sua estrutura que replica os antigos almanaques. A criatividade dos criadores participantes continua a explorar formas algo diversas do habitual na ficção fantástica. Supostas notícias, efemérides de fantasia, anúncios a vapor e até um horóscopo fazem esta edição, como sempre o fizeram. Se bem que este ano notei um reforço da ficção. Teria de me levantar da secretária para ir pegar nas edições anteriores, e isso francamente não me apetece. Mas suspeito que esta edição tenha mais contos do que o habitual nas anteriores.

Destes, destaco a poética revisão com engrenagens do mito de Perséfone de Um Coração Mecânico por Leonor Ferrão. Outra boa surpresa foi o steam brasileiro de Conexão Uruguaiana, por Nuno Vieira. A grande presença de autores brasileiros é uma das características interessantes deste Almanaque. Mas o meu grande destaque de leitura vai para o genial e de humor corrosivo A Segunda Lei, de João Ventura, que se atreve a imaginar políticos vitorianos cujo conservadorismo é ofendido pela segunda lei da termodinâmica, e tentam legislar a sua inexistência. Soa algo parecido ao crescer do espírito anti-científico nos dias de hoje, não soa? Mas ao contrário do crescente interesse em homeotretas e outras patacoadas do género, o conto de Ventura tem um final feliz.

Como sempre, o Almanaque é uma mistura homogénea de ficção e ilustração, um trabalho de amor por fãs que interpretam o Steampunk como algo mais que uma estética de adereços. Cá os espero para o ano, com o Almanaque 2020.