terça-feira, 10 de junho de 2008

eEscolas, eGeneration, ePessoas

As novas gerações crescem rodeadas de tecnologia. O ambiente mediático, apoiado em vários suportes tecnológicos, é a norma. Os jovens habitam um mundo de media diversificados, consumidos muitas vezes em paralelo, como observa Cardoso (2007) ao observar que o consumo de televisão se faz ao mesmo tempo que o de internet. Os telemóveis, os computadores, as redes, são utilizados pelos jovens como forma lúdica, como ferramenta de aprendizagem sobre o mundo que os rodeia, como forma de modelarem o mundo que os rodeia, afirmando as suas escolhas culturais e potenciando os seus laços sociais.

A emergência da internet veio transformar a sociedade em que vivemos. As comunidades, mediadas pela tecnologia, perderam o seu carácter local, anulando a geografia e estendendo o contacto social ao nível global.

Estão a surgir novos modelos sociais, políticos e económicos. Castells (2004) agrega um novo paradigma económico baseado na informação como elemento básico da economia com o poder crescente das comunidades para definir o conceito de sociedade em rede, um novo modelo social emergente que coloca em causa as estruturas tradicionais. As empresas tiram cada vez mais partido da rede (Tapscott e Williams, 2007); os indivíduos também, quer a nível pessoal (comunidades de amizade baseadas na partilha de interesses) quer a nível profissional, de prosuming (Toffler, 2006), de comunidades de prática. A rede gera alterações aos modelos tradicionais, permitindo novas formas de intervenção política que ganham força, mas que, como Giddens (2000) e Zizek avisam, podem levar a um reforçar de valores tradicionais pelos que se sentem ameaçados à estabilidade e valores instituiídos por uma sociedade em acelaração constante, que vive num fluxo de mudanças.

A escola não pode ficar alheia as estas mudanças. Por um lado, trabalha com uma geração de alunos cada vez mais habituada à tecnologia, cujas formas de organização se afastam cada vez mais dos ritmos e tempos do espaço escolar. Por outro lado, deve preparar cidadãos capazes de enfrentar e responder aos desafios do futuro, capazes de se integrarem e agirem numa sociedade cada vez mais global, flexível, onde o posicionamento do indivíduo face à rede e a capacidade de agir em redes é a competência dominante. Face a estes desafios, a escola tem de se adaptar, modificando o seu modelo tradicional para dar resposta às necessidades das novas gerações. Se não o fizer, agrava o fosso entre as necessidades reais dos indivíduos e conceitos de educação que a marcha inexorável da sociedade torna obsoletos, correndo o risco de se tornar uma instituição paradoxal: essencial para o desenvolvimento do indivíduo e sociedade, mas ineficaz no desempenho deste papel.

A abertura da escola à tecnologia pode assumir variadas formas. Uma das mais promissoras é a adopção de tecnologias e modelos advindos do conceito de web 2.0. O potencial do seu uso advém da sua contemporaneidade – são ferramentas que, fora da escola, os alunos já utilizam, embora com fins socializantes; agarra o poder das comunidades, com o potencial de envolver cada aluno em aprendizagens grupais e colaborativas. O seu carácter multi-plataformas permite libertar alguns constrangimentos tecnológicos e económicos, permitindo o uso de vários equipamentos com vários graus de usabilidade (caso do telemóvel), diminuindo o risco de info-exclusão pelo acesso a ferramentas gratuitas, na maior parte dos casos, que não dependem de hardwares específicos, mas que os transformam em bens de consumo intercambiáveis.

Leituras de:

D’Souza, Q. (2006). Web 2.0 Ideas for Educators.

Castells, M. (2004). A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Cardoso, G., et al. (2007). Portugal Móvel: Utilização do Telemóvel e Transformação da Vida Social. OberCom.

Cardoso, G., Espanha, R., Lapa, T. (2007). E-Generation: Os Usos de Media pelas Crianças e Jovens em Portugal. Lisboa: CIES/ISCTE.

Giddens, A. (2000). O Mundo na Era da Globalização. Lisboa: Presença

Hargadon, S. (2008). Web 2.0 Is The Future of Education.

Tapscott, D. e Williams, A. (2007). Wikinomics. Lisboa: QuidNovi

Toffler, A. e Toffler, H. (2006). A Revolução da Riqueza. Lisboa: Actual Editora

O’Reilly, T. (2005, 30 de Setembro). What Is Web 2.0: Design Patterns and Business Models for the Next Generation of Software.