domingo, 13 de setembro de 2015

MOTELx 2015: The Rocky Horror Picture Show



The Rocky Horror Picture Show (Jim Sharman, 1975)

Mais do que um filme, a projecção é um happening cultural que celebra a cultura do fantástico. A comédia burlesca dominada pelo adorável transvestite from the planet Transsexual in the galaxy of Transylvania ironiza todos os estereótipos do cinema clássico de terror. Cientistas loucos, experiências macabras, servos deformados, jovens ingénuas, heróis de queixo quadrado, alienígenas em vestes bizarras, casas acasteladas entre o decadente e o assustador, ciência futurista em estado selvagem, pouco escapa à caricatura. O filme é um deslumbre kitsch, onde o exagero é levado para além de todos os limites e a sexualização burlesca dá o tom sublinhado pelas canções rock operáticas. É um bom filme que nos assalta os sentidos por ser deslumbrante e maravilhosamente mau, com o seu sentido do exagero burlesco assumido.



A organização do MOTELx esperou replicar nesta sessão a cultura participatória que mitificou este filme. Conseguiu-o, em certa medida. Não foi mais bem sucedida porque o público português é comedido e pouco habituado a sessões de cinema onde é esperado e permitido que se dance, comente de viva voz as cenas e diálogos, cante ao som das canções, bata palmas e atire objectos pelo ar. Mesmo assim a sala contava com muitos espectadores vestidos como os personagens, com um coro simpático que passou o filme a dizer piadas que assentavam como uma luva nos diálogos. O momento em que o Dr. Frank N Furter se revela foi uma apoteose de dança na plateia, que infelizmente não se repetiu, apesar dos esforços de alguns espectadores. Se bem que suspeito que o par que dançou e mimetizou Tim Curry na plateia seriam actrizes. Estava demasiado bem feito para algo supostamente espontâneo. Mas tornou a sessão mais interessante. Valeu a pena, quer pela referência cinematográfica, quer pela oportunidade de participar num pequeno delírio de papel higiénio pelos ares, cartas a voar ou borrifos de água sempre que chovia no ecrã. Havia, talvez, uma sensação muito forte de acertar nos detalhes de um ritual cujos pormenores não eram conhecidos por boa parte dos espectadores. E, hey, let's do the timewarp again. Afinal, a mental mind fuck can be nice. Belíssima experiência, que sublinha um aspecto fundamental de ver cinema: o seu lado social participatório, que nos dá experiências impossiveis de replicar nos sofás frente às televisões de alta definição nas salas dos apartamentos. O elemento que mantém a sala de cinema relevante na era em que alguns cliques de rato nos trazem qualquer filme para os ecrãs que temos em casa ou nas mãos.