quarta-feira, 24 de abril de 2019

Lisboa Oculta - Guia Turístico


João Ventura, et al (2018). Lisboa Oculta - Guia Turístico. Lisboa: Imaginauta.

Devo dizer que me diverte a ideia de turistas incautos, calcorreando as ruas de Lisboa de telemóvel em punho, prontos a registar os fenómenos descritos neste livro. Subindo ao aqueduto das águas livres, assobiando em busca da sonoridade certa que irá fazer derrocar o arco maior. Olhando de soslaio na estação do Terreiro do Paço, à procura da porta com dois ferrolhos que dá acesso ao encarceramento de um certo Grande Ancião. Fugindo dos seguranças no Palácio Foz, esperando pela noite em busca da possibilidade de ser atendido no restaurante Abadia. Tentado escutar aqueles que se reúnem no jardim Jorge Luís Borges, para saber se já encontraram a entrada para a biblioteca de Babel. Procurando as assombrações no Instituto Superior Técnico ou nas Termas Romanas.

Estes são alguns dos deliciosos locais de interesse turístico que dão a inspiração para esta antologia da Imaginauta. A ideia clássica do sacarino guia turístico é aqui subvertida com a intrusão do fantástico, através de contos curtos. O livro sabe a pouco, mas é esse o objetivo, mais o de estimular o imaginário urbano que o explorar exaustivamente. Numa proposta intrigante, a Imaginauta criou uma edição bilingue, e esperemos que os turistas que eventualmente se deparem com este livro nas livrarias (talvez na cave mítica da Bertrand) percebam que estão não perante um guia turistico, mas um artefacto bem concebido e representativo do melhor que se faz na literatura fantástica portuguesa. O design gráfico, a cargo da Credo Quia Absurdum, escapa muito ao habitual neste tipo de edições.