domingo, 13 de setembro de 2015
MOTELx 2015: A Caçada do Malhadeiro
A Caçada do Malhadeiro (Quirino Simões, 1969)
Uma das vertentes mais interessantes do MOTELx é a recuperação que fazem do cinema português de género, esquecido por uma memória cultural que privilegia ou o cinema erudito ou a nostalgia do cinema popular. Pelo caminho, com as bobines a apanhar poeira nos arquivos, ficam outras cinematografias desenquadradas do mainstream. O festival de cinema de terror insiste em trazê-los de novo ao públicos, não ao grande público mas ao que se interessa por conhecer estes intrigantes desvios à norma. Filmes que não são necessariamente excepcionais. Alguns dos que já vi nesta secção do festival são-no, caso de A Promessa de António de Macedo ou Crime da Aldeia Velha de Manuel Guimarães. Outros valem pela referência, por ficar a conhecer filmes portugueses que se aproveitaram dos temas mais risquè para tentar o sucesso.
João Monteiro, um dos responsáveis pelo festival, sublinhou que este filme de 1969 ia directo ao assunto, sem rodeios. É o que é, uma caçada em que pai e filho partem pelas serranias para vingarem a violação da filha por cinco soldados franceses em fuga para Espanha. O filme desenrola-se no final das guerras peninsulares, com os restos dos exércitos franceses de Massena derrotados nas Linhas de Torres e no Buçaco a bater em retirada. Para filme de acção, quase um western à portuguesa que se inspira na nossa história e literatura, funciona bem como documento histórico pela atenção dada a pormenores de guarda-roupa ou décor, que invocam o Portugal dos inícios do século XIX. A fotografia tem momentos onde os enquadramentos grandiosos glorificam as personagens. Houve uma intenção fortemente icónica neste filme, algo que geralmente é conseguido.
A sessão de exibição contou com a presença de um dos actores, Vítor Gomes, estrela desvanecida da cultura pop portuguesa dos anos 60 e 70. Ao falar com o público trouxe-nos, inadvertidamente, o retrato estereotípico de uma estrela esquecida que recupera os seus trejeitos, antiquados do ponto de vista dos espectadores contemporâneos, claramente deslumbrado por esta oportunidade fugaz de regressar às luzes da ribalta. Percebeu-se bem porque é que partia os corações dos nossos avós.