quinta-feira, 30 de maio de 2013

L'Uomo di Wolfland



Ricardo Barreiro, Franco Saudelli (1990). L'Uomo di Wolfland. Roma: Eura Editoriale.

Esta foi uma das mais interessante surpresas nesta viagem literária à descoberta do fumetti. O argentino Ricardo Barreiro assina uma intrigante história retro-futurista distópica com forte inspiração no nazismo e II guerra mundial. Somos levados a conhecer um patriótico soldado de Wolfland, ditadura germânica de toque nazi engalfinhada numa guerra sangrenta contra inimigos colectivamente designados por Anglai. Estamos num futuro distópico, de tecnologia inspirada nos anos 40 do século XX, onde imperam leis raciais, ditaduras férreas e patriotismo exacerbado.


Combate aéreo entre caças Anglai e Wolfland, claramente inspirados em Fiats g.50 e Macchis c.202.

Vindo da frente de combate, é concedido a um tenente de infantaria um período de descanso na capital da nação. Como convém a um herói de guerra, são lhe fornecidos todos os luxos: hotel, carro potente e acesso livre a um bordel militar. Aí cruza-se com uma bela prostituta e com um amigo, oficial dos serviços secretos da ditadura que o coopta para uma missão secreta. O nosso herói terá de se infiltrar numa organização secreta de mutantes, pessoas que por não passarem nos testes raciais obrigatórios perdem os direitos de cidadania. A sua ligação aos mutantes é precisamente a bela prostituta. Como bom agente, o soldado ganha a confiança dos terroristas e atrai-os para uma cilada. Mas a conclusão bem sucedida da missão tem um desfecho irónico. O herói de guerra foi escolhido para a missão secreta não pelas suas qualidades e fidelidade ao regime mas por ter sido detectada uma mutação no seu controle de pureza racial. As mutações são o resultado de exposição a radiações, algo que nos campos de batalha é comum. E o nosso herói, patriota que sacrifica tudo pela nação, é recompensado com um pelotão de fuzilamento.


Pura elegância sensual, ou o traço de Saudelli a evocar mistérios e aventuras. Não por acaso, este autor é mais conhecido pelo fumetti fetichista La Bionda, às voltas com cordas de nós apertados e uma sensual ladra loira com um carinho especial por amarrar as suas vítimas.

Se o argumento de Barreiro prima pelo perfeito canalizar da claustrofobia do fascismo militarista, as ilustrações de Franco Saudelli remetem-nos para um futurismo retro, onde a tecnologia é inspirada nas armas italianas da II guerra mundial. As aeronaves de combate são clones de máquinas como o Fiat Freccia ou o Macchi Folgore, enquanto o aspecto dos transportes evoca os comboios blindados a fervilhar com metralhadoras. O que trai o futurismo são as insígnias e o desenrolar da história. Nas primeiras vinhetas cremos que estamos a ler algo sobre a frente leste na II guerra, e são os uniformes que estabelecem a dissonância cognitiva que alimenta este fumetti. O ar anos quarenta é patente nas cidades e cenários, transposição perfeita da estética da II guerra para uma história de futuros alternativos.